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” A CLASSE DOMINANTE NUNCA SERÁ CAPAZ DE RESOLVER A CRISE.ELA É A CRISE!” – ROB RIEMEN

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O filósofo holandês esteve em Lisboa à conversa com o i sobre o espírito de resistência e o “eterno retorno do fascismo”
Thomas Mann e Franklin Roosevelt são dois dos homens que mais inspiram Rob Riemen, que esteve em Lisboa na semana passada a convite de Mário Soares para falar sobre o direito à resistência e para apresentar o seu último livro, “Eterno Retorno do Fascismo”. A chegada da fotojornalista ao lobby do Ritz acabou por dar o mote à conversa com o i.

A Patrícia foi uma das fotojornalistas em trabalho agredida pela polícia na greve geral de há um mês em Portugal.
Pela polícia?!

Sim. O episódio parece remeter para o “Eterno Retorno do Fascismo”…
Sim, falo disso neste livro. Estamos a lidar com o pânico da classe dominante, que se habitua ao poder para controlar a sociedade. Isso que me contas é um acto de pânico. E o interessante é que a classe dominante só entra em pânico quando perde a autoridade moral. Sem a autoridade moral, só lhe resta o poder que se transforma em violência.

O fascismo continua latente?
A minha geração cresceu convencida de que o que os nossos pais viveram nunca voltaria a acontecer na Europa. Quando vocês se livraram do fascismo nos anos 70, nos anos 90 devem ter pensado que não mais o viveriam. Mas uma geração depois, já estamos a assistir a uma espécie de regime fascista na Hungria, na Holanda o meu governo foi sequestrado pelos fascistas, pelo sr. [Geert] Wilders [do Partido da Liberdade]… Com uma nota comum a todos que é o ódio à Europa. Para Wilders, o grande inimigo era o Islão e agora são os países de alho.

Países de alho?
É o que ele chama a países como o vosso, Espanha, Polónia… A Europa tornou–se uma ameaça. Com a II Guerra Mundial aprendemos a lição de que a única saída, depois de séculos de sangue derramado, era ter uma Europa unida e agora as forças contra [essa união] estão a ganhar controlo. É o primeiro ponto.

E o segundo?
A actual classe dominante nunca será capaz de resolver a crise, porque ela é a crise! E não falo apenas da classe política, mas da educacional, da que controla os media, da financeira, etc. Não vão resolver a crise porque a sua mentalidade é extremamente limitada e controlada por uma única coisa: os seus interesses. Os políticos existem para servir os seus interesses, não o país. Na educação, a mesma coisa: quem controla as universidades está ali para favorecer empresas e o Estado. Se algo não é bom para a economia, porquê investir dinheiro?

Nos media o mesmo.
Sim. No geral, os media já não são o espelho da sociedade nem informam de facto as pessoas do que se está a passar, existem sim para vender e vender e vender.

E as consequências estão à vista.
Pois, estamos a assistir à desintegração da sociedade. Tudo é baseado na premissa de que as pessoas devem ficar mais ricas e é daqui que vem a crise financeira, daqui e deste comportamento totalmente imoral e irresponsável de um pequeno grupo de pessoas que não podia importar-se menos [com a sociedade] e sem interesse em ser responsável. Quando uma sociedade está focada na economia, na economia, na economia e na economia, perde-se a noção do que nos dá qualidade de vida. E quando somos privados dessa noção, surge um vazio.

A sociedade kitsch que refere no livro?
Sim, em que a identidade das pessoas não depende do que elas são, mas do que têm. Quando se torna tão importante ter coisas, serves um mundo comercial, porque pensas que a tua identidade está relacionada com isso. Estamos a criar seres humanos vazios que querem consumir e ter coisas e que acabam por se vestir e falar todos da mesma forma e pensar as mesmas coisas. E a classe dominante está muito mais interessada em que as pessoas liguem a isso do que ao que importa.

