DISSIDENTE-X

Archive for the ‘LIVROS’ Category

RAY BRADBURY (1920- 2012)

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“With school turning out more runners, jumpers, racers, tinkerers, grabbers, snatchers, fliers, and swimmers instead of examiners, critics, knowers, and imaginative creators, the word ‘intellectual,’ of course, became the swear word it deserved to be.”

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“We need not to be let alone. We need to be really bothered once in a while. How long is it since you were really bothered? About something important, about something real?”

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If you hide your ignorance, no one will hit you and you’ll never learn.”

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“I still love books. Nothing a computer can do can compare to a book. You can’t really put a book on the Internet. Three companies have offered to put books by me on the Net, and I said, ‘If you can make something that has a nice jacket, nice paper with that nice smell, then we’ll talk.’ All the computer can give you is a manuscript. People don’t want to read manuscripts. They want to read books. Books smell good. They look good. You can press it to your bosom. You can carry it in your pocket.”

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Citações de Fahrenheit 451 – AQUI

“You don’t have to burn books to destroy a culture.
Just get people to stop reading them.”

~ Ray Bradbury

Não é necessário queimar livros para destruir uma cultura.

Deve-se apenas fazer com que as pessoas não leiam.

Ray Bradbury – Wikipedia

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Written by dissidentex

08/06/2012 at 14:11

MUSSOLINI E A ITÁLIA FASCISTA

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capa-mussolini-e-a-italia-fascista-m-blinkhornNa Inglaterra, uma colecção de pequenos livros concebida para apoiar o ensino secundário/pré universitário, serviu de mote à editora Gradiva, para os publicar em edição portuguesa, com o nome de “Panfletos Gradiva”.

O número 3 é dedicado ao fascismo italiano e a Mussolini. Um pequeno livro com 94 páginas, fácil de ler e fornecido com uma já extensa referência bibliográfica, sob vários ângulos de análise, dedicada ao fascismo italiano.

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O livro pretende ser um guia indicativo  e explicativo do que era e como foi a ascensão do fascismo italiano, explicando os seus antecedentes, historicamente e como se chegou lá.

É apresentado um índice cronológico e mapas. Como se explica na página 16:

“…O que foi o fascismo? Como e porque emergiu e conquistou o poder em Itália? Como e com que consequências foi exercido esse poder?…

e mais adiante na mesma página explica-se que :

…”o fascismo só pode prosperar num meio socioeconómico muito especifico, da mesma forma que, para desafiar o poder, precisou de um vazio político no seio do qual se pudesse movimentar.”

Na página 17, fala-se do período italiano chamado a “Itália liberal” entre 1861-1915.

E diz-se que:

... O “Risorgimento”…. “legou à Itália um complexa herança, da qual nos importa aqui salientar dois aspectos: gerou entre os italianos politicamente conscientes expectativas exageradas quanto às perspectivas imediatas de poder e prosperidade para a Itália; e, ao forjar uma nova nação sem atrair ou satisfazer a massa da população  produziu um sistema sociopolítico minado por fraquezas potenciais.

Nota lateral: o Risorgimento pode ser – com as devidas proporções e reservas  “adaptadas” – comparado ao que se passou em Portugal aquando da implementação da 1ªRepública, e ao que se passou no alarido pseudo revolucionário que dá pelo nome de 25 de Abril de 1974…

Ainda na página 17:

…A consciência nacional era desigual e extremamente fraca em muitas regiões de província e da Itália rural; persistiam lealdades a dinastias destronadas e  fronteiras históricas, ao mesmo tempo que, para milhões de  camponeses, a única realidade era a administração local, sendo qualquer autoridade exterior considerada como um intruso potencialmente  explorador.

Nota lateral: o actual poder autárquico português está quase a este nível descrito, e a situação em Portugal – actualmente – apresenta semelhanças notáveis… nada disto é novo, já se passou historicamente e no entanto continuamos a ver serem apresentadas as mesmas soluções que eram apresentadas historicamente há 80 anos na Europa, com os resultados que se conhecem…

Estes parâmetros escritos por Martin Blinkhorn definem o “ambiente italiano” naquela época.

Martin Blinkhorn, o autor do livro depois explica como era o “liberalismo” italiano, como por exemplo, com o direito de voto que apenas consagrava esse direito a um milhão de italianos, de entre os 32 milhões de população na época, de como os partidos eleitos faziam sindicatos de votos (semelhanças com Portugal do século 19 são completas…e não só com o Portugal do século 19) de como esta política liberal definia uma sociedade (Página 19) de:

“…a consequência disto era que o Parlamento representava a própria classe política e todos aqueles que estivessem ligados aos seus membros  por laços familiares , locais e económicos, formando redes hoje em dia conhecidas pela designação de “clientelas”…

“…A política liberal reflectia com bastante exactidão  uma sociedade de forte predominância rural, caracterizada pelas estruturas tradicionais da agricultura, por um alto índice de analfabetismo e por uma fraca consciência política…”

Nota lateral: a ultima frase descreve o Portugal actual, e descreve que – apesar de todos nós nos andarmos a auto enganar ; que Portugal está transformado numa sociedade liberal (no pior sentido do que o termo significa), com poucos ou nenhuns direitos reais para quase toda a gente, índices de analfabetismo que se chamam índices de iliteracia (nos séculos 20/21, as palavras mudam) e uma consciência política de grau zero, que se resume aos patéticos apelos ao voto de 4 em 4 anos em que somos convencidos de que isso (apenas só isso) é que é “democracia”… .

Por causa desta situação e de várias outras adjacentes, pressões sobre este sistema italiano do século 19/20 começaram a emergir, quer no sentido de se exigir ter mais direitos de voto, quer no sentido de se alterar a situação e estender o leque de direitos e de participação cívica e política à generalidade da sociedade.

Consequência:

surgiram movimentos comunistas, socialistas, anarquistas, que por sua vez originaram contra movimentações católicas e de outras forças mais reaccionárias.

A coisa “liberal” aguentou-se enquanto a (1) economia funcionou e as (2) taxas de crescimento eram altas e enquanto (3) “causas nacionalistas” – como anexar ou fazer regressar à Itália continental territórios (em posse da Áustria) onde cidadãos italianos viviam, distraíam as atenções.

Os políticos liberais sentindo o perigo, optaram por uma “troca”. Derivada de uma lógica política perversa.

Fecharam os olhos aos desejos dos patriotas do Risorgimento, relacionados com o “voltar para Itália” dos territórios naquela época na posse dos austríacos, percebendo que esse “fechar de olhos” lhes conseguiria fazer ter/manter/aumentar um império além mar ( anexar Etiópia e Líbia) ou pelo menos conseguir ter esse império sem ser contestado por outras potências com interesses (França e especialmente  Inglaterra…)

Mas o preço viria a ser pago a seguir: com o aumento das forças de contestação, dentro da Itália e dentro do sistema político.

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A partir da década de 1890, e com o decorrer dos anos, outros problemas avizinhavam-se no horizonte. Como explica Blinkhorn, na página 22:

“…Por volta de 1914 emergira no norte de Itália, uma classe poderosa de banqueiros e industriais estreitamente ligados entre si  e a um estado proteccionista. A par da nova classe operária”…”começava a emergir uma  outra “nova” classe urbana: o desenvolvimento do sistema de ensino  nas cidades  italianas  em rápido crescimento ia produzindo uma pequena burguesia  ávida de ocupar lugares  na administração, burocracia e serviços e preocupada em manter as suas distâncias em relação ao proletariado…”

Nota lateral: o que é Portugal actualmente, pelo menos na parte dos banqueiros senão isto “…uma classe poderosa de banqueiros e industriais estreitamente ligados entre si  e a um estado proteccionista…” retirados evidentemente os Industriais e o Estado proteccionista, mas este ainda e só no sentido em que só protege banqueiros…

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E assim chegamos ao efeito de toda esta política perversa, de não satisfação das aspirações de várias classes profissionais e comerciais, de não satisfação da sociedade.

E o efeito foi a criação, vinda de dentro das fileiras deste sistema absurdo e que não satisfazia ninguém,de um homem “providencial” – Mussolini.

Mussolini tinha sido membro do partido socialista italiano, antes de ter saído farto da política de catavento que ali existia.

Durante os anos 10 e 20 do século (depois intensificado com o exemplo externo da Revolução russa de 1917) exigia-se uma “revolução”, mas percebeu-se quer em sindicalistas, quer no PSI italiano, que a culpa não seria do (1) capitalismo italiano, mas sim do (2) poder politico clientelar.

Que era isso, primariamente, segundo explica Martin Blinkhorn, que era preciso mudar.

Nota lateral: em Portugal temos, infelizmente, os dois problemas.

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Após a guerra – primeira guerra mundial, em que a Itália participou, isso alterou a  sociedade, e criou a exigência de satisfação de expectativas criadas em milhões de ex combatentes,aquando do seu regresso após guerra.

Expectativas essas que foram defraudadas.

Imediatamente, surgiram dois problemas: (1) agitação social (2) o ressentimento nacionalista.

A agitação social provocou o medo; poderia estar iminente uma revolução bolchevique? (comunista)

Os grandes proprietários de terras interpretaram a “agitação” como o prenuncio de tal, e lançaram um contra ataque.

Usaram a lei, e deixaram de aceitar o principio da imparcialidade praticado pelos governos liberais italianos nas relações de trabalho, passando a exigir a relação tripartida entre capital, Estado e trabalho.

Isto foi usado como uma forma de “anti socialismo”, no sentido em que atacava o governo socialista italiano por esta época, que ao mesmo tempo que proclamava socialismo, mantinha leis de trabalho absolutamente liberais.

Este anti socialismo era também apoiado pelos pobres italianos que estavam descontentes com os monopólios nas oportunidades de emprego nas regiões pelo partido socialista italiano controladas.

O ressentimento nacionalista era alimentado, por exemplo, pelos ataques verbais que eram feitos contra os veteranos  de guerra.

“… o termo fascio,que já fora um exclusivo da esquerda, era agora mais comum à direita., para cujos devotos  com o fasces, os feixes de varas que eram a insígnia da magistratura da Roma Italiana, e com a noção de “força na união”. (Página 37)

Nota: o fascismo urbano e o fascismo rural coexistiam. Mas tinham lógicas diferentes.

Nas eleições de Novembro de 1919, o fascismo teve péssimos resultados ao concorrer, apenas conseguiu obter 5000 votos  em Milão num universo eleitoral de 275000.

Grande parte do esquerdistas que aderiram ao fascismo afastaram-se.

Mussolini que já nessa altura emergia e tinha-se afastado das suas raízes socialistas porém ,”manteve-se firma com o apoio de alguns milaneses abastados que pressentiam o potencial anti socialista do fascismo... (página 37).

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O resto já sabemos.

Written by dissidentex

23/04/2009 at 12:41

A PIRÂMIDE – ISMAIL KADARÉ

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Autor: Ismail kadaré.

