Posts Tagged ‘GEORGE BUSH’
LIVRO – O QUE RESTA DA ESQUERDA – NICK COHEN.
Livro: “O que resta da esquerda” do autor Nick Cohen, um jornalista inglês.
Editora aletheia – apresentação no sitio “Critica literária” – 2007.
A editora Aletheia é uma editora recente, lançada por Zita Seabra, ex-membro do pcp há uns anos atrás e actualmente membro do PSD. Explica-se desta forma pelo facto de ser a editora que é; a razão de ser das opções editoriais. Cita-se:
“Questionada sobre os critérios de edição, Zita Seabra afirmou que a Alêtheia quer publicar 120 livros por ano, seleccionados de acordo com opções culturais e comerciais.” Diário de Noticias – 08 – 10 – 2005
Mas então a editora não pode escolher editar o que quiser, ò reaccionário?
Claro que pode. Convém é que o faça com pés e cabeça e não cometa erros básicos como este, na ânsia política de publicar algo que representa um esforço comercial mas também uma opção cultural para dar alfinetadas, e fazer guerra ideológica sobre o BE, no PS ( numa parte) e no PCP que até as merece. Ou seja, não fazerem m*erda da grossa como está aqui em baixo.
A imagem em cima pertence à página 10 do livro. A imagem em baixo pertence à contra capa. É evidente que este erro não tem directamente a ver com o conteúdo, mas mostra bem uma série de coisas. Na página 10 temos um professor de inglês, na contra capa temos uma querida e atenciosa professora de Inglês.
Já agora: o livro tem a indicação das fontes feita pelo próprio autor, mas não tem índice remissivo.
Nada mau para um “livro político”…
♦
Este livro é muito difícil de comentar, porque é difícil escrever sobre um livro globalmente muito mau, mas que tem dentro dele partes muito boas.
Entre factos e criticas correctas que Cohen aponta á esquerda, surgem também numa mistura confusa pequenos truques rasteiros e muita desonestidade intelectual de Cohen relacionada com este assunto, bem como “ajustes de contas” sobre a forma de recados e remoques sobre as diferentes actividades de diferentes personalidades, inglesas e estrangeiras.
Uma das religiões que é mais arduamente defendida no livro é a religião do anti-anti-americanismo.
Isto é; quem criticar os americanos, mesmo que salte à vista desarmada que os EUA estão a cometer um qualquer erro ou asneira gigantescos, deverá, por sua vez, ser criticado ferozmente e ser apelidado de “anti americano” em tom absolutamente depreciativo.
Dois aspectos.
– Não só isto constitui uma isenção de critica aos norte americanos;
– Como é também assim constituída uma quase “excepção oficial”:
O resultado é simples.
Todos podem e devem ser criticados, menos os americanos, porque são os “combatentes da liberdade” e os combatentes da liberdade não são passíveis de serem criticados.
Adicionalmente:
Também é uma maneira de “isolar” pessoas que não sendo esquerdistas, nem de extrema direita, não apreciem as políticas norte americanas nem com molho de tomate em cima ou senhoras de seios volumosos a saírem de dentro de um bolo a amenizar a falta de aprovação dos actos norte americanos.
Somos todos obrigados a gostar de norte americanos e das suas políticas. É como um restaurante onde só se sirva bolo de bolacha e todos tem que gostar, gostem ou não.
♦
O problema do livro não está no conteúdo (opções) do livro, e no facto de “criticar” a esquerda. Mas sim nos truques rasteiros que Cohen – que se diz de esquerda – usa para o fazer e de como, na quase totalidade do livro cria um lógica intelectualmente desonesta ao serviço dos pontos de vista que pretende demonstrar e que, alguns, não são os da esquerda mas os da direita e da mais profunda. (Nesse aspecto o branqueamento de Paul Wolfowitz, de George Bush, de Tony Blair são notáveis…)
Nas páginas 78 a 90 da edição portuguesa isso nota-se bastante e na zona 88-91 faz a apologia de Paul Wolfowitz da seguinte maneira:
Página 91 ” Ouvimos Wolfowitz apresentar um apelo coerente á ajuda ao movimento democrático no Irão contra os sacerdotes. Era difícil não ficar impressionado com a seriedade dos seus objectivos”.
( Após a implementação do “movimento democrático no Irão” teremos evidentemente a implementação da democracia simplificada, assente no modelo económico neoliberal, mas disso, desses “efeitos”, Cohen não diz uma palavra…) *
E é mais irritante ainda porque para “contrabalançar” este elogio totalmente descabido às operações de propaganda do senhor Wolfowitz, o mentor do projecto PNAC, na página 92, imediatamente a seguir, Cohen critica as políticas norte americanas dos conservadores relacionadas com os soldados americanos; após as comissões de serviço no Iraque regressam a casa.
E percebem, que os ricos que detinham o poder durante o tempo em que estiveram fora, a combater pela América, alteraram as leis. Uma das alterações foram as ajudas a veteranos de guerra – tinham sido “retiradas” – os soldados não tinham qualquer tipo de ajuda para reestabelecerem a vida.
Foi a mesma administração da qual o senhor Wolfowitz fez parte que tomou estas decisões.
O livro todo tem exemplificações deste tipo – estes truques rasteiros; o “dar uma no cravo, outra na ferradura”…
Outra coisa altamente irritante é o seguinte:
Partes em que as nacionalidades dos mais variados intervenientes são colocadas antes do nome ( o Irlandês “X” , o Escocês “Y”,etc) mas curiosamente Tony Blair, George Bush e Wolfowitz, nunca são designados por “o americano ” Bush, o “Inglês” Blair…
A associação de ideias é óbvia visando lançar uma “sombra” sobre as nacionalidades dos intervenientes. Que seriam pessoas “anti poder” e anti Grã-Bretanha, ou anti países anglo-saxónicos, ou “anti conceito de liberdade existente nos países anglo saxónicos” ( a única, a verdadeira, a legítima…)
Há uma parte em relação a Eric Hobsbawm, um excelente historiador, mas marxista, que é sintomática. Hobsbawn é citado a dar uma opinião política, mas é apresentado como sendo “o Historiador “Marxista” Eric Hobsbawm.
