FULL SPECTRUM DOMINANCE – DOIS
No post “Full Spectrum Dominance” falava-se a dada altura do senhor George Friedman, director (CEO) da agência privada americana de produção de conteúdos na área da inteligência económica e da análise geoestratégica chamada “Stratfor”( desde 1996).
Fredman, um bom patriota americano, através da fascinante exploração da história e dos padrões geoestratégicos, afirmava, quer no livro, citado no post, quer no vídeo lá colocado várias coisas, e transcreve-se uma parte:
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1. Que a guerra EUA – Jihadismo muçulmano terminará. Sendo substituída por uma segunda guerra fria com a Rússia.
Comentário:
É uma necessidade para a América (e para certas partes do mundo ocidental) que a guerra Jihadista termine. Nada melhor do que tentar ajudar a fazê-lo, moldando os que praticam a guerra jihadista; afirmando que num futuro próximo, a guerra jihadista terminará. Dessa forma “corta-se” e anula-se o ímpeto para a guerra.
Pergunta do advogado do diabo: mas e se os Jihadistas não lerem o livro de George Friedman?
Então também o livro e as ideias nele veiculadas tem a sua utilidade. (Um novo argumento de marketing irrompe…) Desde logo para Friedman, e para a Stratfor, quer através dos honorários recebidos, quer através do prestigio e polémica derivadas que acarreta um livro desta natureza com teses tão controversas.
E também, para aqueles que, dentro do campo de Friedman, ou seja, habitantes do mundo Ocidental, estejam “hesitantes” em reconhecer méritos à guerra ao terrorismo actualmente empreendida pelos EUA, (devido ao facto de a “Guerra contra o terrorismo” estar a servir para limitar liberdades civis por exemplo…) por não verem qualquer “lógica concreta” e racionalidade nessa guerra.
Antes, verifica-se que é apenas, parcialmente, a defesa estrita dos interesses dos EUA, nomeadamente no controlo de fontes de produção de energia.
A nova Guerra fria com a Rússia é apenas uma necessidade desesperada dos EUA. É necessário encontrar um novo inimigo “visível” que replique as condições existentes pré 1989, e dessa forma, a existência desse novo inimigo – real ou imaginário – possa fazer os EUA voltarem a ser ( de um ponto de vista simbólico e legitimador) necessários ao resto do mundo.
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2. Que a China irá ter uma importante crise interna, e que o México irá emergir como um importante Poder Mundial.
Comentário:
É absolutamente desejável que a China (do ponto de vista dos EUA) tenha uma crise interna (ou 2 ou 3 crises…). Se a China tiver uma crise interna, o desenvolvimento galopante da China, não acontecerá, e como tal, deixará de poder colocar-se numa posição geoestratégica de contestação ao poder dos EUA.
Não interessa pois, definir qual será o tipo de convulsão interna que a China tenha; apenas interessa que o tenha para que o desenvolvimento chinês seja atrasado. (Seja qual for a definição de desenvolvimento que se queira ter…)
Não existe aqui qualquer altruísmo, mas sim e apenas o desejo de que o “potencial adversário rebente”, mesmo que por exemplo, tal aconteça sendo uma democracia consolidada e estável.
Pergunta do advogado do diabo: Se a China for ou tornar-se uma democracia pacifica, e suplante os EUA, isso também não interessa, mas os desejos de que a china tenha uma grave crise interna serão mantidos à mesma ou não? (Suspeito que sim…)
Quanto ao México, tornar-se uma grande potência, é apenas uma lógica argumentativa baseada na persuasão, pretendendo convencer, antes de mais, os mexicanos que será melhor para eles “juntarem-se” aos EUA, para ambos, se tornarem “uma grande potência” – amiga e unida na fraternidade.
Chama-se” amaciar o ego”. Chama-se “tentar passar o México ” para o nosso lado, continuando a pagar-nos a absurda divida financeira que o México tem para com o sistema financeiro dos EUA.
