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DARFUR E O PETRÓLEO

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Em 1991 o New York Times noticiava que a companhia petrolífera Exxon tinha caído nos rankings classificativos das maiores companhias petrolíferas do mundo. Para número 4.

Nessa data a companhia americana Chevron, era a número 7 do ranking, (a 6º era a Mobil, a 8º era a BP). A número 13 era a Texaco. Mais tarde viria a fundir-se com a Chevron, tornando-se na Chevron-Texaco.

E qual é o interesse disto?

A Chevron foi a companhia petrolífera, que, nos anos 70, lançou um ambicioso programa de prospecção de jazidas de petróleo no Sudão.

O Darfur fica no sul do Sudão. 500 mil quilómetros quadrados, no sul do país, foram testados pela Chevron. E descobriu-se que, efectivamente, existiam enormes reservas de petróleo. A partir daí, o Sudão nunca mais teve sossego e passou a ter guerras sistemáticas, por causa do petróleo.

A Chevron, acabou por desistir da exploração do petróleo, porque as suas instalações eram sistematicamente atacadas por rebeldes patrocinados por qualquer interesse religioso, político ou financeiro do momento ou Super potência.

Em 1992 vendeu as suas concessões. Em 1984 já tinha suspenso o projecto de prospecção. Em 1999 a China “pegou” nas concessões e começou a desenvolve-las.

A partir de meados do século 21, a China, tentando projectar-se como grande potência e tentando – acima de tudo, corresponder aos problemas que a sua economia tinha – uma voraz necessidade de petróleo – para continuar a crescer acima da média, lançou-se numa política agressiva de obtenção de fontes fiáveis ( na origem) de fornecimento de petróleo.

A solução lógica apontava para África. A ideia era “assegurar” através de acordos comerciais generosos; fornecimentos de longo prazo de petróleo, que não pudessem ser perturbados.

Tinha a China o dinheiro para isto?

Tinha, precisamente pelo facto de “exportar massivamente” quantidades de produtos fabricados na China, e através do lucro brutal daí derivado; tal gerar um superavit orçamental chinês, parte do qual era constituído por moeda estrangeira (dólares e euros ) em reservas no banco central chinês – um poderoso músculo financeiro à disposição.

Com as costas aquecidas por muitos milhões de dólares das suas reservas, a China programou a sua estratégia geopolítica-económica e começou a investir parte desse dinheiro (uma outra parte vai para compras e fabrico de armas…) em aquisição de matérias primas. África era o objectivo, e dentro de África especialmente a região que vai do Sudão até ao Chade – rica em hidrocarbonetos.

E uma nova guerra fria entre os EUA e a China começou – localizada aqui neste local.

Clicando nos 2 primeiros mapas abaixo da galeria, pode-se perceber porquê:

Os mapas são divididos em dois, por razões de espaço. O original é um simples mapa feito pela Usaid em 2006 – uma NGO norte americana que serve, também de guarda avançada exploratória dos interesses dos EUA (do governo dos EUA), no que toca a influenciar países; “através da ajuda humanitária” que mostra quem são os donos dos campos de exploração petrolífera no Sudão. Em 8 dos campos marcados, não existem companhias norte americanas a trabalhar e 3 deles são explorados pela CNPC – China National Petroleum Corporation.

Ø

O cinismo Chinês assente no pragmatismo sem princípios.

Os chineses optaram por uma ” técnica” bastante cínica, mas mais verdadeira (passe o estranho paradoxo desta afirmação) para conseguírem convencer os chefes (democratas ou ditadores, neste campeonato geoestratégico que importa…) destes países a concederem à CNPC, concessões de campos petrolíferos.

Propuseram contratos “suaves” e com imensos benefícios, sem quaisquer clausulas obrigatórias (políticas ou económicas) anexas a esses contratos.

E que tipos de clausulas?

Por exemplo, obrigar esses países a (A) “fazerem reformas democráticas” ou a (B) “criarem condições para a existência de imprensa livre” ou (c) “esses países terem que abrir mercados à investidores estrangeiros” ou (D) “liberalizar a economia”, nomeadamente feitas tais clausulas para beneficiar as empresas multinacionais ocidentais (isto é, americanas) para (E) “impulsionar o comércio livre”.

Os Chineses não só concederam generosas linhas de crédito sem estas clausulas anexadas, como, de caminho, construíram escolas e caminhos de ferro nestes países onde investem, sem se preocuparem com o tipo de regime político que lá existe.

É uma falta de princípios total, mas é “mais séria”, por paradoxal que pareça, do que as “técnicas” dos países ocidentais – à cabeça e por grande distância os EUA.

Ø

O cinismo Ocidental assente numa técnica de engano dos outros com pseudo princípios.

A técnica “ocidental” ( EUA + Banco Mundial + FMI – especialmente estes) é apresentada como sendo mais limpa e legitima do que a chinesa, embora sejam ambas muito más, e a ocidental seja péssima pela lógica de logro e decepção que encerra.

O método usado especialmente desenhado e feito pelos EUA (um jogo de controlo) é feito através do Banco Mundial e do FMI – fundo monetário internacional.

Tal como os chineses fazem, são oferecidas “linhas de crédito” a estes países, MAS com taxas de juro “difíceis” (isto é, injecções de dinheiro que se fazem bem pagar) e em troca, estes países tem que “democratizar, abrir mercados, privatizar a economia, reduzir o peso do Estado (isto em países onde o Estado e as suas estruturas são completamente incipientes…) e permitirem que as empresas ocidentais (no caso que interessa, as petrolíferas) possam obter concessões de exploração.

Esta “cura” económica aplicada a estes países gera uma dolorosa adaptação (que muitas vezes não chega a acontecer) das populações destes países e dos regimes que as suportam, o que, por sua vez, gera pobreza e problemas de toda a espécie, nomeadamente a incapacidade de muitos destes países alguma vez se transformarem em democracias.

É precisamente por isso, que daí derivam guerras civis e regimes despóticos, golpes de estado, regimes musculados, matanças em guerras tribais, delapidação de recursos, pobreza geral, vagas de emigração para a Europa, etc

Ø

Como, apesar de tudo, já estamos numa nova era, a pergunta que muitos líderes africanos (tiranetes ou não) puseram a si mesmos foi: quem precisa das dores económicas propostas pelo FMI e pelo Banco Mundial, se podemos ter o mesmo (e mais) oferecido pela China, sem termos que fazer nenhumas mudanças (políticas ou outras) e sem sofrermos consequências políticas ou económicas?

