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FMI PREVÊ CRISE DE CARTÕES DE CRÉDITO NA EUROPA(INGLATERRA)
Fonte: Jornal Público de 27 de Julho de 2009 – notícia completa.
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A subida do desemprego estará na origem de uma nova crise. A crise dos cartões de crédito, que provocou perdas de milhares de milhões de dólares nos Estados Unidos, está a estender-se à Europa. E o FMI prevê o aumento do crédito malparado dos consumidores.
Segundo um relatório do Fundo Monetário Internacional hoje citado pelo Financial Times, cerca de 14 por cento dos 1,9 mil milhões de dólares (1,3 mi milhões de euros) de dívidas dos consumidores norte-americanos não poderá ser recuperado pelos bancos credores.
Para a Europa, o FMI estima que os bancos não poderão também recuperar 7 por cento dos 2,4 mil milhões de dólares (1,6 mil milhões de euros) de dívidas dos consumidores, parte importante das quais corresponde ao Reino Unido, o país europeu com maior número de titulares de cartões de crédito.
A organização britânica National Debitline afirma ter recebido em Maio 41 mil chamadas de pessoas preocupadas com a impossibilidade de pagarem o que devem, ou seja, o dobro das 20 mil recebidas no mesmo mês do ano passado.
Nos Estados Unidos, o crédito malparado dos cartões de plástico aumentou drasticamente nos últimos meses devido ao desemprego e à mais severa desaceleração económica desde a Grande Depressão.
Alguns bancos, como o Citigroup, Banco da América, JPMorgan Chase e Wells Fargo, além do American Express, sofreram até agora perdas de milhares de milhões nas suas carteiras de cartões de crédito e sabem que irão aumentar.
No Reino Unido, os analistas esperam que o crédito malparado acompanhe a taxa de desemprego e o aumento das falências dos particulares, que totalizaram 29.774 no primeiro trimestre do ano.
O Barclays, que tem 11,7 milhões de clientes no serviço Barclaycard, anunciou em Maio que o crédito malparado aumentou no primeiro trimestre do ano, um fenómeno que também afectou o Lloyds Banking Group, reflectindo as condições económicas adversas e o aumento do desemprego
- Sobre a armadilha dos cartões de crédito o assunto já tinha sido falado aqui em 06-11-2008.
- Sobre o Finantial times, link aqui
- Sobre geografia o novo mapa da Europa feito pelo público diz que a Europa é a Inglaterra.
E a guerra económica da elite financeira anglo americana continua, desta vez via imprensa, querendo convencer as pessoas que a “Europa” está com um problema de crédito superior ao dos EUA e da Inglaterra.
CONCENTRAÇÃO DE BANCOS EM PORTUGAL
Um dos problemas de Portugal e dos portugueses é o facto de – dizem-nos os adeptos do liberalismo na economia – existir “pouca concorrência” nos mercados. Notícia Público – Economia, dia 28 – 05 – 2009.
Isto é, existirem poucos concorrentes nos mercados. E o responsável do Deustche Bank, o banco que despoletou juridicamente a crise financeira norte americana, vem dizer-nos que é bom existir pouca concorrência no mercado. E importa perceber porquê…
(1) É inevitável. Porquê? O responsável do Deustche Bank não diz. E aponta o caminho: absorção ou fusão das instituições mais pequenas.
São aquelas instituições que ocupam os mesmos pedaços “pequenos” de mercado que o Deustche Bank também ocupa.
Fazer publicidade em causa própria é a nova medida de ética.
(2) Fusão das instituições mais pequenas. Entre si, ou com o Deutsche Bank? E por que preço? E por qual quota de mercado a atingir? E quem assume as dividas das instituições mais pequenas? São as instituições que faliram, ou são as outras instituições mais pequenas que não faliram?
(3) Um modelo de negócio mais tradicional é que é necessário ter “mais escala” ou seja, mais tamanho”. Porquê, mais tamanho? Para ocupar que mercados?
Se os bancos portugueses – mais pequenos – estão “entalados” entre os bancos portugueses maiores (estes tem uma quota de mercado à volta dos 85%) então para quê ganhar “escala”?
