Archive for Março 2008
A POUPANÇA E O TOTALITARISMO.
Existe uma “definição oficial comum” sobre a poupança.
Contudo, essa definição pressupõe sempre que a poupança nunca tem um valor por si só, que o acto de poupar será “natural”.
Não.
A poupança viaja sempre acompanhada.
O acompanhante é uma camada de moral. Um “subtexto moralizador”.
Esse subtexto moralizador tem 3 funções:
FUNÇÃO 1. Pedir desculpa pelas desigualdades existentes na sociedade; não as questionando.
FUNÇÃO 2. Defender argumentativamente que os mais pobres e necessitados de uma sociedade são pródigos e incapazes de poupar, porque vivem apenas para o presente e, precisamente por isso, são crianças-adultos imaturas, incapazes de controlar os seus impulsos.
FUNÇÃO 3. O que leva à função 3: os “ricos” são virtuosos opositores ao estilo de vida descrito na função 2 e é por isso que são ricos.
No discurso político “normal”, isto é, percebido como “comum”, isto traduz-se por, observarmos políticos e “fazedores de opinião” afirmando que a sociedade é “constituída por aqueles que trabalham e contribuem para o bem estar comum, identificado com a pátria (Normalmente é o eleitorado que vota neste político/partido político que gosta deste discurso… ); e os que vivem subsidiados ( geralmente os mais pobres, embora em Portugal a coisa esteja de tal forma distorcida que até ricos são subsidiados…)
Esta é a visão do mundo a preto e branco.
Convenientemente formatada ao gosto de quem tem “Poder”.
A classe média, obviamente, será uma” personagem”, que terá, quer os vícios, quer as virtudes dos dois protótipos simplistas anteriormente descritos.
Derivado destas definições simplórias retiram-se as soluções do “político” que produz este tipo de discurso e que são três.
1. Os “ricos” devem ser taxados em impostos de forma “leve”.
2. Os pobres devem ser “sempre taxados”.
3. O que origina a “razão racional” que está por detrás da criação de impostos sobre vendas, como o IVA, que é um imposto que poupa “o que poupa”e castiga o consumidor.
Quando o PS aumentou o IVA atacou quem era mais pobre ou de classe média e beneficiou quem tinha mais dinheiro – “quem o poupou”.
Quem o “poupou” são os Bancos/accionistas – todo um sector financeiro.
Que para salvar o pobre/classe média, irá, depois, oferecer crédito a quem já é pobre (argumento de venda: recuperar o seu estilo de vida; deixar de ser pobre).
O pobre/classe média mais se prejudica quando aceita.
Em termos reais tem menos dinheiro, mas é induzido a ir buscar mais dinheiro emprestado, a quem… mais o tem.
Os mesmos detentores de poder neste sistema.
Solução: “não emprestar” gratuitamente, dinheiro a ricos, ao estar-se a pedir empréstimos para consumo, (crédito) que, por via do pagamento de juros sempre artificialmente criados, apenas significam que se está a alimentar ainda mais esses, já ricos, jogadores do mercado.
É precisamente por isto que os Bancos ficam atrapalhados quando executando uma dívida de alguém que não pagou o credito, essa execução seja feita sobre uma casa – um imóvel, que é capital que não se pode emprestar; só vender.
PEQUIM 2008. TIBETE. BOICOTE.
Através do Daniel Marques.Net chego a este relato na primeira pessoa directamente do Tibete.
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Devem saber o que se passa no Tibete… O que vos posso dizer eh que tudo eh muito mais violento do que mostram na televisao. Foi muito muito violento. Para os tibetanos vai ser um massacre. Nunca vamos saber quantos morreram ou morrerao. Para nos, alem de violento psicologicamente, foi mais perigoso porque acabou por se saber que fomos os dois (eu e o Miguel) as unicas testemunhas do principio de tudo (no mosteiro de Drepung, onde estavamos no dia 10 de Marco, por acaso).
