HIPERMERCADOS JUMBO lançam sistema em que os clientes trabalham de graça para o hipermercado
No blog Tugatrónica, surge no dia 18 de dezembro de 2007, um post curioso acerca de inovação tecnológica. O blog Tugatrónica é um bom blog de novidades e aparelhos tecnológicos. O post tem, contudo, o problema – como sempre, da parte das pessoas ligadas á tecnologia em que só se observam as “supostas vantagens” tecnológicas derivadas do novo produto que aparece e nunca os contras do mesmo. Passo a citar partes do post:
“”” A inovação nos supermercados começou com a introdução das caixas self-service no Jumbo e no Continente.Nestas caixas o cliente passa os produtos sozinho e paga sem a assistência de qualquer funcionário do supermercado em questão…”
Logo no inicio, esta frase em cima, define-se a inovação. A introdução de caixas self-service. Ou seja, o cliente serve-se sozinho?! sem precisar de ser ajudado por uma funcionária( o) a fazer o trabalho que corresponde ao empregado do hipermercado.
Isto é muito engraçado, e muito “inovação técnica” mas também é, desde logo, passível de ser e dever ser altamente criticável. Isto não é inovação para o cliente, excepto na parte técnica – o conhecimento necessário para se fazerem caixas registadoras especiais que possibilitem ao cliente pagar por si próprio e essa inovação técnica beneficia o hipermercado e não o cliente.
Não é inovação nenhuma para o cliente. Antes pelo contrário é uma técnica” interessante da parte dos supermercados para reduzirem de forma manhosa e desonesta custos. Não estão a inovar ou dito de outra maneira, não pretendem inovar visando o bem estar do cliente e o seu beneficio, mas sim pretendem inovar em beneficio de si próprios e dos seus accionistas. Alguém acredita que todos os clientes dos Hipermercados são accionistas e beneficiam (teoricamente) disto mesmo? Creio que não.
Impõe-se a pergunta: qual é o meu interesse – como cliente – em ir a um supermercado e trabalhar gratuitamente, para esse supermercado, fazendo uma parte do serviço dos funcionários do mesmo?
O que é que eu ganho com isso, concretamente?
- Ganho a satisfação ?!?! de trabalhar de borla para um supermercado.
- Pago além disso, ganho continuar a pagar os preços altos dos produtos que adquiro;
- e como bónus, ainda por cima, trabalho a empacotá-los e organizá-los, e depois a ir paga-los eu próprio? Isto é inovação?
Mas depois o autor do Tugatrónica continua falando de inovação no recente Jumbo de alfragide e explicando-a com uma maquineta nova:
“…o sistema Quiq+. No fundo, este sistema era um melhoramento do já existente Quiq (nome dado às caixas self-service no Jumbo). Com este novo sistema o cliente leva consigo um terminal digital onde regista, no momento em que coloca os produtos no carrinho, os produtos que vai levar.”
Aqui ainda é melhor a – “inovação”. No anterior descrito sistema, trabalhávamos de borla registando as coisas que comprava-mos.
Agora – graças a esta maravilhosa inovação – não só trabalhamos de borla para registar as coisas que compramos como somos agraciados pela possibilidade de termos que ser técnicos aprendizes de informática.
Suponho que algum marketeiro publicitário ou um político até dirá que isto é formação profissional…
E nessa nova categoria que o Jumbo de Alfragide nos “vende” como inovação, registaremos no momento da compra os produtos que adquirirmos.
Vantagens para o cliente? Nenhumas. Apenas mais trabalho que é retirado ao sistema informático e ao Jumbo, que pode reduzir o numero dos seus trabalhadores, dado que o trabalho destes – uma parte do trabalho destes – passa desta forma secreta para o cliente.
Só existem benefícios para o Jumbo e restantes hipermercados que passam a ter uma multidão de gente (clientes) a trabalhar – de borla – como:
- técnicos de recolha de informação
- técnicos de análise de informação
- e ainda como técnicos disto tudo – gratuitos.
- que ainda fazem o amável favor de trabalhar numa outra vertente para o Jumbo – mais um bónus adicional – gratuitamente – que é a vertente de estarem a enviar rapidamente e em tempo real para o sistema centralizado do Jumbo as informações acerca dos produtos que estarão a sair mais depressa ou menos depressa – a rotação de stock – de todo o stock.
Isto melhora a capacidade do Jumbo de fazer encomendas aos seus fornecedores- de gerir com menores custos o seu stock ( mas os custos para o cliente não se verão de forma alguma, uma vez que o Jumbo não tem em Portugal economias de escala que o permitem…e mesmo que o tivesse…);
e permite ao Jumbo obter junto dos seus fornecedores talvez, preços melhores e negociar descontos. Irá isso repercutir-se nos preços do Jumbo, isto é, numa baixa de preços, teoricamente?
Duvido, não é essa a prática destes hipermercados. Acaso fosse, teriam conseguído estancar a entrada de cadeias de desconto, nos mercados em que operam e nunca o conseguíram, precisamente porque as cadeias de desconto são ainda mais baratas que os hipermercados.
