TEORIA DOS JOGOS.
s teorias dos jogos são técnicas matemáticas. O objectivo é demonstrar que tomando decisões estritamente racionais, e numa situação em que dois intervenientes façam tal, ambos sairão a ganhar ou pelo menos ambos a não perder.
♦
( São também teorias que (mesmo que os que as estudem, estejam em desacordo…) que reflectem uma visão negra e sombria do ser humano, visão em que o ser humano está sempre a desconfiar de todos os que o rodeiam).
♦
Partindo do princípio que apenas temos dois intervenientes neste processo, estes funcionarão de forma racional e buscarão obter “optimizações em separado” das consequências das suas decisões (racionais). Foram “aperfeiçoadas”, revistas e aumentadas” pelo matemático Jonh Nash, (Retratado demasiado simpaticamente no filme “Mentes Brilhantes”) e outros nos anos 50 quando trabalhava para a Rand Corporation (um centro de estudo e análise norte americano), após terem sido desenvolvidas no inicio do século 20.
Nash quis mostrar que através da criação de modelos de análise matemática baseados na suspeita e no interesse próprio seria possível, numa dada sociedade, criar estabilidade (e assim alcançar controlo social).
Reorientando:este texto e voltando às optimizações em separado; ou dito de outra maneira; os seres humanos constantemente a suspeitarem uns dos outros, para alcançarem o que querem, constantemente orientam as suas estratégias em função uns dos outros.
Aquilo que eu (ser egoísta) faço está permanentemente ajustado ao que tu (ser egoísta ) fazes. E o que tu (ser egoísta) fazes está perfeitamente ajustado ao que todos os outros (seres egoístas) fazem.
O que significa que “todos os intervenientes nesta maneira matemática de ver o mundo” buscam optimizações em separado. (Ganhar vantagens…ou não perder o que se já tem)
Isto pressupõe que cada “jogador (ser humano egoísta) está sozinho. E não muda unilateralmente a estratégia que está a seguir. (Por exemplo, tornar-se altruísta)
♣
As teorias dos jogos partem sempre do pressuposto que os (dois ou mais ) “jogadores” são sempre egoístas ( que fazem a busca racional do interesse próprio) e rejeitam o altruísmo e a cooperação (apesar de, regra geral, beneficiarem ambos mais dessa posição do que o contrário).
E que optam sempre por satisfazer primeiro os seus interesses egoístas e o seu ganho próprio. Daí ajustarem a sua estratégia pessoal a isso mesmo e não a alterarem unilateralmente.
♦
Apesar de nos manuais de economia e gestão nada disto vir escrito, Isto é também conhecido na economia/ finanças públicas (tradução) como a “Teoria da escolha pública (Public Choice)” ou noutra versão mais “política” por liberalismo económico e na política/sociedade plena por “neoliberalismo ou sociedade liberal” (não confundir coma expressão em inglês que não significa o mesmo).
Em Portugal, seguindo a moda importada dos EUA e de Inglaterra, esta moda intelectual da Public Choice, que pressupõe que o mundo só tem 40 anos de idade, e todos somos egoístas foi muito implementada nas cadeiras de economia, de gestão de empresas e de direito a partir de meados da década de 80.
Era necessário formar legiões de crentes *. Os resultados estão à vista.
Para os políticos, isto permitiu afirmar bonitas declarações acerca da liberdade em sociedade; que as pessoas continuam em busca da felicidade pessoal e do livre arbítrio, enquanto que, e ao mesmo tempo, a sociedade não cai na mais completa anarquia.
Cria a ilusão social de que todos somos jogadores sociais racionais, que as nossas estratégias de vida fazem sentido e que todos nos ajustamos felizes e alegres, uns aos outros.
Do ponto de vista “analítico” deste artigo (isto não vem nos manuais de economia) isto pressupõe que os indivíduos estão sozinhos, a reconstruírem mentalmente o seu inimigo (outro ser humano) e olham o outro como um inimigo implacável ao qual é necessário reagir e estar preparado, tentando perceber qual é a estratégia racional do outro e adequar a nossa.
♦
Estas teorias tem um problema: não se correlacionam com a forma real como os individuos se relacionam uns com os outros no mundo real. Excluem o altruísmo como forma de relacionamento dos seres humanos, excluem a cooperação como forma de relacionamento.
Por exemplo. (Isto também não vem nos manuais de economia)
♦
Há muitas versões das Teorias dos Jogos, mas todas envolvem dois jogadores, onde estes têm de decidir, se hão-de confiar ou trair o outro.
Para o exemplo explicado em baixo da Teoria dos Jogos – uma versão crua do que é conhecido por “Dilema do prisioneiro”, precisamos de vários ingredientes.
Uma imagem visual ajuda a explicar melhor…
O DILEMA DO PRISIONEIRO
Deveremos fazer um exercício de imaginação. Imaginarmos que somos ladrões e roubámos uma jóia valiosa – um diamante azul.
Não podendo movimentar sozinhos o diamante concorda-se em ceder a troco de uma avultada quantia o diamante azul ao bandido perigoso.
Combina-se um local de encontro para trocar o diamante pelo dinheiro.