Ficamos imediatamente controlados pela policia ao ponto de, a caminho para o Nepal, nos dizerem que estavamos presos no hotel. Nunca tinha sentido o que era estar “presa” nao porque tivesse feito alguma coisa mas porque nao queriam que falassemos. O nosso mail e telefone ficaram, tambem, imediatamente controlados e as nossas maquinas fotograficas bem inspeccionadas.
Vimos a maior violencia policial que podem maginar, sobre pessoas desarmadas. Nao vimos ninguem morrer, mas sabemos que muitos dos monges com quem estivemos durante todo o dia 10, morreram depois, nesse mesmo dia. Vai ser um massacre em Lassa. Tudo o que disserem nas noticias de contrario podem acreditar que eh mentira. Ha lugares no mundo onde pessoas morrem por terem opiniao. Nao se passa apenas na distancia da televisao, ou em filmes com actores conhecidos, passa-se na realidade e muito perto de nos.
Clara Faria Piçarra no Minisciente
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Um dos falsos argumentos utilizados para se dizer que não se deve boicotar os Jogos Olímpicos de Pequim consiste na afirmação de que “não se devem misturar duas coisas diferentes – a ditadura Chinesa e uma manifestação desportiva. E que isto (a insurreição no Tibete ) é tudo muito complexo.
Em 1979 e 1980 os países Ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, abriram um precedente. Misturaram duas coisas diferentes – a invasão do Afeganistão pela então USSR e os jogos Olímpicos de Moscovo.
Era, também, à época, uma situação muito complexa.
E no entanto…abriu-se um precedente…
É espantoso o que 28 anos de diferença podem fazer, alterando a percepção de coisas misturadas.
E alterando a percepção do que é complexo e do que não é complexo.
Talvez este mapa em baixo possa ajudar a perceber estas complexas mudanças de percepção.
Este é um quadro que mostra a percentagem de empresas multinacionais oriundas de mercados ( países) emergentes e qual é o peso relativo dos países na percentagem considerados. A “unidade de medida a que corresponde o quadro é 100”. ( 46 empresas chinesas, 21 indianas, 12 brasileiras…etc…)
Estas empresas, estão presentes não só nos mercados de origem (Ásia) mas também na Europa, África e Estados Unidos. Uma delas é só a número dois a nível mundial no fabrico e venda de computadores portáteis.
É uma situação muito complexa, esta…
CAMPANHAS DE PUBLICIDADE DESPREZÍVEIS. PORNOGRAFIA PUBLICITÁRIA.
No artigo intitulado ” sistema queixa electrónica. Os antecedentes”, era escrito no fim do mesmo o abaixo transcrito:
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Nota final 3.
Fico a aguardar que a FCCN patrocine um sítio Internet que insista na necessidade de se proibir publicidade especificamente destinada à crianças e que proíba o uso de crianças na publicidade.
Já que o problema primordial parece ser a “preocupação com as crianças”, então convém preocupar mo-nos com todas as dimensões do problema e não só com algumas.
Convenientemente escolhidas a dedo.
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O Banco espírito Santo lançou ( faz isto todos os anos) por alturas de Outubro/ Novembro de 2007 uma campanha publicitária, visando incentivar as crianças a pouparem.
Este é o tipo de publicidade, ofensiva, de mau gosto, anti social, anti mercado, desprezível, manipuladora, destrutiva das relações de confiança entre os clientes e as empresas.
É uma campanha assente na mais completa mistificação e tentativa de manipular e enganar os pais, e a sociedade no seu conjunto. É algo abjecto e que está para além da mera publicidade enganosa.
O Banco Espírito Santo é um banco comercial. O comércio, pressupõe ( senão não seria comércio) a compra e venda de produtos ou serviços.
Sendo um banco, a sua actividade principal é, mesmo historicamente, a venda de dinheiro, cobrando juros por isso.
Um banco comercial empresta dinheiro a particulares ou empresas para que estas o invistam nas mais variadas coisas e cobra uma percentagem em juros por isso.
