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CRISE FINANCEIRA AMERICANA – AS RAZÕES.
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A lista completa de artigos relacionados com este assunto pode ser encontrada na página da barra lateral ” Z – Crise financeira norte americana”
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O inicio.
– A bolha especulativa – como surgiu a bolha do imobiliário nos EUA e como ela rebentou nos mercados accionistas.
No inicio dos anos 90 o mercado bolsista americano entrou em ebulição. Começou a subir e isso, por sua vez, originou um aumento dos negócios (e novas subidas), devido às novas empresas de tecnologia e novos tipos de empresa potencialmente muito lucrativos que passaram a estar cotadas em Bolsa.
Novas empresas de computadores, e empresas da área Internet (as chamadas Dot.com) eram as “novas estrelas”. Tal originou uma subida explosiva nas cotações das acções, misturada com especulação, novos investimentos, geração de novos negócios, expectativas altas…etc.
Especialmente desde 1996 (pelo meio com o crash de 1997, para voltar a ganhar balanço…) até ao ano 2000 o mercado de acções subiu imenso. Em Março/Abril 2000 rebentou a bolha, e o mercado teve uma queda enorme.
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A queda do mercado bolsista gerou o medo dos agentes económicos americanos e na parte política; da possibilidade do surgimento de uma enorme recessão ou crise económica.
Querendo evitar a recessão e “ajudar” os interesses financeiros/políticos americanos, Alan Greenspan, o então Presidente da Reserva Federal (o banco central), de acordo com o poder político (Bush), decidiu reduzir as taxas de juro (baixou o preço do dinheiro). Fê-lo simultaneamente de duas maneiras: (1) descendo-as rapidamente e (2) descendo-as muito.
- Foi a mais rápida descida de taxas de juro nos EUA desde sempre.
Quando se descem taxas de juro está-se a indicar que o preço do dinheiro é mais baixo. Está-se a indicar aos consumidores que é possível pedir dinheiro a bancos ou instituições de crédito em maiores quantidades ou, não o podendo fazer antes da descida, passa a ser possível – agora – fazê-lo.
E, subitamente, nos EUA, foi tornado possível que quase toda a gente pudesse pedir empréstimos pagando pelos mesmos, taxas ridiculamente baixas.
O efeito desejado foi obtido e vendo a oportunidade milhões de pessoas foram pedir dinheiro aos bancos para investir.
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Estes novos consumidores, dotados de capital, olharam ao redor em busca de investimentos. Verificaram que não podiam investir na Bolsa de valores – esta tinha caído. Então começaram a investir na compra de casas. O produto substituto.
Isto aconteceu entre 2002 a 2006. Originou que, de repente, o mercado de construção e arrendamento norte americano tivesse uma súbita explosão de procura – uma bolha de consumo de casas (foi a forma como o governo americano e os interesses económicos tentaram resolver as perdas que tinham acontecido no mercado de acções em 2000 ).
Como o volume de dinheiro disponível estava estava noutro mercado diferente do accionista, os bancos e casas de credito “entraram” em força e começaram a emprestar dinheiro para compra de casas em grandes quantidades.
Quando acontece uma explosão descontrolada de pedidos de empréstimo isso faz com que o valor daquilo que se compra tenha tendência a aumentar. O que significa que, também, se pode rapidamente vender esta propriedade que se comprou por preço superior. Origina também uma apetência do consumidor por comprar mais coisas e mais rapidamente em busca do lucro imediato.
O preço de subida torna-se o seu próprio mecanismo de subida – até parar brutalmente.
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Dois tipos de corrupção motivaram o rebentamento desta bolha especulativa no mercado imobiliário.
- A primeira forma de corrupção foi a seguinte.
Um banco ( ou entidade financeira que concedeu o empréstimo) faz uma hipoteca de uma casa a um cliente. Empresta-lhe dinheiro para que este compre. Até aqui, tudo normal.
Uma qualquer entidade financeira que fez isto, viu aqui uma hipótese.
Concluiu que podia vender o “papel” que garante que aquele que pede o empréstimo o irá pagar. Concluiu que poderia vender o seu direito de cobrar às pessoas a quem emprestou (a garantia real que o banco detém para depois forçar o cumprimento da obrigação) a uma outra entidade financeira que estivesse disposta a comprar.
O cheiro a ganancia espalhou a ideia e bancos e correctores de acções por toda a América viram nisto uma enorme possibilidade de fazer …… muito mais dinheiro. Começaram a comprar estes direitos/estas hipotecas e após comprarem, juntaram-nas em “maços”/bundles de hipotecas.
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A partir desses “maços emitiram “acções de bolsa”. Sendo o valor ou o activo financeiro destas acções, o direito a receber uma parte em dinheiro daquelas hipotecas/pedidos de empréstimo.
As pessoas ou empresas que comprassem estas “acções”, tinham comprado o direito a receberem uma parte dos pagamentos que seriam feitos – no futuro – pelas pessoas que tinham comprado a casa e estariam durante 10/20 /30 anos a pagar a casa.
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Para tornar isto ainda mais doido, louco, confuso e irresponsável os bancos mais pequenos/locais venderam os seus “maços” pelo valor “100” a bancos regionais. Estes, por sua vez, venderam a bancos nacionais. pelo valor “200”. E os bancos nacionais venderam entre si por “300” ou por “1000” (o que fosse) e também venderam ao estrangeiro.
Para este sistema funcionar sem problemas era necessário convencer os investidores – primeiro os americanos, depois os mundiais – que este sistema tinha garantia e era seguro.
Se os investidores exteriores a este processo pensassem ou percebessem, por um breve momento, que isto não era seguro, nunca esses investidores comprariam e a credibilidade deste negócio terminaria antes de começar.
