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ERIC HOBSBAWM – ENTREVISTA À BBC – 21 DE OUTUBRO DE 2008
“A esquerda está virtualmente ausente. Assim, me parece que o principal beneficiário deste descontentamento atual, com uma possível exceção – pelo menos eu espero – nos Estados Unidos, será a direita”, disse Hobsbawn, em entrevista à Rádio 4.
O historiador marxista comparou o atual momento “ao dramático colapso da União Soviética” e ao fim de “uma era específica”.
“Agora sabemos que estamos no fim de uma era e não se sabe o que virá pela frente.”
Hobsbawn diz não acreditar que a linguagem marxista, que lhe serviu de norte ao longo de toda sua carreira, será proeminente politicamente, mas intelectualmente, “a análise marxista sobre a forma com a qual o capitalismo opera será verdadeiramente importante”.
Abaixo, os principais trechos da entrevista.
Muitos consideram o que está acontecendo como uma volta ao estadismo e até do socialismo. O senhor concorda?
Bem, certamente estamos vivendo a crise mais grave do capitalismo desde a década de 30. Lembro-me de um título recente do Financial Times que dizia: O capitalismo em convulsão. Há muito tempo não lia um título como esse no FT.
Agora, acredito que esta crise está sendo mais dramática por causa dos mais de 30 anos de uma certa ideologia “teológica” do livre mercado, que todos os governos do Ocidente seguiram.
Porque como Marx, Engels e Schumpter previram, a globalização – que está implícita no capitalismo -, não apenas destrói uma herança de tradição como também é incrivelmente instável: opera por meio de uma série de crises.
E o que está acontecendo agora está sendo reconhecido como o fim de uma era específica. Sem dúvida, a partir de agora falaremos mais de (John Maynard) Keynes e menos de (Milton) Friedman e (Friedrich) Hayek.
Todos concordam que, de uma forma ou de outra, o Estado terá um papel maior na economia daqui por diante.
Qualquer que seja o papel que os governos venham a assumir, será um empreendimento público de ação e iniciativa, que será algo que orientará, organizará e dirigirá também a economia privada. Será muito mais uma economia mista do que tem sido até agora.
E em relação ao Estado como redistribuidor? O que tem sido feito até agora parece mais pragmático do que ideológico…
Acho que continuará sendo pragmático. O que tem acontecido nos últimos 30 anos é que o capitalismo global vem operando de uma forma incrivelmente instável, exceto, por várias razões, nos países ocidentais desenvolvidos.
No Brasil, nos anos 80, no México, nos 90, no sudeste asiático e Rússia nos anos 90, e na Argentina em 2000: todos sabiam que estas coisas poderia levar a catástrofes a curto prazo. E para nós isto implicava quedas tremendas do FTSE (índice da bolsa de Londres), mas seis meses depois, recomeçávamos de novo.
Agora, temos os mesmos incentivos que tínhamos nos anos 30: se não fizermos nada, o perigo político e social será profundo e ainda mais depois de tudo, da forma com a qual o capitalismo se reformou durante e depois da guerra sob o princípio de “nunca mais” aos riscos dos anos 30.
O senhor viu esses riscos se tornarem realidade: estava na Alemanha quando Adolf Hitler chegou ao poder. O senhor acredita que algo parecido poderia acontecer como conseqüência dos problemas atuais?
Nos anos 30, o claro efeito político da Grande Depressão a curto prazo foi o fortalecimento da direita. A esquerda não foi forte até a chegada da guerra. Então, eu acredito que este é o principal perigo.
Depois da guerra, a esquerda esteve presente em várias partes da Europa, inclusive na Inglaterra, com o Partido Trabalhista, mas hoje isso já não acontece.
A esquerda está virtualmente ausente, Assim, me parece que o principal beneficiário deste descontentamento atual, com uma possível exceção – pelo menos eu espero – nos Estados Unidos, será a direita.
O que vemos agora não é o equivalente à queda da União Soviética para a direita? Os desafios intelectuais que isto implica para o capitalismo e o livre mercado são tão profundos como os desafios enfrentados pela direita em 1989?
Sim, concordo. Acredito que esta crise é equivalente ao dramático colapso da União Soviética. Agora sabemos que acabou uma era. Não sabemos o que virá pela frente.
Temos um problema intelectual: estávamos acostumados a pensar até então que havia apenas duas alternativas: ou o livre mercado ou o socialismo. Mas, na realidade, há muito poucos exemplos de um caso completo de laboratório de cada uma dessas ideologias.