Um banco comercial também aceita depósitos em dinheiro de particulares ou empresas e remunera esses depósitos.
O que está em baixo, embora pareça isso, vai completamente para além disso.

Leia-se em cima uma parte das declarações absolutamente inacreditáveis da responsável de Marketing do banco.
Tradução concreta: banco com o braço esquerdo faz campanhas incentivando ao consumo, e com o braço direito faz campanhas incentivando à poupança.
Mesmo considerando isto legítimo, o que não é legitimo é “atacar” o tipo de consumidor que não se pode defender. A criança.
E usando os pais da criança como arma de ataque para isso.
O mais hipócrita e desonesto ali é a parte em que a responsável de marketing, afirma: ” o BES acredita na importância da poupança para a construção de uma sociedade equilibrada”.
Cinismo, falta de valores ( comerciais), hipocrisia. Ninguém outorgou ao BES a missão de educar crianças; isso pertence aos pais.
Isto dito, com a maior desfaçatez, no lançamento de uma campanha de poupança juvenil.
Mais espantoso ainda é que se diga que o acto de poupar está cada vez mais arredado dos hábitos dos adultos e da agenda dos adultos.
( Bom… para isso tem contribuído o BES e todas as outras entidades com as massivas campanhas de incentivo ao consumo, os constantes créditos ao consumo, a oferta de variados produtos de crédito para se consumir).
Para “incentivar à poupança” e para fazer chantagem emocional com a psicologia dos pais que são depois pressionados emocionalmente pelos filhos que lhes dirão que não gostam deles porque eles não lhes compram “X”, o BES oferece às crianças um livro de histórias escrito por Rosa Lobato Faria, e ilustrado através da marca Agatha Ruiz de la Prada.
(Visando estabelecer o conflito entre dar e não dar ao “filho”por parte do pai pressionado pelo filho a fazer isto para receber o livro de histórias ilustrado… )
Que, como todas as pessoas sabem é uma marca “barata”, que tem produtos baratos, e que é sinónimo de austeridade e de sobriedade ( isto é, de poupança…) na compra de roupa ou outros produtos do mesmo estilo.
Subverte-se tudo o que são conceitos de publicidade, de economia de mercado, de psicologia afectiva e familiar, mais a mais, até vindo de um banco que tem a pretensão ( é só mesmo isso:pretensão) a ser um banco conservador e austero.
O conservadorismo é arrumado de lado dando lugar à chantagem de progenitores apelando à criação artificial de disputas entre filhos e pais para através desta disputa lucrar.
Também é outra forma de enganar deliberadamente consumidores ( o mercado) com esta conversa acerca do incentivo à poupança juvenil por parte de crianças/adolescentes, porque os adultos não o fazem.
Há razões para não o fazerem e o BES lucrou com essas razões.
Também se deve salientar que o BES , tão amoroso que é quis “conhecer a perspectiva das crianças”…
O facto de essa perspectiva permitir definir perfis de consumo e comportamentos e poder agilizar e tornar mais fáceis as estratégias para melhor vender não teve nada a ver com este desejo intenso de “conhecer a perspectiva das crianças…”
A FCCN perante este caso de notória pornografia vai fazer alguma coisa?
Concerteza que não vai. Aí a “bola” é mandada para o código da publicidade e pseudo autoridades competentes que, concluirão, que tudo está de acordo com a lei.
E assim, se continua a usar a lei para subverter o sentido da lei…
Ninguém parece muito incomodado com isso.
Em termos de dados pessoais e privacidade o facto de crianças pequenas e a sua família terem perfis de consumo definidos por uma entidade privada, perfis esses obtidos através da permissão do uso destes métodos totalitários não incomoda ninguém?
Nem o óbvio totalitarismo destes métodos?
Aqui o “Estado” como recolector de informação é substituído por uma entidade privada.
Isso é tão perigoso como se fosse o Estado a fazê-lo.