– A china dá condições suaves e ainda constrói escolas e estradas.

– O FMI e o Banco Mundial( os EUA, por detrás) oferecem condições duras, e fazem-se pagar caro pela construção de 5 escolas…

Nota: os países africanos estão ao mesmo tempo a criar “concorrência” entre os EUA (Ocidente) e a China, tentando obter “o melhor negócio possível”. Um mecanismo típico da economia de mercado.

O que leva à pergunta retórica: os EUA não gostam de economia de mercado quando funciona contra?

Perante tão difícil escolha, (entre o FMI e a China), os líderes cleptocratas e demais espécimes africanos de todos os tipos demoraram 5 segundos a escolher um lado.

Até agora a China (infelizmente) tem jogado muito melhor este jogo geopolítico. Com as consequências (parciais) que se tem visto no preço do petróleo durante o ano de 2008.

Em Novembro de 2006 a China convocou uma cimeira em Pequim, com 40 chefes de estado africanos. A ideia era fazer uma operação de charme – e arranjar contratos de concessão e exploração de petróleo em África.

E o “comércio” com África, aumentou, como se pode ver nesta parte de uma notícia transcrita do People´s Daily.

Um exemplo das condições suaves que a China oferece é:

“…China has given zero-tariff treatment to 190 export items from the 28 least developed countries in Africa that have diplomatic ties with China, he said.

By the end of 2005, China’s investment in Africa totaled 6.27 billion U.S. dollars. So far, China has signed investment protection agreements with 28 African countries, and agreements on avoiding double taxation with eight African countries, he said.

Under the framework of the FOCAC, China undertook 176 whole-set projects concerning roads, schools, hospitals and stadium in 42 African countries, offering timely humanitarian aid to some African regions hit by natural disasters, he said.

China has canceled debt totaling 10.9 billion yuan (1.4 billion U.S. dollars) owed by the heavily indebted poor countries and the least developed countries in Africa that have diplomatic relations with China, signed 27 framework agreements on preferential loan, and trained about 10,000 professionals for African countries, he said.

Basicamente a China fez o seguinte:

1. Tarifas a pagar por 28 países que exportam para a China são zero. Os produtos não sofrem taxas alfandegárias exportados desses países para a China.

2. Acordos para evitar a dupla taxação com oito países africanos.

3. Lançamento de 176 projectos de construção de infraestruturas em países africanos.

4. Perdão da divida externa no montante de 1,4 biliões de dólares aos países mais pobres do continente com os quais a China tem relações diplomáticas.

Em 2006, a China despejou só 8 biliões sobre a Nigéria, Angola e moçambique. O Banco Mundial despejou 2.3 biliões para toda a África subsariana.

E conforme se pode ver clicando nos 2 primeiros mapas lá em cima existe uma linha vermelha – que representa um pipeline/oleoduto, construído pelos chineses, que leva o petróleo extraído do sul do Sudão até ao Norte do Sudão – até Port Sudan, onde os petroleiros chineses o levam de volta para a China para ser refinado; o petróleo das suas 3 explorações.

bloco-6-darfur1Um dos blocos que a China detém está situado junto à fronteira com o Chade. É o bloco 6.

E este problema geoestratégico foi amplificado (o que quer dizer que a guerra nunca terminará ali) porque em 16 de Abril de 2005, o governo do Sudão anunciou que tinha sido descoberto uma nova reserva de petróleo no Darfur, capaz de produzir 500 mil barris por dia.

Entre riquezas em petróleo enormes, outros assuntos misturadas aparecem. O norte do Sudão é predominantemente muçulmano, com um regime feudal e déspota. O sul é cristão animista (penso que com um regime feudal, mais anárquico e também déspota…).

No Sul existem as maiores reservas de petróleo do país e foi onde foram descobertas estas novas.

E curiosamente, no Sul do Sudão, existe uma longa guerra civil (que é parcialmente financiada pelos EUA), com o objectivo de “partir” e separar o norte predominantemente islâmico, mas com poucas riquezas, do sul cristão animista e mais francófono (perto do Chade).

E é assim que o perigo do fundamentalismo islâmico “alastrar” (um problema verdadeiro, mas que aqui é usado como “camuflagem”…para resolver outros assuntos) é usado como uma causa pela qual combater, visando chegar-se a outros interesses: controlar a exploração e o acesso ao petróleo do Sudão, por parte dos EUA.

Temporalmente as datas dos acontecimentos coincidem com a estratégia que também foi seguida para com o Iraque, com excepção de que, aí, existiu uma invasão.

A lógica é simples: libertar o Iraque da tirania de Saddam Hussein.

A lógica é simples: libertar o sul do Sudão, do norte do Sudão, e libertar os poços de petróleo que ajudam um regime tirânico a manter-se no poder, para ser substituído por outro regime tirânico, mais amigável aos interesses geopolíticos dos EUA..

Uma dos grandes problemas aqui é que se afirma sempre – para influenciar opiniões públicas ocidentais – que “primeiro está o combate à tirania” e não que “primeiro está o combate para obter recursos – criando com isso uma guerra de obtenção de recursos, mas falando de “crise humanitária”, ou “genocídio”.

Ø

Pelo meio existe (existiu) a palavra genocídio. usada para tentar justificar outras coisas. Existiram evidentemente atrocidades cometidas pelos combatentes na guerra de guerrilha em luta pelo controlo da região, mas a palavra genocídio é muito forte e manifestamente exagerada. O único governo que através da sua diplomacia o usou foram os EUA.

genocidio-sudao-sauerbrey

É caso para se pensar porquê.

Quem quiser pensar porquê.

O governo americano afirma isto desde o ano de 2003. Em 2004, um painel de observadores da ONU – “Notícia washington Post de 1 Fevereiro de 2005” – liderado por um juiz de direito italiano, chamado Antonio Cassese, analisou o Darfur e não encontrou provas de genocídio, deliberadamente planeado pelo governo muçulmano do Sudão, mas sim de graves violações das milícias Janjaweed patrocinadas pelo Governo, que podem constituir crimes contra a humanidade. Mas não genocídio. (como é óbvio que tal não significa que se apoie estas acções da milícias…)

Ø

Então porque é que o governo americano fala sistematicamente em genocídio?

Porque os EUA, treinaram o senhor Jonh Garang, antigo líder dos rebeldes.

Porque Garang era cristão (animista) tal como a maior parte da população do sul do Sudão.

(Indirectamente) Porque a ideia era fazer a Nato intervir no Sudão.

