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FULL SPECTRUM DOMINANCE 3
Começou no dia 29 de Janeiro de 2009, a ser transmitida em Portugal, a nova série de 24 – salvo erro, a sétima temporada sobre as aventuras e desventuras do agente secreto Jack Bauer.
Bauer está na lista negra, foi ostracizado devido ao que tinha feito nas séries anteriores; as suas acções como agente.
E surge uma nova situação – terrorismo electrónico – que motiva a que o FBI chame Bauer. Pelo meio existe uma situação num país africano fictício chamado Kangala ou lá o que é, onde um ditador sanguinário está a realizar massacres com base em valores tribais.
As analogias com o Zimbábue e com os massacres no Ruanda são óbvias, assim como é óbvia a mensagem: os EUA deverão (irão) intervir em África para pararem massacres…
(Nota: não se diz, nunca se dirá, na realidade, ou num argumento de cinema, que o interesse real em intervir em África é o de assegurar o acesso e o controlo às fontes de petróleo…por exemplo…)
Este é o “pretexto” argumentativo que dá corpo ao inicio da série. Onde isto se observava era numa reunião do Presidente norte americano com os chefes do Estado maior das forças armadas.
O presidente na série, é uma mulher; uma “aposta” sobre a forma de uma metáfora dos argumentistas em como Hillary Clinton seria eleita (aquilo que parecia mais provável quando a série foi feita).
E a dada altura desta situação, na boca da actriz que faz de presidente dos Estado Unidos surge a expressão: Can we achieve Full Spectrum Dominance”?
A pergunta é feita a um militar que está a explicar os pormenores da operação militar de desembarque das forças americanas destinadas a impedirem as acções do ditador sanguinário.
Também é a incorporação de um “vocábulo” e de um “conceito” numa série popular, vista em todo o mundo, e que está a transmitir “valores americanos” ou a transmitir uma ideia do que serão os valores americanos (ao resto do mundo).
Como se estivesse de forma publicitária e propagandística a efectuar uma acção de propaganda subliminar sobre o mundo inteiro: Can we achieve Full Spectrum Dominance/ Podemos nós conseguir domínio total e completo?
Tal significa na realidade o acto de se estar a dizer que “nós somos capazes de conseguir Full Spectrum Dominance; não se metam connosco, não tentem impedir-nos…
O acto subliminar está aqui…
Mesmo que colocados no argumento como sendo apenas “cenários”; hipóteses de trabalho teórico destinadas a fortalecer o argumento e a tentar mostrar como seria uma hipotética situação verificada quando o Presidente dos EUA decide algo….
mas existindo uma componente de “propaganda ideológica” e de “persuasão” pelo convencimento de outros , usando “certas lógicas” e certas frases.
Ø
A pergunta era: “Can we achieve Full Spectrum Dominance/podemos atingir controlo completo e total do terreno”?
O militar no filme diz que sim, podemos controlar a situação.
Se especularmos que isto é apenas um jogo metafórico, então esta frase pode ser considerada como sendo, pela boca de uma personagem de ficção de uma série popular – que faz de presidente dos EUA (daí o simbolismo) uma forma sofisticada de o dizer, mas dentro de um veículo de cultura popular.
Em “sentido figurado” dizendo ao resto do mundo ( as pessoas que por todo o lado vêem a série ) que os EUA podem e irão atingir Full Spectrum Dominance…
e dizem-no, directamente… quer através de (1) “documentos “oficiais” , quer através de séries de (2) “cultura popular”.
Ambos os “canais de marketing” são assim ocupados?
Ø
No mundo do Borg já existe “Full Spectrum Dominance” como conceito.
No mundo dos Borg, existe uma frase que eles utilizam quando encontram outras raças: ” a resistência é fútil”. “Preparem-se para ser assimilados”.
Todos em todos os espectros deverão ser assimilados.
Os Borg são uma raça ficcional que existe no mundo da ficção cientifica, descrito na série Star Trek.
O objectivo é o de assimilarem características distintas de uma qualquer outra espécie e juntarem essas características a si próprios – procurando alcançar a “perfeição”.
Os Borg são uma entidade colectiva. Que funcionam apenas alimentados pelo combustível do imperativo. (não o ético, nem o categórico, mas sim o imperativo entendido como uma ordem a obedecer sem discussão.)
A “ordem” é em si mesma “Full Spectrum dominance”. “Preparem-se para ser assimilados, a resistência é fútil”.
Especulativamente e metafóricamente “Can we achieve” Full Spectrum Dominance dita em 2009, poderá corresponder a um qualquer hipotético futuro em que uma qualquer raça (suponhamos que um qualquer híbrido como os Borg se desenvolve na Galáxia) dirá ” a Resistência é fútil, preparem-se para ser assimilados?