A classe dominante teme que as pessoas comecem a questionar tudo?
Claro que sim! Frederico Fellini, o realizador italiano, disse um dia: “Eu sei o que é o fascismo, eu vivi-o, e posso dizer- -vos que a raiz do fascismo é a estupidez. Todos temos um lado estúpido, frustrado, provinciano. Para alterar o rumo político, temos de encontrar a estupidez em nós”. Mas se as pessoas fossem um bocadinho mais espertas, não iriam para universidades estúpidas, nem veriam programas estúpidos na TV. Existe uma elite comercial e política interessada em manter as pessoas estúpidas. E isso é vendido como democracia, porque as pessoas são livres de escolher e blá blá.

Quando não é assim.
Não, não, não, não! [Bento de] Espinoza – muito obrigado a Portugal por o terem mandado para a Holanda – explicou que a essência da democracia é a liberdade, mas que a essência da liberdade não é teres o que queres; é usares o cérebro para te tornares num ser humano bem pensante. Se não for assim, se não fores crítico perante a sociedade mas também perante ti próprio, nunca serás livre, serás sempre escravo. Daí que o que estamos a viver não tenha nada a ver com democracia.

Tem a ver com quê?
Vivemos numa democracia de massa, uma mentira que abre os portões a mentirosos, demagogos, charlatães e pessoas más, como vimos no séc.XX e como vemos agora.

O retorno do fascismo é inevitável?
Vamos fazer uma pausa (risos). Acho que não podemos entregar-nos ao pessimismo. Se acharmos que estamos condenados, que não há saída, que é inevitável, mais vale bebermos champanhe (risos). A razão pela qual publiquei esta dissertação e o meu outro livro, “Nobreza de Espírito”, e pela qual dou estas palestras e entrevistas é porque a primeira coisa de que precisamos é de pôr a verdade em cima da mesa.

E como podemos fazer isso?
Primeiro, admitindo que as coisas estão a correr mal e não apenas no nível económico. Relembremos uma grande verdade do poeta Octávio Paz: “Uma crise política é sempre uma crise moral.” Quando reconhecemos a verdade nisto, percebemos que a crise financeira é também ela uma crise moral. E aí devemos questionar de que tipo de valores universais estamos a precisar e o que é que devemos ter na sociedade para confrontar isto. Aí percebemos que há coisas erradas no sistema de educação.

Por causa de quem o controla?
Porque não está interessado na pessoa que tu és, mas no tipo de profissões de que a economia precisa. Se o preço é falta de qualidade, se o preço é falta de dignidade humana, é haver tanta gente jovem sem instrumentos para lidar com a vida e para descobrir por si própria o sentido da vida ou que significado pode dar à sua vida, então criamos o “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley. Aqui surge a sociedade kitsch. E a dada altura já é segunda-feira, a festa acabou, chegou a crise financeira e as pessoas já não conseguem pagar esta sociedade e surgem políticas de ressentimento, que é o que fazem os fascistas e é o que o sr. Wilders está a fazer de forma brilhante.

Que políticas são essas?
Em vez de tentar fazer algo positivo com as preocupações das pessoas e com os problemas que existem, explora-os.

De que forma?
Usando a velha técnica do bode expiatório. “Isto é por causa do Islão, por causa dos países de alho, por causa dos polacos. Nós somos as vítimas, vocês são o inimigo.” Ou “Isto é por causa da esquerda e das artes e da cultura, os hobbies da esquerda.” Este fulano [Wilders] é contra tudo o que pode alertar as pessoas para o facto de ele ser um dos maiores mentirosos de sempre.

 

Como as artes e a cultura que referiu?
Sim. O que temos de enfrentar é: se toda a gente vai à escola, se toda a gente sabe ler, se tanta gente tem educação superior, como é que continuam a acreditar nestas porcarias sem as questionar? E porque é que tanta gente continua a achar que quando X ou Y está na televisão é importante, ou quando X ou Y é uma estrela de cinema é importante, ou quando X ou Y é banqueiro e tem dinheiro é importante? A insanidade disto… [suspiro] Se tirarmos as posições e o dinheiro a estas pessoas, o que resta? Pessoas tacanhas e mesquinhas, totalmente desinteressantes. Mas mesmo assim vivemos encantados com a ideia de que X ou Y é importante porque tem poder. É a mesma lengalenga de sempre: é pelo que têm e não pelo que são, porque eles são nada. E a educação também é sobre o que podes vir a ter e não sobre quem podes vir a ser.