Então eu acho que teremos de deixar de pensar em uma ou em outra e devemos pensar na natureza da mescla. E principalmente até que ponto esta mistura será motivada pela consciência do modelo socialista e das conseqüências sociais do que está acontecendo.
O senhor acredita que regressaremos à linguagem do marxismo?
Desde a crise dos anos 90, são os homens de negócio que começaram a falar assim: “Bem, Marx predisse esta globalização e podemos pensar que este capitalismo está fundamentado em uma série de crises”.
Não acredito que a linguagem marxista será proeminente politicamente, mas intelectualmente a natureza da análise marxista sobre a forma com a qual o capitalismo opera será verdadeiramente importante.
O senhor sente um pouco recuperado depois de anos em que a opinião intelectual ia de encontro ao que o senhor pensava?
Bem, obviamente há um pouco a sensação de schadenfreude (regozijo pela desgraça alheia).
Sempre dissemos que o capitalismo iria se chocar com suas próprias dificuldades, mas não me sinto recuperado.
O que é certo é que as pessoas descobrirão que de fato o que estava sendo feito não produziu os resultados esperados.
Durante 30 anos os ideólogos disseram que tudo ia dar certo: o livre mercado é lógico e produz crescimento máximo. Sim, diziam que produzia um pouco de desigualdade aqui e ali, mas também não importava muito porque os pobres estavam um pouco mais prósperos.
Agora sabemos que o que aconteceu é que se criaram condições de instabilidades enormes, que criaram condições nas quais a desigualdade afeta não apenas os mais pobres, como também cada vez mais uma grande parte de classe média.
Sobretudo, nos últimos 30 anos, os benefíciários deste grande crescimento têm sido nós, no Ocidente, que vivemos uma vida imensuravelmente superior a qualquer outro lugar do mundo.
E me surpreende muito que o Financial Times diga que o que se espera que aconteça agora é que este novo tipo de globalização controlada beneficie a quem realmente precisa, que se reduza a enorme diferença entre nós, que vivemos como príncipes, e a enorme maioria dos pobres.
APPEASEMENT E NÃO APPEASEAMENT
Na Arábia Saudita temos o seguinte:
Sintomas de um país com sérios problemas.
Ou deverei dizer uma religião?
A chantagem continua, mas felizmente AQUI recusam-se a ser chantageados e reagiram, pelo menos até agora.
E como se faz chantagem? Simples.
Usam-se meios democráticos para fazer chantagem e tentar criar um sistema de auto censura e de discriminação “legalmente” legitimizado, sem se ter absolutamente razão nenhuma para isso.
Como se faz?
Fazendo uma petição online.
Parece que um grupo de utilizadores de religião muçulmana, ficaram, repentinamente, ofendidos pelo facto de a Wikipédia, que até pretende ser uma enciclopédia online neutra, mostrar fotografias do Profeta Maomé, o que é proibido pela religião muçulmana.
Podendo recusar ver as fotografias, os muçulmanos (ou os países que estão por detrás disto…) optaram por entrar na chantagem e na extorsão fazendo pressão e insinuando ameaças sobre a Wikipédia para que esta retirasse a referida fotografia.
Aplicado este princípio a todas as situações, que, supostamente, ofendem muçulmanos teríamos, levado ao extremo, que, provavelmente, metade dos artigos que lá estão fossem retirados, por uma questão ou outra.
Nesta notícia do Herald Tribune, um muçulmano paquistanês diz que ” “é totalmente inaceitável imprimir a foto do profeta …“e que isso demonstra insensibilidade em relação aos sentimentos dos muçulmanos e deveria ser removido imediatamente”.
Tendo em conta o facto de as mulheres ocidentais ou sem serem do Ocidente andam, normalmente, sem véu, provavelmente, daqui a um mês ou dois existirá uma petição online exigindo que mulheres de religião não muçulmana usem véu, uma vez que “é totalmente inaceitável que as mulheres se mostrem em público” … e que isso demonstra insensibilidade em relação aos sentimentos dos muçulmanos e deveria ser removido imediatamente”.
Ou, que o facto de existirem pessoas que são adeptas de outras religiões ou nem sequer são adeptas de religião nenhuma isso” é totalmente inaceitável que as pessoas adeptas de outras religiões ou nem sequer adeptas se mostrem em público” … e que isso demonstra insensibilidade em relação aos sentimentos dos muçulmanos e deveria ser removido imediatamente”.
A lista de “supostas insensibilidades” é infindável…
Vamos ter mais chantagens destas nos próximos meses e anos.
Resta saber se se opta pelo appeasement ou se recusa a chantagem.
Sou adepto da recusa da chantagem.
Este post não significa apoio ao catolicismo como religião organizada.