Para expandir para o estrangeiro? Bom, mas se o bancos portugueses normais não conseguem sair de Portugal, porque seriam os pequenos a fazer isso? E como se ganha quota de mercado, mesmo fundindo-se bancos pequenos com bancos pequenos?
Para expandir em Portugal? Há a questão das sinergias, mas isso não explica ( nem de perto nem de longe) tudo…
Então quem pode beneficiar com isto? O Deutsche Bank, que poderá eventualmente, num determinado futuro comprar um banco eventualmente fusionado (e com um tamanho ajustado aquilo que o Deutsche Bank pretende (adquirir) do mercado português) resultante destas propostas que o seu responsável apresenta….
(4) No ponto 4 que escolhi, o responsável do banco alemão em Portugal tem um leve acesso de marxismo económico. Manifesta-se perguntando qual é o numero de bancos necessário para que as “coisas funcionem”. Julgava eu, que era o “mercado” que determinava isso.
É o mercado que determina isso, excepto quando o Deutsche Bank, não tem quota de mercado que lhe permita crescer (A) organicamente, ou (B) por aquisições e fusões de concorrentes.
Aí o mercado afasta-se para a barra lateral. E entra o intervencionismo retórico, em conferencias do Finantial Times – interesses estrangeiros a fazerem pressão sobre o mercado português…
(5) É claro que são os bancos mais pequenos que sofrem com as condições do mercado, porquê? TBTF (To big to fail – demasiado grandes para falharem) era o mantra que rebentou recentemente com alguns bancos grandes – todos eles maiores que o Deutsche Bank.
Portanto é “claro” porquê? Porque um director regional do Deutsche Bank o diz?
E acreditamos nele porquê?
(6) E diz-nos o ex-director do impostos que voltou para o BCP, que será visível a redução do crédito destinado a particulares e sobretudo, no sector imobiliário.
Os bancos cortam a torneira, não porque seja “visível” a crise do crédito, mas pura e simplesmente porque já estão cheios de perdas nos balanços e não querem mais.
Mas estão a indicar-nos que “acabaram de abortar” contra a vontade de qualquer governo eleito futuramente, qualquer ” ideia leve” de recuperação económica.
Indicam que estão completamente contra a corrente propagandística do actual governo que fala de recuperações económicas que estão a vir.
E indicam que os mais de 2 biliões de euros injectados nos bancos portugueses por causa da crise (de um pacote total disponível à volta dos 20 biliões de euros) afinal não serviram para aliviar a torneira da concessão de crédito.
Os bancos querem as coisas como estão. O seu poder aumenta com as coisas assim, e mais condiciona qualquer governo eleito.
(7) Crescimentos de crédito na área dos dois dígitos ao ano não são desejáveis. Resta dizer, que quem quis ter crescimentos de crédito na área dos dois dígitos foram …… todos os bancos?!?!? ……que se lançaram na concessão louca de crédito por todos os lados.
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De um ponto de vista da “concorrência” o que o responsável do Deutsche Bank esta a postular, dizendo isso ao estado Português; é que o numero de concorrentes no sector bancário ainda deve ser mais reduzido do que aquilo que é.
São as ideias de uma certa “elite financeira e capitalista mundial” que estão aqui plasmadas. Redução dos números dos concorrentes locais, para que os grandes bancos mundiais, possam “ocupar espaço” e salvar as mais recentes perdas que tiveram.
Logo, é necessário “expandir à força” e o Deutsche Bank necssita disso devido às perdas que ainda tem devido à crise financeira norte americana.
“Expandir à força”= persuadir através de órgãos de persuasão (o Finantial Times) veiculando a mensagem que “há crise no sistema, reduzam, os actores…
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Qual é o interesse nacional que é defendido, pela redução do numero de bancos comerciais a operar no mercado?
LUIS CAMPOS E CUNHA E O CRÉDITO
No dia 23 de Janeiro de 2009, o Jornal Público publicou um artigo de opinião do senhor Luís Campos e Cunha, ex- ministro do actual governo. O link é pago, infelizmente, ou felizmente, conforme a opinião.