Editora: Dom Quixote.

Na wikipedia:

a-piramide-ismail-kadareO livro foi escrito em  Paris e Tirana (kadaré é albanês);  entre 1988 e 1992. Reflecte a visão do autor, em relação ao que viveu, antes dessa época e ao que estava a viver nessa época.

Para todos os que o leram ou o lerem agora,  podemos, se fizermos um esforço comparativo ver como aquela realidade descrita por Kadaré há 20 anos não está tão distante.

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Kadaré desejava, acima de tudo, contar uma história acerca do  totalitarismo.

Contudo é mais (muito mais) do que só sobre totalitarismo.

É, também sobre o poder; e toda a simbologia associada a esse mesmo poder. E de como isso influencia o próprio totalitarismo e as formas que  este reveste, de país para país.

kadaré, ao escrever, para se proteger da rigidez totalitária estúpida da Albânia comunista situou a acção do livro no antigo Egipto. (3000 anos antes portanto).

piramide-kadareCriou o enredo da narrativa centrado num problema político/de regime: a construção de uma pirâmide – dedicada ao Faraó Keops – que seria, simultaneamente, o túmulo deste, após morte, e uma obra simbólica feita em vida do Faraó, cujo objectivo seria o de servir para demonstrar todo o seu poder sobre o povo egípcio e por extensão, do próprio império egípcio, para os  vizinhos.

Do ponto de vista da leitura, o livro não é nada simples; a tradução não ajuda, e está cheio de metáforas e alusões subliminares ao regime comunista albanês  (isto é, a uma forma peculiar de totalitarismo), mas não só. Podemos reconhecer os “tiques” de poder de qualquer regime ali explicados.

E também reflecte a influência a algum do ambiente pré queda do muro de Berlim (1989), de que o autor se apercebeu estando ainda a viver na Albânia (Kadaré saiu algum tempo antes da queda e pediu asilo político em França); mas o que é interessante verificar, por análise comparativa, da leitura do livro, é como todos os mecanismos de poder totalitários de uma ditadura obtusa, também podem, pelo menos alguns, ser replicados e encontrados numa  qualquer simpática democracia ocidental.

Como Portugal. Caso se preste atenção, bem entendido. Caso se queira prestar atenção, bem entendido. E independentemente dos partidos ou forças políticas que estejam no poder.

É um “estado das coisas” que Kadaré  mostra e nos convida a pensar sobre.

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A história começa com o Faraó Keops a anunciar, poucos meses depois de tomar posse, que não deseja mandar construir nenhuma pirâmide, tal como os seus antecessores tinham feito.

Esta declaração política perturba o equilíbrio.

Os vassalos, servidores, cortesãos, funcionários públicos, enfim toda a fauna social,  fica intensamente perturbada com a notícia.

Para sublimarem a preocupação há que encontrar uma explicação. E a explicação é passar-se a julgar essa atitude do Faraó como  sendo  uma manobra politica do Faraó, mas apenas feita, para testar a lealdade de todos a si, o recém nomeado Faraó.

Paralelamente a este hipotético teste que a sociedade julga ver, o anuncio da “não construção” cria um terrível problema filosófico e metafísico: como iria o Faraó subir até ao céu depois de morto, e levar a sua alma e as bagagens correspondentes, se não existiria pirâmide, como veiculo sagrado de transporte, para o fazer?

E é a partir destes dois pontos que kadaré demonstra como a perturbação entre a fauna cortesã de uma sociedade pode ser lançada – pelo “poder”.

Tal estado das coisas leva a que o Sumo-sacerdote, o Magico-astrólogo e algumas outras figuras da burocracia do Estado se afadiguem a convencer o Faraó de que deve ser construída a pirâmide.

Em baixo uma pequena transcrição de como o Magico-astrólogo tenta criar as bases do convencimento e da influência no Faraó. O Mágico astrólogo, primeiro,  identifica o problema, quando em acto de pensamento e reflexão para si próprio:

“…o bem-estar, ao mesmo tempo que tornava as pessoas mais independentes, mais livres de espírito …as tornava, de igual modo mais reticentes à autoridade em geral e nomeadamente ao poder do Faraó….”

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Percebendo que o seu poder poderia ser posto em causa por não querer mandar construir a Pirâmide e depois de ser persuadido pela fauna de cortesãos (pelos interesses), o  Faraó procura criar uma solução em que sinta ter sido ele próprio a encontra-la, (para fazer assim uma auto demonstração de poder) e para tal envia o Mágico-astrólogo para o Sahara para que este encontre uma solução que satisfaça os desígnios do Faraó.

40 dias depois este retorna e afirma ao Faraó que: “era preciso eliminar o bem-estar

Kadaré demonstra que, no exercício de poder, muitas vezes, não é o soberano/ o ditador/ o líder que de facto comanda, mas sim, julga que comanda, apenas influenciado por “sombras” de interesses que pairam à volta.

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Para eliminar o bem estar, surge a ideia de que é necessário fazer algo:

Mas o quê?

“Algo de fatigante, de destruidor para o corpo e o espírito e absolutamente inútil. Ou mais exactamente, uma obra de tal forma inútil para as pessoas que se tornasse indispensável ao Estado…!

O resultado:

“…o soberano e os seus ministros chegaram …. À ideia de um grande monumento funerário. De um grande túmulo.”

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Esta ideia fascinou sobremaneira o Faraó.

E dessa forma, o “novo” edifício principal do Egipto já não seria um templo, nem um palácio real, mas um túmulo. Progressivamente, o Egipto identificar-se-ia com este, e este com o Egipto. (o nacionalismo de mãos dadas com o poder…)

O Faraó fala – para simbolizar o facto de ter decidido tal – e diz:

“A pirâmide será construída. Será a mais alta de todas. A mais majestosa.”

É o “poder” simbólico do Faraó a manifestar-se.

E após o Faraó falar – uma metáfora do poder e do totalitarismo, aplicada de forma prática –  surgem os éditos reais a notificar o povo da construção.

O povo alegre ?!?! por o dia finalmente ter chegado – o início da construção da pirâmide – tem esta manifestação:

“As pessoas saem dos templos, aliviadas. Como somos felizes, diziam, por termos a nossa pirâmide.”

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No livro decorrem acções paralelas. São explicadas as  descrições das decisões técnicas dos arquitectos, a inveja dos embaixadores estrangeiros, a abertura e construção de estradas, necessárias para transportar os enormes blocos de pedra, vindos de barco Nilo acima, a escolha das pedras, o deslocamento dos funcionários públicos para sítios remotos para supervisionarem os trabalhos…tudo se descreve, para mostrar um grande elefante totalitário em movimento.

Assim é-nos dado a observar o simbolismo de toda uma burocracia a movimentar-se ao serviço de uma fachada de poder totalitário.

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Também existem os pormenores cómicos e irónicos: os boatos e as conspirações que dão origem a afastamento sucessivos de responsáveis pela construção, as manobras da policia secreta…

Ou quando se passa à construção propriamente dita, onde todas as pedras são numeradas e tem um nome atribuído.

A meio da construção keops exige ser colocado mais acima (o seu túmulo) no interior da pirâmide:

“Mais alto – disse ele com voz abafada – ainda estou muito abaixo.”

“Compreendo, majestade – respondeu o arquitecto – chefe”.

“- Quero ficar no centro – declarou keops”

“-Compreendo, Majestade.”

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Kadaré ironiza profundamente sobre o “aspecto humano” dos ditadores, por intermédio de interposta personagem – o Faraó Keops. Este, a determinada altura sente melancolia e tristeza por saber aproximar-se o fim da construção e reflecte “humanamente” sobre isso:

“As vezes arrependia-se de ter martirizado o Egipto daquela maneira!…

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Tudo isto também misturado com os problemas com os linguistas do reino e com os filhos de Keops, bem como uma, de várias conversas alucinantes, de Keops com o Magico-Supremo:

“o seu corpo conhecerá um fim, a sua alma nunca!

Mais uma metáfora para o poder e para o facto de os líderes políticos, passado algum tempo de estarem rodeados de pessoas que lhes dizem apenas sub-verdades agradáveis, se tornam completamente autistas para com a realidade, e são sempre bajulados com promessas de intemporalidade da sua obra…

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Também existem crónicas, brilhantemente macabras, acerca da construção usando as  pedras numeradas:

“Centésima nonagésima segunda pedra. Da pedreira de Abousir. Nada de especial”.

Ou:

Antepenúltimo degrau, da nona à quinta pedra, segundo o relatório do gabinete de controlo.

“…a sétima pedra …a pedra negra, a má…as causas do deslize permanecem misteriosas …mas ao nível do nono degrau, a queda acelerou. Foi para lá do décimo segundo que começou a esborrachar as pessoas…ao todo 90 mortos, sem contar com os feridos.

Ou:

“Sexta pedra…ainda que tivesse feito vitimas, parecia um anjo comparada com a anterior. Por isso chamaram-na de pedra boa.”

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Também existe a descrição “vista de fora”. Frustrado pelo facto de ter siso enviado para um local que não queria, e devidamente pressionado incentivado  pela sua sexualmente activa mulher, o Embaixador da Suméria consola-se através de um devaneio sexual analítico:

“Ela acariciou-lhe a barriga, depois o sexo. Reparava que, cada vez que enviava para a sua capital um relatório no seguimento do qual aumentava a esperança de ser nomeado ministro dos negócios estrangeiros, o sexo dela se molhava”.

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Após conclusão da “obra do regime” , o Faraó procura “interrogar-se”  e “saber” qual o “sentido” metafísico da construção. Kadaré ironiza com as tentativas de auto justificação que todos os protótipos totalitários demonstram após acções deste tipo.

Procurando “saber” interroga o Mágico acerca da pirâmide. E o Mágico responde:

— “Se construíste o maior túmulo do mundo é porque a tua vida é suposta ser a mais longa que se já se conheceu À face da terra. Nenhuma outra sepultura este poderia albergar.

Eu sofro – disse Keops.

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Após a obra concluída, os ladrões de túmulos roubam a pirâmide; um dos filhos do faraó é morto pelo irmão, para no futuro reinar e poder ter também a nova grande honra de construir mais uma Pirâmide, e os historiadores querem exumar o corpo do irmão morto, mas tal não lhes é permitido.

(Metáfora do poder totalitário ou democrático que se auto preserva de “olhares estranhos”…)

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É um livro algo datado, sobre totalitarismo e poder, e visando acima de tudo cravar estacas e acertar contas no comunismo albanês.

Contudo, quem resistir à leitura verá que é apropriado para reflectir sobre os tempos que correm, os tempos do medo diferente, … e onde a subversão da democracia é uma constante, tentando-se, sub-repticíamente, impor regras aparentemente democráticas (mas que não o são…) com uma regularidade constante.

Nota final: O livro será, possivelmente, difícil de adquirir, dado que foi publicado pela dom Quixote em 1994.