Começamos a pensar que o bandido perigoso nos poderá matar na altura da troca e ficar com o diamante e o dinheiro.
Por isso, sugere-se uma alternativa – um local remoto onde escondemos o diamante.
Escondemos o diamante azul num local remoto (1), e o bandido perigoso vai para um outro local remoto diferente, (2) um outro campo a centenas de quilómetros de distância para nos garantir protecção e permitir ao bandido perigoso esconder o dinheiro.
Após estes preparativos telefona-se ao bandido perigoso e nesse telefonema ambos dirão um ao outro qual o respectivo local do esconderijo para irem respectivamente, levantar o dinheiro e o diamante.
♣
Mas no momento exacto em que vou fazer a chamada telefónica compreendo que o posso trair.
Torno-me ganancioso (o meu interesse próprio sobrepõe-se ao meu altruísmo e ao acordo em que ambos ficaríamos a ganhar) e fico com o diamante.
E vou buscar o dinheiro, enquanto o bandido perigoso procura em vão, no campo vazio onde eu deveria ter deixado o diamante escondido.
No entanto, enquanto tudo isto me passa pela cabeça, compreendo que o bandido perigoso pode estar a pensar a mesma coisa que eu.
Que ele me pode trair.
Não disponho de qualquer forma de prever como a outra pessoa – o bandido perigoso – se irá comportar.
Este é o dilema (do prisioneiro).
Mas o que as equações criadas pelo senhor senhor Jonh Nash (e por muitos outros depois e alguns antes…) na altura da Guerra fria demonstraram, ( o que dá origem a muitos problemas actualmente…) para é que a escolha racional a fazer, é sempre a da traição.
Não cumprindo o acordo, o pior que me pode acontecer é apenas ficar com o diamante azul;que eu já tinha.
Através da traição, o melhor que pode acontecer é ficar com o diamante e o dinheiro.
Mas se confiar na outra pessoa – no bandido perigoso – corro o risco de perder tudo!
Porque o bandido perigoso pode trair.
É o que se chamou a “recompensa do tolo.”
♣
O que o Dilema do Prisioneiro expressa, é a lógica estranha e bizarra da Guerra Fria.
Conclusão: a solução óptima, ver-se livre de todas as suas armas nucleares (ou outras), desde que os russos fizessem o mesmo, nunca poderia acontecer.
Porque não se podia confiar, que eles não fizessem batota.
Assim, optou-se pela estabilidade de posições.
Criada por um perigoso equilíbrio de armamento em ambos os lados.
( o que ajuda a explicar a lógica imbecil da esquerda europeia do anos 80 quando pretendia o desarmamento nuclear unilateral…e o porquê de ele não ter sido feito.)
O que o matemático Jonh Nash fez foi aperfeiçoar/criar a ideia de que toda a sociedade funciona sempre assim.
POSITIVO:
Para os políticos, provou que se podia ter uma sociedade baseada na liberdade individual, mas que não degenerava no caos.
EXTREMAMENTE NEGATIVO.
Desde que aplicada esta lógica, o preço desta liberdade, significa que o mundo é um local onde todos tem que desconfiar de todos.
NOTAS.
– Não é verdade que as pessoas todas de uma sociedade actuem na maior parte do tempo apenas movidas por busca do interesse próprio e por egoísmo.
– Só os economistas e os psicopatas funcionam sempre na busca do interesse próprio. O resto dos cidadãos, não.
NOTAS 2.
A pessoa que escreve o Dissidente-x, não se vê como uma cruzado orientado contra a pessoa que está retratada como “bandido perigoso”.
A pessoa que escreve o Dissidente-x lamenta não ter talento para roubar diamantes azuis.
NOTAS 3.
– Em qualquer filme americano de polícias e ladrões, as cenas de interrogatório em que dois prisioneiros são interrogados separadamente reflectem a teoria dos Jogos – O dilema do prisioneiro.
– Especialmente os americanos, através de centros de pesquisa e análise tem estudado e aplicado esta teoria aos seus relacionamentos com outros povos e no relacionamento económico, quer com outros povos, quer dentro de países em que isto seja aplicado, quer dentro da própria América. (Isto não vem nos manuais de economia)
É uma teoria que apela ao pior dos seres humanos, e é uma teoria que é muito limitada porque considera a liberdade sob uma visão muito estreita do que é liberdade.
♦
O actual regime político português vê o país e os portugueses de acordo com esta teoria. Olha para as pessoas tendo medo delas e imaginado-as como um ser hostil e incorpora essa imagem das pessoas tentando ajustar estratégias para combater o “inimigo”.
(Por exemplo, a maneira como tem sido tratados os funcionários públicos nos últimos 3 anos é exemplar disto, e a maneira como se espera vir a tratá-los neste ano (ajustando a estratégia) também é exemplar…
♦
* Todas as ideologias precisam dos seus mitos para se poderem impor. O mito do neoliberalismo é a história do empreendedor: o homem ou mulher que mercê de muito trabalho, muita criatividade, muita inspiração, muito gosto pelo risco, muita inteligência, muita energia, muito carisma e alguma sorte conseguiram obter aquilo a que se chama “sucesso” (normalmente medido em termos de riqueza adquirida).
Deixe uma Resposta