A opinião citada de Hobsbawm é política, não marxista, nem de “historiador”, mas as palavras ” Historiador Marxista” aparecem no meio daquilo. Todas as pessoas que ele não gosta ou tem interesse em denegrir (justamente ou injustamente, não interessa) desta forma “subtil” são rotuladas depreciativamente. Já Tony Blair é apenas “Tony Blair….ou Bush é apenas George Bush…
♦
Contudo, o livro tem duas partes muito boas:
– a História pessoal de Kanan Makiya, um refugiado iraquiano que em 1981, sob o pseudónimo de Samir Al Khalil, publicou um manuscrito ( com risco da própria vida ), chamado “a República do medo” onde descrevia a vida horrível, o terror completo, no Iraque debaixo do regime de Saddam Hussein.
– Outra parte muito boa, é a descrição da Guerra da Jugoslávia e subsequente fragmentação. E como a política inglesa da altura ( liderada pelo partido conservador de Jonh Major – a direita que não presta…) agiu em relação ao Balkans, bloqueando toda e qualquer intervenção da União Europeia.
♦
( Cohen nesta parte não faz qualquer elogio a franceses e alemães relacionada com o desejo destes intervirem na ex-Jugoslávia. Noutras partes do livro está sempre a dar alfinetadas à “Bruxelas”, à França, à Europa… (justas ou não, mas é este o tipo de lógica deste livro, de parcialidade…)
♦
Estas duas partes são muito boas porque Nick Cohen conhece pessoalmente Kanan Makiya e escreve umas boas 130 páginas sobre a história pessoal de Makyia, da sua família e do Iraque.
Também conhece pessoalmente no que à Guerra da Jugoslávia diz respeito, o senhor Marko atila Hoare, especialista nesta área, e que escreve no Blog Greater Surbiton.
E também ao conjunto de tipos (entre os quais M. A Hoare) que escrevem sobre o fim das tiranias e quejandos no Harry´s Place
Percebe-se isto claramente no livro – que as melhores partes vem daqui – destas pessoas. O resto de Cohen são ajustes de contas, (Galloway, Gerry Healy e Ken Livingstone, ex- mayor de Londres) (Note-se que Galloway e Healy são do mais detestável que há…) demagogia, anti europeísmo, personificado, especialmente nos sentimentos anti França, Espanha e Europa ( Bruxelas).
( Chomsky e Michael Moore são também arrasados…embora por razões diferentes e no caso de Chomsky bem arrasado…)
Também é interessante notar – notei duas vezes pelo menos ( existem mais, mas estava distraído) – que Nick Cohen cita pessoas e influências sem as citar. Uma série da BBC de 2007 que rebenta argumentativamente com a direita neoconservadora e com a “esquerda Blairista”, bem como um certo filosofo de origem eslovena estão entre os “não citados”… (Mas há lá mais…) (Também faço o mesmo, cito o que ele cita sem citar…)
♦
O núcleo central de questões que Cohen é coloca é o seguinte:
– Existe o mal absoluto e o mal absoluto era o Iraque de Saddam Hussein.
– O mal absoluto deve ser combatido.
– O Iraque de Saddam Hussein, ultrapassou qualquer tirania mais abjecta.
– A esquerda política (no livro designada por liberal, derivado da palavra inglesa “liberals” que será traduzível por pessoas de esquerda), que desde sempre combateu as tiranias não tem outra opção:
tem que ser a favor da deposição de uma tirania- agora e nos dias de hoje – tal e qual o foi no passado.
(A comparação com as circunstâncias do passado é desonesta.)
Esta é basicamente a mensagem – o núcleo deste livro.
♦
Tese central do livro: Cohen coloca quem o lê perante um dilema filosófico e político de resposta impossível para qualquer adepto da esquerda ( e mesmo de direita). Para qualquer cidadão…para o meu gato até…
O dilema é: se não formos contra a tirania do Iraque, seremos obviamente anti democráticos, ou pessoas de extrema esquerda , ou pessoas de extrema direita, nunca seremos “democratas”.
A questão é colocada de uma forma definitiva.
De um lado os defensores da liberdade contra a tirania, e do outro quem não é – imediatamente identificável – contra o derrube das tiranias – quer dizer, desta tirania do Iraque…
Depois Cohen avança e põe outra questão de outra maneira: “o que é que leva a esquerda” liberal (como ele a designa) a adoptar o programa político da extrema direita ou da extrema esquerda?
♦
Esta forma de raciocínio é do pior que se pode encontrar. “Obriga” a que um cidadão, seja de esquerda ou não seja, tenha obrigatoriamente que declarar o seu apoio à invasão do Iraque de 2003, porque, caso não o faça, é apelidado como estando a fazer o jogo da extrema direita ou o jogo da extrema esquerda (ou o jogo do extremo centro…)
As pessoas ficam assim colocadas numa posição em que estão a ser chantageadas – é colocado em causa o seu apego à democracia…
(Isto lembra-me também o Macartismo, quando actores e escritores de filmes em Hollywood dos anos 50 tinham que comparecer numa comissão do Senado americano, para declararem que não eram comunistas nem tinham alguma vez pertencido ao partido comunista. Caso afirmassem que não queriam responder a essas perguntas eram imediatamente colocados sob suspeita e vistos como comunistas e os estúdios deixavam de os contratar. A alternativa era violentarem a sua consciência ou passarem fome… ou traírem terceiros ou desconfiarem de tudo e todos e agirem sempre assim).