Contudo está acessível em bilbiotecas públicas.

LIVRO – GLOBALIZAÇÃO:AS CONSEQUÊNCIAS HUMANAS – ZYGMUNT BAUMAN

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Artigo Extenso

Livro de Zygmunt Bauman, sobre a globalização, fornecendo-nos um “mapa”sobre a mesma. O livro é, em alguns aspectos ligeiramente datado, mas, apesar disso, resiste ao tempo e ajuda a explicar muita coisa.

Edição Brasileira. JORGE ZAHAR Editores, uma editora Brasileira, 1999, 146 páginas.

É um livro que apresenta uma perspectiva da globalização, mas orientado para mostrar várias dimensões da mesma. Olhando para a época em que foi escrito e olhando para a realidade actual torna-se um exercício curioso de análise comparativa do que era uma certa visão, e do que é o mundo actual.

TEMPO E CLASSE

No primeiro capitulo Bauman analisa a ideia de mutabilidade, mudança, alteração na percepção de como nós actualmente vemos o tempo e o espaço em plena era de Globalização.

  1. Como isso influi na organização social;
  2. Como é visto o tempo e o espaço por diferentes classes sociais e profissionais.

Tal “visão” leva ao conceito de “proprietário- ausente”;uma entidade “patronal” ou um “profissional” que já não necessita ou é obrigada (os privilegiados dentro deste novo sistema) a ficar parada geograficamente/fisicamente no mesmo espaço, antes move-se ao redor do mundo.

Este conjunto de privilegiados obteve (1) liberdade de movimentos – que origina – a (2) “não responsabilização” pelos (3) actos do que faz, precisamente pela capacidade de mobilidade dos movimentos.

Cita Albert J.Dunlap”

“…a companhia pertence às pessoas que nela investem- não aos seus empregados, fornecedores ou à localidade em que se situa” – Página 13.

Tradução: que os empregados, fornecedores, e os porta vozes da comunidade (o poder político?) não tem voto na matéria relativamente às actividades da empresa.

A mensagem não é uma declaração de intenções, mas uma afirmação de facto.

Efeitos 1: os centros de decisão foram alvo de uma guerra e essa guerra originou o deslocamento deles, para uma dimensão livre de restrições territoriais ou restrições de localidade.

Efeitos 2: os empregados são recrutados na população. Tem responsabilidades pessoais e familiares; não podem mover-se, seguindo a companhia quando ela muda de lugar. Os fornecedores tem que entregar a matéria prima e os custos locais de transporte dão uma vantagem ao fornecedor local que desaparecem assim que a companhia muda. A localidade fica onde está.

Só quem investe na companhia – tem “voz” – é que não está preso no “espaço físico”. Pode fugir às consequências dos seus actos (fechar uma fábrica num local e abrir noutro.) (Segundo esta interpretação doentia dunlapiana das coisas)

O espaço e o tempo são novas dimensões. A distância já não importa – mas apenas para os privilegiados.

A nova velocidade/nova polarização emancipa alguns seres humanos.

Alguns podem mover-se para fora da localidade – qualquer localidade – quando quiserem. Outros observam, impotentes, a única localidade em que habitam movendo-se sob os seus pés” Página 25

Pontos:

– segregação espacial entre quem está confinado e quem nada mais faz do que mover-se;

– Novas concepções de espaço e de tempo, e concepções diferentes quer seja uma pessoa que se move, ou não.

Bauman considera que essa nova dimensão/percepção do espaço e da geografia confere novas características aos processos de exclusão social:

– uma ruptura completa da comunicação entre as elites – que são extra territoriais – são “globais” e a população “normal”. Esta população é cada vez mais “localizada” e impossibilitada de se mexer.

Consequências:

A elite extraterritorial não sente os espaços geográficos onde nasceu; por exemplo, como sendo algo que lhe diga respeito. O sentido de comunidade (e de interesse pela comunidade) desaparece na elite.

Os centros de decisão (a capital, o governo, etc) estão longe, mas as consequências das tomadas de decisão desses centros de decisão caem directamente em cima das populações “localizadas” que estão impossibilitadas de se mexerem.

Consequências 2

O “poder” passa a ser livre para explorar, sem temer quaisquer tipos de consequências por fazer isso.

Bauman conclui que essa mobilidade não pressupõe que as comunidades “localizadas” tenham tolerância ou aceitação perante isto ou as desenvolvam como conceitos a utilizar…

GUERRAS ESPACIAIS

No capítulo 2 Bauman explica a batalha dos mapas. Estabelece a diferença entre poderes pré modernos e pós modernos. O estado pré baseava-se numa ideia de auto protecção das populações que se agrupavam em sítios e se protegiam de forças estrangeiras ou estranhos,da possibilidade de um ataque.

Para recrutar soldados ou colectar impostos, o Estado pré moderno quase que os pilhava aos seus habitantes. Tal também era feito para tentar uniformizar a cobrança. O Estado pré moderno privilegiava colectividades em vez de indivíduos, devido à multiplicidade de formas de individuais e comportamentos (tentando assim padronizá-las).

O mapa tinha que ser ganho e tinha que ser uniformizado, de acordo com os desejos /necessidades do Estado pré moderno.

… Um aspecto decisivo do processo modernizador foi portanto a prolongada guerra travada em nome da reorganização do espaço. O que estava em jogo na principal batalha dessa guerra era o direito de controlar o ofício de cartógrafo”. – Página 37

Isto num Estado pré moderno a fazer o salto para se tornar moderno. O espaço social tinha que estar subordinado a apenas um “mapa” (não só entendido de forma geográfica) oficialmente aprovado pelo governo desse mesmo espaço.

O que Bauman considera que existe actualmente é?

“… O ponto de gravidade na organização espacial mudou então da pergunta “quem ?” para esta outra “de que ponto no espaço?”

Introduz duas teorias:

– Michel Crozier: “os conceitos de posição dominante pela burocracia que consegue impor a sua acção a terceiros e a tornam opaca” (Ver artigo Dissidente-x: Asae e a Burocracia — Ver Asae e Rock in Rio mais o jornalismo que temos

– Michel Foucault – conceito de panoptico – “Uma torre central” onde um supervisor observa a sociedade, sem esta o ver ou sentir sem esta nunca saber se o supervisor está activo ou não. Ver artigo Dissidente-x – “Panóptico – a atracção pelo Totalitarismo”.

Escreve muitas páginas posteriores fundamentando isto e explicando por exemplo escolas de arquitectura e as suas concepções de planeamento de cidades (especialmente o arquitecto Le Corbusier).:

Explica a agorafobia: Onde antes as cidades eram construídas visando impedir estranhos de entrar, são agora construídas visando impedir estranhos de ficar, os concidadãos indesejados.

Exemplos das comunidades americanas – página 54

a suspeita em relação aos outros, a intolerância face à diferença, o ressentimento com estranhos e a exigência de isolá-los e bani-los, assim como a preocupação histérica, paranóica com a “lei e a ordem”, tudo isso tende a atingir o mais alto grau nas comunidades locais mais uniformes, mais segregadas dos pontos de vista racial, étnico e de classe.”

APÊNDICE sobre EUA – Artigo Dissidente-x chamado “Planeta americano”

No capitulo 4 – A soberania do capital – Verdu explica que os “Pais Fundadores” acreditaram na existência, isto é na possibilidade da criação de novo de uma sociedade que “rebentaria” com as hierarquias europeias – as sociedades hierárquicas de tipo europeu existentes nos séculos 17 e 18. Mas, acrescenta Verdu, tal ideia fracassou miseravelmente uma vez que, quer a passada e actual dinâmica de acumulação de capital desmente isso. O igualitarismo – ideia utópica dos pais fundadores – é desmentido pela acumulação de capital e os pobres são vistos como excrementos do sistema. Como dejectos. É uma lógica de Darwinismo misturada com sorte que existe e é considerada como sendo, realmente, a filosofia dos pais fundadores.

No capitulo 5 – O medo do crime – Verdu explica que o crime é elevado devido a desinvestimento no seu combate e prevenção, e como o sistema social é organizado de forma darwinista – isso obviamente conduz ao crime. Que serve por sua vez de oportunidade para vender sistemas de segurança (a mentalidade de empresário, de vender em comprar surge aqui) – sendo o Lar uma fortaleza. Equipada como tal……

Bauman chama ao panóptico actual, as bases de dados.

Artigos Dissidente -x

(A) Chip electrónico automóvel

(B) Relatório minoritário fiscal

(C) Médicos de clínica geral defendem cruzamento de dados

(D) Cartão electrónico escolar

Defende ainda que ao Panóptico se juntou o “Sinóptico”.

Muitos vigiam poucos. O sinóptico é global. (Os quatro posts acima indicados são um exemplo de uma mistura “sinóptico/panóptico” – de uma tendência)

No panóptico inicial, alguns habitantes seleccionados vigiavam os outros; no Sinóptico os habitantes locais vigiam os globais.

Estas concepções acima expostas levam à intolerância.Bauman tenta explicar as causas da intolerância:

…a uniformidade alimenta a conformidade e a outra face da conformidade é a intolerância. Numa localidade homogénea é extremamente difícil adquirir as qualidades de carácter e habilidades necessárias para lidar com a diferença humana e situações de incerteza; e na ausência dessas habilidades e qualidades é facílimo temer o outro, simplesmente por ser outro – talvez bizarro e diferente, mas primeiro e sobretudo não familiar, não imediatamente compreensível, não inteiramente sondado, imprevisível” Página 55

DEPOIS DA NAÇÃO ESTADO, O QUÊ?

No capítulo 3 é descrita a nova divisão entre Estado e economia. Tudo isso é relacionado, com exemplos, com as deslocalizações de empresas da Europa, para a Ásia. E é relacionado com um sentimento difuso, mas real de que “tudo está a fugir ao controlo”.

(1) Fugindo ao controlo é a tradução da palavra (2) Globalização. E Bauman questiona se deveremos ser Globalizados ou Universalizados.

Define o que era Ordem (antes) e um Estado dotado dela:

...”ordenar um sector do mundo passou a significar:estabelecer um estado dotado de soberania para fazer exactamente isso. (Define a concepção de Max Weber como o Estado sendo o agente que tem o monopólio dos meios de coerção…)

Mas explica que, com a actual morte ou tendencial morte do Estado soberano, despido de muitas das suas “capacidades” de impor ordem dentro do seu espaço, isso – paradoxalmente – gerou Estados que tentam desistir dos seus direitos soberanos, mas de forma não forçada.

  • Pretendem que a sua soberania seja dissolvida em entidades supra estatais( Exemplo, UE).
  • Existem estados ou etnias que já estavam esquecidas e que pretendem passar a ser um Estado.
  • Novas e velhas nações que escaparam a dependência da URSS, e após escaparem resolveram dissolver a sua independência na Nato e na UE.