Reformar o ensino seria uma solução?

Eu não sou pedagogo e quero mesmo acreditar que existe uma variedade de formas de chegar ao que penso que é essencial: que as pessoas possam viver com dignidade, que aceitem responsabilidade pelas suas vidas e que reconheçam que o que têm em comum – quer sejam da China, Índia, África ou esquimós – é que somos todos seres humanos. Sim, há homens e mulheres, homossexuais e heterossexuais, pessoas de várias cores, mas somos todos seres humanos. Não podemos aceitar fundamentalismos e ideologias e sistemas económicos como o capitalismo, mais interessados em dividir as pessoas do que em uni-las.

 

E de onde pode vir a união?
Só pode ser baseada na aceitação de que existem valores universais. A Europa é um exemplo maravilhoso disso: há esta enorme riqueza de tradições e línguas e histórias, mas continuamos a conseguir estar abertos a novas culturas e é onde pessoas vindas de qualquer parte podem tornar-se europeias. Mas isto só acontece se valorizarmos e protegermos o espírito democrático. A democracia é o único modelo aberto e o seu espírito exige que percebamos que Espinoza estava certo, que o difícil é mais interessante que o fácil, que não devemos temer coisas difíceis porque só podemos evoluir se estivermos abertos ao difícil, porque a vida é difícil. Que para lá das habilidades de que precisamos para a profissão em que somos bons, todos precisamos de filosofia, todos precisamos da arte e da literatura para nos tornarmos seres humanos maduros, para perceber o que as nossas experiências internas encerram. É para isto que existem as artes, é por isso que vais ver um bom filme e ouves boa música e lês um poema.

É por isso que a cultura está sob ataque? Aqui em Portugal o actual governo eliminou o Ministério da Cultura.
E é isso que o partido fascista está a fazer na Holanda e é o que outros estão a fazer em todo o lado. Óbvio! Quem quer matar a cultura são as pessoas mais estúpidas e vazias do mundo. Claro que é horrível para eles olharem-se ao espelho e verem “Sou apenas um anão estúpido”.

Por isso querem livrar-se da cultura?
Por isso e porque ela ajuda as pessoas a entender o que realmente importa. O medo da elite comercial é que as pessoas comecem a pensar. Porque é que os regimes fascistas querem controlar o mundo da cultura ou livrar-se dele por completo? Porque o poeta é a pessoa mais perigosa que existe para eles. Provavelmente mais perigoso que o filósofo. Quando usam o argumento de que a cultura não é importante e de que a economia não precisa da cultura, é mentira! Isso são as tais políticas de ressentimento, um grande instrumento precisamente porque eles nos querem estúpidos.

E alimentam essa estupidez.
Claro. A geração mais jovem tem de questionar as elites de poder. Sim, vocês precisam de emprego, mas, acima de tudo, precisam de qualidade de vida. E essa qualidade está relacionada com várias coisas: com a qualidade da pessoa que amas e com a qualidade dos teus amigos, com o que podes fazer que é importante e significativo para ti. Quando vês que te estão a tirar isso, percebes que não estão no poder para te servir, querem é que a sociedade os sirva.

A democracia parece estar limitada a ir às urnas de x em x anos. O que é afinal uma verdadeira democracia?
Quando Sócrates foi levado a julgamento disse “Vocês já não estão interessados na verdade” e isso continua a ser assim. É por isso que chamei ao meu primeiro livro “Nobreza de Espírito”, porque para a teres não precisas de dinheiro, nem de graus académicos. Nobreza de espírito é a dignidade de vida a que todos podem ter acesso e é a essência da democracia. O espírito democrático é mais do que ir às urnas e se eles [políticos eleitos] não se baseiam nessa nobreza, os sistemas colapsam, como estão a colapsar. Foi Platão que disse que “a democracia pode cometer suicídio” e é assim que começo o “Eterno Retorno do Fascismo”. A grande surpresa para Ortega y Gasset foi que, livres do poder da Igreja e da tirania e aristocracia, finalmente havia democracia e o que fazemos? Estamos a matá-la! Isso aconteceu em Espanha, em Portugal, em Itália, na Alemanha, esteve perto de acontecer em França… Há um livro lindíssimo que Sinclair Lewis escreveu, “Não pode acontecer aqui”, mas a verdade é que pode facilmente acontecer nos EUA. O livro de Philip Roth, “A Conspiração contra a América”, prova-o.

