DISSIDENTE-X

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É SÓ UMA QUESTÂO DE TEMPO ATÉ SURGIR OUTRA CRISE PROFUNDA

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Michael Lewis diz que a crise da dívida é a mesma que rebentou nos EUA em 2008. E considera “chocante” que se continue a dar credibilidade às agências de rating.

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O que o impressionou mais quando escreveu A Queda de Wall Street? O papel ausente dos reguladores e os erros das agências de rating ou a ganância das instituições financeiras?
O que me surpreendeu mais, o que me chocou mesmo, foi ver as grandes firmas de Wall Street a cometer suicídio. Eram pessoas cujo objectivo era fazer dinheiro, e eram supostamente boas nisso. Mas, ao colocarem-se essas pessoas numa empresa, se os seus incentivos não forem os certos, vão acabar por destruir a empresa. Nunca pensei que as grandes firmas de Wall Street viessem a tornar-se estúpidas. Mas tornaram-se. E criaram um sistema que conduziu à catástrofe, utilizando os modelos das agências de rating. Foi chocante ver como todas estas pessoas, muito inteligentes e que agiam no seu próprio interesse criaram, colectivamente, uma máquina de destruição final.

Diz que Wall Street cometeu suicídio. Mas, olhando para o momento presente, alguma coisa mudou?
Boa questão. Todas as grandes firmas, demasiado grandes para falir, teriam caído se o Governo não tivesse ajudado. Não acho que nenhuma delas contasse com o resgate do Governo. Acho que nenhuma se apercebeu que estava na situação em que estava, não perceberam o quão estupidamente tinham gerido o seu negócio. Mas mudou alguma coisa? Sim, algumas coisas mudaram. Em primeiro lugar, as grandes firmas passaram a ser odiadas pela população e, portanto, têm um problema de relações públicas.

(…)

E quanto às agências de rating? Vendo o impacto que continuam a ter na crise da dívida, acha que mudaram a forma como conduzem os seus negócios?
Não. Isso é chocante. De um momento para o outro, as agências passaram a mostrar os dentes, a rever sucessivamente as notações de vários países e a gerar controvérsia pública. Mas isso não quer dizer que mudaram. Elas causaram uma crise como a do subprime, porque eram pagas pelas pessoas que criavam as obrigações. Quando o Goldman Sachs criava as obrigações hipotecárias de alto risco podia ir à Standard & Poor’s e à Moody’s, perguntava qual era o rating que lhe davam e, se fosse muito baixo, escolhia a agência que lhe desse o melhor rating. E pagava por isso. Isto não acontece necessariamente no mercado da dívida soberana. Por isso as agências podem dar-se ao luxo de serem corajosas com a dívida pública. Considero chocante que alguém ouça a opinião das agências de rating para o que quer que seja. Elas já provaram que não sabem nada. É espantoso que tenham o efeito que têm nos mercados.

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O mercado de CDS relacionado com as obrigações de hipotecas subprime era um problema muito maior do que o mercado de CDS de dívida pública.

(…)

Dito isto, a verdade é que os CDS deviam ser banidos, porque não têm uma verdadeira razão para existir. São uma espécie de jogo, e não ajudam nada a que os mercados financeiros funcionem melhor. São um problema, pois criam incentivos no sistema para que este falhe. Se tiver uma casa, e houver várias pessoas a comprar seguros contra incêndio nessa casa, é lógico que haverá quem queira que ela arda.

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Então o que é acha que vai acontecer?

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Acho que a questão política vai aquecer cada vez mais, as populações vão ficar cada vez mais inquietas, e, no fim, vamos assistir à fragmentação do euro, com, pelo menos, alguns países a sair da moeda única.

Está a pensar também em Portugal?
Estou. Acho que o primeiro país a sair do euro será a Grécia, mas, quando isso acontecer, outros países irão pensar se de facto vale a pena fica no euro. Porque é muito difícil crescer sem ter capacidade de baixar os preços, de fazer uma desvalorização da moeda. Acho que quando se mostrar como é que um país sai da moeda única, outros ficarão tentados a fazer o mesmo. Mas se Portugal sair, e houver um incumprimento no pagamento da dívida, os problemas serão muito menores do que no caso de Espanha e Itália.

(…)

Entrevista da comunicação social, dia 6 de Fevereiro de 2012

Adicional: AQUI

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CRISE FINANCEIRA AMERICANA: A “NOVA” SOLUÇÃO É FAZER OUTSOURCING DA CRISE

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A lista completa de artigos relacionados com este assunto pode ser encontrada na página da barra lateral ” Z – Crise financeira norte americana”

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Imaginemos que, recentemente, a tranquilidade do nosso quotidiano repetido, foi abalada por uma crise financeira.

Imaginemos que, recentemente, para “combater” os efeitos nefastos dessa crise financeira se emprestaram biliões de dólares a bancos americanos, os mais afectados, para que estes não fossem à falência.

Imaginemos que, recentemente, grande parte do dinheiro não foi realmente recolhido para “combater a crise financeira” mas antes que foi feita uma “colheita” por  várias facções financeiras  mundiais em (1) busca de poder; em busca de (2) vários triliões de dólares, em (3) busca de controlo.

Imaginemos que esse dinheiro todo – somas colossais – não entrou na economia.

Imaginemos onde poderá vir a entrar esse dinheiro todo na economia.

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Imaginemos que o paradigma de “império” financeiro está a mudar.

Imaginemos que vastas somas de dinheiro tem que entrar de novo na economia, mas já não em bancos – esses sítios (agora horrendos) voláteis e que estão falidos.

Então… é necessário ver qual é o “novo prémio” a adquirir.

E o novo prémio a adquirir são… terras e negócios imobiliários. Mas já não os (tipos de)  negócios imobiliários que deram problemas de há 10 anos a esta parte.

Agora o nome do jogo é diferente: como conseguir obter as maiores posições na “terra” e no “negócio imobiliário” mas que possibilitem um tremendo e imediato retorno, passando os custos deste negócio para os “cidadãos”.

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E chegámos a um novo conceito: o capitalismo – desastre que se implementa, para “depois”… existir o “após”…

E após o desastre económico, os preços de todas as coisas – especialmente da “terra” e dos “negócios imobiliários” baixaram muito.

O que antes era branco, agora é preto. O que antes era caro, agora é barato.

Compra-se a terra barata, mas as infraestruturas da mesma são pagas por … alguém…

E nos offshores (há muitos offshores…) há muito dinheiro à espera de entrar a jogar, no novo jogo que  se desenha…

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Mas, sombras negras ocultam-se neste caminho cor de rosa em direcção a uma nova forma de “império” financeiro.

Com se consegue comprar “terras”, meter neles dinheiro dos offshores, para este ser convenientemente lavado e gerar uma massiva onda de construção civil num dado país ou área geográfica?

E ao mesmo tempo dar a ideia de que se está a fazer investimentos sociais produtivos, mas os custos são metidos nos cidadãos? (através de impostos e taxas para pagarem equipamentos adjacentes como equipamentos sociais?)

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AS TROMBETASNesta altura chegam os académicos.

(1) Grupos de académicos descem das montanhas de livros onde andam e dos mundos absolutamente inúteis e esotéricos onde estão e fingem produzir algo de útil para o mundo e explicam através de conversas “notáveis” porque é que é bom investir  neste modelo.

(2) Atrás dos académicos surgem os centros de produção do conhecimento: os “think tanks”.

E este duo dinâmico de produção de coisas irrelevantes começa a produzir toneladas de estudos à prova de bala, para nos convencer que assim é que é.

Os alvos destas toneladas de estudos são as pessoas que estão avidas de mudança.

Conversas “criativas” são tidas visando persuadir essas mesmas pessoas “avidas” de mudança a mudar-se algo.

Estes “novos desbravadores de ideias encontram-se por todo o lado. Até mesmo em Portugal.

Mas este que me veio parar as mãos está nos EUA. Chama-se Paul Roemer.

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Roemer especializou-se no tema do “crescimento económico” a partir do ponto em que as pessoas pegam em recursos económicos e os transformam em algo mais valioso – com mais valor usando tecnologia para o fazer.

Roemer foi formado na Universidade de Chicago – o ovo que gerou o neoliberalismo na economia e na sociedade.

E num blog norte americano, um senhor chamado Henry Poole, ficou pasmado com o senhor Roemer e com as propostas de “criação de valor” para a economia mundial e para o debelamento rápido da crise financeira.

E como seria isso feito?

Através de Outsourcing (ir buscar fora alguém para gerir) do governo de países pobres, feito por países ricos, mas “usando” cidades para o fazer.

E quem?

Aqui tenho que citar Henry Poole, falando de Roemer, e traduzir a martelo.

In short, he proposed that with advances in technology, the planet should be able to support another 5 billion plus people. He proposed that developing countries could invite experienced governments such as Finland (I instantly thought of a planet circling Alpha Centauri) to have administrative (and perhaps democratic control from afar) to create new instant cities for 10 million people.

Tradução a martelo do Roemerismo, via interpretação do senhor Henry Poole:

Em resumo, ele propôs, que com os avanços em tecnologia, o planeta (Terra) seria capaz de suportar mais 5 biliões de pessoas. Ele propôs que os países em desenvolvimento pudessem convidar governos experimentados, como por exemplo, da Finlândia (Eu, (Henry Poole) instantaneamente pensei num planeta a orbitar Alpha Centauri) para terem controlo administrativo (e provavelmente controlo democrático vindo do além) e para criarem novas cidades instantâneas para 10 milhões de pessoas.

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Stewart Brand, um “guru” neo liberal da gestão e do marketing de há várias décadas, comenta, entusiasmado, o Roemerismo.

As Stewart Brand wrote about Romers talk “They would enrich the country where they are built as special economic zones while also rewarding the distant government that makes the investment of building the new city state and installing a set of fair and productive rules. Over time, as with Hong Kong, the new city is turned over to the host country.”

Tradução a martelo:

Como Stewart Brand escreveu acerca das propostas de Roemer: “elas iriam (1) enriquecer o país onde fossem construídas como (2) “zonas económicas especiais” e ao mesmo tempo recompensariam (3) o governo distante que (4) faria o investimento de construir uma (5) nova cidade Estado e instalaria um (6) novo conjunto de regras justas e produtivas. (7) Com o decorrer do tempo, tal como (8) Hong Kong, a (9) nova cidade é (10) entregue ao país hospedeiro.