Paradoxalmente, foi a morte da soberania do Estado, não o seu triunfo, que tornou tão popular a ideia de condição estatal.

Tal leva a situação em que o “Estado é o novo expropriado”.

Página 73 “…A globalização nada mais é que a extensão totalitária de sua lógica a todos os aspectos da vida”. Os estados não tem recursos suficientes nem liberdade de manobra para suportar a pressão – pela simples razão de que “alguns minutos” bastam para que empresas e até estados entrem em colapso”.

Bauman defende que no futuro, (Este livro foi escrito em 1998/99) irão existir cada vez mais Estados e cada vez mais fracos; (Exemplo:Kosovo) isto é, irá existir uma tendência para a existência de territórios ou populações que quererão a independência e o capital extra territorial não está contra essa tendência.

Todos tem interesses adquiridos nos Estados que são fracos, precisamente pelo facto de estes ao serem fracos poderem proporcionar irrestrita liberdade de movimento.

Pagina 75/76 – “Abrir de par em par os portões e abandonar qualquer ideia política económica autónoma é a condição preliminar, dócilmente obedecida, para receber assistência económica dos bancos mundiais e fundos monetários internacionais.

Na parte do capítulo, chamada “a hierarquia global da mobilidade” Bauman avança para a teorização segundo a qual uma ideia de substituição de Estados Fracos por entidades legislativas globais (Exemplo: ONU, UE) será algo de mau, para o poder económico.

A fragmentação política e a globalização económica são nesta acepção “aliados”.

O que gera uma “nova hierarquia sociocultural à escala planetária” – página 78 – conceito de “Glocalização”

Bauman fala dos meios de comunicação mundiais e de como a maior parte dos pobres não tem a eles acesso e de como – também – estes meios divulgam a existência de pobres num local (a Ásia, por exemplo) mas também divulgam a existência de crescimentos económicos brutais nesses locais.

É criada uma ideia de que

(SÓ A) Pobreza = a fome ( página 81)

Mas os outros aspectos complexos da pobreza são “abafados” . (péssimas condições de vida, analfabetismo, agressão, famílias destruídas, coesão social destruída ou enfraquecida)

TURISTAS E VAGABUNDOS

É um capítulo dedicado ao movimento e à noção de que hoje em dia todos estamos em movimento. Quer quando estamos fisicamente parados, quer não.

E Bauman define o que é ser consumidor numa sociedade de consumo, mas estando em movimento como esta o é.

Em como o que actualmente se pede, (1) não são exércitos de cidadãos que são produtores de bens, como numa sociedade industrial do século 19, (2) mas sim cidadãos consumidores, mas consumidores de um tipo muito especial.

O que realmente conta é apenas a volatilidade, a temporalidade interna de todos os compromissos,; isso conta mais que o próprio compromisso…”

A lógica que está por detrás é:

  1. Sente-se mal?
  2. Então, consuma qualquer coisa.
  3. Será aliviado do seu mal estar, se consumir.

É um consumidor sempre avido de novas sensações, mas enfastiado com elas mal as obtém – uma pessoa/consumidor em movimento.

(Nota. o que ajuda a explicar o sucesso da pornografia, entre muitos outros exemplos…)

Movemo-nos divididos significa que:estamos a viver num mar aberto, sem sinalização que nos indique o caminho.

Ou (1) nos alegramos com isso, ou (2) morremos de medo. A terceira opção; escolher um (3) porto seguro, não existe. Caso escolhamos um porto seguro, alguém aparece e o vai modernizar…

As duas primeiras opções não são escolhas livres.. podem ser escolhas livres ou podem ser impostas.

Página 94 – …Todo o mundo pode ser lançado na moda do consumo;todo o mundo pode desejar ser um consumidor e aproveitar as oportunidades que esse modo de vida oferece. Mas nem todo o mundo pode ser um consumidor…”

Bauman dá dois exemplos extremos disto:

  • o turista
  • o vagabundo

– O turista é um privilegiado especial que conquistou o prémio da mobilidade. O turista apenas tem a frustração de pensar que pelo facto de estar agora, aqui, neste lugar, não pode estar ou noutro lugar outro lado. O turista vive “ansioso” pela nova experiência.

  • Mas movimenta-se porque quer, como quer e quando quer.

– O vagabundo é o alter ego negativo do turista. É um consumidor frustrado. Apenas se movimenta porque é empurrado pela necessidade de experiência. E mesmo assim tem severas restrições. Os seus sonhos são apenas um emprego qualquer, uma tarefa humilhante para os turistas.

Pareceu-me que Bauman cria uma metáfora aqui, designando por turistas as pessoas com extrema mobilidade, e por vagabundos e não em sentido depreciativo, 80% dos cidadãos.

Como parece que isto é a pós modernidade – no actual contexto histórico – Bauman explica que isto apenas vai criar cada vez mais exclusão social.

Para combater a exclusão social surge a “mensagem mitológica”:

– Novas exigências e qualificações no mundo do trabalho.

Que por sua vez geram outra “mensagem mitológica” que dá como resultado:

– a estrutura educativa não consegue acompanhar a constante mudança no que se quer, relativamente ao emprego o que por sua vez gera – mais desemprego.

Existe a condição de pós modernidade, mas a exclusão total dessa condição – carimbo aplicado a inúmeras partes da população – gera uma sub classe. Indivíduos que estão fora e dentro, não conseguindo vincular-se as estruturas de comunicação, e informação, nem como produtores, consumidores ou utilizadores.

E as estruturas e “mensagens mitológicas” não resolvem o problema…

LEI GLOBAL, ORDENS LOCAIS

No último capitulo, Bauman pega em Pierre Bordieu, e na reacção visceral que este teve em 1996, quando viajava de avião ao ler as palavras do governador do banco central alemão…que disse qualquer coisa como:

“o que está em jogo hoje em dia é criar condições de confiança para os investidores”.

(o resto que se lixe,acrescento eu…e como se pode ver o resto em 2008 é “A crise financeira americana- as razões”)

Onde foram criadas “condições “de confiança para os investidores e estes rebentaram com a economia mundial”

E chega à ideia do que se quer que o Estado seja – uma unidade a duas dimensões – um Estado social Bifurcado.

Uma bifurcação:

– Estado social que prevê garantias mínimas de segurança para a classe média;

Outra bifurcação:

– Um Estado cada vez mais repressivo que ataca os efeitos cada vez mais violentos sobre e da população que esteja em condições mais precárias.

O que origina a ideia de Estado social Bifurcado é o seguinte “discurso neo liberal” – O mercado de trabalho é rígido, tem que ser flexível, dócil, maleável, fácil de moldar – transformado em variável económica:

Mas esta ideia de agilização do mercado esconde uma natureza de poder e de relação social.

O que leva à condição de assimetria, entre o lado que é alvo da condição de flexível, que não tem nenhumas opções de movimentação – está “parado” na sociedade” e o outro que decide mover-se quando e como quer.

Na parte do capítulo chamado “Fábricas de imobilidade; Bauman desconstrói o estudo citado por Bourdieu sobre as prisões da Califórnia.

Ideias base:

– A soma do dinheiro dedicado às construções e manutenção de prisões é maior nesse estado do que a soma do dinheiro destinado a todas as instituições do ensino superior.

– A prisão é usada como forma de confinamento espacial- panóptico.

O método é: o isolamento dos presos. Físico e psicológico.

A ideia é criar uma lógica social, segundo a qual, os actos que não são crimes, mas são (1) indesejados ou (2) vivem na ambiguidade dos comportamentos são equiparados a crimes. (por exemplo, o que ocupa casas vazias ser preso, ou o homossexual estar ano limite de banimento, como sentimentos “divulgados”, segundo esta lógica aqui descrita).

Daí ser “necessário” uma lógica de isolamento – isto e – de afastamento psicológico da parte do cidadão que detesta (ou julga que detesta) os actos ambíguos que não são crimes, mas que, incomodando-o, este deseja que o Estado os puna e prenda pessoas mandando fora a chave. Afastando as pessoas fisicamente e psicologicamente.

O poder económico vê nisto uma oportunidade, para capitalizar e atemorizar ainda mais a generalidade da população; quer os que são presos quer os que não estão.

Bauman avança para o terreno do concreto e oferece o exemplo da prisão americana de Pelican Bay, totalmente automatizada, e onde cada preso não tem contacto com os outros, e pouco com os guardas. Existe a dimensão de (1) panóptico, misturada com a dimensão de (2) eficiência empresarial. Que depois é utilizada como “argumento de venda” através da palavra “Produtividade”.

Notas: o panóptico inicial visava disciplinar pelo trabalho. Eram “fábricas de trabalho disciplinado”. – Página 117.

Notas: já o “Sinóptico” actual é o seguinte:

Página 119 – Outrora ansioso em absorver quantidades de trabalho cada vez maiores, o capital hoje reage com nervosismo às notícias de que o desemprego está diminuindo;através dos plenipotenciários do mercado de acções, ele premeia as empresas que demitem e reduzem os postos de trabalho.

Nessas condições, o confinamento não é nem escola para o emprego nem um método alternativo compulsório de aumentar as fileiras de mão de obra produtiva quando falham os métodos “voluntários” comuns e preferidos para levar à órbita industrial aquelas categorias particularmente rebeldes…

Nas actuais circunstâncias, o confinamento é antes uma alternativa ao emprego, uma maneira de utilizar ou neutralizar uma parcela considerável da população que não é necessária à produção e para a qual não há trabalho”ao qual se reintegrar…”

Na parte do capítulo chamada “Prisões na idade da pós correcção” são analisados os problemas em que na maior parte dos países os orçamentos prisionais aumentam e o número de novas prisões é construído.

Bauman conclui que isto é uma política estatal/ideológica definida, mas também porque o que é agora considerado como sendo “males” foi reclassificado – gerou o aumento do número de coisas consideradas como sendo “males” – e logo gerando mais pessoas passíveis de “serem presas”

(Em Portugal isto manifesta-se de forma diferente; aqui o que aumenta são as coimas e o tipo de coisas antes não abrangido pelas coimas e agora já abrangido…)

Isso gera aumentos de tensão social e a ideia de “retirada para um porto seguro (que não existe) o que, por sua vez gera mais tensão…

Na parte do capítulo chamado “Segurança:meio palpável, fim ilusório”, Bauamn afirma que reduzir a questão da segurança apenas à questão da segurança pessoal tem vantagens políticas.

Página 127 – “…O efeito geral é a autopropulsão do medo.

Página 130 “…Que por sua vez aguça ainda mais a figura ambígua e imprevisível do estranho…”

E o culminar disto é a parte do capítulo chamada “o fora da ordem”

Página 131 –” …Hoje sabemos, escreve Thomas Mathiesen”, que o sistema penal ataca a base e não o topo da sociedade…

Quem conseguiu chegar aqui e ainda está vivo, parabéns…

LIVRO – SCHISMATRIX – O MUNDO PÓS HUMANO – BRUCE STERLING

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CAPA PORTUGUESA

CAPA PORTUGUESA

Livro: Schismatrix: o mundo pós humano. O livro foi originariamente publicado nos EUA, em 1985. Em Portugal em 2003, na Editorial Presença.