( No cinema a história é contada num filme de 2005 – Good Night and Good luck – que mostra o conjunto de reportagens feitas pelo jornalista Ed Murrow acerca do Macartismo e de como isso contribuiu para derrubar as ideias de “caça às bruxas” na América dos anos 50)
♣
A tese acessória deriva da tese central e é a seguinte:
É preferível viver numa “sociedade liberal” do que numa tirania semelhante à iraquiana. Isto é verdade e não se discute. Mas…
Por isso quem vive numa democracia, não pode apoiar manifestações ou protestos que visem impedir o derrube de um regime fascista, porque entre o fascismo e a democracia, o fascismo não se apoia. ( É claro que esta lógica leva inevitavelmente a que outras manifestações contra outros problemas sejam também rotuladas como proto fascismo…por exemplo…)
Mais uma vez colocadas as coisas assim, a desonestidade é evidente, precisamente porque não se pode comparar o incomparável, e porque esta forma de comparação apenas serve de justificação – isto é para que todos nós achemos ser aceitável – que uma “democracia liberal” funcione mal (seja corrupta, injusta, etc), ou que “ditaduras suaves” sejam toleradas.
Vistas as coisas assim, tudo isto legitima e torna aceitável o rebaixamento dos padrões democráticos de uma qualquer sociedade democrática – liberal.
Isto é, desde que os padrões de vida e de democracia de uma “sociedade liberal” sejam mais elevados do que os padrões de uma ditadura ( e são sempre ), isso autoriza a que os organizadores de uma sociedade liberal/democrática possam descer os padrões até níveis bastante baixos, mas sempre a um nível acima do das sociedades totalitárias.
E a legitimidade democrática – segundo este padrão falso – é assim criada.
Por exemplo, segundo esta lógica, é aceitável a prática da tortura em Guantanámo, porque é feita por uma sociedade “liberal” , e esta sociedade liberal, supostamente, possui mecanismos de correcção e parte de uma plataforma moral superior.
Por oposição a uma ditadura sanguinária que faça exactamente o mesmo que se faça em Guantánamo.
Portanto, de um lado temos algo de mau, e do outro temos algo de muito mau.
Como a classificação “algo de mau” é melhor do que a classificação de “algo de muito mau”, parece Cohen opinar, é legitimo aceitar isto assim.
♦
Sobre Capitalismo, tirania dos mercados e corporações, manipulação de Estados e influência sobre organizações internacionais e da forma como estas condicionam o poder político e a democracia, nada se diz no livro de Cohen, nem se relaciona a esquerda ou a direita com estes contextos.
Nem como os interesses económicos destas mesmas corporações estão a começar a ameaçar e a destruir os sistemas políticos democráticos nos quais Nick Cohen pode livremente escrever livros sobre o fim de tiranias…geograficamente distantes.
* Também é de notar que o facto do petróleo e a posição geo estratégica do Iraque não serem mencionadas por Cohen, nem nunca ter mencionado a possibilidade de uma invasão … sei lá… do Zimbabue, onde um ditador sanguinário existe. O Zimbabue é longe, vale zero geoestrategicamente, e não tem petróleo, só gazelas…
Mas mais perto, temos também a Bielorússia.
– No blog “Esquerda- Republicana” existe um post dedicado a Nick Cohen com uma citação em Inglês onde ele está dar na cabeça de muçulmanos e no multiculturalismo
– No blog “menino rabino” existe a transcrição de uma entrevista de Cohen feita a Teresa de Sousa no Jornal Público em 2005
– No blog Agua lisa 6 existe uma recensão sobre o livro diferente desta feita aqui,onde o objecto da mesma é mais colocado sobre as cacetadas que Cohen dá sobre a extrema esquerda.
– No blog “Mare liberum “existe um conjunto de citações do livro” (que infelizmente só chegam à página 80), que demonstram mais ou menos o estilo global do livro.
O livro é perfeito para atacar ideais de esquerda (os verdadeiros) e para lançar a confusão na cabeça de quem o lê (pelo menos da maior parte das pessoas).
Notas finais:
A) o livro deve, apesar de tudo, ser lido;
B) O livro parece muito bom; não o é; sob qualquer ponto de vista que se queira escolher (excepto pelas duas partes que expliquei mais acima)
C) Era um livro que me gerava enormes expectativas, e que é uma desilusão completa no que interessava perceber…
C) Agradecimentos à Sabine por me ter enviado há um ano notícia acerca deste livro.
GUERRA DO IRAQUE. CUSTOS FINANCEIROS. (4)
No primeiro artigo intitulado “Guerra do Iraque. Custos financeiros. (1)”
♦
– falou-se do custo do petróleo antes da guerra começar;
– do custo directo da guerra, ao mês, para o governo americano – 12 biliões de dólares
– da privatização de sectores da guerra e de como isso encareceu e aumentou o orçamento de guerra dos EUA.
♦
No segundo artigo intitulado “Guerra do Iraque. Custos financeiros (2)”
– falou-se dos downstram costs – os custos já não derivados directamente dos primeiros custos pagos logo á cabeça.
– falou-se da manutenção diferida do material de guerra – equipamento que não é substituido tão depressa quanto é “gasto”
– falou-se do elevado rácio de baixas/mortes, da ordem dos 15/1.
– falou-se dos empréstimos feitos pelos EUA para financiar a guerra, e de como a Guerra é financiada através exclusivamente, de empréstimos
– Falou-se da segurança social e dos custos futuros que virão a ser gastos com as pessoas que virão ou ficarão danificadas com a Guerra do Iraque.
♦
No terceiro artigo intitulado “A Guerra do Iraque. Custos financeiros. (3)”.
– Falou-se dos aspectos financeiros a ter conta numa eventual retirada do Iraque;
– O tempo que duraria a retirada;
– As muitas outras dimensões financeiras da ocupação do Iraque;
– vários outros tipos de custos indirectos
– Efeitos macroeconómicos na economia americana.