Tradução da tradução:

(1) Iriam enriquecer o país porquê? Não foi esse país que investiu nelas, mas sim um governo estrangeiro que quereria obter um enorme retorno. É uma “cenoura” retórica que aqui está, destinada a garantir”adesão” a ideia.

(2) Zonas económicas especiais é um eufemismo usado para designar o que é comummente designado por “zonas livres de impostos”, um decalque de Hong Kong e das actuais zonas económicas especiais chineses com destaque  para Shangai.

Na prática é estar a dizer que o capitalismo chinês, sem direitos e baseado na sobre exploração intensiva é que é bom.

(3) Recompensar o “governo distante”. Alguém aceita ser um país independente e ao mesmo tempo receber ordens de um país ou grupo de empresários noutro continente que construíram uma cidade nesse país subdesenvolvido? (Só, Portugal, mas somos a excepção à regra…)

(4) O governo “estrangeiro” “faria o investimento…” de construir. Faria, mas esperaria um enorme retorno. Como é que um país pobre aceitaria pagar ou conseguiria pagar? E as questões de soberania, onde ficam?

(5) …uma nova cidade estado. Isto é, uma nova estrutura inútil, que serviria como “centro de comando” de um novo império – um “colonato”, um posto “avançado” do novo império.E que o pais pobre teria que pagar, ainda por cima.

(6) Para gerir esta nova “cidade-estado, este novo “posto avançado” terão que ser “novas regras justas e produtivas”. Isto é, as regras de quem paga a construção (que são justas e compensatórias para quem constrói e investe, mas nada justas para quem aceita este negócio… e que fica endividado e sem autonomia até à ponta dos cabelos…

Regras de acordo com os “interesses económicos e financeiros de quem quer incentivar este negócio.

(7) Com o decorrer do tempo (uma promessa de que o futuro será melhor) irão acontecer coisas maravilhosas, por isso países pobres aceitem que virá ai a prosperidade. Porquê, não se sabe… apenas porque é dito que sim.

(8) E chegamos a Hong Kong. Esta “cidade estado” é sempre dada como exemplo. É um exemplo retirado de um celebre livro de Milton Friedman- o arqui guru do neliberalismo que deu sempre como exemplo esta “praça”. Os sucessores repetem o mantra.

(9) E a “nova cidade”, feita à semelhança de Hong Kong. O “adjectivo nova é a chave – “novo” significando novas coisas contra o que está –  que é associado a conservadorismo e imobilismo. Um”argumento de venda” usado para convencer pessoas de países pobres que precisam de “coisas novas”. Porque é que precisam? Não se sabe…mas como quem “produz” as coisas novas ganha dinheiro e poder com isso…

(10) e depois deste negócio é entregue ao país hospedeiro. A palavra chave aqui é “hospedeiro”. Alguém gosta de ver o seu próprio país como sendo uma…… “hospedagem”? E não um país?

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Em Portugal existe um protótipo de um pequeno “test drive” relacionado com estas teorias acima descritas. Fonte: Jornal Expresso de 1 de Junho de 2009

JORNAL EXPRESSO - LIVING PLANET CIDADES ESTADO TECNOLÓGICA

E continuemos a observar esta notícia mas de um outro ângulo. Página “ciência hoje”.

CIENCIA HOJE - CIDADE TECNOLÓGICA - PLANIT LIVING

CRISE FINANCEIRA AMERICANA – AS TEORIAS MAINSTREAM 2

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A lista completa de artigos relacionados com este assunto pode ser encontrada na página da barra lateral ” Z – Crise financeira norte americana”

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No post intitulado Crise financeira americana – as teorias mainstream que a explicam, era mencionado o facto de estarem a surgir inúmeras pessoas – as que tem interesses na manutenção do estado em que isto está – que visam legitimar a actual situação.

Isto é, manter o actual modelo de capitalismo económico norte americano tal como está. E – por extensão – criar problemas ao resto do planeta, tal como está.

Nesse post a dada altura era mencionado o seguinte e cita-se uma parte em baixo:

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Como tal, o discurso médio (falso e mainstream)  que está a ser criado e desenvolvido pelos principais agentes da propaganda (orientados para a manutenção do status quo) e que visa explicar as causas da actual crise baseia-se no facto de tudo isto ter acontecido porque existiu um “acidente” dos mercados.

E as razões para esse “acidente” dos mercados foi o facto de  (1) existirem maus pilotos a a comandar a nau “mercado” ou (2) existirem pessoas corruptas e gananciosas que produziram inúmeras decisões irresponsáveis  – uns quantos intervenientes dentro do mesmo, que “perderam o norte” e se desviaram das boas práticas do mercado, levando ao “acidente”.

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E chegámos a um exemplo típico disto: este artigo do Wall Street Journal chamado “Europe is no model for our banks” /A Europa não é o modelo para os nosso bancos” onde um Ceo de uma empresa defende exactamente um certo tipo de discurso que é o discurso conjugado com a prática que nos levou ao que nos levou.

Onde é dito que os acidentes dos mercado por causa de Ceo´s gananciosos e más praticas, não devem ser usados como argumento para mudar o sistema.

Para “vender” essa ideia usa medo, lutas antagónicas entre correntes ideológicas, e mais medos de que “o risco” – caso se retire os instrumentos de risco dos produtos financeiros  – parará a inovação. Até o medo da China e das Treasury bonds compradas por esta é usado como argumento.

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O artigo afirma que actualmente existe uma luta de opinião pública( ou publicada?) nos EUA, entre Paul Krugman/Jornal New York Times VS Lawrence Summers, o conselheiro económico especial do Presidente Obama.

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Paul Krugman argumenta que:

(1) Chegou-se onde se chegou por falta de transparência financeira.

(2) A situação actual dos bancos ainda é “estranha”.

(3) As “perdas financeiras ” que estão fora dos balanços e não se sabe quanto são.

(4) os fundos públicos dados pelo estado americano parecem não querer acabar ou ter fim.

  • A solução Krugman é acabar com produtos financeiros de elevado risco e derivados.

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Lawrence Summers  (um “democrata” e actual conselheiro económico do Presidente Obama) argumenta que:

(1) Eliminar os produtos derivados e os produtos financeiros de alto risco …. elimina o risco.

(2) Eliminar a securitização financeira de produtos financeiros na area dos seguros  impediria que vastas somas de capital sejam usadas para investimentos.

(3) Dinheiro necessário para ajudar a investir nos mercados de exportação dos EUA não estaria mais disponível.

  • A solução Lawrence Summers é deixar as coisas como estão.

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Será evidentemente a visão defendida por Lawrence Summers que irá ser a visão prevalecente.

Porquê?

Porque é uma questão de poder: quem está no governo norte americano é quem,decide através do braço legislativo e financeiro. Não é Paul krugman ao escrever artigos no New York Times, que irá mudar algo.

Porque é uma questão de poder: a elite financeira norte americana, acaso permitisse que a solução Krugman prevalecesse perderia poder de intervir nos mercados e de condicionar a vida dos cidadãos. *

E também, porque se existisse real vontade em mudar algo, não seria Lawrence Summers, nem a sua “corrente” que estariam no governo, mas sim qualquer outra ou Paul Krugman.

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Esta é a lógica típica de um artigo norte americano de jornal, visando querer convencer uma opinião pública semi anestesiada que existem de facto duas alternativas, quando na realidade existe uma e é essa que será adoptada.

E o que será adoptado é mais do mesmo mas feito de maneiras diferentes.

Uma falsa noção de debate e de democracia.

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O inicio desta lógica de argumentação é pretender convencer que existem duas alternativas em cima da mesa; e que se (deve) escolhe (r) uma: mas na realidade isto é uma falácia.

A segunda lógica desta ideia e desta argumentação é definir o inimigo; isto é, o que não se quer.

O que não se quer é o modelo “europeu” (seja lá o que isso for).

Como o modelo europeu é próximo daquilo que Paul Krugman defende, obviamente… não se quer o modelo europeu.

Outros ” perigos” e antídotos são apontados.

(1) Que os “democratas de Paul Krugman” querem nacionalizar os bancos norte americanos, que estão com problemas.

(2) Que os democratas de Lawrence Summers afirmam que nacionalizar os bancos poderia colapsar o sistema.

Uma sub lógica emerge aqui: apontar “perigos” atrás de perigos, atrás de perigos – apelar ao medo atrás do medo.

Porquê?

Porque quem tem medo normalmente não faz nada e opta por ficar como está.  Fica transido de medo.

Ficar como está é não adoptar a solução de Paul Krugman, mas sim a de Lawrence Summers.

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Foram as soluções de Lawrence Summers que levaram isto ao estado em que está. Cita-se o post Crise financeira Americana, Clinton, Rubin, Summers, Geithner, Obama e a desregulamentação :


Demos um salto no tempo e cheguemos ao ano 2000.

No ano de 1999, um senhor chamado Larry Summers, foi promovido. O seu chefe, Robert Rubin, saiu do governo norte americano (em 2000) para ser Vice Presidente do Citigroup (provavelmente uma recompensa por serviços prestados; isto é, pela “ajuda na revogação da Lei Steagall Act; a tal que impediria a fusão do Citigroup com o Travellers Group…) (o mesmo Citigroup de onde tinha saido o livro de Walter Wriston…já citado acima…)

Rubin tinha trabalhado durante 4 anos como secretário do Tesouro do governo de Bill Clinton; quando deixou de ser necessário lá estar, uma vez que o favor necessário estava feito, saiu, deixando Larry Summers no seu lugar.

Summers querendo deixar a sua marca, foi ainda mais longe que Robert Rubin. Ao que parece, convenceu o Presidente Clinton, para que este aceitasse aceitar uma série de propostas de lei do Partido Republicano (os “malandros da direita…).

Apoiou a criação e existência de uma nova lei que tinha o nome de “Commodity Futures Act of modernisation 2000″, uma lei que queria alterar a forma como certos produtos  a serem vendidos nos mercados de futuros (acções ou outros) seriam classificados ( ou não) como tal.

Também fazia o contrário: que certos produtos a serem vendidos no mercado bancário, embora tendo características de acções ou produtos parecidos, passassem a ser classificados como “não o sendo”.

Objectivo: transferir o “risco” de quem vende para quem compra, mas parecendo não o estar a fazer.