Em 2009 escreveu uma carta a Obama, então presidente eleito. Quatro anos depois, que avaliação faz do mandato?
Na altura era a favor de Hillary Clinton.

Porquê?
Porque acho que ela tem instintos políticos muito melhores e mais experiência política que Obama. Estava na América no dia em que ele foi eleito, a 4 de Novembro de 2008, e foi um momento histórico, mas teria sido igualmente histórico se a América tivesse escolhido uma mulher. O problema com Obama é que não é um grande presidente. [risos]

Em que sentido?
Tornou-se demasiado vulnerável aos interesses infestados. Teve uma equipa económica com pessoas que vieram todas de Wall Street, como Larry Summers e Timothy Geithner. O poder do dinheiro no sistema político americano é assustador! E ele não conseguiu escapar a isso. E depois a política é uma arte e demasiados intelectuais pensam que, por terem lido sobre política, sabem de política. Não é verdade. A política tem a ver com pequenos passos, grandes passos são impossíveis numa democracia. Mas vamos esperar e rezar para que Obama seja reeleito. Senão vamos ter um problema, todos nós. E já agora, que no segundo mandato ele consiga fazer mais, tem esse dever.

Obama legalizou em Janeiro a detenção por tempo indefinido e sem julgamento de qualquer suspeito de ligação a redes terroristas. O que pensa disso?
Se lhe perguntasse sobre isso, ele dir-lhe–ia: “Aqui que ninguém nos ouve, não tive alternativa”. O problema sério com que estamos a lidar tem a ver com o poder dos media. Eles querem vender e só podem vender se tiverem notícias de última hora constantes. Têm de alimentar este monstro chamado público. Tudo tem de ser a curto prazo. Na política é o mesmo, é sobre o dia seguinte. Onde está a elite política que quer pensar à frente, a um ou dois anos? Onde estão os media que expliquem às pessoas a importância do longo prazo? Na economia é o mesmo. Tudo tem de ser agora. Perdemos a noção de tempo. No mundo político, as pessoas deviam poder dizer: “Não sei a resposta a essa questão. Dê-me uma semana e falarei consigo.” Mas se um político disser “Não sei”, é morto. Vivemos a política do instante, onde as questões estruturais são esquecidas. Veja, estou cá [em Lisboa] a convite de Mário Soares. O que quer que se pense sobre ele ou sobre Mitterrand, etc, essa geração viveu a guerra, experienciou a vida, leu livros. Cometeram erros? Claro que sim, mas é uma classe completamente diferente de tantos actuais políticos, jovens, sem experiência, que não sabem nada. Nada! Se lhes perguntarmos que livros leram, eles quase têm orgulho de não ler!

O que pensa dos movimentos como os Occupy ou o 15M de Espanha?
É extremamente esperançoso que estejamos a livrar-nos da passividade. Finalmente temos uma nesga de ar, mas precisamos de um próximo passo, protestar não basta. A História mostra-nos que as mudanças vêm sempre de um de três grupos: mulheres, jovens ou minorias. Acho que agora vai ter de vir dos jovens. Se isto continuar por mais três ou cinco anos, o seu futuro estará arruinado, não haverá emprego, casas, segurança social, nada. É tempo de reconhecer isto, de o dizer publicamente, de parar e depois avançar. Se os jovens pararem os jornais, os jornais acabam. Se os jovens decidirem que não vão à universidade, ela fecha.

Mas parece não haver união para isso.
É preciso solidariedade! Será que é preciso ir ver o Batman outra vez? Qual é o papel do Joker? É dividir as pessoas!