(Ver á propósito a magnifica intervenção da candidata derrotada às eleições 2008, a senadora Hillary Clinton, actual secretária de Estado (2008), incitando o Presidente Bush a “intervir no Sudão, para parar o genocídio…)

(Os motores de busca também indicavam que o Senador Joe Biden, actual vice Presidente, também tinha feito uma declaração idêntica; a ligação já estava no entanto indisponível…)

E existe uma resolução do Senado norte americano chamada Senate Resolution 383, introduzida pelos senadores, Biden (actual vice presidente do EUA), Brownback, Obama (actual presidente dos EUA), Lugar, Feingold, Dodd que defende que a Nato devia intervir no Sudão.

E eis como, questões humanitárias são misturadas com questões de petróleo, com o uso da Nato a intervir “fora de área”…usado como “solução”

É um pequeno exemplo que serve para demonstrar que em matéria de política externa, e de interesses dos EUA, o que vale são as ideias da política norte americana, e não o facto de os senadores serem democratas ou republicanos…

Ø

O ping pong geoestratégico norte americano continua, para contrabalançar as ofensivas em busca de recursos feitas pela China, através da CNPC.

Existe o interesse de criar uma base militar norte americana em São Tomé e Príncipe. Os radares já vieram primeiro.

Para controlar a zona do golfo da Guiné. Golfo da Guiné onde a actividade chinesa, económica e diplomática tem sido fervilhante.

Mas decerto que isto é apenas uma coincidência espantosa.

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GUERRA DO IRAQUE. CUSTOS FINANCEIROS. (4)

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No primeiro artigo intitulado “Guerra do Iraque. Custos financeiros. (1)”

– falou-se do custo do petróleo antes da guerra começar;

– do custo directo da guerra, ao mês, para o governo americano – 12 biliões de dólares

– da privatização de sectores da guerra e de como isso encareceu e aumentou o orçamento de guerra dos EUA.

No segundo artigo intitulado “Guerra do Iraque. Custos financeiros (2)”

– falou-se dos downstram costs – os custos já não derivados directamente dos primeiros custos pagos logo á cabeça.

– falou-se da manutenção diferida do material de guerra – equipamento que não é substituido tão depressa quanto é “gasto”

– falou-se do elevado rácio de baixas/mortes, da ordem dos 15/1.

– falou-se dos empréstimos feitos pelos EUA para financiar a guerra, e de como a Guerra é financiada através exclusivamente, de empréstimos

– Falou-se da segurança social e dos custos futuros que virão a ser gastos com as pessoas que virão ou ficarão danificadas com a Guerra do Iraque.

No terceiro artigo intitulado “A Guerra do Iraque. Custos financeiros. (3)”.

– Falou-se dos aspectos financeiros a ter conta numa eventual retirada do Iraque;

– O tempo que duraria a retirada;

– As muitas outras dimensões financeiras da ocupação do Iraque;

– vários outros tipos de custos indirectos

– Efeitos macroeconómicos na economia americana.

Hoje – parte 4 e ultima: impacto da guerra no Iraque e noutras partes do mundo.

Especificamente, saber se se consegue apurar quanto custou ao Iraque em termos económicos e humanos o lançamento desta guerra.

Stiglitz diz que sim, que se consegue saber – e que os dados são péssimos:

  1. 4 Milhões de deslocados.
  2. 2 Milhões de Iraquianos que fugiram do país.
  3. 50% dos médicos ou foram mortos ou saíram do país.
  4. A taxa de desemprego é de 25%
  5. O fornecimento de electricidade não está ainda ao nível do que estava antes da Guerra começar – em 2003 – nível esse que, por sua vez não era extraordinariamente avançado…

Para Stiglitz a taxa de mortalidade ainda é o que mais define o estado lamentável do Iraque e desta Guerra.

Stiglitz afirma que existiram dois estudos feitos sobre este assunto, analisando o que era o Iraque antes e o que é agora. Apesar de ambos serem diferentes na sua metodologia e nas conclusões consegue-se perceber e ambos o demonstram que a taxa de mortalidade;

triplicou.

Mas mostram também outra coisa. Que o numero de mortes como resultado de toda a confusão – ausência de médicos em numero suficiente, ausência de electricidade em funcionamento e outro tipo de perturbações semelhantes – tudo isso – gerou só no período até Junho de 2006 – que é até onde os estudos chegam, é um total de 450 000 mortos no Iraque.

Não derivados exclusivamente da Guerra, note-se, mas das consequências da mesma.

Mas como nota Stiglitz, 2007 foi o ano mais violento de todos e que os estudos ainda não contemplam. Portanto o numero é mais para cima…

Penso que isto dá uma ideia da catástrofe que esta guerra representa.

Privatização.

Muitos sectores da administração: americana venderam a ideia de que a Guerra custaria menos, se após ocupação do Iraque, (o Aftermath) se privatizasse todo o tecido produtivo do Iraque. E impostos de taxa única e restante lengalenga neoliberal…

Em quase todas as áreas sucedeu isso. Stiglitz nota que tal também aconteceu, porque “a ideia de privatização foi enfiada pela garganta abaixo” do semi democrático governo iraquiano. Ou seja, porque o Iraque, não tem de facto um governo democrático (numa situação de quase guerra civil e combates nas ruas, ocupado por uma força estrangeira, como é que um governo pode ter sido eleito de forma democrática?)

Stiglitz acha que, liberalizaram mais rapidamente do que seria desejável…

Stiglitz nota também, por exemplo, que nos EUA, toda as pessoas estão preocupadas com os efeitos da globalização e dos acordos NAFTA relativamente ao que isto custa em empregos aos americanos.

Diz Stiglitz, fazendo o paralelo comparativo, que podemos imaginar o que seria isso, essa mesma situação aplicada ao iraquianos, após o fim da Guerra caso não tivessem continuado os combates…

Isto porque ao estar-se a dizer que se irá completamente abrir um mercado a quem consiga competir com quem está nesse mercado, já é difícil competir para quem está dentro do mercado; e tem uma economia em que a electricidade funciona e a população está em estado razoável.

Aqui falou-se em abrir o mercado, a uma população no estado em que está, sem electricidade, médicos,etc e diz-se – tomem lá o “mercado livre”.

É que isso iria mesmo minar os negócios iraquianos submetidos a concorrência de empresas estrangeiras muito mais fortes. (Do ponto de vista dos neo liberais EUA, o objectivo era mesmo esse;”arrendar gratuitamente”, passe a ironia, um mercado do tamanho geográfico da França com 35 milhões de consumidores…)

O Petróleo.