E transcreve-se:
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«Rei posto, rei morto. O novo orçamento foi apresentado de manhã e chumbado à tardinha. A Standard & Poor’s (S&P) já tinha alertado que a situação financeira do Estado português lhe levantava dúvidas.
O Ministro foi a Londres tentar convencer a agência de rating da bondade das suas políticas mas apenas conseguiu que eles esperassem pelo novo orçamento. Este foi apresentado quarta-feira de manhã e, pela tarde, baixaram formalmente o rating da República. O que é muito mais grave do que se pensa. Senão vejamos.
* A Crise foi iniciada pelo crédito fácil, durante dez anos, e implicou perdas inimagináveis para os bancos que conduziram a que os bancos não possam, hoje, conceder o crédito que noutras situações estariam a fazer. No nosso caso, o importante é ter a ideia de que mais um milhão de euros de crédito à economia implica mais um milhão de empréstimos ao exterior.
Por outro lado, neste momento só o Estado tem crédito, no exterior, em montantes relevantes. Mesmo os bancos que recentemente recorreram ao crédito externo – CGD, BES e BCP – só o conseguiram porque tinham comprado ao Estado português uma garantia.
Hoje os investidores internacionais estão, basicamente, indiferentes à situação do banco em causa. ** O que interessa, para esses investidores, é saber que o Estado está por detrás, é ao Estado que estão a emprestar. Daqui decorre que a baixa do rating pela S&P implica duas coisas: o crédito ficará mais caro e, pior ainda, haverá menos crédito para Portugal. Quanto ao custo do crédito, basta pensar que a Grécia, que acabou de fazer um empréstimo a prazo, teve de pagar 3,15 pontos percentuais acima dos títulos de referência (ou seja, bunds alemães a 5 anos). Nós (ainda) estamos longe.
Mas eles também estavam longe: no início do ano pagavam 2,5 pontos de spread. E nós, em três semanas, passámos de 1,2 pontos para perto dos 1,7 pontos percentuais de spread. Significa que mais nenhum banco se vai financiar às taxas de juro do CGD/BES/BCP. Quem for agora ao mercado vai pagar spreads mais altos.
Mas isto são pequenos problemas, o custo do crédito é o menor deles, por mais incrível que pareça. Quando a S&P diz que o risco de crédito passa da notação de AA- para A+, reduz o número de instituições que está disposta a emprestar a Portugal e reduz o volume de exposição das remanescentes.
Como países com notação AAA estão a lançar empréstimos em larga escala, a restrição quantitativa ao crédito para Portugal torna-se muito preocupante. Por outras palavras, o crédito caro é o menor dos problemas, o mais grave é que haverá menos crédito para Portugal. E a política de despesa orçamental apenas agudiza a nossa crise de acesso ao crédito.
Como salientei, o crédito aos bancos é, de facto, crédito ao Estado, embora formalmente seja crédito aos bancos portugueses, e é assim que os investidores internacionais o vêem. Como estamos a viver nos limites da nossa capacidade de endividamento, mais crédito directo ao Estado será menos crédito para os bancos nacionais e, por consequência, para as empresas e as famílias. Por tudo isto é que a política de grandes défices orçamentais será autodestrutiva.
A política do Governo é simples mas errada: o investimento e as exportações caíram, logo o Estado faz uns programas de investimento e de subsídios públicos. É keynesianismo simplificado daquele que ensinamos numa cadeira de introdução à macroeconomia. Na situação actual, mais investimento público implica que o Estado vai precisar de mais financiamento (i.e., crédito) porque o défice orçamental aumenta. Mais financiamento directo ao Estado vai reduzir, a breve prazo, o financiamento (aquilo que sobra) para os bancos. ***Menos financiamento aos bancos será menos crédito às famílias e empresas; logo, teremos mais falências, mais desemprego e, também, problemas acrescidos para os bancos.
O Governo volta a reagir com mais investimento ou subsídios públicos conduzindo a maiores défices orçamentais, mais endividamento, novamente, mais problemas para financiamento dos bancos e para o crédito à economia,… e assim por diante.