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Para “credibilizar” este negócio foi preciso arranjar “Credit Rating Agencies”. Agências de crédito “idóneas” que classificariam (positivamente) o grau de segurança deste negócio. (Classificariam o risco de se emprestar dinheiro…como sendo …… positivo)
Foram 3 as agências: A Moody´s, a fitch´s , a Standard and Poor.
Sistematicamente, estas três consultoras/empresas de contabilidade atribuíram ratings/classificações positivas a estes negócios.
Estas classificações não tiveram em conta a capacidade das pessoas que pediram os empréstimos de os poderem, efectivamente pagar ou terem capacidade para pagar o empréstimo.
Com todo este “movimento em acção” todos os jogadores deste jogo estavam a fazer dinheiro. Todos tinham interesse em deitar a mão ao dinheiro expectável que ai viria.
O resultado:
O que agora estamos a ver.
Por todo o mundo, os detentores destas garantias virtuais e dos papeis que certificam que o que compraram vale” X” descobrem afinal que o que compraram não vale “X” , mas sim “X” menos 1000 e que as garantias são inúteis.
O problema extravasou para o mundo inteiro, porque neste negócio, ao longo desta cadeia de vendedores e compradores, também bancos estrangeiros, e governos estrangeiros, empresas de seguros internacionais, empresas privadas compraram* acções sobre hipotecas de empréstimos de habitação
Agora são donos de garantias que nada valem.
* Compraram porque lhes foi dado a ver um negócio que oferecia uma (1) alta taxa de retorno e tinha (2)“credibilidade” certificada por prestigiadas empresas internacionais de classificação de risco.
Financeiramente, quando se tem “papeis virtuais” que não valem nada, ou valem menos 1000, fica-se engasgado.
É por isso que, penosamente, os bancos mundiais (e governos e empresas) estão a alterar a sua contabilidade. Reduzindo o valor dos seus activos…recalculando-o para baixo.
- A segunda forma de corrupção foi a seguinte:
Esta ocorre no inicio do negócio.
Uma família americana, encharcada na ideia de querer obter o “sonho americano”, quer ter uma casa própria, sem ter que continuar a pagar uma renda ao senhorio. Ambos os membros do casal trabalham, mas o que ganham não chega para pagarem o empréstimo.
Subitamente, quando estão na sua casa arrendada a ver wrestling na televisão (algures em 2003,2004,2005), aparece um(a) jovem bem vestido (da companhia “XPTO”) e diz-lhes que tem noticias maravilhosas para lhes dar. Pergunta antes, quanto é que pagam de renda? E a resposta é: 800 dólares por mês.
E o(a) jovem bem vestido declara: posso pô-los na vossa casa própria mas por apenas 600 dólares por mês, menos 200 do que pagam agora.
Milhões de famílias agarraram esta oportunidade.
É claro que as clausulas posteriores em letras miudinhas foram depois explicadas. Só 600 dólares no primeiro ano, etc, mas depois torna-se diferente dependendo da subida ou descida das taxas de juro – taxa era variável.
Mas como a maior parte das famílias não entendia estas subtilezas ou não teve instrução e conhecimentos técnicos para entender claramente estes assuntos, assinou estes contratos…
Várias famílias, imediatamente, também aproveitaram para vender a hipoteca a um outro banco diferente/maior daquele que as contactou. Que por sua vez – dentro de todo este esquema – as juntou em “maços” de outras hipotecas que esteve sempre também a comprar para obter uma segurança negocial e creditícia maior e uma capacidade negocial maior caso pretendesse vender a um banco nacional, por exemplo.
O problema:
O (a) jovem bem vestido que faz a venda desta ideia maravilhosa, ao fim de 5 minutos de estar em casa dos potenciais adquirentes do empréstimo percebia imediatamente que estas pessoas não tinham hipóteses de pagar o empréstimo que lhes estava a oferecer.
Mesmo que não tivessem nenhuma doença ou não viessem a perder o emprego nunca poderiam, no longo prazo, pagar.
Mas o(a) jovem bem vestido tinha interesse em fazer imediatamente as pessoas assinarem os contratos, porque é dessa acção que as suas comissões e ordenado dependiam.
Isto sucedeu em larga escala nos EUA, também porque a administração Bush, sistematicamente, desregulamentou e retirou a fiscalização de todos os sectores ao longo dos anos.
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Agora, as empresas que tem empréstimos para receber e acções para reembolsar, verificaram que não tinham dinheiro para pagar aos seus credores – bancos e companhias de seguros – que exigiam o dinheiro (ou garantias reais sobre o mesmo).
É por isso que a “Freddie Mac” e a “Fannie Mae”, as companhias americanas de empréstimos para aquisição de habitação foram à falência apesar de terem sensivelmente cada uma 40 biliões de dólares em activos, que mesmo assim não chegavam, mesmo que vendidos, para pagar as dívidas.
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Os principais beneficiados financeiros da “guerra” entre tubarões financeiros são:
- a empresa Bank Of America.
- a empresa JPmorgan Chase.
Ambas pertencem ao grupo Rockfeller. O mesmo grupo que em finais do século 19, era dono da Standard Oil – empresa de petróleos.
Após Março de 2008, a seguradora Bear Stearns que estava em iminência de ir à falência, foi adquirida pelo JP Morgan Chase.
Os principais perdedores financeiros da “guerra” entre tubarões financeiros são:
- Citigroup Inc – em Portugal conhecido por Citibank, com aqueles abutres que rondam nos hipermercados…
- American Express – os cartões.
- Goldman sachs – afinal ter lá o senhor António Borges, candidato a chefe do PSD não impediu isto…
- Morgan Stanley
O maior banco norte americano é o Citigroup.
Os números 2 e 3 são o Bank of America e o JP Morgan Chase.