DISSIDENTE-X

É SÓ UMA QUESTÂO DE TEMPO ATÉ SURGIR OUTRA CRISE PROFUNDA

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Michael Lewis diz que a crise da dívida é a mesma que rebentou nos EUA em 2008. E considera “chocante” que se continue a dar credibilidade às agências de rating.

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O que o impressionou mais quando escreveu A Queda de Wall Street? O papel ausente dos reguladores e os erros das agências de rating ou a ganância das instituições financeiras?
O que me surpreendeu mais, o que me chocou mesmo, foi ver as grandes firmas de Wall Street a cometer suicídio. Eram pessoas cujo objectivo era fazer dinheiro, e eram supostamente boas nisso. Mas, ao colocarem-se essas pessoas numa empresa, se os seus incentivos não forem os certos, vão acabar por destruir a empresa. Nunca pensei que as grandes firmas de Wall Street viessem a tornar-se estúpidas. Mas tornaram-se. E criaram um sistema que conduziu à catástrofe, utilizando os modelos das agências de rating. Foi chocante ver como todas estas pessoas, muito inteligentes e que agiam no seu próprio interesse criaram, colectivamente, uma máquina de destruição final.

Diz que Wall Street cometeu suicídio. Mas, olhando para o momento presente, alguma coisa mudou?
Boa questão. Todas as grandes firmas, demasiado grandes para falir, teriam caído se o Governo não tivesse ajudado. Não acho que nenhuma delas contasse com o resgate do Governo. Acho que nenhuma se apercebeu que estava na situação em que estava, não perceberam o quão estupidamente tinham gerido o seu negócio. Mas mudou alguma coisa? Sim, algumas coisas mudaram. Em primeiro lugar, as grandes firmas passaram a ser odiadas pela população e, portanto, têm um problema de relações públicas.

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E quanto às agências de rating? Vendo o impacto que continuam a ter na crise da dívida, acha que mudaram a forma como conduzem os seus negócios?
Não. Isso é chocante. De um momento para o outro, as agências passaram a mostrar os dentes, a rever sucessivamente as notações de vários países e a gerar controvérsia pública. Mas isso não quer dizer que mudaram. Elas causaram uma crise como a do subprime, porque eram pagas pelas pessoas que criavam as obrigações. Quando o Goldman Sachs criava as obrigações hipotecárias de alto risco podia ir à Standard & Poor’s e à Moody’s, perguntava qual era o rating que lhe davam e, se fosse muito baixo, escolhia a agência que lhe desse o melhor rating. E pagava por isso. Isto não acontece necessariamente no mercado da dívida soberana. Por isso as agências podem dar-se ao luxo de serem corajosas com a dívida pública. Considero chocante que alguém ouça a opinião das agências de rating para o que quer que seja. Elas já provaram que não sabem nada. É espantoso que tenham o efeito que têm nos mercados.

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O mercado de CDS relacionado com as obrigações de hipotecas subprime era um problema muito maior do que o mercado de CDS de dívida pública.

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Dito isto, a verdade é que os CDS deviam ser banidos, porque não têm uma verdadeira razão para existir. São uma espécie de jogo, e não ajudam nada a que os mercados financeiros funcionem melhor. São um problema, pois criam incentivos no sistema para que este falhe. Se tiver uma casa, e houver várias pessoas a comprar seguros contra incêndio nessa casa, é lógico que haverá quem queira que ela arda.

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Então o que é acha que vai acontecer?

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Acho que a questão política vai aquecer cada vez mais, as populações vão ficar cada vez mais inquietas, e, no fim, vamos assistir à fragmentação do euro, com, pelo menos, alguns países a sair da moeda única.

Está a pensar também em Portugal?
Estou. Acho que o primeiro país a sair do euro será a Grécia, mas, quando isso acontecer, outros países irão pensar se de facto vale a pena fica no euro. Porque é muito difícil crescer sem ter capacidade de baixar os preços, de fazer uma desvalorização da moeda. Acho que quando se mostrar como é que um país sai da moeda única, outros ficarão tentados a fazer o mesmo. Mas se Portugal sair, e houver um incumprimento no pagamento da dívida, os problemas serão muito menores do que no caso de Espanha e Itália.

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Entrevista da comunicação social, dia 6 de Fevereiro de 2012

Adicional: AQUI

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