Vivemos uma situação de restrição quantitativa ao crédito e mais crédito ao Estado requer, para a política ser eficaz, mais endividamento internacional e tal não é possível. A política pública anunciada só poderia ter (algum) sucesso se o Governo, simultaneamente, cortasse nos grandes investimentos.
Daria o sinal de que não aumentaria as suas necessidades de financiamento para além de um limite razoável, seria apenas reorientação do investimento e o aumento do défice orçamental corresponderia aos estabilizadores automáticos (ou seja, mais despesa em subsídios de desemprego e apoios sociais e menos receitas de impostos).
Mas nada disto aconteceu até agora. (…) O Estado pode, e deve, ajudar os bancos a captar crédito mas abster-se de o usar consigo próprio. Fazê-lo levará à espiral auto-sustentada que descrevi, que todos pagaremos, durante muitos anos, com menor crescimento e mais pobreza.
O chumbo do novo orçamento pela S&P deveria corresponder a um chumbo na Assembleia da República. Atirar dinheiro aos problemas, na situação actual, não os afoga, fá-los crescer e com juros altos. A política trapalhona de apoio à economia tem em si o gene da sua própria destruição, como a S&P mostrou ao mundo e eu tentei explicar.»
Luís Campos e Cunha, ex-ministro das finanças de Sócrates no Público.
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TRADUÇÃO E COMPARAÇÃO:
* A Crise foi iniciada pelo crédito fácil, durante dez anos,”.
E pergunta-se?
A quem beneficiava o crédito fácil? Quem autorizou e incentivou o crédito fácil?
Resposta: aos mesmos que o iniciaram; os bancos e os governos. Luis Campos e Cunha esquece-se, lamentavelmente, de afirmar que a política de concessão de crédito “fácil” era do interesse dos bancos, (1) porque lhes permitia captar mais clientes e auferir mais lucros, e dos governos que (2) anestesiaram as pessoas com crédito e possibilidade de gastar… criando assim ilusões eleitorais convenientes…
Quando o crédito jorrava em cascata, onde estava Campos e Cunha? Protestou energicamente contra?
** O que interessa, para esses investidores, é saber que o Estado está por detrás, é ao Estado que estão a emprestar.
É uma interessante forma de capitalismo, esta. Conceder crédito, apenas porque os Estados avalizam esse crédito.
E pelo meio deste texto existe a mistificação de misturar crédito concedido aos Estados, com financiamentos às empresas e às famílias.
Apenas o é, na medida em que o sector bancário vive de facto disso. Mas sobre o facto de ser completamente errado e contraproducente que exista mais dinheiro para emprestar a empresas e famílias(em vez de ao Estado como argumenta o autor), dinheiro- muitas das quais já estão endividadas e poderão (no futuro) não vir a pagar – nada se diz….
*** Menos financiamento aos bancos será menos crédito às famílias e empresas; logo, teremos mais falências, mais desemprego e, também, problemas acrescidos para os bancos.
Portanto, antes deste pedaço de texto afirma-se que :
” Como estamos a viver nos limites da nossa capacidade de endividamento,…”
E isso parece que é mau. Mas três ou quatro linhas mais abaixo já se pugna por mais financiamento aos bancos porque isso gerará mais crédito para as famílias e empresas.
Como se “estamos a viver nos limites da nossa capacidade de endividamento” não seja um problema TAMBÉM de famílias e empresas.
Ou será um problema de extraterrestres que por acaso vivem em Portugal?
Queres ver que são extraterrestres que pagam impostos e não portugueses?
Ou o endividamento não se aplica ao país todo? E quem o paga não serão os contribuintes (os que contribuem?)
Aviso: tal não significa que eu apoie os investimentos públicos faraónicos que este governo que vir a fazer.
Mas usar esta linha de argumentação: a de que “é totalmente bom” disponibilizar crédito a empresas e famílias em vez de “ao Estado”, quando ambos estão na prática colocados numa situação de endividamento, ou de excesso de gastos, parece-me, numa situação de crise, que foi originada precisamente pelo excesso de gastos e crédito ser algo ainda mais absurdo…
Mas em combate político e defesa de “interesses ” vale tudo…
até jogar o jogo da dissidência usando artigos de opinião e de parecer estar contra o sistema e contra o governo quando na realidade se está mesmo dentro do sistema como Luís Campos e Cunha está.