Os actuais políticos são Jokers?
No mínimo não estão a fazer o que deviam. Não estão a dizer a verdade. O perfeito disparate de que todas as nações europeias não podem ter um défice superior a 3% é pura estupidez económica. Temos de investir no futuro. Como? Investindo numa educação como deve ser, que garanta seres humanos bem pensantes e não apenas os interesses da economia. Investindo na qualidade dos media… O dinheiro que demos aos bancos é milhões de vezes superior ao que é preciso para as artes, a cultura, a educação…

A WikiLeaks revelou que a CIA espiou o 15M e que divulgou um documento onde diz ser preciso evitar que destes movimentos “surjam novas ideologias e líderes”.
Uau! Isso prova o que defendo! Não sabia disso mas é muito interessante. Veja, porque é que temos democracias? Porque percebemos que o poder é um animal estranho para todos os que o detêm e que ninguém é imune a ele. Se dermos poder às pessoas elas começam a comportar-se como pessoas poderosas. Philip Zimbardo levou a cabo esta experiência, o Efeito Lucifer, na qual uns fingiam ser prisioneiros e outros guardas. A experiência teve de ser parada, porque os “prisioneiros” começaram a perder a sua individualidade e a portar-se como escravos e os “guardas” tornaram-se violentos e sádicos. De repente percebemos: “Uau, é isto a natureza humana, é disto que somos capazes.” Lição aprendida: há que controlar o poder, venha ele de onde vier.

A sociedade é que pode controlá-lo?
Sim, todos têm de aceitar uma certa responsabilidade. Os intelectuais têm de se manter afastados do poder, porque só assim podem dizer a verdade. Os media também, porque sem sabermos os factos a democracia não sobrevive. Se esses mundos de poder não tiverem total controlo, as pessoas têm tentações. Quem tem dinheiro quer mais dinheiro, quem tem poder quer mais poder. E há que garantir a distribuição equilibrada destas coisas na sociedade.

Só quando soube que vinha entrevistá-lo é que li sobre o Instituut Nexus.
Está perdoada, não somos famosos. (risos)

Porque é que decidiu criá-lo?
Quando estava na universidade percebi que já não é o sítio onde podemos adquirir conhecimento e onde há conversas intelectuais, essenciais à evolução. Na altura conheci um judeu que dedicou tudo – tempo, energia, dinheiro – a resgatar o que Hitler queria destruir: a cultura europeia. Abriu uma editora, uma biblioteca, uma livraria. Tornou-se meu professor e começámos um jornal, o Nexus, e depois da primeira edição percebemos que tínhamos de levar a ideia a outro nível e criar uma infraestrutura aberta onde intelectuais de todo o mundo pudessem discordar uns dos outros e falar de tópicos importantes. Qualquer pessoa pode participar pagando 10 euros. Estamos sempre esgotados e temos pessoas a vir de todo o mundo.

Qual será a próxima conferência?
É a 2 de Dezembro, sobre “Como mudar o mundo”. O Slavoj Zizek vai lá estar, um deputado britânico conservador também, [o escritor] Alessandro Baricco. E no próximo ano vamos abrir um café com uma livraria europeia e um salão cultural, num antigo teatro de Amesterdão. Se tivesse dinheiro gastava-o a abrir um assim em cada cidade, arranjava orquestras… Temos de reconstruir as infraestruturas culturais, precisamos disso com urgência. E temos de ser nós porque as elites no poder não o vão fazer.

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Rob Riemen, entrevista da comunicação social, dia 23 de Abril de 2012.

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PRODUTO INTERNO BRUTO POR PESSOA E POR REGIÂO: OU COMO PORTUGAL ESTÁ A SER OBRIGADO A FICAR PIOR

O produto interno bruto por pessoa ( per capita) em 2008 era de 16.200 euros em Portugal.

O maior era o do Luxemburgo, de 80.800 e o pior era o da Bulgária, 4.600.

Portugal estava situado na parte mais baixa da tabela.

É sobre este país com uma economia que é das mais fracas da Europa , que se vai aplicar austeridade, isto é, baixar ainda mais o produto por pessoa.

As médias são aquilo que são: um retrato enganador da realidade; mas o que se nota é que a desigualdade é extrema e vai ainda ser mais extrema – se ninguém se incomodar com isto.