♦
Hoje – parte 4 e ultima: impacto da guerra no Iraque e noutras partes do mundo.
Especificamente, saber se se consegue apurar quanto custou ao Iraque em termos económicos e humanos o lançamento desta guerra.
Stiglitz diz que sim, que se consegue saber – e que os dados são péssimos:
- 4 Milhões de deslocados.
- 2 Milhões de Iraquianos que fugiram do país.
- 50% dos médicos ou foram mortos ou saíram do país.
- A taxa de desemprego é de 25%
- O fornecimento de electricidade não está ainda ao nível do que estava antes da Guerra começar – em 2003 – nível esse que, por sua vez não era extraordinariamente avançado…
Para Stiglitz a taxa de mortalidade ainda é o que mais define o estado lamentável do Iraque e desta Guerra.
Stiglitz afirma que existiram dois estudos feitos sobre este assunto, analisando o que era o Iraque antes e o que é agora. Apesar de ambos serem diferentes na sua metodologia e nas conclusões consegue-se perceber e ambos o demonstram que a taxa de mortalidade;
triplicou.
Mas mostram também outra coisa. Que o numero de mortes como resultado de toda a confusão – ausência de médicos em numero suficiente, ausência de electricidade em funcionamento e outro tipo de perturbações semelhantes – tudo isso – gerou só no período até Junho de 2006 – que é até onde os estudos chegam, é um total de 450 000 mortos no Iraque.
Não derivados exclusivamente da Guerra, note-se, mas das consequências da mesma.
Mas como nota Stiglitz, 2007 foi o ano mais violento de todos e que os estudos ainda não contemplam. Portanto o numero é mais para cima…
Penso que isto dá uma ideia da catástrofe que esta guerra representa.
Privatização.
Muitos sectores da administração: americana venderam a ideia de que a Guerra custaria menos, se após ocupação do Iraque, (o Aftermath) se privatizasse todo o tecido produtivo do Iraque. E impostos de taxa única e restante lengalenga neoliberal…
Em quase todas as áreas sucedeu isso. Stiglitz nota que tal também aconteceu, porque “a ideia de privatização foi enfiada pela garganta abaixo” do semi democrático governo iraquiano. Ou seja, porque o Iraque, não tem de facto um governo democrático (numa situação de quase guerra civil e combates nas ruas, ocupado por uma força estrangeira, como é que um governo pode ter sido eleito de forma democrática?)
Stiglitz acha que, liberalizaram mais rapidamente do que seria desejável…
Stiglitz nota também, por exemplo, que nos EUA, toda as pessoas estão preocupadas com os efeitos da globalização e dos acordos NAFTA relativamente ao que isto custa em empregos aos americanos.
Diz Stiglitz, fazendo o paralelo comparativo, que podemos imaginar o que seria isso, essa mesma situação aplicada ao iraquianos, após o fim da Guerra caso não tivessem continuado os combates…
Isto porque ao estar-se a dizer que se irá completamente abrir um mercado a quem consiga competir com quem está nesse mercado, já é difícil competir para quem está dentro do mercado; e tem uma economia em que a electricidade funciona e a população está em estado razoável.
Aqui falou-se em abrir o mercado, a uma população no estado em que está, sem electricidade, médicos,etc e diz-se – tomem lá o “mercado livre”.
É que isso iria mesmo minar os negócios iraquianos submetidos a concorrência de empresas estrangeiras muito mais fortes. (Do ponto de vista dos neo liberais EUA, o objectivo era mesmo esse;”arrendar gratuitamente”, passe a ironia, um mercado do tamanho geográfico da França com 35 milhões de consumidores…)
O Petróleo.
Curiosamente, o Petróleo não foi privatizado, precisamente porque existiram enormes pressões da comunidade internacional dizendo que em caso de guerras, certo tipo de recursos naturais como o petróleo não poderiam ser privatizados.
Os EUA recuaram e isto é interessante porque demonstra que os EUA estão de facto fracos e tiveram medo da intensa pressão internacional relativamente a este assunto e ela aconteceria efectivamente se tivessem privatizado o petróleo.
A situação nos EUA – há ou não recessão.
Existem duas doutrinas em Wall Street neste momento. A doutrina divide-se, sobre se será ou não mau para os EUA.
- Uma doutrina são só profetas da desgraça e dizem que vem aí o inferno (Gloom and Doom);
- Outra doutrina afirma que isto é só uma recessãozinha que passa já para a semana.
Stiglitz afirma ser mais da escola “Gloom-Doom e pensa que esta é a crise mais grave nos ultimo quarto de século.
Porque começa no sistema financeiro.
Mas claramente ele acha que o sistema financeiro não funciona bem.
Nota o problema da crise do “Sub Prime”, e nota os problemas existentes de inadequados sistemas de concessão empréstimos, de fechar os olhos a empréstimos que não deveriam ser feitos, de ocultar mais dados relativamente à solidez ou não do crédito (se há muito ou pouco crédito mal parado…), e que tudo isto acontece não só nos mercados de empréstimos mas noutros locais da economia.
Menciona que proximamente (a entrevista foi feita em Março de 2008) “2 million foreclousures” (ou seja, 2 milhões de hipotecas serão resgatadas relacionadas com compras de casas ou sítios comerciais…)
E pelo menos até Março de 2009 – também por causa das eleições americanas,não será possível existir um entendimento entre o novo Presidente, seja qual for, e todas estas instituições no que toca a definir como se pagarão dividas
.
A assimetria da informação.
Stiglitz nota a ironia da situação. Os EUA orgulhavam-se de serem um país com “transparência ” na forma como construiam as suas empresas, os negócios e como o “mercado” funcionava.
Nas crises financeiras de 19997/98, em termos mundiais, aos governos asiáticos foram dados sermões arrogantes por parte da entidades americanas sobre a falta de transparência.