CRISE FINANCEIRA AMERICANA – A ARMADILHA DO CRÉDITO.
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A lista completa de artigos relacionados com este assunto pode ser encontrada na página da barra lateral ” Z – Crise financeira norte americana”
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Um dos temores mais subterrâneos e mais recentes relacionados com a crise financeira americana é a ideia que ainda não acabou e que irá “estourar” uma nova bolha especulativa – a bolha do crédito, isto é, a bolha do crédito concedido a particulares e empresas através do uso de cartões de crédito ou de outras formas similares.
Como começou e como se está a desenvolver ainda esta situação tem uma história. Que acontece da seguinte maneira:
Uma pessoa tem, de repente, uma súbita necessidade repentina de obter dinheiro, por exemplo, por motivos graves de doença. E usa o crédito disponível nos cartões de crédito que dispõe e que, devido a políticas comerciais generosas de concessão de crédito, nos EUA, são abundantes.
E solicita, digamos, 100 mil dólares em crédito para acorrer à doença ou ao problema súbito que a aflige e para o qual necessita de imenso dinheiro.
Até aqui, tudo normal dentro da anormalidade…
Nos EUA, quando existem dividas, a pessoa pode pedir para se declarar sob a protecção da autoridades, para se defender dos credores, sendo depois um organismo do governo a gerir as finanças da pessoa, de forma a que esta pague faseadamente aos seus credores.
Serve este exemplo para explicar que, após alguém ter sido colocado nesta situação pelos infortúnios da vida, ou por outra razão qualquer, a pessoa passe 3 ou 4 anos a pagar as dividas, até que sai do estado de insolvência e deixe de estar sob “protecção contra credores”. E passe a ser livre da divida contraída.
Nos EUA, o que ainda continua a suceder é que, após a pessoa ter deixado de ter dividas, mas continuando a ter uma situação financeira que aconselha a que entidades que concedem crédito não contactem estas pessoas para conceder empréstimos; estas pessoas continuam a ser contactadas, pressionadas, persuadidas por dezenas de entidades financeiras no sentido de voltarem a adquirir cartões de crédito, cheios de vantagens e benefícios, reais ou imaginários.
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(1) Esta pessoas continuam a ter um pobre historial de crédito, (2) continuam a ter dificuldades de pagamento de créditos por cartão, se decidirem usar esse mesmo cartão, (3) mas continuam a ser pressionadas comercialmente e publicitariamente a adquirir mais um cartão de crédito, com o qual se poderão voltar a endividar.
A pessoa colocada nestas condições, tem uma “etiqueta” colocada sobre si, que diz “alvejem esta pessoa com novas ofertas de crédito”, etiqueta essa que todas as entidades financeiras conhecem e usam e por isso, alvejam a pessoa nestas condições.
As instituições financeiras continuam a fazer isto, mesmo sabendo-se que uma das condições para a existência da actual crise financeira americana, foi precisamente a atribuição de crédito a pessoas que (1) não o poderiam nunca conseguir pagar, e que (2) não tinham nenhuma hipótese sequer de o fazer, e como tal, a (3) quem nunca deveria ter sido concedido crédito.
É a “selecção do alvo” a funcionar.
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Um pequeno exemplo de entidades que concedem crédito a pessoas que não o podem pagar consiste na instituição financeira First Premier bank.
Criou um “produto inovador” e que vende “crédito” através de um cartão de crédito especialmente concebido para as pessoas que tem uma capacidade de crédito “menos que perfeita”/ Less than perfect.
Isto é código semântico e equivale a dizer que vendem crédito para as pessoas que não tem rendimentos nem de perto, nem de longe suficientes para se lhes ser concedido crédito.
Em face do que aconteceu recentemente com a bolha de especulação imobiliária norte americana, seria de esperar que as instituições financeiras se auto restringissem e praticassem “auto regulação”.