Se a nível de países europeus, é assim, a nível de regiões verifica-se uma concentração de prosperidade no centro da Europa e no norte.

Nada disto é por acaso.

Inglaterra, Holanda, Alemanha oeste, suíça e o norte da Itália são as regiões mais ricas – o centro.

É este centro mais rico que está a esvaziar as periferias e que está a recusar-se a assumir os problemas da periferias.

A média nacional por região apenas demonstra que a região de Lisboa é pobre quando comparada com outras zonas da Europa.

Sobre o país que tem como capital Lisboa pretende-se inserir mais austeridade, ou seja, quedas destas médias.

Fonte

FMI PREVÊ CRISE DE CARTÕES DE CRÉDITO NA EUROPA(INGLATERRA)

Fonte: Jornal Público de 27 de Julho de 2009 – notícia completa.

Ø

A subida do desemprego estará na origem de uma nova crise. A crise dos cartões de crédito, que provocou perdas de milhares de milhões de dólares nos Estados Unidos, está a estender-se à Europa. E o FMI prevê o aumento do crédito malparado dos consumidores.

Segundo um relatório do Fundo Monetário Internacional hoje citado pelo Financial Times, cerca de 14 por cento dos 1,9 mil milhões de dólares (1,3 mi milhões de euros) de dívidas dos consumidores norte-americanos não poderá ser recuperado pelos bancos credores.

Para a Europa, o FMI estima que os bancos não poderão também recuperar 7 por cento dos 2,4 mil milhões de dólares (1,6 mil milhões de euros) de dívidas dos consumidores, parte importante das quais corresponde ao Reino Unido, o país europeu com maior número de titulares de cartões de crédito.

A organização britânica National Debitline afirma ter recebido em Maio 41 mil chamadas de pessoas preocupadas com a impossibilidade de pagarem o que devem, ou seja, o dobro das 20 mil recebidas no mesmo mês do ano passado.

Nos Estados Unidos, o crédito malparado dos cartões de plástico aumentou drasticamente nos últimos meses devido ao desemprego e à mais severa desaceleração económica desde a Grande Depressão.

Alguns bancos, como o Citigroup, Banco da América, JPMorgan Chase e Wells Fargo, além do American Express, sofreram até agora perdas de milhares de milhões nas suas carteiras de cartões de crédito e sabem que irão aumentar.

No Reino Unido, os analistas esperam que o crédito malparado acompanhe a taxa de desemprego e o aumento das falências dos particulares, que totalizaram 29.774 no primeiro trimestre do ano.

O Barclays, que tem 11,7 milhões de clientes no serviço Barclaycard, anunciou em Maio que o crédito malparado aumentou no primeiro trimestre do ano, um fenómeno que também afectou o Lloyds Banking Group, reflectindo as condições económicas adversas e o aumento do desemprego

  • Sobre a armadilha dos cartões de crédito o assunto já tinha sido falado aqui em 06-11-2008.
  • Sobre o Finantial times, link aqui
  • Sobre geografia o novo mapa da Europa feito pelo público diz que a Europa é a Inglaterra.

E a guerra económica da elite financeira anglo americana continua, desta vez via imprensa, querendo convencer as pessoas que a “Europa” está com um problema de crédito superior ao dos EUA e da Inglaterra.

Written by dissidentex

27/07/2009 at 13:07

DOHA ROUND: TARIFAS SOBRE A AGRICULTURA E OS SERVIÇOS VÃO BAIXAR

Fonte: MercoPress

DOHA ROUND

  • As negociações pararam porque a Europa não pode aceitar destruir a sua agricultura.

“We are committed to seek an ambitious and balanced conclusion to the Doha Development Round in 2010, consistent with its mandate, building on the progress already made, including with regard to modalities”, said the joint declaration.

“We are committed to advance reform processes in international organisations, including the UN, to reflect contemporary reality and challenges thus enhancing their relevance, legitimacy and efficiency”.