Uma estranha história, um romance que mistura ficção cientifica, futurismo, e o conceito de evolução da espécie humana num futuro a 100/200 anos, assim como a ideia de encontro da raça humana com extraterrestres.

Autor: Bruce Sterling, que pode ser encontrado no blog pessoal, acoplado à revista Wired.

Sterling é bastante estranho no livro e cria um universo convincente mas bizarro. O livro não parte do principio que terão que ser formas de vida extraterrestres a condicionar desde o inicio toda a série de histórias que deram origem a Schismatrix, como sucede em muitas histórias de ficção científica.

O ponto de partida é no entanto, muito interessante. Sterling cria uma ideia de desenvolvimento futuro da raça humana assente em dois caminhos:

  • A facção humana “Mecanista”
  • A facção humana “Modeladora”.

Os mecanistas são humanos que escolheram “aperfeiçoar-se e combater o envelhecimento”, usando técnicas de software e aparelhos mecânicos de ajuda ás funções biológicas, para viverem.

Os modeladores são humanos que escolherem fazer engenharia genética em grande escala para se auto desenvolverem e viverem, incluindo nascerem planeados geneticamente.

Ambas as opções são sugeridas por Sterling como caminhos possíveis para a espécie humana e ao mesmo tempo. Cria um conceito de um mundo (sistema solar) sempre em permanente rebelião, com micro guerras, interesses particulares e conspirações, golpes de estado, mudanças de personalidade e de estado físico/biológico de vários dos intervenientes, mudanças na forma como planetas ou asteróides são geridos, quer como sistema político, quer por quem ( sub grupos ou sub facções) os gere.

Existem duas facções principais em luta pelo controlo do sistema solar que se combatem, embora não de forma aberta numa guerra total mas antes, através de conspirações dos mais variados tipos.

O livro segue – como personagem principal – a vida de um modelador chamado Abelard Malcom Tyler Lindsay, que por volta dos 30 anos de idade é banido da sua República – a República Corporativa Circunlunar Mare Serenitatis e os acontecimentos subsequentes.

História:

Abelard Lindsay nasce na colónia lunar que dá o nome à República, de um família de mecanistas aristocratas. É enviado para o “Conselho do Anel Modelador” para receber treino genético especializado em diplomacia e a partir dai adere à causa modeladora renegando as suas origens mecanistas.

Mais tarde lidera uma rebelião, contra os chefes modeladores da República, pelo facto de estes usarem tecnologia mecanista para prolongarem as suas vidas. Luta também, influenciado pela sua mulher (uma Preservacionista) em favor das ideias de um grupo chamado os “Preservacionistas”, um movimento reaccionário da juventude da República, ligado à arte e ao romanticismo, que pretendia voltar a instaurar a cultura do passado para não perder a ligação à cultura originária do Planeta Terra.

Inicialmente, o seu amigo de infância, Phillip Constantine junta-se a Lindsay (e trai-o depois), mas sendo Constantine um “plebeu”, apesar disso, possui conhecimentos “Modeladores” de biotecnologia elevados e é autorizado (apesar de ter participado inicialmente na traição) a permanecer na República, enquanto Lindsay é banido.

Este tinha previamente feito um pacto de suicídio (a única forma de tirar a vida a alguém permitida pelo regime Modelador) com a sua mulher, Vera kelland, e, depois da morte dela por suicídio, Lindsay renega-o, apenas para vir a saber que o seu melhor amigo o tinha traído e o tinha tentado assassinar.

Fonte/ Source “Entropy Pump”

Todo este conceito é desenvolvido num contexto em que a raça humana, já não habita o planeta terra, (uma ideia do que poderá vir a suceder?)

Antes, tinha saído para o sistema solar e cortado ligações com a Terra e os seus habitantes.

Vivia, usando a tecnologia disponível, em asteróides, ou planetas, vivendo do comércio e da extracção de minérios nos mais variados sítios e das mais variadas maneiras.

Grande parte das “nações humanas”, Modeladoras ou Mecanistas, situava-se nos anéis de Saturno e na cintura de asteróides de Júpiter.

Sterling dá vida às mais variadas histórias e personagens, golpes e contra golpes, desenvolvimentos tecnológicos num mundo sempre bizarro, e sempre em constante mutação.

O leitor segue tudo isto (com extrema dificuldade no principio do livro diga-se), através da vida e das movimentações de Lindsay e das interacções deste com as personagens que encontra.

Desenvolvimento:

Quando Lindsay é banido para uma zona de párias, conhece um velho mecanista ( Ryumin ) e Kitsune (a gestora do banco de geishas) modificada geneticamente pelos Modeladores para ser a “Prostituta ideal” e a história desenrola-se, formando Lindsay o “Kabuki intra solar”. (É lançada a ideia da modificação genética para criar “tipos” de pessoas adequadas, no caso a prostituição?)

Os modeladores representam uma ideia de totalitarismo (assente na genética), enquanto que os mecanistas são desapaixonados e fascinados com tecnologia (assente na desumanização). A cintura de asteróides de Júpiter é dominada pelos Mecanistas, os anéis de Saturno pelo “Conselho do Anel Modelador”.

Sterling descreve os problemas com bactérias e vírus, (uma pista futurista acerca dos problemas da exploração espacial?) que quaisquer membros das facções enfrentam ao mudar de um mundo para outro, (ou de uma nave para outra) e a forma como os corpos se adaptam ou não a diferentes tipos de vírus.

Descreve como refugiados ou banidos se tornam, (Modeladores ou Mecanistas) formadores de novas repúblicas/regimes em asteróides ou pequenos planetas desabitados e de como isso gera inúmeros e múltiplos povos em que modeladores e mecanistas se misturam, fazendo parte da mesma população de um novo regime.

Existem vários conceitos lançados como ideias muito interessantes de analisar. Na facção modeladora existe condicionamento genético intelectual levado ao extremo o que origina tentativas de criar seres com QI de mais de 200 – os Super inteligentes – que acabam por correr mal ( são seres não dotados de capacidade social de relacionamento).

CAPA DA PRIMEIRA EDIÇÃO AMERICANA - FONTE WIKIPÉDIA

CAPA DA PRIMEIRA EDIÇÃO AMERICANA - FONTE WIKIPÉDIA

Os contratos de casamento são a termo certo, com clausulas definidas.

As lutas de poder, são feitas mandando assassinar alguém usando a tecnologia, que cria “assassinos” para isso. (Uma pista para o futuro?)

Na área da privacidade pessoal pública tudo é controlado por instrumentos electrónicos de vigilância fixos e “robots (designados por cães). Excepto as zonas chamadas “Discreto”. Onde não existe controlo e tudo acontece desde orgias sexuais a reuniões de negócios e conspirações. (Uma pista para o que será o futuro da privacidade – a inversão dos termos da mesma?)

Existem Nações apenas dentro de naves espaciais – uma delas é a nave de guerra e mineração “Consenso Vermelho.” Lindsay chega a ser cidadão desta “nação” que existe dentro da nave espacial.

Não existem conceitos de dia e de noite nas naves espaciais – dorme-se a qualquer hora.

A chegada do extraterrestres:

Em 2217, quando conhece a sua segunda mulher, Nora Mavrides, uma modeladora, e está num enorme aperto, Lindsay tem sorte:o sistema solar assiste à chegada dos “Investidores”, a primeira raça de alienígenas a chegar a este sistema solar.

A chegada dos “Investidores” gera o período conhecido por ” a Grande Acalmia”, uma area de tempo onde não existem guerras, apenas paz e competição comercial.

Existem aqui alguns paralelos com “os tipos do dinheiro e a forma como investem”, na descrição de Sterling. Os investidores são fanáticos por comércio e estabilidade e só por isso. Compram e vendem tudo o que podem – aos humanos e a outras raças pelo preço mais vantajoso possível, cobrando além disso taxas pelo uso do sistema de propulsão secreto que tem, e que permite aos humanos conhecerem novas raças inteligentes – viajando nas naves dos “Investidores”.

Na história Lindsay vê nisso uma oportunidade, para, pela segunda vez “desaparecer de cena” e fundar uma segunda república poderosa chamada Goldreich-Tremaine. Com o decorrer do tempo novas conspirações emergem para destruir o poderio de Goldreich -Tremaine (uma pista para o que poderia acontecer no futuro – e não deixei de pensar se Sterling não teria sido influenciado por uma história de Rudyard Kipling- o Homem que queria ser Rei).

A longevidade da raça humana:

Sterling oferece uma panorâmica da raça humana a viver até aos 200 anos cheia de implantes e melhoramentos genéticos, para quem pode pagar… quem não pode, vai ao mercado negro. (Uma pista para o futuro?) e pessoas que alteram o seu corpo com todos os tratamentos quer “normais”, quer através de genética ou prostética e que permitem elevar a idade média.

O resultado ao nível das relações pessoais são pessoas com casamentos com outras com diferenças de 60 ou 100 anos de idade, cujas eventuais dificuldades físicas não existem: algum produto químico ou software resolve o assunto.

O sexo é asséptico no sentido em que não resulta dai gravidez física, mas sim filhos gerados através da genética.

A chegada dos alienígenas, (e incitados por estes também) provoca uma ainda mais acesa competição entre modeladores e mecanistas, em que os “Investidores” não querendo que uma facção tenha acesso a mais comércio que a outra jogam com os desejos de poder de ambas.

A implicação do contacto com outras raças – os Investidores revelam que tem contactos comerciais com outras 19 raças inteligentes – servindo de intermediários leva à especulação na escrita por parte de Sterling, lançando a ideia de que a raça humana, nas duas versões, estará condenada a desaparecer, tornando-se “Pós-humana” ( a ideia é lançada no conto “o enxame”).

Uma ideia de raça “Pós Humana” em que as características iniciais da espécie são diluídas, transformadas e alteradas até desaparecer a espécie; vitima das suas próprias mutações ( conceito de evolução ou desaparecimento? ).

Existe um corpo principal neste livro, e existem mais 5 contos – 5 histórias do universo modelador /mecanista no fim do livro, um dos quais ( o “Enxame”) é muito, mas muito bom.

Um livro duro de ler, difícil, desconcertante, que abana algumas certezas mesmo tendo sido escrito em inícios dos anos 80 e que será provavelmente uma obra maior de culto daqui a 50 anos – ainda maior do que já é hoje.

Written by dissidentex

13/09/2008 at 7:57

LIVRO – O QUE RESTA DA ESQUERDA – NICK COHEN.

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Livro: “O que resta da esquerda” do autor Nick Cohen, um jornalista inglês.

Editora aletheia – apresentação no sitio “Critica literária” – 2007.