Não parece ser o caso. Este “crédito” é oferecido através de um cartão de crédito “Platinum Mastercard“.
O que equivale a dizer que todos os “jogadores” financeiros americanos (como a Mstercard) jogam este jogo de roleta russa financeira conscientemente e sem se importarem com os riscos, dado que sabem que alguém irá injectar dinheiro na economia após ela estourar.
E que são estas pequenas coisas esquecidas – estas concessões de crédito armazenadas em nichos de mercado, que irão fazer rebentar outra pequena bolha financeira daqui a uns meses.
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As técnicas de sofisticação publicitária engendradas pelas instituições financeiras para induzirem ao crédito de qualquer forma e de qualquer lado, cresceram de duas maneiras.
(1) A primeira foi pelo aumento do número de métodos e da amplitude dos mesmos ao dispor destas instituições. O objectivo é chegar a mais lados e com mais formas e métodos diferentes de fazer as coisas; isto é, massacrar mais e durante mais tempo os potenciais adquirentes de crédito.
(2) A segunda foi pela crescente sofisticação dos métodos recorrendo à análise dos dados, incluindo análises aos dados e registos de contas bancárias e registos criminais de mais de 100 milhões de americanos. Esta mesma sofisticação depois estendeu-se à Europa; embora as leis na Europa sejam mais restritivas nestes aspectos, por enquanto…
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O objectivo é criar perfis detalhados das vidas financeiras das pessoas.
Essa informação ( os perfis) foi também usada de outra forma.
Foi vendida e revendida pelas instituições financeiras entre si, criando “pistas de marketing futuro a aplicar a consumidores” que pareçam ser apetecíveis alvos de crédito. Casas de corretagem financeiras, bancos comerciais e bancos de investimento imobiliário ou de crédito competem depois entre si pelos consumidores não “vigiados” e pelos que já foram identificados.
Após (1) obtenção desta informação (os perfis) e (2) a análise de todos estes (dos perfis) potenciais clientes, é (3) definido um padrão – um perfil do cliente – que depois, é (4) alvo de um estudo que visa oferecer uma “oferta customizada” , (5) feita e criada especificamente à medida, como se um alfaiate financeiro se tratasse, que produz o (6) fato financeiro “único” aplicável aquele “potencial cliente”.
O exemplo acima do First Premier Bank é emblemático disto.
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A técnica seguinte e o passo seguinte a desenvolver é o da venda propriamente dita do produto “customizado” para o cliente. A “acção concreta” a desenvolver.
(A) Cartas de marketing atraente aterram nas caixas de correio dos norte americanos, ou (B) funcionários do telemarketing visitam os telefones dos norte americanos.
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Adenda:
Ver Dissidente -x – Telemarketing em Portugal.
Ver “Lista robinson” – sobre como evitar uma parte do telemarketing em Portugal
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Para complementar as simples cartas e as chamadas telefónicas é necessário escolher a (C) “altura psicologicamente mais conveniente” para “martelar publicitariamente a cabeça do cliente”
Como tal, estas técnicas agressivas de publicidade são também potenciadas pela “altura” em que são “activadas”. Precedem sempre a melhor “altura do mercado” para se incentivar o consumidor para dar o “próximo passo” na sua vida.
E ocorrem porque nos EUA, existem poucas ou nenhumas restrições à venda de informações pessoais.
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Nos EUA existem negócios de informação.
Mais propriamente, empresas que se dedicam ao negócio da busca e análise de informação pessoal, financeira ou outra, e que, posteriormente vendem a bancos e empresas de concessão de crédito ou a quem queira comprar e pague por isso.
Estas “pistas de marketing” amontoadas por estas empresas em bases de dados custam muito pouco a obter – uns poucos cêntimos por lar de família.
O custo de fazer estes perfis é muito baixo e arranjar esta informação custa muito pouco.
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Esta informação depois de tratada é colocada em listas cheias de perfis de consumo dos mais variados clientes.
São as chamadas “Trigger lists”/ listas de activação. A industria troca entre si (isto é, vendem uns aos outros) as suas listas de consumidores que pediram crédito; a uma outra instituição que a queira obter.