Curiosamente, o Petróleo não foi privatizado, precisamente porque existiram enormes pressões da comunidade internacional dizendo que em caso de guerras, certo tipo de recursos naturais como o petróleo não poderiam ser privatizados.

Os EUA recuaram e isto é interessante porque demonstra que os EUA estão de facto fracos e tiveram medo da intensa pressão internacional relativamente a este assunto e ela aconteceria efectivamente se tivessem privatizado o petróleo.

A situação nos EUA – há ou não recessão.

Existem duas doutrinas em Wall Street neste momento. A doutrina divide-se, sobre se será ou não mau para os EUA.

  1. Uma doutrina são só profetas da desgraça e dizem que vem aí o inferno (Gloom and Doom);
  2. Outra doutrina afirma que isto é só uma recessãozinha que passa já para a semana.

Stiglitz afirma ser mais da escola “Gloom-Doom e pensa que esta é a crise mais grave nos ultimo quarto de século.

Porque começa no sistema financeiro.

Mas claramente ele acha que o sistema financeiro não funciona bem.

Nota o problema da crise do “Sub Prime”, e nota os problemas existentes de inadequados sistemas de concessão empréstimos, de fechar os olhos a empréstimos que não deveriam ser feitos, de ocultar mais dados relativamente à solidez ou não do crédito (se há muito ou pouco crédito mal parado…), e que tudo isto acontece não só nos mercados de empréstimos mas noutros locais da economia.

Menciona que proximamente (a entrevista foi feita em Março de 2008) “2 million foreclousures” (ou seja, 2 milhões de hipotecas serão resgatadas relacionadas com compras de casas ou sítios comerciais…)

E pelo menos até Março de 2009 – também por causa das eleições americanas,não será possível existir um entendimento entre o novo Presidente, seja qual for, e todas estas instituições no que toca a definir como se pagarão dividas

.

A assimetria da informação.

Stiglitz nota a ironia da situação. Os EUA orgulhavam-se de serem um país com “transparência ” na forma como construiam as suas empresas, os negócios e como o “mercado” funcionava.

Nas crises financeiras de 19997/98, em termos mundiais, aos governos asiáticos foram dados sermões arrogantes por parte da entidades americanas sobre a falta de transparência.

Mas actualmente nota-se que existem, nos EUA, produtos financeiros extraordinariamente complicados, que ninguém tem bem a noção do que são ou não são conjugados com más praticas de fazer negócio.

  • Na assimetria de informação, em principio existem duas partes e uma delas tem muito maior informação que a outra podendo assim obter vantagens. (Assimetria de informação é a área de estudos no qual Stiglitz se especializou e pelo qual ganhou o prémio Nobel.9

Aqui ao que parece e se conclui, parece que existe actualmente no mercado americano uma assimetria de informação bizarra em que ninguém sabe nada ou dispõe da informação necessária para conseguir saber alguma coisa.

Stiglitz acha que o que o que aconteceu foi que os donos da hipotecas originárias sabiam um pouco mais do que as pessoas a quem venderam e essas pessoas sabiam que essas hipotecas eram maus produtos e que quem comprava viria no futuro a ter dificuldades em fazer os pagamentos mas – mesmo assim venderam.

Mas por debaixo deste conceito de securitização do produto tal situação, criou uma vantagem: dispersou o produto (as hipotecas) pelo mundo todo, baixando o risco do mesmo.

Mas criou uma outra nova desvantagem enorme: criou uma nova assimetria da informação.

Porque a pessoa /empresa que cobrou a hipoteca já não era a pessoa/empresa que a tinha originado.

Debaixo do termo de “securitização” esta multiplicidade de donos e vendedores criou um novo rasto de donos e novas informações assimétricas entre novos donos. (O problema existe, mas é “transferido” para dentro de múltiplas camadas de inúmeros donos e empresas…)

Problema a longo prazo.

A divida dos Estados Unidos é uma divida internacional- a erosão do dólar.

A América tem estado a pedir emprestado 800 biliões de dólares por ano – para sustentar a guerra, a crise habitacional, fazer injecções de dinheiro na economia (Pump the economy) etc.

E em poupanças que nos EUA não se estão a fazer – originando pedidos de empréstimos, bem como porque os EUA tem estado a viver acima do seus meios

Tudo isso – acumulado – está a dar cabo da confiança (Uma enorme falta de confiança) dos americanos enquanto consumidores.

Antes, o que sucedia.

No passado países ou empresas estavam na disposição de emprestar aos EUA a taxas de juros mais baixas do que aquelas que os EUA estavam dispostos a emprestar a esses mesmos países ou empresas. (Os EUA – país por si só – funcionavam como uma super garantia…mesmo que o dinheiro não existisse.)

Actualmente quase todos os países estão muito menos dispostos a emprestar aos EUA a taxas de juros baixas ou caso estejam exigem garantias mais fortes de pagamento da divida.

Dai as reservas monetárias estarem a fugir,saindo do dólar e a passarem para o euros e para o Yen.

Está a acontecer uma clara saída do dólar para outras moedas.

As principais consequência.

  1. O padrão de vida dos americanos terá que descer.
  2. Não se poderá, nos EUA, continuar a viver acima das possibilidades.
  3. Terão que se começar a pagar as dividas em vez de as pagar passando-as para gerações posteriores.

Stiglitz afirma que “poderemos continuar a jogar com o futuro dos nossos filhos”, passando-lhes as dividas para eles, mas que isto significará que a divida deles será ainda mais e mais difícil de pagar do que é a actual a ser paga pela geração actual.

(Qualquer semelhança – a escala portuguesa – com os TGV`s e com os aeroportos e demais planos tecnológicos é pura coincidencia…)

(Qualquer semelhança com a política idiota que tem vindo a ser feita nos últimos 20 anos em Portugal com obras faraónicas que levam a lugar nenhum é pura coincidência…)

ARTIGO DIVIDIDO EM QUATRO PARTES TERMINOU.

GUERRA DO IRAQUE. CUSTOS FINANCEIROS. (3)

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No primeiro artigo intitulado “Guerra do Iraque. Custos financeiros. (1)”

– falou-se do custo do petróleo antes da guerra começar;

– do custo directo da guerra, ao mês, para o governo americano – 12 biliões de dólares

– da privatização de sectores da guerra e de como isso encareceu e aumentou o orçamento de guerra dos EUA.