A editora Aletheia é uma editora recente, lançada por Zita Seabra, ex-membro do pcp há uns anos atrás e actualmente membro do PSD. Explica-se desta forma pelo facto de ser a editora que é; a razão de ser das opções editoriais. Cita-se:

Questionada sobre os critérios de edição, Zita Seabra afirmou que a Alêtheia quer publicar 120 livros por ano, seleccionados de acordo com opções culturais e comerciais.” Diário de Noticias – 08 – 10 – 2005

Mas então a editora não pode escolher editar o que quiser, ò reaccionário?

Claro que pode. Convém é que o faça com pés e cabeça e não cometa erros básicos como este, na ânsia política de publicar algo que representa um esforço comercial mas também uma opção cultural para dar alfinetadas, e fazer guerra ideológica sobre o BE, no PS ( numa parte) e no PCP que até as merece. Ou seja, não fazerem m*erda da grossa como está aqui em baixo.

Clicar imagem e reparar no que está sublinhado

Clicar imagem e reparar no que está sublinhado

Clicar imagem e observar o que está sublinhado a azul

Clicar imagem e observar o que está sublinhado a azul

A imagem em cima pertence à página 10 do livro. A imagem em baixo pertence à contra capa. É evidente que este erro não tem directamente a ver com o conteúdo, mas mostra bem uma série de coisas. Na página 10 temos um professor de inglês, na contra capa temos uma querida e atenciosa professora de Inglês.

Já agora: o livro tem a indicação das fontes feita pelo próprio autor, mas não tem índice remissivo.

Nada mau para um “livro político”…

Este livro é muito difícil de comentar, porque é difícil escrever sobre um livro globalmente muito mau, mas que tem dentro dele partes muito boas.

Entre factos e criticas correctas que Cohen aponta á esquerda, surgem também numa mistura confusa pequenos truques rasteiros e muita desonestidade intelectual de Cohen relacionada com este assunto, bem como “ajustes de contas” sobre a forma de recados e remoques sobre as diferentes actividades de diferentes personalidades, inglesas e estrangeiras.

Uma das religiões que é mais arduamente defendida no livro é a religião do anti-anti-americanismo.

Isto é; quem criticar os americanos, mesmo que salte à vista desarmada que os EUA estão a cometer um qualquer erro ou asneira gigantescos, deverá, por sua vez, ser criticado ferozmente e ser apelidado de “anti americano” em tom absolutamente depreciativo.

Dois aspectos.

– Não só isto constitui uma isenção de critica aos norte americanos;

– Como é também assim constituída uma quase “excepção oficial”:

O resultado é simples.

Todos podem e devem ser criticados, menos os americanos, porque são os “combatentes da liberdade” e os combatentes da liberdade não são passíveis de serem criticados.

Adicionalmente:

Também é uma maneira de “isolar” pessoas que não sendo esquerdistas, nem de extrema direita, não apreciem as políticas norte americanas nem com molho de tomate em cima ou senhoras de seios volumosos a saírem de dentro de um bolo a amenizar a falta de aprovação dos actos norte americanos.

Somos todos obrigados a gostar de norte americanos e das suas políticas. É como um restaurante onde só se sirva bolo de bolacha e todos tem que gostar, gostem ou não.

O problema do livro não está no conteúdo (opções) do livro, e no facto de “criticar” a esquerda. Mas sim nos truques rasteiros que Cohen – que se diz de esquerda – usa para o fazer e de como, na quase totalidade do livro cria um lógica intelectualmente desonesta ao serviço dos pontos de vista que pretende demonstrar e que, alguns, não são os da esquerda mas os da direita e da mais profunda. (Nesse aspecto o branqueamento de Paul Wolfowitz, de George Bush, de Tony Blair são notáveis…)

Nas páginas 78 a 90 da edição portuguesa isso nota-se bastante e na zona 88-91 faz a apologia de Paul Wolfowitz da seguinte maneira:

Página 91 ” Ouvimos Wolfowitz apresentar um apelo coerente á ajuda ao movimento democrático no Irão contra os sacerdotes. Era difícil não ficar impressionado com a seriedade dos seus objectivos”.

( Após a implementação do “movimento democrático no Irão” teremos evidentemente a implementação da democracia simplificada, assente no modelo económico neoliberal, mas disso, desses “efeitos”, Cohen não diz uma palavra…) *

E é mais irritante ainda porque para “contrabalançar” este elogio totalmente descabido às operações de propaganda do senhor Wolfowitz, o mentor do projecto PNAC, na página 92, imediatamente a seguir, Cohen critica as políticas norte americanas dos conservadores relacionadas com os soldados americanos; após as comissões de serviço no Iraque regressam a casa.

E percebem, que os ricos que detinham o poder durante o tempo em que estiveram fora, a combater pela América, alteraram as leis. Uma das alterações foram as ajudas a veteranos de guerra – tinham sido “retiradas” – os soldados não tinham qualquer tipo de ajuda para reestabelecerem a vida.

Foi a mesma administração da qual o senhor Wolfowitz fez parte que tomou estas decisões.

O livro todo tem exemplificações deste tipo – estes truques rasteiros; o “dar uma no cravo, outra na ferradura”…

Outra coisa altamente irritante é o seguinte:

Partes em que as nacionalidades dos mais variados intervenientes são colocadas antes do nome ( o Irlandês “X” , o Escocês “Y”,etc) mas curiosamente Tony Blair, George Bush e Wolfowitz, nunca são designados por “o americano ” Bush, o “Inglês” Blair…

A associação de ideias é óbvia visando lançar uma “sombra” sobre as nacionalidades dos intervenientes. Que seriam pessoas “anti poder” e anti Grã-Bretanha, ou anti países anglo-saxónicos, ou “anti conceito de liberdade existente nos países anglo saxónicos” ( a única, a verdadeira, a legítima…)

Há uma parte em relação a Eric Hobsbawm, um excelente historiador, mas marxista, que é sintomática. Hobsbawn é citado a dar uma opinião política, mas é apresentado como sendo “o Historiador “Marxista” Eric Hobsbawm.

A opinião citada de Hobsbawm é política, não marxista, nem de “historiador”, mas as palavras ” Historiador Marxista” aparecem no meio daquilo. Todas as pessoas que ele não gosta ou tem interesse em denegrir (justamente ou injustamente, não interessa) desta forma “subtil” são rotuladas depreciativamente. Já Tony Blair é apenas “Tony Blair….ou Bush é apenas George Bush…

Contudo, o livro tem duas partes muito boas:

– a História pessoal de Kanan Makiya, um refugiado iraquiano que em 1981, sob o pseudónimo de Samir Al Khalil, publicou um manuscrito ( com risco da própria vida ), chamado “a República do medo” onde descrevia a vida horrível, o terror completo, no Iraque debaixo do regime de Saddam Hussein.

– Outra parte muito boa, é a descrição da Guerra da Jugoslávia e subsequente fragmentação. E como a política inglesa da altura ( liderada pelo partido conservador de Jonh Major – a direita que não presta…) agiu em relação ao Balkans, bloqueando toda e qualquer intervenção da União Europeia.

( Cohen nesta parte não faz qualquer elogio a franceses e alemães relacionada com o desejo destes intervirem na ex-Jugoslávia. Noutras partes do livro está sempre a dar alfinetadas à “Bruxelas”, à França, à Europa… (justas ou não, mas é este o tipo de lógica deste livro, de parcialidade…)

Estas duas partes são muito boas porque Nick Cohen conhece pessoalmente Kanan Makiya e escreve umas boas 130 páginas sobre a história pessoal de Makyia, da sua família e do Iraque.

Também conhece pessoalmente no que à Guerra da Jugoslávia diz respeito, o senhor Marko atila Hoare, especialista nesta área, e que escreve no Blog Greater Surbiton.

E também ao conjunto de tipos (entre os quais M. A Hoare) que escrevem sobre o fim das tiranias e quejandos no Harry´s Place

Percebe-se isto claramente no livro – que as melhores partes vem daqui – destas pessoas. O resto de Cohen são ajustes de contas, (Galloway, Gerry Healy e Ken Livingstone, ex- mayor de Londres) (Note-se que Galloway e Healy são do mais detestável que há…) demagogia, anti europeísmo, personificado, especialmente nos sentimentos anti França, Espanha e Europa ( Bruxelas).

( Chomsky e Michael Moore são também arrasados…embora por razões diferentes e no caso de Chomsky bem arrasado…)

Também é interessante notar – notei duas vezes pelo menos ( existem mais, mas estava distraído) – que Nick Cohen cita pessoas e influências sem as citar. Uma série da BBC de 2007 que rebenta argumentativamente com a direita neoconservadora e com a “esquerda Blairista”, bem como um certo filosofo de origem eslovena estão entre os “não citados”… (Mas há lá mais…) (Também faço o mesmo, cito o que ele cita sem citar…)

O núcleo central de questões que Cohen é coloca é o seguinte:

– Existe o mal absoluto e o mal absoluto era o Iraque de Saddam Hussein.

– O mal absoluto deve ser combatido.

– O Iraque de Saddam Hussein, ultrapassou qualquer tirania mais abjecta.

– A esquerda política (no livro designada por liberal, derivado da palavra inglesa “liberals” que será traduzível por pessoas de esquerda), que desde sempre combateu as tiranias não tem outra opção:

tem que ser a favor da deposição de uma tirania- agora e nos dias de hoje – tal e qual o foi no passado.

(A comparação com as circunstâncias do passado é desonesta.)

Esta é basicamente a mensagem – o núcleo deste livro.

Tese central do livro: Cohen coloca quem o lê perante um dilema filosófico e político de resposta impossível para qualquer adepto da esquerda ( e mesmo de direita). Para qualquer cidadão…para o meu gato até…

O dilema é: se não formos contra a tirania do Iraque, seremos obviamente anti democráticos, ou pessoas de extrema esquerda , ou pessoas de extrema direita, nunca seremos “democratas”.

A questão é colocada de uma forma definitiva.

De um lado os defensores da liberdade contra a tirania, e do outro quem não é – imediatamente identificável – contra o derrube das tiranias – quer dizer, desta tirania do Iraque…

Depois Cohen avança e põe outra questão de outra maneira: “o que é que leva a esquerda” liberal (como ele a designa) a adoptar o programa político da extrema direita ou da extrema esquerda?

Esta forma de raciocínio é do pior que se pode encontrar. “Obriga” a que um cidadão, seja de esquerda ou não seja, tenha obrigatoriamente que declarar o seu apoio à invasão do Iraque de 2003, porque, caso não o faça, é apelidado como estando a fazer o jogo da extrema direita ou o jogo da extrema esquerda (ou o jogo do extremo centro…)

As pessoas ficam assim colocadas numa posição em que estão a ser chantageadas – é colocado em causa o seu apego à democracia…

(Isto lembra-me também o Macartismo, quando actores e escritores de filmes em Hollywood dos anos 50 tinham que comparecer numa comissão do Senado americano, para declararem que não eram comunistas nem tinham alguma vez pertencido ao partido comunista. Caso afirmassem que não queriam responder a essas perguntas eram imediatamente colocados sob suspeita e vistos como comunistas e os estúdios deixavam de os contratar. A alternativa era violentarem a sua consciência ou passarem fome… ou traírem terceiros ou desconfiarem de tudo e todos e agirem sempre assim).