Isto acontece porque a informação pessoal foi transformada num “Marketplace” – “um mercado de compra e venda”. Os dados pessoais de terceiros são produtos de compra e venda.
Acaso sejam criticadas, as companhias que recolhem e vendem estes dados afirmam que apenas estão a (1)”fornecer um serviços que as pessoas querem”, (2) “a dar “escolha ao consumidor”.
No entanto, como é óbvio, esta situação faz com que os bancos e empresas que concedem crédito estejam claramente em vantagem negocial perante os seus clientes.
Como aliás se pode verificar, no sitio Americans for Fairness in lending/ “Justiça na concessão de crédito”, um sitio de activistas onde se exige regulamentação a sério para a concessão de crédito e penalidades relativamente à informação pessoal e financeira das pessoas.
Mesmo na situação em que o adquirente e consumidor de crédito tenha alguns conhecimentos do assunto ou seja um consumidor mais sofisticado, aí já será bombardeado com solicitações publicitárias de outro tipo.
Por exemplo, visando fazê-lo mudar da sua actual taxa de juro fixa e mais favorável, para uma outra de tipo variável, com taxas de juro mais altas e pagamentos feitos através de cartões de crédito, criando evidentemente falsas vantagens comerciais e publicitando isso em quantidades industriais.
O pormenor interessante aqui é que devido ao facto de nenhuma regulamentação existir e a informação circular livremente, este tipo de consumidores mais “defendidos” recebe cartas publicitárias onde vem detalhadamente expostas quais as taxas de juro que paga ao banco onde tem a sua hipoteca ou pedido de crédito.
Uma entidade exterior a este processo que – teoricamente- nada devia saber do balanço financeiro pessoal da pessoa “X” sabe a situação financeira dessa pessoa.
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Sabe tudo isso porque essa informação pode ser obtida através de entidades como a “Equifax”, a “Experian”, e a “TransUnion“.
Nota 1: Isto é uma prática “Não recente”. A Equifax já existe há mais de 100 anos a recolher informação financeira e historial dos norte americanos.
Nota 2: Este é também o tipo de sociedade vigiada que se quer exportar para o resto do mundo utilizando a palavra “liberdade” como argumento ideológico – publicitário para o fazer. É, apesar de tudo, regulada através do Fair Credit Reporting Act, um simpático PDF de 86 páginas. Ligação Wikipedia AQUI
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Contudo, na ultima década, o panorama mudou.
A Informação “não regulamentada” ou “não regulada” passou também a ser oferecida (vendida) por entidades como a “Equifax”.
Antes desta “mudança de paradigma, era oferecido (vendido):
- nome
- morada
- numero da segurança social
Na ultima década foram acrescentados dados demográficos de outro tipo ( bastante mais pessoal).
- Estado conjugal;
- Numero de nascimentos na família
- currículo educacional
- tipo de carro que possuem
- serviço que televisão por cabo que aderiram
- revista que compram e lêem( por serem feitas por assinatura…)
O objectivo disto é o de categorizar as pessoas em grupo. De atribuir um determinado conjunto de características a um grupo. As bases de dados são construídas e feitas” de acordo com estes tópicos.
Exemplos:
– Uma base de dados que contenha (1) lares que façam à volta dos 35 mil dólares/ano, e (2) educação de nível secundário, (3) algumas crianças, (4) profissões de trabalhos manuais ou braçais, e (5) uma casa de valor baixo.
– Uma outra base de dados será, (1) pessoas com rendimentos à volta dos 80 mil dólares por ano, (2) que tenham filhos ou netos, (3) profissões de trabalhos intelectuais e (4) alto nível de escolaridade.
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Para criar um “perfil de consumo” as agências de concessão de crédito e os bancos compram a empresas como a Equifax estes dados.
Após o qual, e sendo os “dados trabalhados”; venderem ao grupo demográfico escolhido, o crédito.
- mesmo que o grupo demográfico escolhido não tenha hipóteses de o pagar;
- ou tendo essas hipóteses, foi-lhe mesmo assim vendido mais crédito do que deveria ter sido.