No segundo artigo intitulado “Guerra do Iraque. Custos financeiros (2)”

– falou-se dos downstram costs – os custos já não derivados directamente dos primeiros custos pagos logo á cabeça.

– falou-se da manutenção diferida do material de guerra – equipamento que não é substituido tão depressa quanto é “gasto”

– falou-se do elevado rácio de baixas/mortes, da ordem dos 15/1.

– falou-se dos empréstimos feitos pelos EUA pata financiar a guerra, e de como a Guerra é financiada através exclusivamente, de empréstimos

– Falou-se da segurança social e dos custos futuros que virão a ser gastos com as pessoas que virão ou ficarão danificadas com a Guerra do Iraque.

Hoje: aspectos financeiros a ter em conta com a retirada dos EUA do Iraque.

A Retirada:

Stiglitz no seu estudo, prova e demonstra que, mesmo que os EUA saissem do Iraque – agora, mesmo assim existiriam custos substanciais só por se sair do Iraque. (Deve-se esquecer a proposta de Jonh Mccain , candidato a Presidente que fala em “uma guerra para durar 100 anos)”.

Quais seriam?

1- reescalonar os militares (todo o exército) e o respectivo equipamento, no caso do equipamento, porque gastou-se equipamento mais depressa do que se repôs;

2. Atender à quebra de padrões de qualidade na formação das forças armadas americanas. Ao aceitar-se toda a gente no recrutamento em vez de excluir candidatos sem perfil começaram-se a contratar criminosos, neo nazis, pessoas notoriamente idiotas, etc, e tudo isso afecta a operacionalidade de um exército e a sua capacidade de combate.

Stiglitz e a sua equipa apontam para um gasto inerente a uma retirada e a este reescalonamento da ordem dos 100 biliões de dólares ou mais. 100 biliões é uma estimativa conservadora.

O tempo da retirada.

Para fazer uma retirada, esta duraria – uma vez que não pode ser feita do dia para a noite – duraria pelo menos um ano a efectivar:

Esta análise de Stiglitz e da sua equipa é baseada no orçamento apresentado pelo departamento correspondente do congresso norte americano, que prevê – muitas pessoas pensam isto mesmo nos EUA, que o que teria que ser feito seria os EUA, rapidamente – ao retirarem – terem que se converter não numa força de combate ainda presente no terreno, mas numa força de ocupação, de estilo força de paz das nações Unidas, e mesmo isso não é destituido de custos elevados.

Stiglitz dá o exemplo da Coreia do Sul, onde, apesar de não combaterem as forças americanas lá estacionadas, estão lá há 40 anos e isso custa, todos os anos, dinheiro.

Razão de ser desta força a ser mantida.

A) Para manter uma presença;

B) Defender os poços de petróleo e as rotas de transporte.

C) Ajudar a estabilizar o Iraque.

e mesmo tudo isso custa dinheiro e tempo, pelo menos 10 anos de tempo. Caso tudo corra bem.

Stiglitz analisou dois cenários, sempre baseados nos dados do departamento do orçamento pertencente ao congresso. Chegou às seguintes conclusões:

(1) Num cenário de forças de paz mesmo a 10 anos isto custaria 382 biliões;( Cenário menos despesista)

(2) Noutro cenário custaria 669 biliões, a tal manutenção de forças americanas como “força de manutenção de paz”, durante estes hipotéticos 10 anos. (Cenário mais despesista)

Mesmo que se optasse pela solução de (“vamos sair depressa”), muito desse dinheiro gasto seria substancialmente menos – apenas 600 biliões em dois anos.

Por isso é difícil ver como se custará menos, porque mesmo 660 biliões é dinheiro.

Num cenário realista, sem juros, chega-se ao tal valor de 3 triliões de dólares.

Ou seja chega-se sempre a 1.3 triliões directos mais os juros e os juros de juros que dão à volta de de 2.7 triliões (daí o titulo do livro – “A guerra de 3 triliões de dólares…”)

A média no orçamento dá 2 triliões, mas e nesta altura já se está a dar folgas orçamentais dai a equipa de Stiglitz ter chegado aos 3 triliões – num cenário realista, apenas para arredondar os números.

Não deixa de ser algo que dá dores de cabeça discutir quantidades grandes de dinheiro, biliões e triliões como se estivesse a falar de 5 euros…

Quais são as muitas dimensões da ocupação em termos de custos?

Vidas perdidas:

Aqui existe uma dimensão macabra.

O Pentágono atribui, por vida perdida, um subsidio de 500 mil dólares, divididos uma parte – 400 mil dólares directamente da Life insurance policy (a tal que o Estado americano como vem explicado no segundo artigo se compromete a pagar, por conta do que as seguradoras deveriam fazer…) e mais 100 mil derivados de um “Death Gratuitity”, se bem percebi a lógica.

Utilizam uma expressão “Death gratuity” – o tal prémio de 100 mil dólares, se bem a consigo ouvir e escrever – algo que o entrevistador comenta nunca ter escutado…a gratuitidade da morte…

O que é mais espantoso é que no sector privado, isto é, alguém que participe na Guerra mas a trabalhar para uma empresa do sector privado, a mesma vida perdida já será avaliada em 7 milhões de dólares.

O entrevistador não percebe como se chegam as estes números; e a estas “diferenças de avaliação” entre o sector privado e o público eu também não.

Stiglitz explica da seguinte maneira:

Quanto o governo americano, faz por exemplo avaliações acerca da implementação ou não implementação de certo tipo de regulamentações, esse mesmo tipo de regulamentações é ” avaliado ” pelo número de “vidas que salva” . Esse é o imbecil critério.

Ou seja avalia-se se esta regulamentação vai custar alguma coisa; e quanto custa. E se vale a pena implementar em função do que vai custar – não existe “ética” aqui nas implementações de regulamentações

Calcula-se qual é o custo da regulamentação e calcula-se quantas vidas se salvou/salvará. Após esta brilhante teoria é assim que se avalia uma vida.

Por exemplo, se se deve perguntar se deve existir uma regulamentação de segurança para um carro ou agua mais limpa, e caso não valha a pena (ou o Poder político/económico o decida) nada se fará se não se considerar que se irá salvar suficientes vidas.

É também um conceito estatístico, como por exemplo, quanto é que uma pessoa ganharia acaso não morresse. E também quanto é que uma pessoa ganharia hipoteticamente ao longo da vida.

Após estas contas “estranhas” chega-se a um numero de:

7 a 8 milhões (ou mais) de uma vida avaliada estatisticamente ( Este é um cenário conservador).