G8 countries also agreed to some of the major demands made by the G5 countries on tackling the present global economic crisis. “

“We have acted more forcefully and cooperated more fully than in any earlier economic crisis. We are fully committed to implementing rapidly the Washington and the London summit decisions, including those to strengthen financial regulation and reform International Financial Institutions (IFIs), and to provide them with adequate resources”.

  • Ficar tudo na mesma parecendo que não.

A strong commitment towards reforms in international financial and other institutions was also included. It said that all participating countries would refrain from competitive devaluations of currencies and promote a stable and well-functioning international monetary system.

  • Manutenção dos actuais problemas.

In a statement issued before the MEF meeting, the EU said that concluding the Doha Round was a question of ”political credibility” and represented ”the best remedy” to protectionist temptations.

  • Uma posição incompreensível da Europa.

PORTUGAL PERIFÉRICO

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Um das coisas mais comuns que se aponta à construção europeia é a necessidade que esta ideia  gerou, de definir que a (1) “harmonia territorial” e a (2) “coesão do território” seriam alguns dos valores essenciais para o desenvolvimento europeu, a par de conceitos mais conhecidos como a  democracia, os direitos humanos,etc.

Para tal há que pensar em termos estratégico a nível da Europa, ou até de Portugal.

Como tal é necessário que os decisores políticos pensem nas forças de mudança futuras, que irão influir no espaço e na organização do espaço.

Isto porque as características de um dado território apenas mudam, de forma lenta e continuada, quando bastante tempo passou.

É pois fundamental acelerar ou planear em antecipação. Caso se consiga fazê-lo.

Uma das formas de o fazer é pensar na área de comunicação, encarando como tal nessa área, os transportes – a capacidade de mobilidade de uma dada população num dado sitio ou zona.

Ø

A luta que existe entre decisores divide-se em duas partes:

(A) os que apoiam uma mais forte competitividade global da economia (orientação para a competitividade)

(B) os que apoiam a promoção de equidade e justiça, especialmente num nível local e regional  e  dentro da união europeia isto é ainda mais urgente para países como Portugal que são “periferia”. (orientação para a coesão)

Ø

Para Portugal, é fundamental que seja a ideia da coesão a vingar.(Embora não resolva tudo)

O nosso interesse nacional depende disso. O nosso interesse nacional depende da aplicação de uma lógica orientada para a coesão, sem a qual não conseguiremos sobreviver.

Não temos tamanho, nem escala, para enfrentar uma lógica modelar orientada para uma extrema competitividade europeia.

Não podemos fazer isto que se mostra abaixo:

SARKOZY - GRANDE PARIS

Não temos tamanho nem poder económico para fazer isto. É uma realidade concreta, que discursos bonitos e voluntaristas não conseguem apagar.

Estamos na periferia, afastados do centro europeu.

Num mundo em que se sabe que o numero de empregos a criar – no futuro – será menor, é da natureza das coisas que uma área que faz parte do centro da Europa, os consiga atrair mais facilmente do que uma área que não faz.

É da natureza das coisas que uma área do centro da Europa – melhorada – ainda atrairá mais facilmente mais empregos do que uma periferia.

A “escala” das divergência entre regiões europeias ( o centro e as periferias) terá assim tendência em alargar-se enormemente – mais ainda do que já está.

Um país como Portugal fica “exaurido” de recursos só para pagar um TGV, um aeroporto, uma ponte, que são pequenos empreendimentos, quando comparados com este em França, mas também com outros como os jogos olímpicos de Londres de 2012 ou as constantes requalificações feitas pela Alemanha no seu território.

PRODUTO INTERNO BRUTO EUROPEU ACTUAL

Este é um mapa (não vou indicar a fonte) do produto interno bruto europeu no ano 2000. Quanto mais carregada for a cor, mais alto é o produto interno bruto da área.

Observe-se a “força” (o poder bruto) do centro da Europa (e a correspondente capacidade de atracção de empregos e recursos…)

Repare-se na periferia que dá pelo nome de Portugal.

Embora o produto interno bruto seja apenas um dos critérios de análise em relação a uma sociedade, isto prova, no entanto, como estamos a jogar um jogo, o qual nunca iremos ter hipótese de vencer.