( No cinema a história é contada num filme de 2005 – Good Night and Good luck – que mostra o conjunto de reportagens feitas pelo jornalista Ed Murrow acerca do Macartismo e de como isso contribuiu para derrubar as ideias de “caça às bruxas” na América dos anos 50)

A tese acessória deriva da tese central e é a seguinte:

É preferível viver numa “sociedade liberal” do que numa tirania semelhante à iraquiana. Isto é verdade e não se discute. Mas…

Por isso quem vive numa democracia, não pode apoiar manifestações ou protestos que visem impedir o derrube de um regime fascista, porque entre o fascismo e a democracia, o fascismo não se apoia. ( É claro que esta lógica leva inevitavelmente a que outras manifestações contra outros problemas sejam também rotuladas como proto fascismo…por exemplo…)

Mais uma vez colocadas as coisas assim, a desonestidade é evidente, precisamente porque não se pode comparar o incomparável, e porque esta forma de comparação apenas serve de justificação – isto é para que todos nós achemos ser aceitável – que uma “democracia liberal” funcione mal (seja corrupta, injusta, etc), ou que “ditaduras suaves” sejam toleradas.

Vistas as coisas assim, tudo isto legitima e torna aceitável o rebaixamento dos padrões democráticos de uma qualquer sociedade democrática – liberal.

Isto é, desde que os padrões de vida e de democracia de uma “sociedade liberal” sejam mais elevados do que os padrões de uma ditadura ( e são sempre ), isso autoriza a que os organizadores de uma sociedade liberal/democrática possam descer os padrões até níveis bastante baixos, mas sempre a um nível acima do das sociedades totalitárias.

E a legitimidade democrática – segundo este padrão falso – é assim criada.

Por exemplo, segundo esta lógica, é aceitável a prática da tortura em Guantanámo, porque é feita por uma sociedade “liberal” , e esta sociedade liberal, supostamente, possui mecanismos de correcção e parte de uma plataforma moral superior.

Por oposição a uma ditadura sanguinária que faça exactamente o mesmo que se faça em Guantánamo.

Portanto, de um lado temos algo de mau, e do outro temos algo de muito mau.

Como a classificação “algo de mau” é melhor do que a classificação de “algo de muito mau”, parece Cohen opinar, é legitimo aceitar isto assim.

Sobre Capitalismo, tirania dos mercados e corporações, manipulação de Estados e influência sobre organizações internacionais e da forma como estas condicionam o poder político e a democracia, nada se diz no livro de Cohen, nem se relaciona a esquerda ou a direita com estes contextos.

Nem como os interesses económicos destas mesmas corporações estão a começar a ameaçar e a destruir os sistemas políticos democráticos nos quais Nick Cohen pode livremente escrever livros sobre o fim de tiranias…geograficamente distantes.

* Também é de notar que o facto do petróleo e a posição geo estratégica do Iraque não serem mencionadas por Cohen, nem nunca ter mencionado a possibilidade de uma invasão … sei lá… do Zimbabue, onde um ditador sanguinário existe. O Zimbabue é longe, vale zero geoestrategicamente, e não tem petróleo, só gazelas…

Mas mais perto, temos também a Bielorússia.

– No blog “Esquerda- Republicana” existe um post dedicado a Nick Cohen com uma citação em Inglês onde ele está dar na cabeça de muçulmanos e no multiculturalismo

– No blog “menino rabino” existe a transcrição de uma entrevista de Cohen feita a Teresa de Sousa no Jornal Público em 2005

– No blog Agua lisa 6 existe uma recensão sobre o livro diferente desta feita aqui,onde o objecto da mesma é mais colocado sobre as cacetadas que Cohen dá sobre a extrema esquerda.

– No blog “Mare liberum “existe um conjunto de citações do livro” (que infelizmente só chegam à página 80), que demonstram mais ou menos o estilo global do livro.

O livro é perfeito para atacar ideais de esquerda (os verdadeiros) e para lançar a confusão na cabeça de quem o lê (pelo menos da maior parte das pessoas).

Notas finais:

A) o livro deve, apesar de tudo, ser lido;

B) O livro parece muito bom; não o é; sob qualquer ponto de vista que se queira escolher (excepto pelas duas partes que expliquei mais acima)

C) Era um livro que me gerava enormes expectativas, e que é uma desilusão completa no que interessava perceber…

C) Agradecimentos à Sabine por me ter enviado há um ano notícia acerca deste livro.

Written by dissidentex

04/09/2008 at 11:04

LIVRO BLOGUES PROÍBIDOS – O CONTEÚDO.

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Ontem escrevi sobre o Livro “Blogs Proibidos”, do jornalista Pedro Fonseca e sobre a capa.

Hoje, é sobre o conteúdo propriamente dito do livro.

O livro é escrito em 2007, e versa, principalmente, sobre 6 casos de liberdade de expressão vs difamação.

Dois dos casos na minha opinião, não são sobre isso. Um desses dois é um caso que, manifestamente, não tem o mesmo grau de importância dos outros discutidos no livro.

O livro está dividido em 6 partes e apresenta 6 casos principais, embora um dos capítulos dê mais exemplos de mais blogs regionais alvo de perseguições e forçados a fechar.

De um deles, o último não irei alongar-me.

Os seis casos referem-se aos Blogs

  1. Freedom to copy (desactivado)
  2. Abrupto (activado, mas é como se não esteja)
  3. Diário de um jornalista (Desactivado)
  4. Do Portugal Profundo (Felizmente activado)
  5. Chicken Charles – o anti herói( Fechado)
  6. Muito mentiroso. (Fechado e ainda bem)

1.Freedom to Copy.

Este blog produziu posts onde afirmava que o senhor Miguel Sousa Tavares tinha plagiado um livro de 1976, escrito por Dominique Lapierre e Larry Collins, chamado Cette nuit la Liberté. O blog surgiu a 20 de Dezembro de 2006.

O blog citava várias partes que teriam sido supostamente plagiadas e fazia comparações. Três dias depois do blog estar aberto o Correio da manhã descobriu o blog, veiculou o assunto e fez a defesa de Sousa Tavares. Sousa Tavares (MST) por pura estupidez ou aproveitando-se da situação começou a fazer uma campanha contra o anonimato em blogs e a prestar declarações públicas sobre o assunto em entrevistas a jornais.

O assunto extravasou e desenvolveu-se.

MST fez uma queixa crime contra anónimos e afirmou que suspeitava de duas pessoas; uma um escritor falhado e outra um militante do bloco de esquerda. Pelo meio atacou a blogosfera em peso.

Página 13 do livro do Pedro Fonseca:

” Por seu lado MST indignou-se novamente afirmando que” um blog não pode ser uma manifestação de liberdade se não houver liberdade.Assim é “mera libertinagem”, defendendo que “não devia ser possível abrir um blog sem o autor estar devidamente identificado.”

A blogosfera reagiu criticando MST especialmente porque nessa altura na China policiava-se blogs e bloggers activamente duramente.

A coisa arrastou-se para outros blogs e para os jornais desembocando numa polémica quer na blogosfera, quer nos jornais, criando também uma guerra entre o Provedor do leitor do Público, e duas jornalistas do mesmo jornal.

Dos seis casos este é dos mais interessantes pelos contornos do mesmo e também porque dá para perceber como certas pessoas estão mal habituadas a que se questionem os seus pedestais honoríficos – mesmo que os métodos utilizados para o fazer sejam péssimos.

2. Abrupto.

Este é – de longe – o menos interessante caso.

Devido uma falha de serviço, do Blogger, conjugada com as mexidas no template do mesmo feitas pelo amador Pacheco Pereira, conjugadas com um hacker que se aproveitou do tráfego do blog para realizar dinheiro com os cliques nos anúncios que instalou, tudo se falou. O que se passou foi que o blog de Pacheco Pereira era substituído a dadas hora do dia por um falso blog Abrupto.

O capítulo todo são apenas as citações cronológicas das mensagens/posts pelo senhor Pereira a queixar-se de que a pátria estava em perigo por o Abrupto estar a ser atacado, num discurso de completa vitimização e falando em invejosos ( todos são invejosos dele, na cabeça do senhor Pereira).

É evidente que não é agradável que alguém veja o seu blog a ser ocupado, mas as reacções de Pacheco ali transcritas são algo de incrível…

Pacheco “pagou” aos inúmeros bloggers que deram sugestões e ajudaram a resolver o problema ou a minorá-lo escrevendo posteriormente artigos nos jornais e no blog criticando bloggers, o anonimato na blogosfera, e a qualidade do que se fazia, muito do qual feito por alguns dos bloggers que o ajudaram com sugestões. Aprendam.

Nunca se soube exactamente o que se passou, porque P.Pereira não forneceu informações, relativamente ao deslindar do caso.

Página 51 do livro Blogs proibidos

“a confidencialidade garantida pelo autor do Abrupto não permite qualquer resposta credível”

Penso que este “assunto” foi também inserido porque o nome Pacheco Pereira é o que é, mas é claramente dos 6 casos o de menor importância.

3. Diário de um Jornalista.

Este era um blog de jornalistas do jornal “o Primeiro de Janeiro” e visava contar o que se passava dentro do Jornal.

Era feito a várias mãos e originou o despedimento dos jornalistas que nele escreviam.

Como cita na Página 56 o Pedro Fonseca:

“Pode a liberdade de expressão num blogue servir para despedir pessoas? A inquietante pergunta teve uma resposta cabal em 2004”.

Este capítulo é bastante interessante porque faz uma viagem histórica. Descreve vários despedimentos nos EUA, não só de jornalistas, mas também de funcionários de empresas, que, por escreverem em blogs, quer durante as horas de expediente, quer não; quer não mencionando a própria empresa, quer mencionando foram despedidos.

Explica a origem do termo “Dooced”- uma senhora chamada Heather Hamilton que foi despedida da empresa onde trabalhava como web designer por escrever num blog chamado DOOCE.

No Diário de um Jornalista o que causou celeuma, mesmo entre jornalistas, era o facto de terem sido escritos artigos – explicado pelas pessoas que escreviam neste blog à troco de publicidade a empresas. Ou seja, publicidade metida dentro de artigos. Em troca as empresas que faziam estas práticas metiam publicidade no jornal.

As limitações à independência jornalística são óbvias.

O debate depois passou para os blogs de jornalismo e para os jornais. Tudo explicado cronologicamente no livro.

Tudo isto também relacionado com o facto de existirem pessoas com o curso de jornalismo, carteira profissional, etc mas que faziam (fazem) trabalho que nada tem a ver com jornalismo.