Mas actualmente nota-se que existem, nos EUA, produtos financeiros extraordinariamente complicados, que ninguém tem bem a noção do que são ou não são conjugados com más praticas de fazer negócio.
- Na assimetria de informação, em principio existem duas partes e uma delas tem muito maior informação que a outra podendo assim obter vantagens. (Assimetria de informação é a área de estudos no qual Stiglitz se especializou e pelo qual ganhou o prémio Nobel.9
Aqui ao que parece e se conclui, parece que existe actualmente no mercado americano uma assimetria de informação bizarra em que ninguém sabe nada ou dispõe da informação necessária para conseguir saber alguma coisa.
Stiglitz acha que o que o que aconteceu foi que os donos da hipotecas originárias sabiam um pouco mais do que as pessoas a quem venderam e essas pessoas sabiam que essas hipotecas eram maus produtos e que quem comprava viria no futuro a ter dificuldades em fazer os pagamentos mas – mesmo assim venderam.
Mas por debaixo deste conceito de securitização do produto tal situação, criou uma vantagem: dispersou o produto (as hipotecas) pelo mundo todo, baixando o risco do mesmo.
Mas criou uma outra nova desvantagem enorme: criou uma nova assimetria da informação.
Porque a pessoa /empresa que cobrou a hipoteca já não era a pessoa/empresa que a tinha originado.
Debaixo do termo de “securitização” esta multiplicidade de donos e vendedores criou um novo rasto de donos e novas informações assimétricas entre novos donos. (O problema existe, mas é “transferido” para dentro de múltiplas camadas de inúmeros donos e empresas…)
Problema a longo prazo.
A divida dos Estados Unidos é uma divida internacional- a erosão do dólar.
A América tem estado a pedir emprestado 800 biliões de dólares por ano – para sustentar a guerra, a crise habitacional, fazer injecções de dinheiro na economia (Pump the economy) etc.
E em poupanças que nos EUA não se estão a fazer – originando pedidos de empréstimos, bem como porque os EUA tem estado a viver acima do seus meios
Tudo isso – acumulado – está a dar cabo da confiança (Uma enorme falta de confiança) dos americanos enquanto consumidores.
Antes, o que sucedia.
No passado países ou empresas estavam na disposição de emprestar aos EUA a taxas de juros mais baixas do que aquelas que os EUA estavam dispostos a emprestar a esses mesmos países ou empresas. (Os EUA – país por si só – funcionavam como uma super garantia…mesmo que o dinheiro não existisse.)
Actualmente quase todos os países estão muito menos dispostos a emprestar aos EUA a taxas de juros baixas ou caso estejam exigem garantias mais fortes de pagamento da divida.
Dai as reservas monetárias estarem a fugir,saindo do dólar e a passarem para o euros e para o Yen.
Está a acontecer uma clara saída do dólar para outras moedas.
As principais consequência.
- O padrão de vida dos americanos terá que descer.
- Não se poderá, nos EUA, continuar a viver acima das possibilidades.
- Terão que se começar a pagar as dividas em vez de as pagar passando-as para gerações posteriores.
Stiglitz afirma que “poderemos continuar a jogar com o futuro dos nossos filhos”, passando-lhes as dividas para eles, mas que isto significará que a divida deles será ainda mais e mais difícil de pagar do que é a actual a ser paga pela geração actual.
(Qualquer semelhança – a escala portuguesa – com os TGV`s e com os aeroportos e demais planos tecnológicos é pura coincidencia…)
(Qualquer semelhança com a política idiota que tem vindo a ser feita nos últimos 20 anos em Portugal com obras faraónicas que levam a lugar nenhum é pura coincidência…)
ARTIGO DIVIDIDO EM QUATRO PARTES TERMINOU.
GUERRA DO IRAQUE. CUSTOS FINANCEIROS. (3)
No primeiro artigo intitulado “Guerra do Iraque. Custos financeiros. (1)”
♦
– falou-se do custo do petróleo antes da guerra começar;
– do custo directo da guerra, ao mês, para o governo americano – 12 biliões de dólares
– da privatização de sectores da guerra e de como isso encareceu e aumentou o orçamento de guerra dos EUA.
♦
No segundo artigo intitulado “Guerra do Iraque. Custos financeiros (2)”
– falou-se dos downstram costs – os custos já não derivados directamente dos primeiros custos pagos logo á cabeça.
– falou-se da manutenção diferida do material de guerra – equipamento que não é substituido tão depressa quanto é “gasto”
– falou-se do elevado rácio de baixas/mortes, da ordem dos 15/1.
– falou-se dos empréstimos feitos pelos EUA pata financiar a guerra, e de como a Guerra é financiada através exclusivamente, de empréstimos
– Falou-se da segurança social e dos custos futuros que virão a ser gastos com as pessoas que virão ou ficarão danificadas com a Guerra do Iraque.
♦
Hoje: aspectos financeiros a ter em conta com a retirada dos EUA do Iraque.
A Retirada:
Stiglitz no seu estudo, prova e demonstra que, mesmo que os EUA saissem do Iraque – agora, mesmo assim existiriam custos substanciais só por se sair do Iraque. (Deve-se esquecer a proposta de Jonh Mccain , candidato a Presidente que fala em “uma guerra para durar 100 anos)”.
Quais seriam?
1- reescalonar os militares (todo o exército) e o respectivo equipamento, no caso do equipamento, porque gastou-se equipamento mais depressa do que se repôs;
2. Atender à quebra de padrões de qualidade na formação das forças armadas americanas. Ao aceitar-se toda a gente no recrutamento em vez de excluir candidatos sem perfil começaram-se a contratar criminosos, neo nazis, pessoas notoriamente idiotas, etc, e tudo isso afecta a operacionalidade de um exército e a sua capacidade de combate.