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Existem coisas curiosas neste artigo do Wall Street Journal que mostram bem o problema que temos que enfrentar, (e somos todos, no mundo inteiro) mas não da maneira como o colunista nos quer impingir.

Por exemplo, a dada altura diz-se:

” Our largest 10 banks control 75% of total bank assets.”

Tradução: Os nossos maiores 10 bancos controlam 75% dos activos bancários.

Do ponto de vista da “liberdade” de actuação dos agentes económicos norte americanos (empresas e particulares)  isto é extremamente problemático. Um oligópolio de 10 bancos está – de facto – em posição monopolista. (acresce a isso o facto de estes grupos bancários serem donos de seguradoras e de posições accionistas noutras empresas…)

(A posição de monopólio acontece quando um determinado grupo de empresas ou somente  uma tem uma tal quota de mercado que consegue “fazer preços” dentro do sistema em que está incorporada, e consegue impedir novas entradas de novos concorrentes no mercado, por exemplo).

Será normal que num país tão grande como os EUA, apenas 10 bancos tenham tanta quota de mercado?

(Será normal que num país tão pequeno como Portugal, 4 grupos bancários tenham à volta de 70% de quota de mercado?)

As teorias económicas de Adam Smith que todos os capitalistas americanos dizem seguir defendem muitas coisas.

Uma das coisas que defendem é a existência de um  “um mercado atomizado”.

Atomizado significa milhares ou milhões de produtores e vendedores, que se encontram num local fictício – o mercado – com os milhares ou milhões de compradores. E acordam entre si o preço.

Num país tão grande como este , com 300 milhões de consumidores, 75% do sistema bancário – que por sua vez controla todo o resto do país * – controla os depósitos e os negócios de 225 milhões de consumidores americanos.

E de quase todas as empresas do país, uma vez que não é crível e lícito pensar que as grandes empresas, como por exemplo a Microsoft ou a GE, sejam clientes de bancos mais pequenos – os restantes 25% do sistema.

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(A) De um lado temos um mercado atomizado – 300 milhões de consumidores.

(B) De outro lado temos um mercado concentrado – 10 bancos que controlam 75% de 300 milhões de consumidores.

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Este nem sequer é o modelo económico capitalista de Adam Smith.

Este modelo capitalista” transfere o poder para um número reduzido de actores.

Este modelo capitalista transfere a informação acerca dos consumidores para um numero reduzido de actores.

Este modelo capitalista não é democrático.

CRISE FINANCEIRA AMERICANA – CLINTON, RUBIN, SUMMERS, GEITHNER, OBAMA E A DESREGULAMENTAÇÃO.

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A lista completa de artigos relacionados com este assunto pode ser encontrada na página da barra lateral ” Z – Crise financeira norte americana”

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Em 1933, nos EUA, foi feita uma lei que proibia os bancos comerciais de terem actividades   definidas como sendo actividades próprias e atribuídas à banca de investimento.

Chamava-se “Glass – Steagal Act”.

O objectivo desta lei era o de evitar que os bancos comerciais executassem ou participassem directamente em actividades de sectores não financeiros estritos (por exemplo terem (1) participações através de acções no capital social de outras empresas ou (2) actividades mais arriscadas como participações directas em mercados de futuros).

Visava-se separar actividades. Por negócios e área respectiva, para evitar problemas de “contágio financeiro” (falências) entre instituições mal geridas com instituições bem geridas, ou entre produtos financeiros diferentes,  por exemplo.

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Em 1999, a 12 de Novembro, esta separação que existia, para proteger a economia e as próprias instituições foi parcialmente repelida.

Foi feita uma lei chamada Gramm-Leach-Biley Act, que revogou parcialmente muitos  artigos da lei de 1933.

Bancos especializados na emissão de obrigações, de futuros, de derivados financeiros, de acções, etc, passavam a poder concorrer com bancos especializados na concessão de empréstimos para a habitação ou para o consumo, e passavam também a poder concorrer com companhias de seguros; e estas com estes.

Todos contra todos era o mantra neoliberal que estava por detrás desta “reforma” da lei de 1933.

Em termos práticos, o que isto significava era que ANTES de 1999, não seria possível uma companhia de seguros juntar-se através de uma fusão com um banco comercial, por exemplo.

Tal sucedeu devido à pratica de lobbying por parte dos interessados, uma vez que em 1994/95 existiu uma “fusão” entre o Citibank (actualmente conhecido por Citigroup e que vemos a vender cartões de crédito em supermercados portugueses…) e o Travellers Group, uma companhia de seguros e produtos financeiros pré pagos, que fazia por exemplo os Travellers cheques…fusão essa que seria considerada “ilegal” se não existisse a “alteração” da lei Glass Steagall

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Politicamente foi “aquilo” que passa por ser a “esquerda” política norte americana que possibilitou a revogação da Lei Steagall de 1933, substituindo-a pela versão actual. Tudo isto aconteceu durante a administração Clinton.

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Agora mudemos de “cenário” exemplificativo e façamos uma pequena “derivação” através da qual; importa explicar qual era o “ambiente” que existia no inicio dos anos 90.

Durante esses anos, surgiram teorias económicas baseadas nas “teorias dos  jogos”, segundo as quais, todos os elementos de uma sociedade funcionariam apenas baseados no seu interesse próprio, e não na ideia de “um bem comum a atingir” . Ver também “Teoria dos jogos e os seus péssimos sub derivados”.

Caso se acredite nisto, de acordo com as teorias do “interesse próprio”; todos os indivíduos querem maximizar o seu prazer pessoal e rejeitam “um bem comum a atingir”.

Mas aqui surge um problema.

Como é impossível conseguir conjugar todos os desejos de múltiplos indivíduos num mundo assim (chama-se a isto a “teoria da impossibilidade”) então é necessário procurar uma “solução”que “ordene isto”.

(1) A “solução (convenientemente encontrada) que ordena isto” foi apresentada como sendo o “mercado livre”.

(2) Não a política (as acções dos políticos quando governam).

(3) Nem a democracia (um sistema que “pode obstruir” pela sua própria natureza e por lei a acção do mercado”)

A teoria da impossibilidade, também diz que os indivíduos procuram maximizar o seu próprio prazer, quando estão a actuar no mercado,  mas que não o fazem numa situação política – tal como é o caso de uma “votação”.

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Esta é uma visão – baseada em teorias dos jogos – que apela ao pior das pessoas;  uma visão muito limitada do que são as pessoas e do que é a política.

Esta visão leva ao seguinte raciocínio: que (A) os indivíduos são apenas processadores de informação, e que (B) o mercado é um processador de informação melhor do que os indivíduos.

Consequentemente: a votação e/ou a democracia, são processadores de informação fracos. (Ineficientes)

É com base neste “simplismo” que as pessoas na sociedade são vistas – de acordo com estas teorias.

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walter-wrsiton-capa-o-crespuculo-da-soberaniaNos anos 90 este tipo de argumentação totalitária e anti democrática dominou quem trabalhava nos mercados, e dominou quem os tinha que gerir.

Exemplo: o livro (campeão de vendas) de 1992 de Walter Wriston, chefe do Citigroup, chamado “o Crepúsculo da Soberania” onde ele previu ( estas teorias tem sempre profetas auto designados ou deificados…) uma nova forma de democracia chamada “democracia dos mercados”.

Tese central: o mercado tomaria a responsabilidade por gerir a maior parte da sociedade, em vez dos políticos (em vez da democracia).

Consequência: O mercado seria a única e verdadeira maquina eleitoral (em vez da votação feita pelas pessoas).

Consequentemente, se acreditarmos nestas “teorias“: O mercado teria que ser deixado “à vontade” livre da influencia de políticos e de votos, passando ser considerado como representando a verdadeira vontade da população.

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Em 1992 Clinton ganhava as eleições – através de votação, não de mercado.  Clinton prometeu que faria “política” e que usaria o poder político de que dispunha para fazer a América sair da recessão económica.

Umas 3 semanas antes da tomada de posse, Robert Rubin, chefe da Lehman Brothers, e Alan Greenspan, chefe da Reserva Federal, tiveram uma conversa com Clinton. Rubin era o novo conselheiro económico de Clinton para os 4 anos seguintes…

Ambos trouxeram uma mensagem (totalmente manipulada) que foi entregue a Clinton, relativamente às ideias peregrinas de “fazer política de Clinton”.

Que se resumia ao seguinte: os planos políticos de Clinton eram impossíveis.

(1) Que tinham que existir cortes governamentais na despesa.

(2) Que intervenções políticas do “Estado” não seriam possíveis.

(3) Que não existia alternativa.

(4) Que se Clinton quisesse endividar-se para aplicar os seus programas sociais, isso geraria inflação, e mais recessão.

Rubin certificou-se disso, durante os 4 anos seguintes, em que permaneceu em funções.

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Demos um salto no tempo e cheguemos ao ano 2000.

No ano de 1999, um senhor chamado Larry Summers, foi promovido. O seu chefe, Robert Rubin, saiu do governo norte americano (em 2000) para ser Vice Presidente do Citigroup (provavelmente uma recompensa por serviços prestados; isto é, pela “ajuda na revogação da Lei Steagall Act; a tal que impediria a fusão do Citigroup com o Travellers Group…) (o mesmo Citigroup de onde tinha saido o livro de Walter Wriston…já citado acima…)

Rubin tinha trabalhado durante 4 anos como secretário do Tesouro do governo de Bill Clinton; quando deixou de ser necessário lá estar, uma vez que o favor necessário estava feito, saiu, deixando Larry Summers no seu lugar.

Summers querendo deixar a sua marca, foi ainda mais longe que Robert Rubin. Ao que parece, convenceu o Presidente Clinton, para que este aceitasse aceitar uma série de propostas de lei do Partido Republicano (os “malandros da direita…).

Apoiou a criação e existência de uma nova lei que tinha o nome de “Commodity Futures Act of modernisation 2000”, uma lei que queria alterar a forma como certos produtos  a serem vendidos nos mercados de futuros (acções ou outros) seriam classificados ( ou não) como tal.

Também fazia o contrário: que certos produtos a serem vendidos no mercado bancário, embora tendo características de acções ou produtos parecidos, passassem a ser classificados como “não o sendo”.

Objectivo: transferir o “risco” de quem vende para quem compra, mas parecendo não o estar a fazer.