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(A) Também existem (e continuam a ser aplicadas) técnicas para vender crédito baseadas na estimativa futura de quem serão as pessoas num determinado grupo demográfico que irão necessitar de crédito no futuro, mesmo que essas pessoas ainda – elas próprias – não o saibam.
(B) Outra técnica e uma das maneiras de ver isto – de adquirir perfis de crédito – é analisar à reacção de potenciais clientes quando recebem uma carta prometendo a concessão de crédito.
Duas hipóteses
(1) O cliente rejeita e deita para o lixo;
(2) ou o cliente responde querendo saber informações?
Mesmo que não esteja interessado, o simples facto de responder é identificado pela companhia que concede o crédito como existindo ali um potencial interessado.
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Quando a pessoa responde a questionários sobre crédito, os questionários que preencheu, são, nos EUA, usados e aproveitados, mesmo que a pessoa não tenha pedido crédito.
São reunidos e organizados como informação para os bancos que aplicam a informação daí derivada em modelos estatísticos de análise.
Modelos esses que são usados para definir a “próxima vaga de ofertas de crédito a conceder aqueles clientes”.
Sem dar por isso e julgando controlar a situação, as pessoas, os norte americanos, são arrastados para um mundo desconhecido onde nada controlam e onde em tudo são vigiados.
Técnicas avançadas de criação de perfis de consumo e de consumidores, como a que se pode ver aqui ao lado da Equifax, são criadas, e desenvolvidas sendo cada vez mais complexas e sofisticadas.
O ideal é identificar os perfis de consumo, mas aqui há uma diferença.
Já não só os simples perfis de consumo, mas sim a “propensão a consumir” nos próximos 90 dias.
Para assim a empresa ( banco /casa de crédito) se “antecipar” e chegar a este potencial cliente cheio de propensão, primeiro.
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Os norte americanos são assim cercados e induzidos através de (1) software complexo e sofisticado, (2) cartas e (3) operadores de telemarketing sempre a vigiá-los em busca da altura em que poderão identificar a “propensão a surgir” para o consumo.
Isto é vendido (“como filosofia?”) como sendo “liberdade”, embora na realidade seja um mecanismo completamente totalitário criado pelo sistema financeiro.
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As empresas como a Equifax também tem mecanismos/triggers para a concessão de crédito para hipotecas de casa. Quando o consumidor pede um empréstimo para compra de casa, os bancos contactam estas 3 empresas ( ou outras do ramo) pedindo o historial do cliente – todo o historial.
Em 2005, a Experian, começou a vender estas listas de consumidores à bancos e empresas de venda de crédito. As outras duas seguíram os passos, e os bancos depois – à vez – começavam a contactar os clientes oferecendo as suas soluções.
Uma das principais empresas que fazia telemarketing “preemptivo” deste tipo era a Vision Marketing services.
Ou seja, era o “aríete” que abria o caminho através do telemarketing para a posterior venda,após se ter descoberto a “propensão para o consumo nos próximos 90 dias”.
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O cliente ficava muito espantado por lhe aparecer alguém a saber exactamente o que ele queria.
Mas isto tornou-se ainda mais complexo e pior do que apenas ser a (1) simples invasão de privacidade ou o (2) uso indevido de dados pessoais.
Os mecanismos de prevenção das necessidades de crédito/os triggers, levaram à identificação de pessoas desesperadas.
E estas pessoas desesperadas foram bombardeadas com campanhas de marketing agressivo, com produtos/casas e ofertas demasiado boas para serem recusadas e que depois se viriam a revelar um pesadelo.
Quando eventualmente criticadas por fazerem práticas predatórias, as empresas de coleccionismo de dados e os bancos e empresas de concessão de crédito ou as empresas que criam os perfis e as bases de dados utilizam uma metáfora comparativa.
Afirmam que desempenham o mesmo papel que um doente que peça uma segunda opinião a um segundo médico sobre a doença que tem. Um das companhias principais neste “negócio” é a Datawarehouse Corporation de Boca Raton, Flórida.