Isto dá à volta de 500/600 biliões de dólares de indemnizações por vidas perdidas e a perder se se continuar na Guerra.

Outros custos indirectos.

Famílias que vão ter que tomar conta de pessoas que ficaram danificadas para o resto das suas vidas.

Aqui as vidas já são avaliadas por menos – as disability payments são apesar de tudo valores inferiores aos que as pessoas perderam.

À volta de 180 a 383 biliões de dólares. Avaliou Stiglitz.

Mas há outro tipo de custos.

Por exemplo, a pessoa de uma família que tem de largar o seu emprego para tomar conta do familiar que ficou incapacitado.

Em cada uma família em 5, que tem pessoas feridas, alguém tem que tomar conta destas pessoas, saindo do seu emprego.

Stiglitz explica que poderiam ficar em Hospitais públicos mas ninguém quer ficar em hospitais públicos e o próprio Estado americano tem interesse em que não fiquem, quer pelos gastos, quer pelo facto de isso “se ver” – até porque isso aparece no orçamento – portanto…

Mais custos indirectos:

Custos económicos- quanto sofre a economia com isto:

Stiglitz afirma que as pessoas esquecem-se que quando a guerra começou o preço do petróleo estava a 25 dólares e os mercados de futuros de petróleo apontavam para esse preço pelo menos durante 10 anos.

A guerra mudou essa equação.

No livro Stiglitz diz que optaram pela estimativa conservadora de apenas considerarem que sobre um preço de 100 dólares o barril , apenas 5 a 10dólares seriam atribuíveis à Guerra do Iraque até para não serem acusados de estarem a ser parciais no estudo. Ou seja, que num aumento de 75 dólares no máximo tal apenas se deveria à guerra em 10 dólares.

Stiglitz acha que é mais do que simplesmente 10 dólares.

Mesmo com estes custos apenas apontados para um aumento de 10 dólares e caso fosse verdade isso custaria aos EUA a módica quanta de 800 biliões durante 8 anos – somente os EUA.

Isto a afectar a economia.

Neste tipo de discussão e com custos ainda mais indirectos, como os EUA tem que mandar cheques para a Arábia Saudita e para o Kuwait( precisamente para pagarem as compras de petróleo) . Ou seja, directamente, este tipo de custos à cabeça apenas custa 400 biliões de dólares – com as compras em petróleo feitas, é que leva aos 800 biliões de dólares. ( Boing Boing, 1 de Fevereiro 2008)

Mas o facto deste dinheiro ir para a economia da Arábia Saudita e para o Koweit significa que não vai ser investido/gasto nos EUA, logo, isso aumenta a depressão na economia americana.

Efeitos macroeconómicos na economia americana

O facto de pedirem emprestado tanto e gastá-lo no Iraque não estimula tanto a economia, como gastar isso em casa, nos EUA.

Essas duas coisas tem um efeito depressivo na economia.

Aqui surge um paradoxo.

A equipa de Stiglitz e os cálculos que estes fizeram não davam a ideia, segundo as explicações do próprio, de que a economia estaria tão recessiva quanto de facto está.

O “esquema” descobre-se da seguinte maneira. O FED (o banco central americano fez “Pump the economy”

  1. Para evitar a economia deprimida fez-se pump the economy, ou seja injectou-se liquidez (dinheiro) na economia americana.
  2. Permitiram-se más praticas com regulamentações fracas
  3. e permitiu-se empréstimos por bancos que não se deveriam ter permitido.

Mas tudo isso gerou menos dinheiro para gastar em casa e isso deprime a economia: gerou que os americanos começassem a viver de dinheiro emprestado e de tempo emprestado.

Isto gerou um dano colateral desta Guerra: uma recessão económica.

Continua
GUERRA DO IRAQUE. CUSTOS FINANCEIROS. (4)

GUERRA DO IRAQUE. CUSTOS FINANCEIROS.(1)

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GUERRA DO IRAQUE. CUSTOS FINANCEIROS.(2)

GUERRA DO IRAQUE. CUSTOS FINANCEIROS.(3)

GUERRA DO IRAQUE. CUSTOS FINANCEIROS.(4)

INTRODUÇÃO

Joseph Stiglitz, em conjunção com outros autores e pesquisadores, prémio Nobel de economia, decidiu escrever e publicar um livro, onde analisa a Guerra do Iraque.

Especificamente os custos da mesma, quer os custos indirectos, quero os directos. Menciona, também, os “custos colaterais” que a Guerra terá, bem como os custos que as gerações futuras irão pagar por esta guerra. Não só as gerações americanas.

NOTA PRÉVIA: Antes da Guerra começar, a actual administração americana estimou o custo da guerra em 50 a 60 biliões de dólares.

Actualmente, a administração já menciona o número de 600 biliões de dólares – uma ordem de grandeza 10 vezes maior.

Stiglitz afirma que custará 3 triliões de dólares; isto apenas numa estimativa conservadora e não contando com um conjunto de custos “exteriores” à guerra.

—–

Nos dias de hoje, ( hoje, por exemplo, dia 18 de Maio de 2008 ) o custo mensal da Guerra do Iraque aos norte americanos é de 12 BILIÕES de dólares.

Fazendo, por hipótese uma retirada militar agora, ela duraria sempre dois anos. Multiplique-se 12 biliões x 12 meses x 2 anos…

—–

(1) Começa-se pelo petróleo.

Antes da guerra começar o preço do petróleo era de 25 dólares o barril. Nos dados a que tive acesso para fazer este artigo é dado o preço (em Março) de 100 dólares o barril. Actualmente, o preço está perto dos 120 dólares, o barril.

Stiglitz não defende a opinião de inúmeros peritos que dizem que a subida do preço só se deve contabilizar como tendo relação directa coma guerra nos valores de 5 a 10 dólares. Stiglitz acha que isso é falso e que a relação de uma coisa com a outra é muito maior; isto é, muito do actual preço é, realmente alto, devido à guerra.

Faz as contas a uma subida de 25 dólares para 100 dólares e critica ideia dos apenas 5 a 10 dólares de aumento nisto devido à guerra. Não por exemplo de 25 dólares para 120 dólares. Em qualquer dos casos é uma cenário irrealista, e Stiglitz aponta e bem isso.

Outras razões:

  • aspectos peculiares do mercado de petróleo.
  • agitação no médio oriente que fez subir os preços por causa da guerra.
  • quando existe aumento da procura, os países produtores reduzirem os seus stocks de petróleo.