( Nota: os actuais Clientes do BPN, em Portugal, que estão a queixar-se em tribunal , queixam-se precisamente por isto. Certos produtos que adquiriram, convencidos que eram produtos com características de depósitos a prazo, não o eram afinal, mas sim produtos que tinham características de Credit default swaps – ver mais adiante… * )

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enrononlinescreenEsta lei criou (ajudou a criar), por exemplo, os problemas na Enron, que já foram parcialmente tratados em “Crise Financeira americana – o prévio micro precedente da Enron”, especificamente relacionados com o negócio da Enron Online – uma “habilidade” financeira – contabilística criada para “vender energia eléctrica” pela Internet.

Mas vender energia – também – como se fosse um  mercado de futuros.

O consumidor comprava “agora” energia,  mas só a receberia no futuro, pagando o preço “agora”.

A “lei” foi também “criada” devido ao lobby da Enron, que  a queria, precisamente para poder criar a Enron Online.

Passado um ano e pouco a Enron foi a falência.

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Mas o que é que interessa a questão da Commodity Futures Act of Modernisation 2000?

Interessa porque esta lei visava anular as acções da agência do governo norte americano responsável pela fiscalização de produtos financeiros. (o equivalente à nossa portuguesa CMVM…) e que se chama Commodity Futures Trading Comission.

Esta lei que anulava as acções da CFTC, passava a permitir que produtos financeiros derivados chamados * “Credit default swaps” passassem a ser geridos, emitidos e transaccionados sem que existisse qualquer (1) regulamentação governamental ou (2) fiscalização a controlá-los.

Os “Credit default swaps” são derivados, produtos derivados do negócio principal e que foram segmentados em muitas formas.

Objectivo: diluir o mais possível o risco de incumprimento de um contrato.

Uma parte (o comprador) paga um prémio extra (um preço a mais) mas pode receber em troca uma soma de dinheiro se algo acontecer e que seja previsto neste tipo de contratos.

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Este tipo de manobras – abrir as portas para que estes instrumentos financeiros por um lado (1) deixassem de existir restrições sobre quem os vendia e por outro lado (2) deixassem de existir fiscalizações e controlos sobre o que era vendido possibilitaram que “bolhas de contratos” com riscos de crédito tremendos associados florescessem por todo o lado.

O risco era “diluído” em milhares de produtos e serviços destes, mas todos ligados.

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E saímos de Summers, Rubin, Clinton, Credit default swaps para chegar a Geithner.

Quando Larry Summers era o secretário de Estado do Tesouro, nos anos Clinton,(1992-2000) tinha um ajudante, um senhor chamado Tim Geithner.

Actualmente Tim Geithner é o secretário de Estado do tesouro (o cargo que durante os anos Clinton tinha sido ocupado, respectivamente por Robert Rubin e por Lawrence Summers) e é o responsável pelo “novo plano” de reestruturação da banca norte americana.

Larry Summers, neste momento é o chefe conselheiro económico de Obama…

O novo plano – feito por um herdeiro dos anteriores erros propositados – que geraram o que geraram tem como objectivo “canalizar” dinheiro dos consumidores e outros investidores privados para um determinado grupo de bancos”.

Não existe qualquer objectivo em alterar o modelo de desenvolvimento inserindo dinheiro no sistema que leve a que o crédito possa ser de novo facultado a empresas e particulares.

Antes visa meter dinheiro nas grandes firmas de Wall Street, não exigindo a estas que exista qualquer alteração na forma como fazem negócios; antes poderão continuar a fazê-lo como até aqui, utilizando as mesmas leis que levaram ao estado financeiro em que isto está.

CRISE FINANCEIRA AMERICANA – AS TEORIAS “MAINSTREAM”QUE A EXPLICAM?!

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A lista completa de artigos relacionados com este assunto pode ser encontrada na página da barra lateral ” Z – Crise financeira norte americana”

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As teorias que explicam a actual crise são muito definidas e são apresentadas como sendo muito definitivas.

Tem como características principais (1) a ocultação do caminho a seguir e o (2) propósito de desviar as pessoas do caminho a seguir, caso não se caia, previamente, na armadilha da ocultação.

(1) A ocultação deriva do facto de não se questionar – com a aplicação destas teorias explicativas – a análise e a escolha de quais os modelos económicos (mas dentro do capitalismo, como sistema…) que se podem e devem escolher ou ter a possibilidade de o conseguir fazer.

Um exemplo de “ocultação” será sempre aquele em que se colocam “as coisas” de quem faz criticas, como sendo uma escolha que se quererá implementar, (a existirem eventuais  mudanças) entre capitalismo e marxismo.

(2) o desvio do caminho a seguir significa que se defende que não deverão existir nenhumas mudanças em relação ao que está: que será apenas uma questão de “expurgar” de dentro do sistema os maus elementos e criar novas práticas de funcionamento, mais reguladas e assentes na lei.

Um exemplo de “desvio do caminho a seguir” será aquele em que se colocam as coisas como sendo apenas um problema de regulação dos mercados, regulação essa que falhou, sendo portanto, de novo necessário, regular…ainda mais e melhor…

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Como tal, o discurso médio (falso e mainstream)  que está a ser criado e desenvolvido pelos principais agentes da propaganda (orientados para a manutenção do statuos quo) e que visa explicar as causas da actual crise baseia-se no facto de tudo isto ter acontecido porque existiu um “acidente” dos mercados.

E as razões para esse “acidente” dos mercados foi o facto de  (1) existirem maus pilotos a a comandar a nau “mercado” ou (2) existirem pessoas corruptas e gananciosas que produziram inúmeras decisões irresponsáveis  – uns quantos intervenientes dentro do mesmo, que “perderam o norte” e se desviaram das boas práticas do mercado, levando ao “acidente”.

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Por este tipo de “razões explicativas”, os problemas de mercado actuais – de economia, apenas são explicados, (quando se fala da América) derivados somente das acções de Alan Greenspan, da Reserva federal americana, da falta de regulação feita pelos reguladores, e das agências de rating, dos bancos comerciais,etc.

Nota: em Portugal a teoria é mais deliciosa: a crise é “internacional” e nós (isto é, os governantes portugueses) nada tem a ver com isto. Os defeitos são internacionais e por via disso, quem governa cá, pode produzir o seu próprio discurso mainstream explicando que nada pode fazer para resolver problemas cá, porque a crise é internacional…

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Todas estas razões (Greenspan, agências de rating,etc…) são verdadeiras e concorrem para os problemas mas são também um sub produto de outros questões que ninguém quer  mencionar, quando observamos os actores do  discurso “mainstream”.

Os outros problemas são a proposição e a posterior efectivação de uma alteração do capitalismo – do seu modelo e das definições de como este passou a operar e a ser praticado especialmente à partir dos anos 90.

E foi esse constante “evoluir” deste novo mecanismo de organização do capitalismo mundial que gerou os resultados que temos agora.

E o que temos agora é um “mecanismo” novo de modelo de mercado.

Baseado num numa organização da sociedade destinada a obter o engrandecimento total do poder financeiro, e numa constante (no caso dos EUA) ajuda e apoio mutuo entre as entidades reguladoras americanas e o poder financeiro.

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Uma das técnicas que possibilitaram que este “novo mecanismo” se afirmasse e implantasse foi  a “afirmação da legitimidade” .

Os principais intervenientes basearam as suas ideias e aplicaram-nas pela força, apoiados no facto de afirmarem que quando falavam e o seu discurso fluía para “as massas” o estarem a fazer  armados com um conceito totalmente abstracto que é o facto de “estarem a propor e a falar dotados da “legitimidade do mercado”. (Sendo que era a ideologia do livre mercado ou do laissez faire era o que estava por detrás como legitimação…)

Esta ideologia pressupõe como conceito e ideia que o “mercado” será uma entidade abstracto onde  compradores e vendedores se reúnem acertando um preço pelos produtos que vendem e compram. E que são muitos vendodores e muitos compradores, regulando-se lá a si mesmos.

Na realidade, os principais interesses financeiros norte americanos, que depois se estenderam a outros países, nunca o praticaram.

A tendência para cartelização e para “acordos” e fusões entre bancos começou a ser cada vez maior, reduzindo-se o numero de actores no mercado.

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(1) Nos círculos demo- liberais – social democratas (em Portugal o Partido Socialista, aparentemente, está nesta área…) uma sub teoria alternativa para explicar isto surge, e argumenta que os centros de poder – um qualquer governo ou uma qualquer zona económica financeira de um dado país (os EUA, por exemplo) foram “corrompidos” ao nível das mais altas esferas, por uma avassaladora teoria económica que seria uma deturpada ideologia baseada no  mercado livre selvagem ou no laissez faire.

(2) Uma outra sub teoria alternativa que se apoia nesta anterior – nos EUA, surge e deriva da extrema direita como ideia intelectual; afirma que o problema era a ideologia por detrás do conceito laissez faire (tradução: não existiria regulação) enquanto que o que era necessário era “pensamento de mercado livre” (tradução: deve existir alguma regulação nos mercados).

Nota: é espantoso como, em Portugal,  o discurso do PS, relativamente a este assunto está próximo do que será o discurso médio da direita mais à direita nos EUA, que defende “alguma regulação”…

Postas a coisas nestes termos, imediatamente somos levados a pensar que o problema é apenas um de:

– Que tipo de regulação aplicar;

– Quanta regulação aplicar;

– Como aplicar e em que áreas;

E depois partimos contentes com estas pseudo soluções encontradas, para mais problemas…

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O problema não está nos (1) métodos a usar nem nos (2) modos de regulação.

A questão está em saber se se quer um sistema económico em que (A) existe um sistema de concessão de crédito que o concede visando aumentar capacidade do sector produtivo e dos particulares para investirem e produzirem ou se se quer um sistema económico em que (B) existe um sistema bancário – financeiro organizado para subordinar e fazer depender todos os outros sistemas dele, visando criar uma expansão total do capital através do capital.

CRISE FINANCEIRA AMERICANA – A IMPRESSÃO DE MOEDA.

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Uma pergunta interessante (que nunca aparece escrita nos manuais de economia) é a seguinte.

Quanto custa imprimir uma moeda?

Quantos cêntimos custa o acto de aplicar tinta num papel pequeno; fazê-lo em milhares de milhões à quantidade e após fazê-lo, afirmar que, legalmente, cada um desses papeis tem, suponhamos, o valor de 100 dólares (ou qualquer outra moeda) lá estampado.