O que importa reter é que ambas as frases mas acima de tudo; ambos os conceitos que estão por trás – mesmo que sendo usados em séries de ficção televisivas – emanam dos argumentistas e produtores que nasceram e cresceram numa cultura: a cultura norte americana.
E se existe criatividade, espírito artístico, etc, nestes conceitos inerentes e próprios das duas séries e na criação das duas séries – uma de ficção cientifica e outra de história de agentes secretos, também existe uma lógica cultural de agressividade – de como se vê os outros – que importa perceber.
O acto de se ver “outros” como sendo passíveis de serem alvo de “Full Spectrum Dominance” ou (invertendo demagogicamente a lógica) de se dizer que “não permitiremos que os outros nos digam “qualquer resistência é fútil, preparem-se para ser assimilados.
Nota: Existe aqui uma curiosa inversão, no aspecto em que; em Star Trek, existe a “Federação”.
A “Federação” é uma metáfora simbólica para designar o povo da terra e posteriores espécies de planetas que se aliaram numa federação. Presumivelmente liderados pelos antigos países, com os EUA à cabeça, nesse desígnio.
(A inversão está em que, os EUA actuais adoptaram comportamentos idênticos aos dos Borg, mas vêem-se como sendo não os Borg, mas sim a Federação. Que outra coisa não é a doutrina do Full Spectrum dominance, que não possa ser catalogado como “A resistência é inútil , preparem-se para ser assimilados” que é a frase dos Borg? Mas na “cultura popular” (isto é ,televisão e cinema), não se auto retratam assim…)
Os Borg obedeceram a uma necessidade dos argumentistas de Star Trek. Criar um novo e regular inimigo da Federação para substituir as antigas raças alienígenas que eram as inimigas “oficiais: os Klingon (uma metáfora da URSS) e os Romulans ( uma metáfora simbolizando a China); uma vez que, nas ultimas séries, onde os Borg são mais activos, ambas as espécies eram ausentes (Romulans) e aliados (Klingon).
Logo surge um novo inimigo. O Borg, uma entidade colectiva, semelhante à Internet, sem controlo. (Mais tarde os argumentistas criaram um controlo geral, e uma rainha que controlava os Borg – fazendo com isso uma alusão a planeamento central isto é, ao Estado e ao comunismo, mas sem a URSS, mas sim, já mais recentemente, a alusão é a Rússia actual, com a “Borg Queen” a ser Putin, suponho…)
Seguindo este mesmo tipo de raciocínio, dos argumentistas e que – parece ser – é o mesmo tipo de raciocino dos norte americanos em geral; da cultura norte americana em geral, não espantará que os militares americanos tenham criado o conceito de “Full Spectrum Dominance,” porque também obedece à criação de um novo Borg (inimigo) , que é tudo que esteja dentro do espaço que pretende vir a ser controlado pelos EUA.
É como se, cinematograficamente, o conceito Borg, seja a resposta ou o espelho da estratégia e doutrina militar do conceito Full Spectrum Dominance.
Consideradas só estas duas dimensões, quase que um é o espelho do outro em termos de conceito, só que um é um documento oficial, e o outro é a materialização através de imagens de ficção cientifica do conceito existente no documento oficial.
Só uma cultura, cujos membros estão de algum modo homogeneizados no que pensam acerca de si próprios e do resto do mundo reage em várias dimensões desta forma…
Ø
Nota final: o conceito Full Spectrum Dominance” é amplamente divulgado; até em séries de cultura popular.
Pode ser que ninguém repare e se entranhe nas cabeças das pessoas a aceitação deste tipo de conceitos. É assim que se consegue quebrar a vontade dos (potenciais) inimigos ou potenciais ameaças...através do “convencimento”…
FULL SPECTRUM DOMINANCE
No dia 30 de Maio de 2000 foi publicado pelo departamento de defesa norte americano, um documento chamado “Joint Vision 2000”.
Este documento define um conceito chamado “Full Spectrum Dominance” – um novo conceito de poder e aplicação de poder militar.
O documento proclama a necessidade de se alcançar o domínio pleno, completo e total do campo de batalha, mas em que, o campo de batalha é visto em todas as suas vertentes – ar, terra, mar, espaço e os “bens físicos” ou de outro tipo, contidos dentro das vertentes.
O objectivo é alcançar “domínio completo do espectro”.
A forma de o fazer é investindo em “novas capacidades militares”.
Isso significa que os EUA terão que ter a habilidade de – operando sozinhos – ou em conjunto com aliados, de derrotar qualquer adversário e controlar qualquer situação de “forma total”.
Ø
O conceito de “Full Spectrum Dominance/ domínio completo do espectro” está ligado ao conceito de Network-Centric Warfare“.