(2) Custo directo da Guerra para o governo americano:

– Como estão os livros de contabilidade do Pentágono?

Stiglitz e o resto da sua equipa optaram por fazer uma estimativa conservadora. Um das razões prende-se com o seguinte.

As contas do Pentágono estão completamente nas lonas. O próprio diz que se as contas fossem as de uma empresa, o “CFO” – o chefe financeiro da mesma seria preso ou responsabilizado e as contas nunca seriam autorizadas pela SEC, a entidade reguladora dos mercados e das empresas. Portanto optou-se, na análise às mesmas, por extrapolar e sempre para menos gastos e não para mais.

Os responsáveis pelas contas, falharam as auditorias anuais desde que a Guerra começou – há 5 anos, estamos a entrar no sexto ano de Guerra.

Como se começou por financiar a Guerra?

Através de uma medida chamada “Emergency appropriations”- que é, se bem percebi, a existência de pedidos por parte do Presidente dos EUA ao senado para que este votem aquilo que em Portugal, seria um “orçamento extraordinário”. Extraordinário, no sentido em que se irá gastar mais dinheiro do que aquele que é orçamentado, digamos, para um ano fiscal.

A técnica usada foi ir pedindo ou fazendo às pinguinhas “orçamentos extraordinários e pedidos extraordinários ao ponto em que nem os membros do Congresso americano fazem bem ideia de quanto custa (estava a custar) a guerra.

Stiglitz aponta a existência de 24 “contas” separadas e diferentes nos últimos 5 anos. Ou seja 24 orçamentos.

4.5 vezes mais ou menos, por ano, nos EUA, é corrigido o orçamento.

Stiglitz aponta ainda o facto de “estes orçamentos extraordinários ” não serem alvo de escrutínio, nem sequer dentro da administração , nem de órgão fora dela, por exemplo auditores independentes.

( 3) Stiglitz aponta imediatamente 3 resultados ou danos colaterais disto:

  1. corrupção
  2. excesso de preços cobrados por fornecedores ao estado americano
  3. Más praticas negociais a fazer contratos.

—–

(4) Antes da guerra começar foi vendida a ideia de que, para lhe reduzir os custos e criar eficiência na mesma (seja lá o que for que eficiência numa guerra queira dizer…) , seria necessário “privatizar” sectores da guerra antes feitos pelo exército norte americano.

E sub contratar esses serviços a empresas privadas norte americanas. Para obter eficiência e ganhos de produtividade, reduzindo no geral os custos. Esta é a teoria que se vendeu.

O que leva a questão lateral de se saber quem afinal está em guerra:; se o EUA, ou algumas empresas…mas adiante…

Stiglitz diz que o que aconteceu foi o oposto, não existiram reduções de preços nem de custos.

Dá dois exemplos disso mesmo

1.

(A) guardas privados exercendo funções de segurança em zonas perigosas, receberão 400 mil dólares.

(B) Um guarda “estatal” , isto é, pertencente ao exercito receberá, no máximo, nas mesmas condições, 60 mil dólares.

2.

O governo norte americano requere às empresas sub contratadas para fazer as mais variadas tarefas que estas se responsabilizem pelas pensões que se receberão por se ter participado na guerra, bem como pelas pensões a eventualmente receber por ferimentos ou morte de trabalhadores ou membros de forças militares privadas a trabalhar no Iraque. Ou seguros de vida beneficiando terceiros.

As empresas privadas que fariam isso, por exemplo, companhias de seguros, recusam isto a estas pessoas em face do óbvio risco de terem que pagar prémios de seguro altíssimos. Consequentemente estas pessoas não tem seguro nem prémios pagos.

Quem se irá – isto é, foi – responsabilizar por estes seguros e pensões? O governo norte americano que acaba por se responsabilizar pelos gastos- por estes gastos.

(5) O gasto é assim duplicado, não só na questão destes mercenários privados ganharem 3 ou 4 vezes mais que os seus colegas equivalentes no exército como, a uma outra escala ainda maior, todos estes seguros e prémios tem que ser assumidos pelo governo dos EUA, isto é pelos contribuintes americanos, isto é, indrectamente, por quem empresta dinheiro aos EUA.

É o governo americano que acaba a pagar os seguros privados destas pessoas através de companhias de seguros privadas e de contratos feitos pelas mesmas só nestas condições.

Isto obviamente, porque se uma pessoa for ferida ou morta em combate, a companhia de seguros não paga, porque existe uma clausula de exclusão disso mesmo. (Então, para que serve o seguro logo desde o início, se vem com esta clausula de exclusão?)

Conclusão:

Não só o governo americano através do orçamento de Estado acaba a pagar o prémio de seguro logo à partida do mesmo ser celebrado – a pronto pagamento, como depois tem que pagar os benefícios do segurado que este tem direito a receber.

Tirando o facto de as companhias de seguros estarem no meio disto como intermediários a receber, não se vê qual é a lógica disto, a não ser que se veja que isto nada mais é do que negócio e corrupção.

Em Portugal quem defende a guerra do Iraque defende isto.

Como é óbvio a maior parte das pessoas no Iraque acaba por se magoar derivado à “acção hostil do inimigo”que é o nome da tal “clausula de exclusão” que as companhias meteram nas apólices para não pagar…

Ou seja, o governo americano não só paga o contrato mais caro, a estas empresas privadas,para que estas forneçam serviços, como paga, os custos dos prémios de seguros destas empresas privadas e dos seus funcionários, que antes, tinham sido, na pratica, recusados, através de clausulas de exclusão, para cobrir esses mesmos custos. Ou seja não só pagam algo mais caro, como o pagam duplamente.

CONTINUA.

MAIS GASOLINA – A UTOPIA É REALIDADE.

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MAIS GASOLINA 1 No artigo “UTOPIA“, escrevi o seguinte:

(1) Um é a noção de sociedade como sendo uma “sociedade perfeita” – a harmonia perfeita.

(2) Outra noção é a utopia capitalista.

Existe a ideia, nesta utopia, da existência de desejos não satisfeitos. Como estão “não satisfeitos” esta Utopia irá encarregar-se de os satisfazer. Esses desejos são apresentados como “perversos e proibidos.”

(A) Numa sociedade perfeita, todos nós, cidadãos, saberíamos o preço da gasolina ou do gasóleo, quando o fossemos adquirir. Nas experiências de sociedades perfeitas e harmoniosas que já ocorreram todos sabiam esse preço porque o preço era igual em todo o lado – uma entidade dentro dessa sociedade, dotada do poder para tal, dizia qual era o preço igual para todos.