Para o cliente não existe – verdadeiramente – vantagem nenhuma.
Está a trabalhar gratuitamente para este sistema que – não há que ter medo das palavras – o explora descaradamente e à sua crendice e ainda paga as compras que leva.
Adicionalmente, ( no caso do Jumbo) o cliente ainda é mais explorado através do cartão Jumbo – cito o Tugatrónica:
“Para começar, precisa de ter um cartão Jumbo. Na primeira vez que utilizar este serviço terá que fazer o registo, preenchendo um cupão com o seu nome, nº de cartão e assinatura. Esses dados serão introduzidos no sistema e poderá depois começar a usar o Quiq+. No momento em que se registar serão oferecidos 3 sacos para levar os seus produtos, sacos esses que chegam para acomodar dentro deles um carrinho cheio.”
Para lá de registar as coisas e trabalhar gratuitamente para o Jumbo, para lá de fornecer uma terminal ao cliente para este fazer de técnico de data mining gratuitamente ao Jumbo, ainda é preciso estar registado no cartão jumbo , mais uma técnica de data mining que permite verificar qual é o padrão de consumo de um cliente, para se poder aceder a este maravilhoso ( para o Jumbo) sistema quid+
O “osso” que nos é atirado é a oferta de uma loucura: 3 sacos que chegam para acomodar uma carrinho cheio – de compras adquiridas no Jumbo, presume-se.
Bolas, estou esmagado com estas vantagens.
Oferecem-me (1) a maravilhosa oportunidade de trabalhar gratuitamente para o Jumbo em variadas vertentes, ( 2 ) pago as minhas compras, ( 3) o Jumbo através de um cartão e de um ( 4 ) terminal informático fica com um conhecimento completo do meu consumo e (5) da forma como vivo a minha vida, e no fim, ( 6 ) (que maravilha) ainda me oferece 3 sacos de plástico para eu encher um carro e ( 7 ) gastar mais dinheiro e repetir esta movimentação toda.
Que maravilhoso escravo que me sinto.
Depois no post existem as explicações acerca de como usar este maravilhoso sistema – passar em códigos de barras, usar o cartão, passar o leitor (terminal no código de barras das caixas especiais, etc.
e no fim com a simplicidade que este tipo de artigo demonstra existem as “vantagens”, a demonstração das vantagens:
- O novo sistema facilita a arrumação das compras no carro;
- o novo sistema facilita a arrumação no seu transporte;
- o novo sistema é amigo do ambiente porque elimina os sacos de plástico
- e poupa tempo nas filas para pagar
O método de pagamento, ainda por cima, apenas aceita cartões, naquilo que me parece uma clara violação da lei e uma fuga disfarçada a pagar impostos semelhante à jogada que o Lidl fazia , embora com outras nuances, quando chegou a Portugal. Que era a recusa de cheques como forma de pagamento ou seja, só aceitava vendas a dinheiro. O objectivo era claramente o de fazer o dinheiro entrar e sair rapidamente através do circuito bancário de Portugal para Alemanha ou outro sitio qualquer onde o Lidl tenha as suas contas e os seus offshores e dizer ao país onde está que a forma de pagamento é aquela que o hipermercado/ loja de desconto diz que é, sobrepondo-se ao Estado.
Aqui temos uma mesma jogada disfarçada com a “inovação técnica”. Ou seja, limita objectivamente forma de pagamento restringindo-a apenas à parte electrónica. É claramente discriminação na parte do pagamento e o argumento que se utilize para dizer que as pessoas podem pagar nas “caixas normais” não colhe nem é válido.
Uma vez que, supostamente, os clientes são iguais, e os modos de pagamento são iguais para todos, não se vê como é que um “sistema de inovação tecnológica” exclui os cidadãos menos dotados tecnologicamente e limita os modos de pagamento a apenas meios electrónicos.
Ou seja, aqui ataca-se “tecnologicamente” a liberdade de pagamento, promove-se o desemprego encapotado, põe-se os clientes a trabalhar para o hipermercado e a pagarem ainda por cima para isso, quer em tempo, quer em pagamento das suas compras, e adicionalmente, os clientes ainda fornecem pela sua própria mão ” informação ” – e que não haja enganos – a informação é um bem, o bem mais importante que os hipermercados querem alcançar e retirar dos seus clientes, porque isso lhes permite condicioná-los e levá-los a comprar coisas que nunca comprariam.
Estas habilidades tecnológicas apenas condicionam e ajudam a condicionar mais e mais os clientes. Pela minha parte não irei de forma alguma utilizar qualquer sistema de auto trabalho e ser empregado do Jumbo ou de outro hipermercado qualquer. Contratem pessoas para isso que eu estou lá numa posição: a de cliente.
Não a de cliente-trabalhador.
Não sou eu que vou comprar e negociar compras de produtos do Jumbo para vender aos seus clientes, são os gestores de produto e eles é que ganham ordenados, não eu ou qualquer outro simples consumidor.
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