Página 62

“os delegados comerciais contactam as empresas ou as instituições ou entidades a estarem presentes num determinado trabalho e , em troca de um valor pago em publicidade, o jornal oferece-lhe um espaço redactorial, no qual os responsáveis dessas empresas podem falar do trabalho que fazem e dos projectos que tem.”

Acho que se percebe…

4. Do Portugal Profundo.

Este é um caso de um blog em que existiu uma clara ameaça á liberdade sendo usadas as forças policiais e o aparelho de justiça estatal para o fazer.

Página 69.

Sete horas, ainda de noite. Bateram à porta. Sem medo, ainda meio estremunhado, abro. Três vultos. O primeiro diz:

– polícia judiciária de Leiria. Temos um mandato de busca da sua residência.”

António Balbino Caldeira (ABC), o autor do blog tinha escrito posts sobre o caso Casa Pia, denunciando existir um conluio entre diversas e determinadas forças na sociedade relativas à pedofilia.

Determinadas a provar que ele não tinha razão nenhuma, tinham duas opções: (1) ignorá-lo ou (2) persegui-lo.

Mesmo que ABC, não tivesse razão nenhuma a forma como foi esclarecido o assunto foi esclarecedora.

E foi constituído arguído pelo crime de desobediência – pelo crime de ter reproduzido as peças processuais do processo Casa Pia no blog.

A tese de defesa de ABC foi a de que não tinha sido notificado (verdade) para não reproduzir as peças processuais.

Daí a levarem-lhe computadores pessoas, e utilizarem 3 mandatos de busca e apreensão em 3 casas, uma das quais a da sua mãe, vai uma grande distância.

Após ter sido absolvido, o Ministério público – uma entidade que funciona paga pelos nossos impostos – decidiu recorrer da absolvição.

Foi de novo absolvido. Uma parte do texto dos seus advogados de defesa é publicada neste livro de Pedro Fonseca. Onde se pergunta porque “é que vários jornais que também fizeram o mesmo que ABC – publicar excertos do processo, não foram alvo de buscas”.

5. Chicken Charles -o anti herói.

Este é também um dos casos mais interessantes e que revela o que é o poder dos presidentes de camara deste país.

Existiu um blog na Covilhã chamado “Chicken Charles- o anti-herói”. O personagem principal do blog era um galo – uma metáfora supostamente aplicável ao Presidente da Covilhã, um senhor chamado Carlos Pinto. A Covilhã era retratada como um galinheiro nesse blog. O autor ironizava com o senhor Carlos Pinto sem nunca o referir directamente.

Depois verificou-se que em 2006, após queixa, a polícia judiciária – paga pelos nossos impostos – andou a alocar recursos para verificar quem era o autor do blogue que incomodava de forma tão cruel o senhor Carlos Pinto.

Entretanto, o senhor Carlos PInto conseguiu receber uma chamada anónima que dizia que o autor do blog era uma determinada pessoa.

O senhor Carlos Pinto, não aceitava criticas “anónimas” feitas num blog, mas aceitou recorrer a uma denúncia anónima para identificar uma pessoa nomeando-a, sabendo perfeitamente que ao fazê-lo estaria a criar problemas à pessoa e a divulgá-la publicamente.

Mais a mais quando depois veio a saber-se que não era esta a pessoa que escrevia o blog Chicken Charles.

Também é interessante verificar – O Pedro Fonseca fez isso – que o autarca simples humilde e honesto; um verdadeiro homem rústico e campestre foi defendido pela PLMJ – uma das duas sociedades mais poderosas de advogados deste país e que não saem nada baratas.,..

Este capítulo é um dos mais interessantes porque fala de muitos outros casos de blogs quer cá, quer lá fora, que foram forçados a encerrar por divulgarem situações relativas a autarquias e empresas.

6. Blog muito mentiroso.

Este foi um blog dedicado à contra informação e à desinformação sobre o caso Casa Pia. Não vou por isso – pelo assunto – explicar uma vez que o Blog veiculava coisas falsas em paralelo com coisas verdadeiras, criando a confusão em quem lia acerca da verdade e da mentira. Mais tarde comprovou-se através da judiciária que o computador de onde era feito pertencia à Cofina, entidade que é dona do Correio da manhã. Embora a Judiciária não tivesse aparecido Às 7 horas da manhã na Cofina com o mandato de busca e apreensão como aconteceu com o senhor António Balbino Caldeira—

O livro Blogues proibidos é uma compilação/cronologia versando 6 casos, embora um dos capítulos- o do Chicken Charles mencione inúmeros outros casos “mais pequenos”. É interessante como análise e documento histórico do fenómeno. Também é interessante do ponto de vista de quem nada saiba de blogs e do que se tem passado nos últimos 6 anos – é uma boa introdução ao assunto.

LIVRO BLOGS PROÍBIDOS – o bom Marketing da capa.

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SEGUNDA PARTE pode-se encontrar – blogs Proibidos – o conteúdo.

Como cheguei ao conhecimento de um livro; agora republicado e reescrito após texto por mim feito num outro blog há perto de um ano atrás.

Este artigo (Uma parte hoje, outra amanhã) é dividido em duas partes.

A primeira parte do texto é sobre publicidade. A segunda parte é sobre o livro e o seu conteudo propriamente dito.

Uma imagem bem produzida pode ajudar imenso a vender um produto. Neste caso um livro. Compare-se algo bem feito em termos de conceito, e de design, perfeitamente adaptado ao produto e compare-se com a generalidade do que se vê por aí.

Esta imagem ao lado foi retirada, do blog “Marketing de Busca – o senhor SEO.

(Publicidade Lateral: à vontade, mas à vontade, um dos 10 melhores blogs portugueses em termos de conteúdo )

Há perto de um ano atrás ( 16/17 Julho 2007) entrei no Marketing de Busca. Posteriormente estava com este aspecto. Inicialmente (imagem em baixo) onde estava o logotipo verde “Especial presidência europeia” estava a imagem “blogs proibidos”.

Quando entrei com este formato que se vê ao lado – a imagem do livro colocada no lado direito do blog; chamou-me imediatamente à atenção. Porque a imagem é (era) extremamente forte – esta imagem vale pelo menos 500 exemplares vendidos mesmo que o conteúdo do livro não valha nada.

Quem desenhou isto pensou muito bem na concepção de capa. Existem duas referencias poderosas nesta capa: o adesivo vermelho e a palavra blogs escrita a branco, bem como a conjugação das cores, destas duas cores, que é extremamente poderosa.

O adesivo vermelho simboliza censura e está colocado em forma de “x” para simbolizar impedimento de falar, liberdade ameaçada… É um vermelho suficientemente carregado para chamar à atenção e suficientemente discreto para não ser berrante e cortar o efeito.

A palavra a branco ( blogues) é a segunda mais poderosa imagem na capa/logotipo. Precisamente porque, como está colocada em contraste num fundo castanho/bordeaux sobressai mais.

A expressão “proibidos” consegue-se perceber também. Devido a quem escolheu a “Fonte” das letras ter escolhido algo de muito miudinho, mas suficientemente visível e que não colide em contraste (suponho que a ideia era essa) com os outros aspectos da capa.

O colarinho branco tem várias funções: associar o blogger ( proibido, censurado, perseguido), a alguém “novo”, “profissional das novas tecnologias”, dinâmico, etc, indicando, na realidade, qual o alvo demográfico/de público, da edição do livro, (embora obviamente existam bloggers muito mais velhos, note-se). Tem ainda outra função adicional: também serve de contraste; colocar uma segunda parte de branco, que assim não torna toda a capa aos olhos de quem vê demasiado escura, logo mais invisível e “cinzenta”.

Esta capa é muito boa porque é muito, mas muito poderosa como imagem. Eu, que sou uma das pessoas mais adversas à publicidade e à imagem e normalmente vejo o que se quer e rejeito, em relação a perceber o que quer ser-me vendido ou não, confesso que cai imediatamente nesta.

Ao entrar no blog Marketing de busca, disparei imediatamente, para a caixa de comentários ao lado da anterior colocação desta imagem.

E inseri um comentário perguntando ao António Dias, qual era a razão de ser da imagem, alguma campanha a favor da liberdade de bloggers, etc.

Nem sequer carreguei em cima da imagem. O enorme poder de atracção da imagem levou-me directo à caixa de comentários pensando que era algo novo lançado pelo blog Marketing de Busca ou alguma campanha a que o blog tinha aderido.

Era algo de novo, só não aquilo que eu pensava. Mas o efeito estava atingido. A imagem captou a minha atenção.

Sob o ponto de vista publicitário esta imagem passa com distinção. Num mundo de capas banais, cheias de Margaridas Rebelos Pintos na capa com ar sonhador de quem pensa em caixas registadoras; aqui optou-se por criar uma imagem poderosa, sóbria, extremamente apelativa, que, caso o conteúdo do livro valha menos que a imagem, mesmo assim garante que as pessoas, algumas, de certeza, comprarão e/ou abrirão o livro, ou falarão dele, etc.

É uma imagem – também – extremamente “aproveitadora” da situação actual – é o que se chama uma venda de oportunidade( à época) aproveitando a situação que se vivia em Portugal, na Blogosfera, com dois blogs e um jornal processados por delitos de opinião.

O mais espantoso desta imagem, é outro pormenor que aconteceu comigo. Normalmente são as imagens colocadas à esquerda de quem vê, especialmente num ecrã de computador, as mais “olhadas” em primeiro lugar e as mais vistas – as que chamam imediatamente a atenção.

Contudo esta imagem era tão poderosa que quando estava colocada no lado direito do Marketing de Busca (1º imagem em cima) conseguía ainda ser mais poderosa do que colocada no meio do Blog. Porque a imagem colocada sozinha – em qualquer ponto – é assassina. É um “assassino em série de marketing. Lembra aquelas arvores que secam tudo ao seu redor.( Tanto que o António Dias depois mudou-a naquela altura…e actualmente já não está lá obviamente…)

Já aqui nesta imagem da capa do livro, verifica-se que apesar da capa completa ser mostrada alguma da força da imagem lá em cima – naquele contexto específico – se perde. ( O que quer dizer que esta imagem de capa ainda é mais forte colocada entre quaisquer outras imagens)

Precisamente pela colocação de texto entre o titulo em branco/bordeaux “blogues proibidos”e a definição dos blogs em questão. Contudo ainda existe “poder” de atracção nesta capa. Quem a fez teve o extremo cuidado e rigor de seguir a linha de cores ou seja, repetir o branco, o vermelho e o bordeaux entrelaçados com uns sinais de “proibido”, mais um delicioso pormenor que faz logo perceber que a pessoa que fez esta capa, tem elevado sentido estético e faz associar estes sinais ao título/conteúdo do Livro.

Amanhã: Blogs Proibidos – o conteúdo.

Written by dissidentex

24/07/2008 at 7:43