Stiglitz e a sua equipa apontam para um gasto inerente a uma retirada e a este reescalonamento da ordem dos 100 biliões de dólares ou mais. 100 biliões é uma estimativa conservadora.
O tempo da retirada.
Para fazer uma retirada, esta duraria – uma vez que não pode ser feita do dia para a noite – duraria pelo menos um ano a efectivar:
Esta análise de Stiglitz e da sua equipa é baseada no orçamento apresentado pelo departamento correspondente do congresso norte americano, que prevê – muitas pessoas pensam isto mesmo nos EUA, que o que teria que ser feito seria os EUA, rapidamente – ao retirarem – terem que se converter não numa força de combate ainda presente no terreno, mas numa força de ocupação, de estilo força de paz das nações Unidas, e mesmo isso não é destituido de custos elevados.
Stiglitz dá o exemplo da Coreia do Sul, onde, apesar de não combaterem as forças americanas lá estacionadas, estão lá há 40 anos e isso custa, todos os anos, dinheiro.
Razão de ser desta força a ser mantida.
A) Para manter uma presença;
B) Defender os poços de petróleo e as rotas de transporte.
C) Ajudar a estabilizar o Iraque.
e mesmo tudo isso custa dinheiro e tempo, pelo menos 10 anos de tempo. Caso tudo corra bem.
Stiglitz analisou dois cenários, sempre baseados nos dados do departamento do orçamento pertencente ao congresso. Chegou às seguintes conclusões:
(1) Num cenário de forças de paz mesmo a 10 anos isto custaria 382 biliões;( Cenário menos despesista)
(2) Noutro cenário custaria 669 biliões, a tal manutenção de forças americanas como “força de manutenção de paz”, durante estes hipotéticos 10 anos. (Cenário mais despesista)
Mesmo que se optasse pela solução de (“vamos sair depressa”), muito desse dinheiro gasto seria substancialmente menos – apenas 600 biliões em dois anos.
Por isso é difícil ver como se custará menos, porque mesmo 660 biliões é dinheiro.
Num cenário realista, sem juros, chega-se ao tal valor de 3 triliões de dólares.
Ou seja chega-se sempre a 1.3 triliões directos mais os juros e os juros de juros que dão à volta de de 2.7 triliões (daí o titulo do livro – “A guerra de 3 triliões de dólares…”)
A média no orçamento dá 2 triliões, mas e nesta altura já se está a dar folgas orçamentais dai a equipa de Stiglitz ter chegado aos 3 triliões – num cenário realista, apenas para arredondar os números.
Não deixa de ser algo que dá dores de cabeça discutir quantidades grandes de dinheiro, biliões e triliões como se estivesse a falar de 5 euros…
Quais são as muitas dimensões da ocupação em termos de custos?
Vidas perdidas:
Aqui existe uma dimensão macabra.
O Pentágono atribui, por vida perdida, um subsidio de 500 mil dólares, divididos uma parte – 400 mil dólares directamente da Life insurance policy (a tal que o Estado americano como vem explicado no segundo artigo se compromete a pagar, por conta do que as seguradoras deveriam fazer…) e mais 100 mil derivados de um “Death Gratuitity”, se bem percebi a lógica.
Utilizam uma expressão “Death gratuity” – o tal prémio de 100 mil dólares, se bem a consigo ouvir e escrever – algo que o entrevistador comenta nunca ter escutado…a gratuitidade da morte…
O que é mais espantoso é que no sector privado, isto é, alguém que participe na Guerra mas a trabalhar para uma empresa do sector privado, a mesma vida perdida já será avaliada em 7 milhões de dólares.
O entrevistador não percebe como se chegam as estes números; e a estas “diferenças de avaliação” entre o sector privado e o público eu também não.
Stiglitz explica da seguinte maneira:
Quanto o governo americano, faz por exemplo avaliações acerca da implementação ou não implementação de certo tipo de regulamentações, esse mesmo tipo de regulamentações é ” avaliado ” pelo número de “vidas que salva” . Esse é o imbecil critério.
Ou seja avalia-se se esta regulamentação vai custar alguma coisa; e quanto custa. E se vale a pena implementar em função do que vai custar – não existe “ética” aqui nas implementações de regulamentações
Calcula-se qual é o custo da regulamentação e calcula-se quantas vidas se salvou/salvará. Após esta brilhante teoria é assim que se avalia uma vida.
Por exemplo, se se deve perguntar se deve existir uma regulamentação de segurança para um carro ou agua mais limpa, e caso não valha a pena (ou o Poder político/económico o decida) nada se fará se não se considerar que se irá salvar suficientes vidas.
É também um conceito estatístico, como por exemplo, quanto é que uma pessoa ganharia acaso não morresse. E também quanto é que uma pessoa ganharia hipoteticamente ao longo da vida.
Após estas contas “estranhas” chega-se a um numero de:
7 a 8 milhões (ou mais) de uma vida avaliada estatisticamente ( Este é um cenário conservador).
Isto dá à volta de 500/600 biliões de dólares de indemnizações por vidas perdidas e a perder se se continuar na Guerra.
Outros custos indirectos.
Famílias que vão ter que tomar conta de pessoas que ficaram danificadas para o resto das suas vidas.
Aqui as vidas já são avaliadas por menos – as disability payments são apesar de tudo valores inferiores aos que as pessoas perderam.
À volta de 180 a 383 biliões de dólares. Avaliou Stiglitz.
Mas há outro tipo de custos.
Por exemplo, a pessoa de uma família que tem de largar o seu emprego para tomar conta do familiar que ficou incapacitado.
Em cada uma família em 5, que tem pessoas feridas, alguém tem que tomar conta destas pessoas, saindo do seu emprego.