E depois é transaccionado por 100 dólares, isto é, é dito que vale 100 dólares.

Há um lucro que é retirado desta actividade económica – a impressão e cunhagem de papel moeda. Suponhamos que o lucro se situa nos 99 dólares por custo de impressão de uma nota. Consequentemente cada nota de 100 dólares tem como lucro unitário 99 dólares.

É correcto assumir que o lucro ( vamos supor 99 dólares sobre uma nota que sai marcada como sendo “100”) irá para algum lugar – alguém auferirá esse lucro.

Será a entidade, neste caso, o banco central, que emitiu as notas, isto é, que as mandou imprimir numa qualquer gráfica de impressão.

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O lucro.

Nos EUA, esta percentagem de lucro fica no FED – aquilo que é conhecido por “Reserva Federal”.

O FED – A reserva Federal norte americana é privado. É privado porque a estrutura accionista – os donos do FED – são bancos privados. Esta “entidade” trabalha para o Estado americano, mas não é de propriedade pública.

A consequência disto é que imprimir moeda torna-se, também, um “negócio” lucrativo, com características de “mercado”.

O Barão Rothschild pronunciou uma frase famosa, aqui “interpretada em tradução livre” da minha parte: “se eu for dono de quem faz a moeda não me importo com quem governa o país”.

Em inglês – Fonte AQUI:

I care not what puppet is placed on the throne of England to rule the Empire, …The man that controls Britain’s money supply controls the British Empire. And I control the money supply.

Retraduzida: não me importo com quem é a marioneta colocada no trono da Inglaterra para governar o Império; o homem que controla a oferta de moeda controla o Império Britãnico. E eu controlo a oferta de moeda.

O Barão Rothschild podia afirmar isso, com toda a segurança uma vez que… ele (e a casa bancária + descendentes ) é um dos donos do FED……


Apesar de ser um segredo relativamente bem guardado é comum afirmar-se sem grande margem de erro, que pelo menos estes 10 abaixo designados são accionistas (donos) do FED:

1. Rothschild Bank of London
2. Warburg Bank of Hamburg
3. Rothschild Bank of Berlin
4. Lehman Brothers of New York
5. Lazard Brothers of Paris
6. Kuhn Loeb Bank of New York
7. Israel Moses Seif Banks of Italy
8. Goldman, Sachs of New York
9. Warburg Bank of Amsterdam
10. Chase Manhattan Bank of New York.

warburg-hamburgo

(Imagem da página da Warburg de Hamburgo – inscrições minhas)

Três destes (Chase, Goldman Sachs, Lehman Brothers) estão muito inseridos na recente crise financeira.

O facto de as casas bancárias terem nomes de cidades europeias ou americanas não significa que “os países” e os cidadãos desses países percebam bem as “actividades” destes bancos e casas financeiras, ou sequer – caso o percebessem, as viessem a apoiar…

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Definição do lucro:

Temos aqui, (1) uma parte do lucro. Aquela que é “obtida” através do lucro retirado da actividade “industrial” de imprimir notas – papel moeda.

Como tal, e tendo em conta que esta é uma “economia de escala” – é necessário para dar algum lucro que sejam produzidos muitos exemplares e de forma sistemática e regular e com durabilidade de produção virtualmente ilimitada no tempo.

Podemos pois concluir, que “existe um incentivo” para a impressão de papel moeda, muito para além dos normais requisitos de existência da mesma. Que são a (1) necessidade de existência da moeda – um determinado numero definido sob parâmetros económicos e de estabilidade económica do sistema, e a (2) necessidade de se fazer regularmente nova moeda para substituir fisicamente moedas e notas que se estragam ou se deterioram, etc…

E logo aqui temos um enorme problema: “a existência” de um enorme incentivo “internacional” (isto é, americano…) para a existência de uma economia que gera uma espécie de incentivo deste tipo…

Porque, quando existe “moeda” à mais numa economia, isso gera inflação (a subida continuada e regular dos preços…) porque existe mais “moeda” a ser distribuída na economia…do que aquela que deveria ser racionalmente distribuída na economia…

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Uma das maneiras de “pôr moeda a ser distribuída na economia” é utilizada pelo FED – como banco privado que faz as vezes de Banco Central norte americano; o maior banco mundial, ou pelo menos, o que tem mais poder.

E como o FED tem o enorme poder de autorizar empréstimos a bancos enormes (dos maiores do mundo), que por sua vez, os emprestam a “consumidores finais” (dos com mais poder de compra do mundo) – particulares ou empresas – para “animar a economia”; isso significa que o FED detém dois poderes últimos: (1) o poder de “imprimir moeda” a seu bel-prazer” e (2) o poder de a “distribuir pela economia através do mecanismo dos empréstimos a “consumidores finais” – mais moeda ou menos moeda, conforme “as necessidades”… mas tudo isto em estado “amplificado” – “gigantesco” – “monstruoso”.

Mas o FED, não obedece a “interesses públicos”, mas sim a interesses privados. Este pormenor faz “toda a diferença”.

(2) E aqui temos outra parte do lucro: o poder de imprimir moeda e distribui-la -sem qualquer tipo de controlo exterior ou responsabilidade perante qualquer outra entidade.

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O FED foi originalmente criado em 1913. Tem servido como arma estratégica ao serviço de uma recente micro guerra de quase 100 anos, que tem a moeda como munição privilegiada.

Uma data especialmente importante desta guerra aconteceu no dia 15 de agosto de 1971. Nesse dia os EUA, assumiram-se como um Império. Nesse dia, os credores do dólar americano (especialmente franceses, dai a animosidade…) exigiram o pagamento das dividas que os EUA deviam aos mais variados países e entidades mundiais, mas em ouro e não em dolares.

E os norte americanos recusaram-se a pagar em ouro – tornando-se dessa maneira e a partir dessa data um império ( financeiro) mundial.

Tal aconteceu porque o dólar estava indexado ao valor do ouro. Um valor pré fixado em 1945, após 2ª Guerra Mundial (Acordos de Bretton Woods) que dizia que uma onça de ouro valia 35 dólares.

E, caso o valor do dólar se desvalorizasse, o credor, caso “não acreditasse” no papel moeda chamado dólar com o qual lhe queriam pagar, poderia exigir que o pagamento fosse feito em ouro – o ouro neste contexto funcionava como “garantia real” de que o credor obteria o seu direito.

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Nota: de 1945, até ao dia 15 de Agosto de 1971, o Império americano, era baseado no “debito – a economia americana emprestava primordialmente dinheiro. De 1971 em diante, a economia americana passou a viver de crédito, do mundo inteiro, que lhe empresta dinheiro (uma das formas é através da compra de obrigações do Tesouro norte americanas…), sem ter garantias que esta economia o venha (alguma vez) a pagar.

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Em 1971, quanto tal acto fizeram, os responsáveis políticos americanos geraram, primeiro nos EUA, um país cheio de dólares. E depois no resto do mundo, e com o resto do mundo, que as transações passassem a ser feitas em dolares.

Ou seja; (1) o dólar como moeda de troca internacional; (2) o dolar usado por todos como reserva bancária.

Nota lateral: os “lucros” derivados da impressão de mais e mais dólares aumentaram – o FED e os seus accionistas agradeceram… e enriqueceram um pouco mais…

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E foi um longo acumular de “saltos em frente” feitos pela elite política e económica dos EUA – uma elite completamente fora da lei – que gerou o que se está a passar (e que afecta todos) e que não ficará por aqui.

As “iniciais restrições” (bom senso e prudência, por exemplo) ao aumento da moeda em circulação, quando começaram a incomodar foram “ultrapassadas”.

A forma de o fazer tem sido através da especulação financeira e da impressão de moeda, e da geração de “não existência de restrições à concessão de crédito”. (Também conhecida pela expressão “desregulamentação dos mercados financeiros”…)

O que aumentou a concessão de crédito a particulares e empresas para números muito sequer para lá do razoável.

Em todo o mundo.

Daí os emprestimos bancários quase sem garantias, para compra de habitação incentivados nos últimos 8 anos nos EUA. Um dos (muitos) resultados visíveis do que se passa e derivado de uma longa história de saltos económicos (loucos), em frente.

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Devido a estas estranhas situações ocorrerem ninguém vê a análise do custo da moeda (impressão de moeda + mais o aumento da massa monetária em circulação…) a ser amplamente explicado em nenhum livro de economia, mesmo os de moedas e bancos… ou em “debates” feitos por “especialistas…”

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Existem 4 medidas da moeda em circulação: a que nos interessa é a M3.

A M0

A M1

A M2

A M3

M0 – o total da moeda física em circulação + as contas bancárias no banco central que podem ser trocadas por moeda física.

M1 consiste na M0 + o montante colocado em contas correntes (contas à ordem)

M2 consiste na M1 + as contas e depósitos a prazo com altas taxas de juro e depósitos a prazo com durabilidade temporal limitada ou de valor abaixo dos 100 mil dólares.

M3 consiste na M2 + os outros depósitos de grande duração + grandes depósitos de dinheiro institucionais + depósitos de eurodólares + repos (depósitos financeiros organizados como se fossem um contrato financeiro de futuros.

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Dá para perceber que a massa Monetária M3 é a maior de todas em circulação e que basta uma ou duas grandes entidades institucionais internacionais decidir aumentar a moeda( isto é, imprimir moeda) para que a massa monetária M3 aumente enormemente e gere imediatamente possibilidades de inflação (no mundo inteiro).

Este mecanismo é “manipulado” (tem sido) para subir ou descer ao sabor dos interesses de alguns.

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No ano de 2005, a Reserva Federal norte americana,anunciou que a partir de Março de 2006 deixaria de publicar a quantidade de M3 em circulação.

fed-anuncia-fim-da-m3

Tradução: o FED anunciou que deixaria de publicar quais eram os aumentos de impressão de moeda feitos pelo FED. O FED deixou de publicar o número de novas impressões de moeda feitas pelo FED.

Nota curiosa: Em Junho de 2004, o Irão anunciou que iria criar uma bolsa de valores mas para compra e venda de petróleo. Denominada em EUROS.

A ser efectivada no ano de 2006, no mês de Março. Curiosamente o mês em que o FED decidiu descontinuar a publicação do índice M3.