A ideia é que seja possível traduzir em novas e melhoradas capacidades de combate as vantagens em termos de informação que uma estrutura de informações moderna (e quem a detém) possui, de forma a que isso possibilite ser transformado e traduzido numa capacidade mais competitiva de fazer a guerra.
1. Que as as forças militares melhorem a troca de informação;
2. Que a troca de informação melhore a qualidade da informação e a consciência da situação em que se está;
3. Que a consciência da situação em que se está permita mais colaboração e sincronia entre as forças e permita o aumento da velocidade de reacção de quem comanda.
4. Que tudo isto aumente a eficácia das missões.
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Para se chegar a uma situação em que seja possível conseguir fazer aplicar o conceito de “Full Spectrum Dominance”, será necessário, por exemplo, a aplicação da doutrina pressuposta na Network-Centric Warfare”.
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Mas, observemos uma hipótese sinistra.
Se o conceito de “Full Spectrum Dominance” pressupõe o domínio completo de tudo o que há para dominar, então…… será lógico assumir que o conceito também deverá ser aplicado a outras coisas, que não apenas o aspecto militar ou a integração “melhorada” de forças militares diferentes e que se quer que – através da melhoria da informação entre si – que melhorem a sua operacionalidade e vençam o inimigo.
Se será lógico assumir que o conceito também deverá ser aplicado a outras coisas, então será necessário definir quais são as outras coisas.
Então as outras coisas, serão, por exclusão de partes, o resto da vida que não tem directamente a ver com aplicações militares.
O que equivale a dizer que será a vida em sociedade “civil”, a economia e a forma como esta está organizada, a maneira como vivemos, etc.
Se o conceito de “Full Spectrum Dominance é “pleno, e completo, e “totalizante (no sentido de Total) então todas as sociedades deverão “obedecer” aos critérios definidos por quem criou o conceito.
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Quer essas sociedades gostem, quer não gostem, quer sejam democráticas, quer não sejam, quer sejam autocráticas, quer não sejam, quer sejam pobres, quer não sejam…
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Se chamarmos ao conceito Full Spectrum Dominance a palavra “liberdade” , então, como o conceito é “total”, isso significa que apenas uma única liberdade existe; aquela que é definida pelos criadores do conceito.
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Mas… existir uma única forma de liberdade, não é contra a própria essência da palavra liberdade que pressupõe a existência de mais do que uma liberdade, ou de uma visão de liberdade tida ou pensada por outros que seja diferente da nossa?
Não está esta lógica completamente em contradição?
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O conceito de “Full Spectrum Dominance” significa controlar o mar, a terra, o ar , o espaço e todos os recursos existentes “nesses locais”.
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Um dos recursos existentes “nesses locais” são as ideias.
Não só (1) as ideias por si mesmas, pelo seu valor facial, mas também a forma como as (2) ideias se transmitem e como, (3) através da transmissão de ideias se poderá (4) influenciar quem está “dentro” da área que se pretende cobrir com ” Full Spectrum Dominance” em favor do EUA, o país que “definiu” o conceito.
Ø
Um bom patriota americano chamado George Friedman está a cumprir o seu dever, ajudando a implantar ideias e os conceitos baseados no “Full Spectrum Dominance”, através da magia oracular da previsão especulativa, sob a forma de livro.
Nota: ressalvo que não li o livro, uma vez que este – hoje, dia 12 de Janeiro de 2008, ainda não está sequer à venda ao público.
Contudo, parece que o livro é uma fascinante exploração da história e dos padrões geoestratégicos, e mostra-nos que estamos, no inicio de um novo milénio, no dealbar de uma nova era.
E afirma várias coisas.
1. Que a guerra EUA – Jihadismo muçulmano terminará. Sendo substituída por uma segunda guerra fria com a Rússia.
2. Que a China irá ter uma importante crise interna, e que o México irá emergir como um importante Poder Mundial.
3. Que em meados do século, uma nova guerra se desenhará entre os EUA, e uma inesperada coligação de forças, da Europa de leste , da Eurásia, e do Extremo oriente, mas os exércitos serão mais pequenos e a guerra “limitada”.
4. Que a tecnologia irá concentrar-se no espaço, quer para uso militar, quer para procura de fontes de energia.
5. Que os EUA irão experimentar uma nova “Idade de Ouro” a partir de meados deste século.
Um vídeo de 4.29 minutos, pode ser visto:
E onde a Turquia também aparece, bem como a definição de mais uma série de coisas (curiosamente todas elas extremamente favoráveis aos interesses dos EUA), são também mencionados com um tom de “gravitas” na voz e uma certeza e uma assertividade que, por instantes, convencem.