Stiglitz explica que poderiam ficar em Hospitais públicos mas ninguém quer ficar em hospitais públicos e o próprio Estado americano tem interesse em que não fiquem, quer pelos gastos, quer pelo facto de isso “se ver” – até porque isso aparece no orçamento – portanto…
Mais custos indirectos:
Custos económicos- quanto sofre a economia com isto:
Stiglitz afirma que as pessoas esquecem-se que quando a guerra começou o preço do petróleo estava a 25 dólares e os mercados de futuros de petróleo apontavam para esse preço pelo menos durante 10 anos.
A guerra mudou essa equação.
No livro Stiglitz diz que optaram pela estimativa conservadora de apenas considerarem que sobre um preço de 100 dólares o barril , apenas 5 a 10dólares seriam atribuíveis à Guerra do Iraque até para não serem acusados de estarem a ser parciais no estudo. Ou seja, que num aumento de 75 dólares no máximo tal apenas se deveria à guerra em 10 dólares.
Stiglitz acha que é mais do que simplesmente 10 dólares.
Mesmo com estes custos apenas apontados para um aumento de 10 dólares e caso fosse verdade isso custaria aos EUA a módica quanta de 800 biliões durante 8 anos – somente os EUA.
Isto a afectar a economia.
Neste tipo de discussão e com custos ainda mais indirectos, como os EUA tem que mandar cheques para a Arábia Saudita e para o Kuwait( precisamente para pagarem as compras de petróleo) . Ou seja, directamente, este tipo de custos à cabeça apenas custa 400 biliões de dólares – com as compras em petróleo feitas, é que leva aos 800 biliões de dólares. ( Boing Boing, 1 de Fevereiro 2008)
Mas o facto deste dinheiro ir para a economia da Arábia Saudita e para o Koweit significa que não vai ser investido/gasto nos EUA, logo, isso aumenta a depressão na economia americana.
Efeitos macroeconómicos na economia americana
O facto de pedirem emprestado tanto e gastá-lo no Iraque não estimula tanto a economia, como gastar isso em casa, nos EUA.
Essas duas coisas tem um efeito depressivo na economia.
Aqui surge um paradoxo.
A equipa de Stiglitz e os cálculos que estes fizeram não davam a ideia, segundo as explicações do próprio, de que a economia estaria tão recessiva quanto de facto está.
O “esquema” descobre-se da seguinte maneira. O FED (o banco central americano fez “Pump the economy”
- Para evitar a economia deprimida fez-se pump the economy, ou seja injectou-se liquidez (dinheiro) na economia americana.
- Permitiram-se más praticas com regulamentações fracas
- e permitiu-se empréstimos por bancos que não se deveriam ter permitido.
Mas tudo isso gerou menos dinheiro para gastar em casa e isso deprime a economia: gerou que os americanos começassem a viver de dinheiro emprestado e de tempo emprestado.
Isto gerou um dano colateral desta Guerra: uma recessão económica.
GUERRA DO IRAQUE.CUSTOS FINANCEIROS. (2)
No primeiro artigo intitulado “Guerra do Iraque. Custos financeiros. (1)”
♦
– falou-se do custo do petróleo antes da guerra começar;
– do custo directo da guerra, ao mês, para o governo americano – 12 biliões de dólares
– da privatização de sectores da guerra e de como isso encareceu e aumentou o orçamento de guerra dos EUA.
♦
Continuação:
Os custos directos actuais da guerra do Iraque: 12 biliões de dólares por mês.
Acresce a isso os custos indirectos derivados de varias causas. Os custos indirectos calcula stiglitz e a sua equipa devem ascender por mês a 25 biliões de dólares.
São os “downstream costs” – “os custos ao longo da corrente” – aqueles que aparecem, já não derivados directamente dos primeiros custos pagos logo á cabeça.
- custos com os veteranos da guerra;
- custos com as baixas/pensões dadas a desmobilizados que tenham sido feridos;
- Reparação e substituição de equipamentos que tenham sido danificados ou desgastados pelo uso.
Este tipo de custos, provavelmente, duplicam o valor por, mês de 12, para 24 biliões de dólares (Só no Iraque).
O valor de 12 biliões de dólares , em estimativas por alto, feitas pela equipa de Stiglitz, triplicou desde o inicio da guerra.
No inicio, há 5 anos, por mês, directamente, custaria a guerra, 3/4 biliões de dólares por mês.
Razões:
Stiglitz aponta uma das razões: a manutenção diferida.
Ou seja, manutenção de material programada para certas datas e que não é/foi cumprida, fazendo com que o equipamento se desgastasse ainda mais depressa do que seria normal. E aumentando ainda mais exponencialmente os custos, precisamente, quando mais atrasada é a manutenção de coisas mecânicas, mais defeitos, exponencialmente, começam a surgir.
Ou equipamento ao qual não foi, de todo, feita a sua manutenção.
É todo um encadeamento de peças e equipamentos que se desgasta e já não só apenas aquela especifica peça que se deveria reparar, e que evitaria o desgaste de – vamos supor ” 10 peças.
O equipamento é usado, mais depressa, do que é substituido.
O mais estranho, aponta Stiglitz, é o facto de o departamento responsável pelo orçamento do Pentágono, ter aumentado os seus custos/ o orçamento, nuns 4/5 biliões de dólares, mas sem incluir nessas contas o gasto directo no Iraque e no Afeganistão. Isto tem claramente a ver, com uma tentativa de “fazer percepcionar” aos olhos do público americano que os gastos não aumentaram tanto quanto, de facto, aumentaram.
Stiglitz aponta para certas razões para que esses gastos considerados “normais” ocorram.
- O facto de se ter que pagar mais para recutratr soldados, agora, do que se estava a fazer no inicio da guerra,
- o facto de ter que se pagar bónus mais altos.
- o facto de a guerra não ser popular e o tratamento péssimo que foi dado a veteranos, dificultando os novos recrutamentos,
- o equipamento de protecção que não foi fornecido aos soldados( coletes anti bala, etc)
Quanto aos políticos democratas, que querem sair do Iraque, Stiglitz aponta o facto de ainda não terem bem percebido que 3/4 do gasto de 16 biliões de dólares apens e só, vai para o Iraque.