Se isto for assim, porque é que já antes ao se proporcionou ao México que pudesse tornar-se uma grande potência? (Ver Dissidente -x : como se fabricou a crise financeira mexicana de 1982)
E os mexicanos – após terem já sido várias vezes ao longo da sua história prejudicados pelos EUA, irão agora “acreditar” nesta declaração de fé dos analistas norte americanos, ou irão desconfiar?
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3. Que em meados do século, uma nova guerra se desenhará entre os EUA, e uma inesperada coligação de forças, da Europa de leste , da Eurásia, e do Extremo oriente, mas os exércitos serão mais pequenos e a guerra “limitada”.
Toda a geo estratégia anglo-saxónica se baseia na origem e a origem chama-se Halford Mackinder.
No século 18, a política britânica preocupava-se com a expansão da Rússia pela Ásia Central e de como isso afectava o Império britânico (a Índia).
E depois, após gerações de preocupados políticos, surgiu o Messias do império, Mackinder.
Este definiu que:
A) Existia um “mundo – ilha” – Ásia, África, Europa, o mais rico e vasto de todos os territórios.
B) Existiam as “ilhas ao largo do mundo ilha” – ilhas britânicas e as ilhas que compõem o Japão.
C) E existiam as “ilhas ainda mais distantes ao largo do mundo ilha” – América do Norte, América do Sul e Austrália.
O “mundo-ilha” chama-se “heartland “/ coração da Terra, na figura – que Mackinder (ou o Império britânico a falar pela voz de Mackinder) considerava como sendo o centro do mundo.
E a partir daí definiu que:
A) quem comanda a Europa de Leste (isto é, a Rússia, principal preocupação dos geoestrategas britânicos no séculos18/19) comanda a “Heartland”;
B) Quem comanda a “Heartland” comanda a Ilha -Mundo”;
C) Quem comanda a “Ilha Mundo”, controla o mundo.
Por causa dos temores infantis de uma teoria que está “algo ultrapassada” mas que é seguida pela geopolítica norte americana (e inglesa) até por necessidade psicológica de o fazer (senão, como iriam arranjar empregos e proveitos todos estes “analistas” pertencentes ao complexo militar industrial americano?), tal explica as afirmações de que uma “coligação” de forças “eurasiáticas” que irá romper a situação actual. (Tradução a um outro nível económico: a Rússia entrar para a União europeia…)
É uma “cópia” do “Mackendirismo” original, e é um “convite” quase provocatório no nariz dos europeus, dos asiáticos e dos que estiverem à mão de semear para que se sintam provocados e “criem de facto” esta “coligação”.
Será também só assim que a “profecia” poderá ser cumprida e o profeta ser canonizado.
Também é uma tentativa de criar “Full Spectrum Dominance” provocando uma guerra (mas uma guerra “prévia” quando quem a instiga está pronto para ela, enquanto que os adversários não o estão) . Existe uma dimensão – a dimensão do armamento nuclear dominada pela Rússia – que escapa aos conceitos de controlo total presentes na doutrina americana de “Full Spectrum Dominance””.
Penso que será por isso que se argumenta que “os exércitos serão mais pequenos e a guerra limitada”. (tradução: pequenos conflitos regionais ou semi regionais…)
Pois… não se pode brincar aos conceitos de “Full Spectrum Dominance” com armas nucleares.
Arriscamo-nos a que o terreno de jogo desapareça.
E também não se pode argumentar, num livro de prognósticos futuristas, outra coisa que não isto, criando uma solução argumentativa: que os exércitos (necessários para que esta aparentemente necessária confrontação exista) terão que ser mais pequenos… (Tradução: conflitos localizados e regionais não precisam de exércitos grandes…mas sim de atrito constante…)
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4. Que a tecnologia irá concentrar-se no espaço, quer para uso militar, quer para procura de fontes de energia.
Comentário:
Esta teoria “espacial” é bastante original uma vez que apenas foi declaradamente formulada no ano 2000, quando PNAC – o projecto americano para o novo século foi lançado ao vivo e em directo.