Neste mapa em baixo podemos ver a moeda americana em circulação desde 1959 até ao dias de hoje, e podemos calcular assim por alto, quanto tem trabalhado as maquinas de impressão…

currency_component_of_the_us_money_supply_1959-2007

Quem leu o artigo chamado “de onde vem as reformas da educação”, percebe imediatamente (basta somar dois + dois e correlacionar as datas deste mapa com as datas do artigo) – a relação que existe entre a recessão norte americana de 1957/58 e o que ela gerou de “modelos financeiros” a serem implementados e a relação disso com o progressivo aumento de moeda em circulação. (Dólares)

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E onde estamos agora?

Neste momento estamos na fase ulterior da crise financeira e da emissão de moeda; em finais de 2008.

O sinal lançado para o mercado é um sinal duplo.

A) faremos tudo que o pudermos fazer contra quem seja, criando novas notas de dólar nas nossas gráficas, para inundar o sistema financeiro de dinheiro (novas notas impressas) para o “tentar reanimar”. Dia 16 de Dezembro pelo FED.

B) Faremos isso, mesmo que isso acarrete hiperinflação semelhante ao que aconteceu na republica de Weimar.

fed-taxas-de-juro-historicamente-baixas-1

A hiper inflação acontece quando existe “excesso de moeda” ou de papel moeda em circulação” fazendo com que os preços subam brutalmente.

Um dos caminhos para a hiper inflação consiste no abaixamento das taxas de juro para níveis em que o custo do dinheiro quase não existe.

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O recente anuncio do corte das taxas de juro para mínimos históricos, quase próximos do zero, significa que se está a fazer duas coisas

(1) lançar dinheiro (mais dólares) no mercado, para o “estimular;

(2) lançar expectativas sobre as pessoas dizendo-lhes que devem “adquirir crédito” para ajudarem a estimular a economia.

Através desta “magia” tenta-se transformar a louca divida “financeira” em moeda a circular.

(A) Baixas taxas de juro + (B) dinheiro fácil, (= ) para animar a economia.

Curiosamente, foram estas tácticas que, no inicio da história das hipotecas bancárias criaram as actuais confusões.

Então porquê repeti-las?

Espera-se que a causa dos problemas actuais seja a cura dos problemas actuais?

É isso que se vende. Embora na realidade o que interesse seja pôr o dólar a circular e a moeda a ser impressa, porque são esses os padrões que fazem com que quem comanda o sistema o continue a comandar

Written by dissidentex

30/12/2008 at 23:22

CRISE FINANCEIRA AMERICANA – O PRÉVIO MICRO PRECEDENTE DA ENRON

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Em finais do ano 2000, a empresa norte americana Enron, era a sétima maior empresa dos EUA, avaliada em 70 biliões de dólares.

O “negócio principal” da Enron era a produção de energia eléctrica. Os dois “líderes” da companhia eram Ken Lay e Jeff Skilling. Paralelamente à produção de energia eléctrica, a Enron, no ano 2000, já se dedicava fortemente ao negócio dos futuros.

Comprava e vendia quantidades de energia a produzir a preços marcados hoje, mas para serem realizados os negócios a vários meses ou anos de distância, sendo adquiridos hoje pelos compradores. Tinha negócios na área da Internet (o lançamento da banda larga nos EUA), construía centrais de produção de energia eléctrica na Índia e em vários lugares dos EUA…

A Enron era apresentada a todos e tinha criado uma imagem de si, como uma empresa demasiado poderosa para cair. O Titanic ao contrário.

Existiram vários aspectos bizarros na Enron desde o inicio. (1) Tinha fortes ligações ao poder político – tinha sido a maior empresa a contribuir para a primeira campanha presidencial de George Bush. (2) O que levantou a suspeição de que a decadência da empresa foi “politicamente ocultada”, por via disso.

George Bush era amigo pessoal de Ken Lay, o CEO da Enron e chamava-lhe como alcunha,” Kenny Boy…”, uma alcunha que apenas a mulher de Ken Lay usava.

De 1997 a 2001, Ken lay auferiu na Enron, 300 milhões de dólares. Isto mostra também, a magnitude do negócio e como o dinheiro em circulação era alto e como isso motivava os gestores para continuarem a fazer mais dinheiro e para “falsificarem dados ao mercado” se fosse caso disso.

– Quando a Enron estava com imensos problemas, alguns meses antes de as coisas terem “rebentado”, em 2001, os gestores que estavam por dentro dos esquemas da Enron, venderam as suas acções – muitas das suas acções. Jeff Skilling vendeu 66 milhões de dólares em acções uns meses antes.

Andrew Fastow, o chefe principal de contabilidade, vendeu só 30 milhões em acções, mas aproveitou para ganhar outros 30 milhões em negócios laterais.

– Alguns dias antes da falência iminente, imensas quantidades de documentos da empresa foram mandadas triturar pelos responsáveis, para impossibilitar que se soubesse exactamente como e para onde tinha ido o dinheiro.

O resultado da falência foi:

  • 20.000 funcionários perderam os seus empregos.
  • 2 biliões de dólares em fundos de pensões e reformas perderam-se.

Ken lay ao ter trabalhado na área federal relacionada com a regulamentação/desregulamentação de mercados nos anos 70, tinha conhecimento “por dentro” dos mecanismos do governo federal usados para fazer regulação de mercados.

Munido desse conhecimento e sabedor que a “maré estava a mudar”, (a eleição de Ronald Reagan em 1980…) Lay, precipitou-se a fundar a Enron, em 1985, juntamente com dois homens de negócios do petróleo texano, chamados George Bush Sénior e George Bush Filho.

George Bush Sénior (vice presidente de Reagan), ajudou no inicio da Enron, com subsídios governamentais que promovessem a capacidade da companhia em prosperar e ajudou a promover “politicamente” Ken Lay a um posto não oficial de “embaixador das desregulamentações”.

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Prévio à queda da Enron: o escândalo Valhalla.

enron-valhalla1

Ainda da mesma notícia:

Enron’s first crisis ensued after two traders in the Enron International Oil Inc. unit in Valhalla, N.Y., incurred $85 million in losses by making risky, and ultimately disastrous, bets. The debacle erased half of Enron’s profits for the year. It could have led to the meltdown of the company if not for a bold and ultimately successful trading bluff by another executive. (Mike Muckelroy – nota minha)

Tradução a martelo: “A primeira crise da Enron ocorreu quando dois corretores da Enron International situados em Valhalla, Nova Iorque, originaram 85 milhões de dólares de perdas ao fazerem apostas arriscadas e em ultima análise desastrosas. Poderiam ter levado ao desastre completo da companhia se não fosse pelo bluff negocial feito por um outro executivo da companhia.( Mike Muckleroy…)

Em 1987, a divisão de negócios de petróleo da Enron fez uma “aposta” investindo dinheiro da empresa no mercado de futuros de petróleo apostando sobre se os preços subiriam ou desceriam.

O negócio de compra de futuros de petróleo é um negócio de alto risco, onde se pode perder e ganhar muito dinheiro. Mike Muckleroy, um executivo da Enron na altura, avisou Ken Lay das tremendas perdas que se poderia ter nesse negócio e do que se estava a passar com a divisão dos mercados de futuros.

Após ter sido avisado, Ken Lay ficou impávido e sereno. A divisão de compra de futuros no negócio do petróleo era a única área da companhia, dos negócios combinados da companhia que dava lucro.

Louis Borget, o presidente da companhia, responsável pelos mercados de futuros, estava a manufacturar resultados…

A “coisa” despoletou pelo seguinte: Louis Borget e Thomas Mastroeni, os dois principais negociadores de petróleo da Enron estavam a fazer negócios que criaram desconfianças dentro da Enron.

A Enron era o resultado da fusão em 1985 das companhias “Houston Natural Gás” + “Internorth, Omaha” e os executivos da Internorth estavam desconfiados das acções destes dois corretores. (Ken Lay era CEO da Houston Natural Gás…e posteriormente tornou-se CEO da Enron e rebrandizou a marca…)

Paralelamente a estes desenvolvimentos, em 1987, a companhia que resultou desta fusão, a Enron, estava a lutar com perdas financeiras e preços do gás em colapso.

Logo a “oportunidade surgiu” para se fazer dinheiro de forma ilícita.

Borget tinha retirado mais ou menos 3 milhões de dólares das contas da Enron, e tinha os metido em contas pessoais. A partir daí foi só um pequeno salto para as contas Off-shore, para a contabilidade falsa, com livros de contabilidade duplicados.

Após várias peripécias e uma auditoria, (motivada pela desconfiança de alguns dos executivos – a parte da Internorth-Omaha) os auditores informaram Ken Lay que Borget e os seus corretores de confiança, estavam a destruir os registos diários de compra e venda de futuros no petróleo, manipulavam lucros apresentados e (o perigo último) estavam a investir muito para lá dos fundos que a Enron de facto tinha, jogando com dinheiro que não existia.

Lay nada fez.

Os corretores não foram despedidos nem alvo de processo disciplinar. Na época a Enron enviou um Telex a Louis Borget (da parte de Ken Lay) dizendo: “continue a fazer-nos milhões”.

Mike Muckelroy, perante a dimensão do desastre que se adivinhava, com posições “a descoberto” no mercado (isto é, tendo de cobrir perdas financeiras e não tendo o dinheiro, ou aproximando-se a data de vencimento de contratos de futuros), perseguiu Borget, e quando o apanhou, explicou-lhe que lhe rebentava a cabeça a tiro, ou em alternativa explicava a situação a um sócio de Louis Borget, um traficante de armas alemão, que não ficaria contente com a situação – se Borget não apresentasse os livros de contabilidade verdadeiros.

Louis Borget, no dia seguinte a Mike Muckelroy ter tido com ele esta conversa apresentou os livros verdadeiros.

Mike Muckelroy conseguiu, já possuidor das contas verdadeiras, e sabendo com o que contava, “iludir ” o mercado”, e sair dos negócios de futuros, sem grandes perdas – sensivelmente uns 80 milhões de dólares. (metade dos lucros da Enron nesse ano…)

Ken Lay declarou sempre que não possuía conhecimento dos negócios de Louis Borget e de Thomas Mastroeni.

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Após o escandalo Valhalla, Ken Lay ficou colocado perante um problema: como fazer dinheiro para suportar as perdas que a empresa continuamente tinha, colocada perante uma situação em que o negócio principal que fazia – extracção e comercialização de gás para posterior venda – estava com preços em queda?

