EURO 2008. SELECÇÃO NACIONAL. PORQUE NÃO A APOIO.
Gosto de futebol. Vejo imenso futebol. Apoiei a selecção nacional em anteriores campanhas. Actualmente não a apoio.
Considero perigoso para este país que esta selecção nacional ganhe este campeonato europeu. Considero perigoso para os portugueses ( embora não todos, que nestas alturas existem sempre os beneficiados…) que esta selecção seja usada como está a ser usada, para disfarçar outras coisas graves que estão a acontecer.
Sinto-me como os pretos da África do Sul antes do Apartheid ter sido derrubado. Cidadãos de um país eram discriminados pelo facto de terem a cor da pele que tinham. Retaliavam em relação à minoria branca, indo ver os jogos da equipas internacionais – de selecções e de clubes que visitavam a África do Sul – apoiando as equipas estrangeiras. Especialmente no Râguebi onde existiam geralmente mais apoiantes da equipa estrangeira nas bancadas a apoiá-la do que apoiantes brancos da equipa de Râguebi da África do sul.
Em Portugal estamos a chegar ao mesmo nível, agora já não a cor da pele, mas sim a chantagem emocional e psicológica cheia de insinuações e quase afirmações de que, “quem não apoiar a selecção” não é bom patriota”.
Entre isto e o Salazarismo a diferença é mínima.
De que, quem não comprar produtos de marcas que dedicam o seu apoio comercial à selecção está quase a cometer um crime e deverá ser exemplarmente punido.
Isto é um prototipo totalitário de vida em sociedade que deve ser desmascarado, denunciado, contra o qual nos devemos rebelar sem qualquer tipo de intransigência.
Não aceito que um seleccionador nacional de nacionalidade brasileira, querendo ocultar a sua falta de trabalho e de qualidade e querendo prevenir eventuais fracassos derivados da sua falta de trabalho a conduzir esta equipa, esteja permanentemente a apelar à união dos portugueses em torno da selecção, como forma de distrair as atenções.
Estar unidos à volta da selecção como se fosse um imperativo categórico absoluto que varre para baixo do tapete todas as críticas que possam ser feitas ao comportamento do seleccionador e da selecção como se fossemos todos impedidos através desta ordem não escrita de fazer criticas quando achamos que as devemos fazer.
Não temos que aturar este tipo de tácticas inventadas por um seleccionador para se precaver e justificar maus resultados; não é para isto que ele é pago e bem pago. É pago para treinar a equipa e a por a jogar o melhor possível, não para fazer proclamações políticas que servem para seu uso (benefício) pessoal.
Não temos que condescender com o paternalismo e com a invocação de elementos de mística religiosa e apelos ao divino, que justifiquem ou pretendam justificar o apoio à selecção ou a razão pela qual a selecção perde um jogo ou ganha um jogo.
A serem as coisas assim, ninguém precisava de treinar o físico a cabeça, a táctica, para melhorar; bastava invocar Deuses em seu nome e estava tudo resolvido com essa invocação.
Não apoio o totalitarismo mediático que está a rodear esta selecção e que justifica que fiquemos todos reféns de longas horas de transmissões televisivas de irrelevâncias do futebol e de amostragens entusiásticas de estofos de aviões onde os “nossos craques se vão sentar ” e outro tipo de parvoíces semelhantes.
Não aceito o argumento de que “se pode mudar de canal” e ver outra coisa. Não só existem pessoas que não podem porque não tem possibilidades económicas ou culturais de ter TV cabo e ver outros canais, como muitas vezes, se está a ver o mesmo em 5 ou 6 canais de televisão. Isto é uma forma de discriminação aplicada sobre parte da população que, querendo ver na televisão em sinal aberto qualquer outra coisa, é privada de forma totalmente arbitrária e discriminatória, em certos dias, de o fazer.
Não aceito o perigoso conceito de nacionalismo que está a ser praticado.
Não aceito cartões de crédito de marcas especiais a convidarem-me para ser algo que já sou, a patrocinarem a selecção.
Acaso esta selecção ganhe este campeonato, ser-no-á dito que é patriótico aceitar alterações às leis laborais ou aumentos de preços de combustíveis ou privatizações da saude ou qualquer outra coisa, porque isso significaria que Portugal é um país de sucesso, dando e usando a selecção nacional como exemplo. Misturando para convencer, pessoas a aceitarem imensas coisas que vão contra os seus interesses.
Sinto-me como um preto da África so Sul e por isso apoio a derrota da selecção. E não admito que me chamem anti patriota. Pátria não é isto. Este banzé alucinado e este barulho idiota usando o nome de Portugal como pretexto não é a pátria.
Isto quando existem inúmeras pessoas desempregadas, quando estamos em crise económica profunda, quando temos problemas económicos e sociais da mais variada ordem, quando o país ameaça desmoronar-se em pequenos pedaços, não é aceitável esta mistificação que está a ser feita usando o futebol e a selecção nacional para servir os interesses de alguns.
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