Na página 66 e 67 do respectivo diz-se que:
“Unrestricted use of space has become a major strategic interest of the United States.” (p. 66) …”space is likely to become the new ‘international commons’, where commercial and security interests are intertwined and related.” (p. 67)
Tradução a martelo: O uso irrestrito do espaço tornou-se um interesse estratégico da maior importância ( página 66) …o espaço irá provavelmente tornar-se o novo standard comum” onde os interesses comerciais e de segurança estarão interligados e relacionados”…( página 67)
Em 2008, somos informados pelo senhor Friedman, de algo que já tinha sido definido em 2000, mas desta vez somos informados disso, como sendo uma novidade… absolutamente nova.
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5. Que os EUA irão experimentar uma nova “Idade de Ouro” a partir de meados deste século.
Comentário:
A ideia da nova “Idade de Ouro” deriva de uma ideia original da Grécia antiga. Onde as pessoas viviam em prosperidade e harmonia,. Esta mitologia carrega dentro de si a ideia de que, para a Humanidade, tudo se tornou pior e pior desde a “ideia original grega”. E atrás da ideia de “Idade de ouro” vem as ideias de “Idade de prata” onde as coisas já não eram tão boas, da “Idade de bronze” – ainda pior, e a “Idade do Ferro” – a nossa idade actual, onde a guerra e a violência existem.
Ao lançar a ideia de idade de Ouro, Friedman está a jogar com o imaginário e com a mitologia.
No post Dissidente-x chamado o “Planeta americano”, a dada altura diz-se que:
” … No segundo capitulo – O amor a Deus – Verdu explica como em nenhum outro país a vida pública é tão imbuída de religiosidade como nos Estados Unidos. A bíblia é citada por tudo e por nada. Verdu explica que os “Pais Fundadores” criaram uma Nação em que, na ideia original, não concebiam a separação entre Estado e Igreja. Cita ( dentro do contexto temporal em que o livro foi escrito) Newt Gingrich, o ex chefe do senado e um trapaceiro da pior espécie que afirmou que a América é um “Estado Mental”. Este peculiar “Estado Mental” inclui:
- A fé em Deus;
- A predisposição para o sacrifício;
- A ânsia de sucesso;
- O respeito pelos outros;
- E a esperança na missão redentora da América. (Em relação ao resto do mundo)
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Afirmar que daqui a 50 anos a América terá uma nova “Idade do Ouro” corresponde a três das cinco coisas que estão ali em cima:
1 – A fé em Deus;
2 – A predisposição para o sacrifício
5 – E a esperança na missão redentora da América. (Em relação ao resto do mundo).
Tradução da profecia de Friedman: Tenham fé em Deus, e predisponham-se ao sacrifício, porque a nossa missão redentora de salvar o mundo conduzir-nos-á a uma nova Idade de Ouro – onde tudo será puro, como a América original assim pensada pelos peregrinos, do Mayflower, livre da corrupção do Velho Mundo…( isto é, a Eurásia…)
Vamos mostrar agora a actual “Idade de Latão” em termos de produto interno bruto mundial, dados de 2006.
De notar também que a China, a nação que se espera e se deseja que venha a ter uma convulsão interna está a aproximar-se rapidamente do segundo lugar desta tabela, e que se espera que lá pelos idos de 2020 ultrapasse em produto interno bruto os EUA. Excepto se tiver uma convulsão interna…
Para deprimir mais as hostes, mostra-se a zona onde se situa esta magnífico país de sucesso que se chama Portugal:
Repare-se na Grécia, na Bélgica, na Suécia e na Finlândia… e compare-se com o magnifico êxito que Portugal é.
De caminho compare-se também com o México, o tal país que vai rivalizar dentro de 50 anos com os EUA.
A China irá ter uma convulsão interna que a paralisará, mas o México não, só para darmos um exemplo comparativo… uma vez que “isto” não paralisa o México…
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