MÉDICOS DE CLINÍCA GERAL DEFENDEM CRUZAMENTO DE DADOS.
Uma das classes mais protegidas da sociedade portuguesa (europeia?) decidiu deixar cair a mascara.
E, sob a capa da eficiência tecnológica médica defendem uma das mais perigosas medidas que se pode propor: o cruzamento de dados médicos, que depois, andariam a flutuar ao sabor dos interesses económicos.
Parece que a definição é a seguinte.
As tecnologias de informação são uma “ferramenta de partilha de cuidados”. Esta é uma expressão tão vaga, tão cheia de vácuo que percebemos que a médica dinamarquesa que a proferiu estará concerteza a candidatar-se a um qualquer cargo político.
É também uma teoria segundo a qual os cuidados a ter com o doente serão partilhados Deveras ?
Está-se a pretender convencer as pessoas que o médico e o doente, conjuntamente, estarão democraticamente a decidir a solução de uma doença. Na maior parte dos casos, o doente não tem qualquer informação ou conhecimento acerca de terapêuticas.
O próprio clínico – normalmente dotado da maior das arrogâncias e possuído do mais completo mercantilismo – apenas diz e assim se faz.
A ferramenta permitirá ao doente e ao clínico:
(1) rever o historial (2) marcar consultas (3) informar-se sobre medicação (4) ver resultado de exames (5) e a realização de consultas pela Internet.
Isto é extraordinário. Nada disto requer a existência de uma médico. Diria mesmo que pelo andar da coisa, o doente caso necessite de uma operação poderão – através da partilha de cuidados – operar-se a si mesmo sem a necessidade de um médico.
Como já pode ver o resultado de exames, informar-se sobre medicação, rever o historial, marcar consultas a si mesmo através da Internet está(rá) habilitado a operar-se a si mesmo?
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A mesma médica dinamarquesa que explicou estas vantagens também explicou logo as desvantagens ( que anulam largamente as vantagens…)
(1) Admitiu a eventual existência de constrangimentos resultantes da concentração de dados em sistemas informáticos (2) sobrecarga de informação (3) susceptibilidade perante cortes de energia (4) necessidade de garantir a segurança dos dados (5) e a eventual redução da avaliação médica limitando-se este maravilhoso sistema totalitário ao armazenamento de dados.
No artigo “Tabaco Sócrates” a dada altura escrevi o seguinte:
Eu sou a favor da democracia e do pluralismo numa sociedade. Acho que o totalitarismo é uma coisa má. Peço desculpa. Estou envergonhado pelo que acabei de escrever;isto de ser à favor da democracia e do pluralismo é algo que está fora de moda e não se enquadra nas sociedades modernas do nosso tempo, que, aparentemente são “pós-modernas e pós democráticas”.
Dissidente-x a purgar-se de forma irónica.
Depois escrevi o seguinte:
Mas é um totalitarismo muito especial.
Paradoxal.
Aquilo ( actualmente) que causa o dano deverá ser aquilo que origina a cura do dano.
Esta médica dinamarquesa é absolutamente excepcional. Causa o dano com as suas ideias totalitárias disfarçadas de avanços tecnológicos e ao mesmo tempo propõe a cura dizendo-nos quais são os perigos que advém das soluções que propôs para melhorar qualquer coisa.
Isto é a pós-democracia em todo o seu esplendor, ou melhor, são os médicos a afirmarem que desistiram de ser médicos e que preferem ser guardiões de um sistema totalitário a implementar, apenas mordomos desse sistema, de um pequeno segmento desse sistema.
As soluções “ferramenta de partilha de cuidados” são todas, mas absolutamente todas, soluções que apenas empurram trabalho e responsabilidade para cima do doente e o retiram do médico.
Os perigos são problemas derivados das “soluções” e impõem gastos de dinheiro gigantescos, isto caso uma sociedade que os adopte queria ser democrática, e continuar a sê-lo.
Como a democracia é um valor em declínio substituído pelos custos e pelo dinheiro provavelmente, se ninguém nada disser, irá avançar-se para as soluções e ignorar os perigos.
A notícia é do Correio da manha – 25 de Junho de 2008
Quem organiza este simpático colóquio totalitário é a Fundação Astra zeneca. A Astra Zeneca são laboratórios de produção de medicamentos.
– Vamos supor que um grupo bancário decide comprar este laboratório.
– Um grupo bancário tem dentro do seu núcleo de negócios companhias de seguros.
– As companhias de seguros vendem seguros de saúde.
– As companhias de seguros tem interesse prévio em saber qual é o historial clínico do doente/cidadão que se quer segurar.
– Com dados informáticos organizados da forma que a médica dinamarquesa explanou NINGUÉM escapa a ser prejudicado na compra de seguros de saúde e no ser ou não ser preterido para fazer tratamentos ou outras formas de intervenção clínica.
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