Precisava de “um homem com uma ideia”, isto é, Jeff Skiling, que foi contratado como novo CEO “operacional”.

Atrás de Skilling vieram novos personagens, como Andrew Fastow.

Nos finais da década de 80, princípios da década de 90, os mercados de energia norte americanos foram desregulamentados.

O desafio da Enron era o de (1) estar cotada em bolsa; (2) entrar em bolsa de uma maneira forte que atraísse investidores que colocariam mais dinheiro na empresa e esta, por via disso (3) poderia aumentar investimentos a realizar; (4) sem sacrificar a sua credibilidade com a agências de credito (especialmente a Moody´s, a Fitch, e a Standard and Poor´s), (5) pelo facto de todas estas operações financeiras trazerem para os livros de contabilidade demasiadas dividas (e assim prejudicarem a credibilidade da empresa junto das agência de crédito e afastarem investidores, pelo facto de a empresa parecer ser “pesada”)

Andrew Fastow tornou-se o homem que iria criar a complexa arquitectura contabilística da Enron, para “mascarar os livros”. Fastow contratou jovens bancários ambiciosos e uma das tarefas que lhes deu (para fazer dinheiro) foi a de comprarem e venderem “capital de risco” em largas quantidades.

Fastow era o génio do Power point e do Excel, mas pobre a gerir pessoas – era apenas muito bom a criar uma arquitectura complexa de livros de contabilidade e empresas interligadas entre si, e a gerir toda essa interacção.

Jeff Skilling, o CEO “operacional” era a cabeça estratégica por detrás deste negócio. Ken Lay era o “topo”.

A lógica estratégica deste negócio, estava na transformação de uma empresa assente nos elementos físicos do negócio (os pipelines, os tubos de gás,etc) para uma cultura empresarial assente num negócio virtual de compra de produtos virtuais – quantidades de gás e energia comprados agora e de uma forma especifica, e revendidos depois quando os consumidores quisessem adquiri-los.

Para tal Jeff Skilling criou a Enron Online

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A Enron Online visava criar uma mercado online de venda e compra de energia. Mas não só.

Podia-se comprar e vender – como se se estivesse dentro de um mercado de acções – mais de 500 produtos. Isto feito – também – pelo consumidor directamente. Gás e energia eram alguns dos produtos, mas também, derivativos de crédito e crédito bancário (onde se incluiriam hipotecas e o risco das mesmas também vendido…bem como a venda de crédito), metal, papeis, tempo comercial de televisão, etc…

Esta “loucura” era intensificada pelo facto de – nos negócios reais da Enron; aqueles sistemas vivos (os pipelines, as centrais de produção de energia), nesses a Enron não estava a fazer dinheiro suficiente para estancar as perdas.

E tudo isto, paralelamente misturado com a Enron a operar, no mercado de acções (futuros) com correctores de bolsa próprios, assentes numa cultura darwinista de fazer negócios (eu espezinho-te, se isso me garantir um bónus de mais 5 milhões de dólares por ano…)

Skilling era o mestre estratégico. E Fastow?

Fastow aparece nesta história, porque Ken Lay contratou-o em 1990.

E de onde o contratou?

Do banco Continental Illinois National Bank, um banco de Chicago, que em 1984, foi à falência.

Este banco dedicava-se, especialmente, a fazer empréstimos a produtores de petróleo e companhias do sector, mas devido a más práticas de verificação dos negócios a quem emprestava, faliu.

Fastow trabalhava aí e possuía competências que Ken Lay queria: nomeadamente “asset securitization”, a já famosa securitização de bens, em que o “risco” é vendido por bancos mas esse risco é “apoiado” por hipotecas ou outro tipo de obrigações.

Era para esta área que Ken Lay necessitava das habilidades de Fastow, uma vez que a Enron, ao fazer negócios de futuros no negócio da energia ia por aqui.

Fawtow criou as “special purpose entreprises”, empresa com funcionamento especial e com objectivos de retorno financeiro muito elevados.

A ideia era conseguir obter investidores, que em troca de retornos generosos (mais de 50% de retorno e para cima) investissem nestas empresas e uma parte disto seria obviamente (comissões e lucros) para colmatar as perdas da Enron.

Os problemas começaram a avolumar-se, porque Jeff Skiilling exigia cada vez mais “SPE´S ” para aumentar o dinheiro, e colmatar perdas.

À medida que os volumes de negócios aumentavam, mas os retornos eram cada vez mais pequenos, e onde inicialmente eram os bens por detrás dos investidores que garantiam os negócios, a coisa passou a ser as acções da Enron e os bens desta a garantirem a viabilidade do negócio.

Ou seja, passar a ser “uma garantia de papel” tal qual o que se passou na recente crise financeira americana” o que realmente emergiu destes “negócios”.

A Enron tornou-se progressivamente “a garantia de si mesma”, e tornou-se uma empresa que tinha forçosamente que ter acções cotadas sempre em constante subida, para com isso tranquilizar os investidores. (e “forçar” a que mais e mais pessoas nela investissem)

De toda esta embrulhada de negócios paralelos, muito deles virtuais, e alguns reais, chega-se à lógica existente na actual crise financeira.

Ou seja: a lógica da “securitização dos bens” e a venda de garantias (isto é , do risco associado a elas, por bancos) já tinha tido muito exemplos prévios, destas formas desastrosas de fazer negócios, mas neste caso, feito por uma empresa que não era um banco, mas tentou-se transformar num banco, com múltiplos negócios misturados e contabilidade criativa.

O que indica que o problema não são as pessoas e a sua eventual (e verdadeira corrupção) mas sim o sistema financeiro.

Written by dissidentex

10/12/2008 at 16:00

CRISE FINANCEIRA AMERICANA – O DEUTSCHE BANK

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A lista completa de artigos relacionados com este assunto pode ser encontrada na página da barra lateral ” Z – Crise financeira norte americana”

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O Deutsche Bank como “detonador”.

Em Novembro de 2007, o Deutsche Bank foi o detonador que accionou o aparecimento “formal” da crise financeira americana e por acréscimo; a ampliação e exportação de uma parte dessa mesma crise para o resto do mundo, via “produtos “tóxicos” já adquiridos pelos bancos, governos e investidores privados do resto do mundo.

O Deutsche Bank é um grande banco de origem alemã, mas tem enormes interesses comerciais nos EUA. Tendo negócios nos EUA; lógico seria que um deles fosse o empréstimo de dinheiro ás empresas ou particulares que quisessem dinheiro (crédito) para iniciar negócios ou compra de casa.

Quando em 2007 começam a aparecer as primeiras famílias que não conseguem pagar os pedidos de empréstimo (que tinham sido induzidos a fazer), o normal é que quem concede o dinheiro para empréstimo accione as garantias no empréstimo e exija; ou o pagamento ou a devolução do bem.

O que quer dizer que, por exemplo, um banco que emprestou dinheiro, tem o direito de exigir a restituição da hipoteca que tinha com o cliente que não paga e, por via disso, exigir a restituição do bem.

Em Novembro de 2007, o Deutsche Bank fez isso mesmo, nos EUA, e em tribunal.

Exigiu a cobrança executiva (foreclosure) do crédito, sobre as casas de 14 moradores no estado americano do Ohio; que eram proprietários de casas compradas através dos esquemas de concessão de crédito que já foram mencionadas na “Crise financeira Americana – as razões” (e outros artigos que estão localizados na barra lateral chamada Z-Cenários) e que não estavam a conseguir pagar as prestações – entraram em “default”.

O Banco (Deutsche Bank) sofreu um duro choque, após decisão judicial, e isto pode, à primeira vista, parecer ser uma coisa pequena, um assunto insignificante, para um banco tão grande. Mas como este negócio estava organizado em “bundles” /”maços” de milhares de hipotecas de empréstimos para compra de casa, por todos os EUA, o problema do Deutsche bank e dos outros bancos era (tornou-se) real em 2007.

E era real porquê?

Porque o Juiz C.A. Boyko do distrito federal – Cleveland Ohio, decidiu rejeitar o pedido (a acção executiva por dívidas) do Deutsche Bank com base no seguinte e lógico argumento. (Data da ligação – 15 de Novembro de 2008 * ).

A companhia subsidiária do Deutsche bank nos EUA organizada para fazer estes negócios chamava-se Deutsche bank national Trust company, e tinha feito os negócios das hipotecas. Foi esta subsidiária que apresentou o pedido em Tribunal para se reapossar das 14 casas, afirmando que era a dona das mesmas, e que os seus ocupantes tinham falhado os pagamentos.

O juiz do caso, o senhor Boyko, perguntou à subsidiária do Deutsche bank, se podia mostrar os documentos que provavam que era efectivamente a subsidiaria do Deutsche bank a dona legal e perfeitamente intitulada das 14 casas.

A “escritura” da casa – era aquilo que o Juiz pedia aos advogados do Deustche bank.

E os advogados do Deutsche bank apenas conseguíram produzir um documento legal, muito bonito e harmonioso, que dizia que “existia a intenção de transmitir os direitos de propriedade nas escrituras da hipotecas” que a subsidiária requeria em tribunal, à subsidiária. (E que isso fazia dela a “dona” das casas”).

Não conseguíram apresentar a “hipoteca real”, o documento real, mas sim um outro documento passado por uma qualquer outra entidade que era um das donas da hipoteca, e documento esse que “prometia transmitir os direitos de propriedade à subsidiaria do Deutsche bank.

Quase como se isto fosse uma contrato promessa, virtual, de futuras transmissões de hipotecas a serem realizados…para a subsidiária do Deutsche Bank…

O que define o direito de propriedade no Ocidente é o documento que define o titular desse mesmo direito de propriedade.

Aqui tínhamos uma situação em que quem afirma ser o titular, não produz a escritura de propriedade, mas sim um documento onde está escrito que tem “um direito a que lhe venha ser transmitida num futuro próximo, o direito de propriedade, por um terceiro que o venha a fazer no âmbito destes contratos feitos neste sistema extremamente complexo”.

Confuso e escorregadio, não?

Mas porque é que o Deutsche Bank e a sua subsidiaria não conseguíram produzir as escrituras?