Partimos em larga desvantagem. Nunca a recuperaremos se jogarmos o jogo pelas regras de outros.

É por isso que a França de Sarkozy pode lançar obras gigantes. Tem o seu próprio orçamento de Estado e a sua “enorme escala” e tem países mais pequenos (como Portugal) a ajudarem com contratos para construção de infraestruturas que – após terem sido feitas – continuarão a colocar Portugal numa periferia, onde já está e da qual nunca sairá.

E cito uma parte do post inaugural deste blog:

Como povo, somos vitimas de uma mistificação nacional.

Foi “decidido” internacionalmente; com a ajuda do sentimento de inferioridade, desejo de agradar, recompensas em bens materiais e prestígio, e temor reverencial dos políticos portugueses – da actual classe política – que deveria Portugal aceitar ser pobre, ser um país de “serviços”, um país de turismo, um país de mão de obra apenas qualificada para esses sectores.

TRATADO EUROPEU e a camuflagem da propaganda e da caça ao voto…

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Artigo do blog Watchdog de 27 de março de 2008.

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Caça ao voto, a quanto obrigas…
Para quem ainda nem há quinze dias afirmou convictamente que baixar os impostos seria uma “leviandade e irresponsabilidade”, depois ontem anunciou a medida de baixar a taxa do IVA de 21% para 20% já a partir de Julho, que em termos práticos não se sentirá na carteira do consumidor, e ainda vai mais além, deixando no ar a hipótese de em 2009 baixar novamente os impostos… Ora digam lá se Sócrates num curto espaço temporal não mudou a direcção do seu azimute, talvez querendo testar a sua popularidade junto do eleitorado com esta medida (com pouca substância, repito) e em nome da caça ao voto?

PORTUGAL A PERDER - 3 ANOS DE OPOSIÇÃO SOCIALISTA AO GOVERNO SOCIALISTA

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“Somos contra o divórcio na hora. Não é compatível com o contrato do casamento, que não é propriamente um contrato que se rescinda sem mais nem menos

Há cerca de um ano atrás, era assim que Ricardo Rodrigues, deputado do grupo parlamentar do PS, justificava a não adesão do seu partido à proposta de instituição do divórcio a pedido de um dos cônjuges apresentada pelo Bloco de Esquerda. Segundo a proposta então apresentada por este partido, ao invés do sistema actualmente vigente que faz assentar o pedido de divórcio na necessária invocação de uma ruptura de um qualquer dever conjugal, o divórcio passaria a ser possível apenas e só pelo desejo de um dos cônjuges em não mais continuar uma determinada relação.

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MSD no Devaneios Desintéricos.
500 000 NOVOS COMPUTADORES PARA DIVORCIADOS E NOTÁRIOS

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Dia 23 de Abril o tratado europeu será ratificado. Notícia Jornal Público.

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Os cidadãos não têm nada que ver com isto
A Assembleia da República vai aprovar o Tratado de Lisboa no próximo dia 23 de Abril, decidiu ontem a conferência de líderes parlamentares.
O primeiro-ministro anunciou em Dezembro que não iria propor um referendo, mas sim a ratificação no Parlamento.
Confrontado pela oposição sobre a promessa de fazer um referendo, Sócrates argumentou que o seu compromisso eleitoral era fazer a consulta ao falhado Tratado Constitucional e não ao actual Tratado de Lisboa.» (Público, 26/3)

LISBON TREATY FOR DUMMIES

Quietinhos. Sereis europeus, quer queiram, quer não. E sem debate nacional ou referendos, que isso é para os europeus crescidos e ricos. Para vós, duas horas de debate parlamentar com decisão tomada à partida. Assim é que é bonito. Deveis aprender a trautear o «hino da alegria» e a chorar perante a bandeira das doze estrelas em fundo azul. A nossa pátria é a Europa, e quem disser o contrário não é bom chefe de família.

Blog esquerda Republicana.

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Até ao dia 23 de Abril teremos caça ao voto e teremos encharcamento noticioso. A táctica é encharcar os microfones de palavras…

Enquanto um Tratado Europeu é ratificado de mansinho…