Outras razões:
Esta guerra custa ainda mais porque, como Stiglitz o explica, o rácio de baixas/ mortes é de 15 para 1.
Ou seja, existem 15 feridos, para cada uma morte. Em guerras anteriores do EUA, o rácio era de 2/1 ou 3/!, sendo que os números 2 e 3 são os feridos e o 1, as mortes.
Isto aumenta tremendamente os custos sob todos os aspectos. Que se manifestam num rácio de gastos por país, em 90% Iraque, 10% Afeganistão.
Quando se passam às baixas militares, é Stiglitz questionado se é fácil obter os números de baixas militares?
Este responde que não, não é fácil:
Tal como em outras áreas, a administração Bush pôs todos os obstáculos.
Não se consegue saber em termos de baixas quais é que são as reais.
Porquê?
O que fazem é publicar o numero total de mortes; mas quando se chega àos ferimentos aí só são publicados os feridos hostis(inimigos), e é a administração que define o que é acção hostil e quem nela foi ferido.
Exemplo:
um comboio militar que vai contra uma mina. O primeiro veiculo explode e existem vitimas norte americanas, por exemplo. Contam como vitimas.
O segundo veiculo que por hipótese, trave, mas não vá a tempo de parar e choque com o primeiro veiculo daí resultando ou feridos ou mortos, já não é considerado como tendo tido vitimas derivadas do conflito, mas sim é considerado como sendo um acidente de viação.
Isto, obviamente “baixa” as baixas de guerra directamente atribuíveis à mesma.
O rácio de não acções hostis é maior do que o numero de acções hostis, 7/1., mas o total é 15/1,
Empréstimos:
Para pagar os 16 biliões/mês (ou 25 consoante se faça as contas contando com o Afeganistão) ) os EUA tem que pedir emprestado. Isso é (irá ser)passado às posteriores gerações para carregar a divida e pagá-la.
Toda a guerra é financiada externamente.
Porquê?
– Stiglitz chega a conclusão que, em termos normais, uma guerra será paga com 1/3 dos impostos cobrados ou no máximo 2/3 dos impostos cobrados por um país, o que sempre sucedeu na história do EUA.
Aqui, nesta guerra, sucede o oposto.
Não só não é isso que se passa, como é a primeira vez, (e Stiglitz aponta o mundo também como exemplo), em que um país não só baixa os impostos para ir para uma guerra como na pratica toda a guerra – todos os 16 biliões de dólares mês( ou 24/5 conforme se quiser fazer as contas de acordo com os exemplos anteriores) é inteiramente pago pelo resto do mundo através de empréstimos feitos aos EUA.
Empréstimos esses, obviamente, que os EUA tem que pagar e estão a pagar juros e juros de juros dos mesmos.
Todo o custo desta guerra foi pedido emprestado.
Estranho, mas é assim.
40% desses pedidos de emprestimo tem origem fora dos EUA. ( China, e Japão, principalmente, mas também a Europa…)
Stiglitz afirma que é a primeira guerra desde a guerra da revolução americana, que os EUA se voltaram para países estrangeiros para financiarem a luta.
O mais estrambólico disto é que o que é cobrado em impostos actualmente nos Estados Unidos nem sequer cobre os juros a pagar, daí ter-se que pagar juros sobre juros.
Como tal a dívida acumula: Stigltiz estima que em 2017 a divida nacional americana será 2 triliões de dólares mais alta do que é hoje.
Confesso a minha dificuldade em apreender a vastidão destes números…
e chega Stiglitz a ideia que até ao infinito, os EUA pagarão de divida anual 100 biliões de dólares em pagamento dos empréstimos e correspondentes juros, isto até ao infinito. (Não tem data de termo de pagamento dados os astronómicos valores envolvidos…)
Stiglitzz diz que até mesmo um país rico “brinca com números destes” por sua conta e risco, e que o melhor a fazer é pensar-se no que teria sido possível fazer com uma outra aplicação do dinheiro.
A segurança social:
Stiglitz afirma que por !/6 do valor da guerra do Iraque, seria possível pagar os problemas americanos de segurança social e po-la em ordem durante os próximos 75 anos.
Os custos:
directamente custa 6.6 biliões de dólares + 5,6 biliões em custos com pagamentos de juros e juros de juros, pensões a veteranos, seguros etc- tudo custos “externos” ao envolvimento directo e ao pagamento primário.
Custos futuros com as pessoas que virão danificadas da guerra:mentalmente e fisicamente.
( Dá-se o exemplo da anterior guerra do Iraque em que quem pagou a conta do custo á frente” foram os “aliados do Estados Unidos (especialmente o Japão e a Arábia Saudita…”))
39% dos soldados são elegíveis para serem dispensados;
44% dos soldados candidataram-se a pensões;
39% dos soldados; do total de efectivos, receberam-na;
Com base na experiência da primeira guerra do Golfo, mesmo ainda nos dias de hoje, stão os EUA ainda a pagar em pensões (disability payments) a veteranos que nela participaram 4 biliões de dólares / ano.
Ora esta 2ª guerra não é uma guerra de 30 dias- isto dá uma ideia ainda maior dos custos.
Estimou-se em;
630 biliões de dólares o que se pagou em custos de pensões para os veteranos da guerra do golfo 1.
Continua.
NOTA: ESTE ARTIGO, O ANTERIOR E OS PRÓXIMOS SÃO FEITOS COM BASE NUMA ENTREVISTA DE JOSEPH STIGLITZ, ONDE ELE FALA SOBRE O LIVRO, CUJA CAPA É MOSTRADA EM CIMA , NÃO É FEITA DIRECTAMENTE SOBRE O LIVRO.