Porque estamos aqui colocados num mundo virtual, exótico, cheio de contratos complexos e confusos, desenhados e criados por criaturas muito jovens saídas das principais escolas de gestão e economia dos EUA e de Inglaterra que são pagos – muito mais bem pagos ( à comissão e aos bónus de fim de ano) – se criarem produtos financeiros que obtenham “mais rentabilidade” e mais lucros às instituições para as quais trabalham e portanto o incentivo a “atalhar caminho” existe…

Este mundo virtual chama-se “Global securitization” ou numa tradução livre “a criação e apresentação de garantias globais”.

Façamos agora um pequeno interlúdio geográfico e vamos até Cleveland – Ohio.

Uma pequena nota esquemática mostrando um sistema normal de crédito, retirada do Callahan Cleveland Diary.

bancos-esquema-normal-de-emprestimos

Existe quem pede o empréstimo (o borrower) e quem concede o empréstimo (o Bank) que sofre as consequências, e recebe os juros( interest) desse empréstimo.

Tudo normal, aqui.

Já aqui em baixo temos o mundo exótico da “Global Securitization”

ancos-esquema-de-securitizacao

Penso que o gráfico do “esquema de securitização” das garantias e do risco, sobre a forma como estes contratos de pedidos de empréstimo eram feitos, é esclarecedor … acerca da complexidade e da confusão, nomeadamente acerca de se saber, quem era o dono da garantia e da hipoteca da casa…

No post deste blog de Cleveland, o autor mostra uma fotografia de uma casa, localizada em Cleveland, e faz uma descrição do negócio em que esta casa esteve metida neste esquema de compra e venda por securitização.

O autor consegue mostrar que não se consegue perceber quem é o dono da casa – aparentemente é o Deutsche Bank, mas as entidades que tem ou tiveram pedaços da casa e das garantias sobre a mesma são tantas que dá dor de cabeça ler o post…e tentar perceber no meio de entidades que venderam a outras que venderam a outras quase ad infinitum, quem é o dono…

No artigo “Crise financeira americana – as razões” (Ver barra lateral chamada Z-Cenários), bancos como o Deutsche Bank, (1) compraram a outros pequenos bancos centenas de milhares de maços (bundles) de hipotecas de empréstimos bancários, (2) muitos deles com riscos de cobrança enormes, que depois (3) foram “credibilizados” pelas (4) agências de rating, como a Moody, a Ficht e a Standard and poors, que afirmavam que (5) ” tudo naqueles negócios era credível”.

Após este processo, alguns destes bancos (6) vendiam estes maços de hipotecas já transformados no produto financeiro chamado (6A) “Obrigações” ou também como (6B) investimentos a serem feitos por fundos de pensões (na própria constituição da carteira do fundo), ou então vendiam a (7) outros bancos ou a (8) outros bancos de investimento ou a (9) investidores particulares, que, através de todo este “mecanismo” eram ingenuamente “feitos acreditar” que estavam a (10) comprar obrigações com boa (11) rentabilidade ( isto é, acima do nível médio do mercado…).

(12) Boa rentabilidade essa atestada pelas agências de rating que (13) classificavam estes produtos como “AAA”, a mais alta das classificações, e (14) nunca perceberam (ou quiseram perceber…) que em 1000 hipotecas, que foram convertidas em obrigações, por exemplo, 20% das 1000 eram hipotecas que tinham alto risco associado ( era certo e seguro perceber-se que as pessoas não as iriam nunca conseguir pagar) e portanto o que estes investidores nestas “obrigações topo de gama” (15) compraram era algo completamente fictício e fraudulento e artificialmente valorizado de forma extrema.

Uma das razões para esta cegueira generalizada chama-se ganancia amplificada. Há várias outras mas esta é um dos combustíveis poderosos.

Durante os sete anos anteriores a 2007, os lucros com este negócio, (1) foram tão altos, para a maior parte das instituições norte americanas( Chase Manhatan, Citicorp, Morgan stanley, etc,) e foram (2) tão impressionantes que (3) nenhuns dos profissionais de análise dos modelos de risco usados via software altamente sofisticado, (não tão sofisticado que não avisasse do problema…) (4) conseguíram analisar ( com olhos de ver) o risco que continham estes produtos e (5) verificassem que existia um risco real de colapso.

A ganância amplificada tem culpados principais. Os que menos tinham interesse em fazer esta “análise critica”. E foram certamente as 3 companhias de atribuição de credibilidade/”Rating – a Fitch, a Standard and poor´s e a Moody´s que estavam “claramente ” em conflito de interesses neste negócio.

(A) Se dessem classificações (A1) mais baixas, perdiam as (A2) comissões altas que os seus serviços pagos apresentam como preço a pagar pelo serviço prestado.

(B) Se dessem classificações (B1) como deram, continuariam a (B2) ganhar dinheiro em altas quantidades e a falsear o mercado, sabendo perfeitamente que mais tarde ou cedo as coisas rebentavam.

É a clássica frase que exemplifica isto: ” a sua decisão beneficiou o infractor…”

Desde Agosto de 2008, as “classificações positivas atribuidas pelas agencias de rating, alteraram-se “para baixo” e passaram a dar classificaões negativas – o que por si só ainda potenciou mais a crise…

E os relatórios mensais e trimestrais dos bancos que operavam nos EUA, passaram já a trazer lá incorporadas ” algumas das perdas desastrosas…”

A semântica mudou.

As coisas passaram a chamar-se; não “perdas desastrosas”, mas sim activos tóxicos financeiros”.

E porque é que a decisão do tribunal do Ohio, mencionada acima, é extremamente desastrosa, para os bancos?

Porque no sistema americano de tribunais e de justiça existe a regra do “precedente”.

Se um caso for julgado e a decisão que daí sair abrir um determinado precedente (nunca ter sido decidido assim, e passar doravante a ser decidido assim), esse mesmo precedente passará a valer nos outros casos semelhantes decididos nos restantes tribunais no resto do país, daí em diante.

No sistema jurídico americano( anglo -saxónico), o precedente é o instituto jurídico que vincula as decisões proferidas nos tribunais superiores pelo tribunais tribunais inferiores nos casos em que- futuramente – a mesma matéria vier a ser analisada.

Possibilita dois objectivos:

– Criar uma nova norma (que servirá para ser seguida em futuros casos).

– Definir a interpretação da norma actual em vigor.

** Outra das razões para o pedido da acção executiva do Deutsche bank era o seguinte. O Deutsche bank (a sua subsidiária)  actuava como Trustee (administradora) de grupos de casas “securitizadas” ou em nome de grupos de investidores que poderiam residir em qualquer lado.

Só que o Trustee ( o Deutsche Bank – a sua subsidiária) nunca ficou com o documento conhecido pelo nome de”hipoteca”.

Quanto tiveram que  produzir a hipoteca, não o fizeram.  Alegaram – para justificar a entrada da acção executiva em tribunal pedindo aos 14 moradores a restituição das casas – que até aí, os bancos tinham sempre feito acções executivas e que não tinham sido contrariados durante anos.

Tal levou o juiz a concluir que o facto de fazer-se isso durante anos, não significava estar-se de acordo com alei, logo o pedido era recusado, devido aos fracos argumentos legais.

A decisão do juiz do Ohio significava, como efeito prático, que se algum outro banco ou o Deutsche bank decidissem continuar a meter processos em tribunal exigindo a devolução de casas cujas prestações não tivessem sido pagas, a decisão dos juizes noutro local seria a mesma – julgaria contra os bancos que tal quisessem fazer.

Esta decisão ” mostrou ” a dimensão da crise. Os contabilistas e analistas dos bancos perceberam que “não podiam cobrar”, sem batalhas judiciais à vista (aumentando os custos e a dimensão do problema).

As razões são duas:

(1) as complexidades da estrutura destes instrumentos financeiros.

(2) a dispersão da propriedade (vários ou muitos proprietários) das garantias das hipotecas da compra de casa.

Não exactamente as hipotecas, mas sim as garantias sobre as mesmas (é como se existissem 300 mil fiadores sobre um pedido de empréstimo e não se soubesse quem são e quantos são e onde estão…)

O documento fisico que estabelece a garantia e o direito de propriedade, acaba por não ser facilmente identificável com esta confusão de donos…

Quem criou estes produtos esqueceu-se deste pequeno pormenor, na sua concepção, mas continuou a dizer que estava tudo bem, enquanto a sua entidade patronal/bancária continuava a “amontoar” maços de hipotecas para melhor depois vender… ou directamente ou convertidas em obrigações…

Em Janeiro de 2007, 6.5 biliões de hipotecas com este tipo de problemas – garantidas com este esquema absurdo existiam…

Estes produtos chamavam-se Arm´s – Adjustable rate morgages – hipoteca de taxa ajustável/variável.

Foi quando a taxa “ajustável/variável aumentou, que os proprietários das casas deixaram de pagar e tal aconteceu mesmo no meio da crise económica em que os EUA já estavam mergulhados (juntou-se a fome com a vontade de comer)…

** E uma das respostas do Deutsche Bank a esta confusão em que se meteu foi a seguinte, descrita abaixo: o Deustche Bank fez sair um memorando interno para os seus empregados a recomendar que “exercessem contenção” ou pelo menos discrição quando estiverem a fazer as acções de despejo, das casas, e mais importante ainda, a nunca incluírem o nome do Deutsche Bank nos formulários de acção de despejo ou de hipoteca; que não diga que o Deustche Bank é apenas o Trustee ( o que administra, não o dono da coisa…) (Dessa forma o “odioso” da questão é “diluído”… tentando-se evitar, que mais donos de casas entrassem em processos judiciais, atrasando ainda mais as cobranças…)

Fonte DEUTSCHE BANK WATCH: AKA Inner city press. (Data da notícia na ligação – 24 de Dezembro 2008 * )

Update of December 24, 2007: As the subprime foreclosure wave continues to gather strength, a major Wall Street (and Frankfurt) player, Deutsche Bank National Trust Company, has issued a memorandum purporting to urge its servicers to exercise restraint or at least discretion in evicting tenants from rental properties, and, apparently most important to it, to never include the name Deutsche Bank on any foreclosure or eviction filing without emphasizing that DB is only the trustee. Of course, it’s an enabling role that Deutsche Bank chose and profits from. But Deutsche Bank wants it both ways. At least the memo has Deutsche Bank National Trust Company’s contract numbers, which desperate consumers often call Inner City Press to request. They are, in Santa Ana, California, Tel 714 247-6000, Fax 714 247-6009. Inner City Press is putting the DB memo online, here.

Written by dissidentex

22/11/2008 at 16:59