(B) Como a experiência acima descrita não resultou, por uma miríade de razões que não são do âmbito deste artigo explicar, foi em seguida dito que existia outra hipótese de funcionar em sociedade mas muito, muito, muito melhor.

Partindo da base da primeira ideia que não funcionou foi dito que as pessoas eram inerentemente ambiciosas e que existiam desigualdades profundas entre elas. Como tal, era necessário deixar que os desejos secretos e proibidos de cada um, por maiores ou menores que fossem, flutuassem livremente.

E que dessa situação surgiriam desejos que teriam que ser satisfeitos e que não o eram porque eram proibidos pela situação (A) que descrevo lá em cima.

A conclusão atirar é que seria a situação (B) a resolver os desejos secretos e proibidos proporcionando a toda a gente o acesso à possibilidade da satisfação das suas necessidades.

No caso da gasolina e do gasóleo esta teoria acaba de levar um rombo de todo o tamanho.

Não são as autoridades “incompetentes” para tal que desenvolveram a técnica que possibilita o rombo na teoria, (e mandam 200 anos de filosofia capitalista pelo cano) e nos fornecem a informação que nós temos direito, para resolver e satisfazer os nosso desejos secretos e proibidos, mas sim o Daniel Marques e o Eduardo Maio.

A autoridade incompetente; apenas não servisse para pagar elevadas remunerações a quem nela finge trabalhar deveria, por sua conta, risco e iniciativa criar aquilo que o Daniel Marques e o Eduardo Maio criaram.

Em vez disso na ligação que eu ponho 4 linhas acima ( palavra:incompetentes) podemos ler o seguinte:

O petróleo, líquido que varia, em cor, desde o amarelo pálido, passando pelo vermelho e castanho, até ao cinzento ou negro, tem sido recolhido e utilizado desde tempos remotos.

O historiador grego Heródoto (485-425) referenciou poços de petróleo na Babilónia. A “água que ardia” já era conhecida, no Japão, no séc. VII. O veneziano Marco Polo (1254-1324) refere nascentes de petróleo em Baku. O poeta e aventureiro inglês Sir Walter Raleigh (1552-1618) citou os lagos de alcatrão de Trinidad. Estes homens, entre tantos outros, deixaram o seu nome escrito na história do petróleo, não devendo ser esquecidos os numerosos anónimos árabes que, ao esgaravatar negligentemente na areia, repararam, com surpresa, que os seus dedos vinham sujos desse líquido negro, inflamável, com possibilidade acrescida de poder vir a ser usado como combustível para iluminação e fins medicinais.

——

Nesta altura importa escrever uma parte vernácula. Crianças saiam daqui. Vão ver o Noody.

ERSE: vão bardamerda para a Babilónia.

Fim de parte vernácula. Crianças, deixem o Noody e voltem.

——

Após este momento de despojamento interior correspondente à minha própria necessidade de satisfazer os meus desejos secretos e proibidos orientados para o insulto vernáculo de autoridades incompetentes, reoriento este artigo para temas sérios e mais profundos e volto atrás para a filosofia profunda e para os misteriosos e arcanos secretos da metafísica.

Como a utopia da sociedade harmoniosa não está em funcionamento por desistência e falta de comparência e a utopia capitalista dos desejos perversos e proibidos não nos consegue informar do que necessitamos saber ( tal qual este artigo em que o parvalhão que o faz nunca mais para de escrever e diz ao que vem), aqueles dois cidadãos realizam o sonho de passarem, isto é, transcenderem as falsas utopias e saltarem para a realidade.

E a realidade é:

MAIS GASOLINA - ABASTECIMENTO O MAIS GASOLINA.

Um sitio da Internet e na Internet, onde os automobilistas ( e os ornitólogos e os astrólogos também… ) podem saber GRATUITAMENTE E EM TEMPO REAL qual é o preço da gasolina (e do gasóleo e do GPL) nos mais variados postos de abastecimento do produto pelo país todo.

Ou pelo menos, pelo maior número possível de postos que já estejam adicionados à base de dados.

Como é óbvio, só calhaus e bestas elevadas ao quadrado é que não apreciam a extrema utilidade das informações da ERSE – entidade reguladora de serviços de energia, que nos mostra o desejo capitalista perverso e proibido que todos nós ardentemente desejamos saber, quando vamos atestar gasolina: e esse desejo é saber que até já Heródoto referenciou poços de petroleo na Babilónia.

Já lá dizia o poeta: Meter gasolina é um acto de cultura.

Com efeito, cada vez que atesto numa bomba de gasolina, apresento sempre uma reclamação junto do funcionário dizendo: ” porque não está aqui afixado que Heródoto já tinha referenciado poços de petróleo na Babilónia, e, em vez disso, está aqui 1.45.69 euros de Super 95? (Por exemplo?)

Estes dois cidadãos (Utopianos verdadeiros) que transcenderam a utopia capitalista/harmoniosa da ERSE criaram um sitio que dispõe da mais variada informação sobre preços de combustível, e permite, através de registo, que um utilizador se inscreva e indique qual o preço, por exemplo, no dia “X”, na bomba de gasolina da sua zona, ou noutro lado onde atestou o seu carro ou o seu jacto ou o seu submarino.

Permite ver a informação por:

  1. Postos de gasolinaMAIS GASOLINA- COMPARADOR DE PREÇOS POR POSTO
  2. Postos mais baratos
  3. adicionar novos postos( utilizadores que se registam)
  4. Estatísticas de preços, de postos, de utilizadores registados (estão a chegar aos mil, se é que já não os passaram) e GPL AUTO.
  5. E surpresa das surpresas, até tem um blog.
  6. E também tem a pesquisa por posto de abastecimento, pelo nome.

Pontos negativos.

Uma grave lacuna deste sítio motivada pela inexperiência dos dois utopianos nesta história de criar Utopias que funcionem é o facto de não terem estatísticas sobre poços de petróleo na babilónia, nem citações de Sir Walter Raleigh, que, coitado, não merecia mesmo aparecer na utopia capitalista miserável que é a ERSE.

Que nem sequer faz aquilo para que foi criada: fingir que regula e que informa o mercado e os consumidores.

É um tacho confortável a ERSE. Aliás nesta República Centro Africana da Europa Ocidental meridional, tudo é o pior de África conjugado com tachos.

O endereço do mais Gasolina é:

http://www.maisgasolina.com/

Written by dissidentex

01/05/2008 at 11:22