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GLOBALIZAÇÃO E NEOLIBERALISMO: SUN MICRO SYSTEMS DESPEDE 3000 MIL…

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Neste post feito à propósito da análise de um livro sobre globalização, eram citadas declarações de um responsável da Sun micro systems feitas em 1997, explicando como eram vistos os empregados da Sun pelo seu principal gestor.

Transcreve-se uma parte.

Ø

armadilha-da-globalizacao-capa-portuguesaPágina 10:

”na nossa empresa, cada um pode trabalhar tanto quanto queira…” … os governos e as regras por estes impostas ao mundo do trabalho perderam todo o significado…”contratamos os nossos empregados por computador, eles trabalham por computador e são despedidos por computador“.

Algures no diálogo do texto, David Packard, o co-fundador da Hewlett Packard (produção de impressoras e computadores) faz uma pergunta a Jonh Cage da Sun Mcrosystems:

” …– de quantos empregados necessitas verdadeiramente, John?“ Seis, talvez oito, responde secamente Cage. Sem eles estávamos tramados…” – E quantas pessoas trabalham actualmente para a Sun systems? Gage responde:- …” Dezasseis mil. Tirando uma pequena minoria são reservas de racionalização.”

Não se ouve o mais pequeno murmúrio na sala: para os presentes, a ideia de existirem legiões de desempregados potenciais ainda insuspeitos é algo de obvio. Nenhum destes gestores de carreiras, que auferem chorudos salários, provenientes dos sectores e dos países de futuro, acredita ainda que se possa vir a encontrar, nos antigos países e em todos os sectores, um numero suficiente de empregos novos e correctamente remunerados nos mercados em crescimento, com o seu grande consumo de tecnologia.-no próximo século, para manter a actividade da economia mundial, dois décimos da população activa serão suficientes.- Mas e os restantes? Será possível imaginar que 80% das pessoas que desejam trabalhar não vão encontrar emprego?

– Não há duvida que os 80% restantes vão ter problemas consideráveis, afirma o autor norte-americano Jeremy Rifkin que escreveu o livro “The end of work…”

Ø

Imagem e texto “Jornal Destak”.

Ligação “Revista visão/aieou”

JORNAL DESTAK - SUN MICRO SYSTEMS DESPEDE 3000

Duas notas:

1 – a Sun Micro systems não despede pessoas, dispensa pessoas (A semântica do neoliberalismo é diferente…)

2 – A Sun Micro systems anuncia um ano antes que vai despedir/dispensar pessoas (defensores disto até virão argumentar que a empresa é “organizada” programando “eficientemente” o tempo dos seus despedimentos.

Como afirma o senhor Jonh Cage acima,

contratamos os nossos empregados por computador, eles trabalham por computador e são despedidos por computador“.

Ø

Em Novembro de 2008, a mesma empresa Sun Micro systems anunciava que iria despedir 15% da sua força de trabalho – 6000 pessoas, para “reduzir custos”.

Parte-se evidentemente do principio que a 6000 acrescem – um ano depois – mais 3000.

Mas, sejamos honestos: a preparação para isto já estava a ser feita desde meados dos anos 90.

Cita-se John Cage de novo:

os governos e as regras por estes impostas ao mundo do trabalho perderam todo o significado…”

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LIVRO – GLOBALIZAÇÃO:AS CONSEQUÊNCIAS HUMANAS – ZYGMUNT BAUMAN

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Artigo Extenso

Livro de Zygmunt Bauman, sobre a globalização, fornecendo-nos um “mapa”sobre a mesma. O livro é, em alguns aspectos ligeiramente datado, mas, apesar disso, resiste ao tempo e ajuda a explicar muita coisa.

Edição Brasileira. JORGE ZAHAR Editores, uma editora Brasileira, 1999, 146 páginas.

É um livro que apresenta uma perspectiva da globalização, mas orientado para mostrar várias dimensões da mesma. Olhando para a época em que foi escrito e olhando para a realidade actual torna-se um exercício curioso de análise comparativa do que era uma certa visão, e do que é o mundo actual.

TEMPO E CLASSE

No primeiro capitulo Bauman analisa a ideia de mutabilidade, mudança, alteração na percepção de como nós actualmente vemos o tempo e o espaço em plena era de Globalização.

  1. Como isso influi na organização social;
  2. Como é visto o tempo e o espaço por diferentes classes sociais e profissionais.

Tal “visão” leva ao conceito de “proprietário- ausente”;uma entidade “patronal” ou um “profissional” que já não necessita ou é obrigada (os privilegiados dentro deste novo sistema) a ficar parada geograficamente/fisicamente no mesmo espaço, antes move-se ao redor do mundo.

Este conjunto de privilegiados obteve (1) liberdade de movimentos – que origina – a (2) “não responsabilização” pelos (3) actos do que faz, precisamente pela capacidade de mobilidade dos movimentos.

Cita Albert J.Dunlap”

“…a companhia pertence às pessoas que nela investem- não aos seus empregados, fornecedores ou à localidade em que se situa” – Página 13.

Tradução: que os empregados, fornecedores, e os porta vozes da comunidade (o poder político?) não tem voto na matéria relativamente às actividades da empresa.

A mensagem não é uma declaração de intenções, mas uma afirmação de facto.

Efeitos 1: os centros de decisão foram alvo de uma guerra e essa guerra originou o deslocamento deles, para uma dimensão livre de restrições territoriais ou restrições de localidade.

Efeitos 2: os empregados são recrutados na população. Tem responsabilidades pessoais e familiares; não podem mover-se, seguindo a companhia quando ela muda de lugar. Os fornecedores tem que entregar a matéria prima e os custos locais de transporte dão uma vantagem ao fornecedor local que desaparecem assim que a companhia muda. A localidade fica onde está.

Só quem investe na companhia – tem “voz” – é que não está preso no “espaço físico”. Pode fugir às consequências dos seus actos (fechar uma fábrica num local e abrir noutro.) (Segundo esta interpretação doentia dunlapiana das coisas)

O espaço e o tempo são novas dimensões. A distância já não importa – mas apenas para os privilegiados.

A nova velocidade/nova polarização emancipa alguns seres humanos.

Alguns podem mover-se para fora da localidade – qualquer localidade – quando quiserem. Outros observam, impotentes, a única localidade em que habitam movendo-se sob os seus pés” Página 25

Pontos:

– segregação espacial entre quem está confinado e quem nada mais faz do que mover-se;

– Novas concepções de espaço e de tempo, e concepções diferentes quer seja uma pessoa que se move, ou não.

Bauman considera que essa nova dimensão/percepção do espaço e da geografia confere novas características aos processos de exclusão social:

– uma ruptura completa da comunicação entre as elites – que são extra territoriais – são “globais” e a população “normal”. Esta população é cada vez mais “localizada” e impossibilitada de se mexer.

Consequências:

A elite extraterritorial não sente os espaços geográficos onde nasceu; por exemplo, como sendo algo que lhe diga respeito. O sentido de comunidade (e de interesse pela comunidade) desaparece na elite.

Os centros de decisão (a capital, o governo, etc) estão longe, mas as consequências das tomadas de decisão desses centros de decisão caem directamente em cima das populações “localizadas” que estão impossibilitadas de se mexerem.

Consequências 2

O “poder” passa a ser livre para explorar, sem temer quaisquer tipos de consequências por fazer isso.

Bauman conclui que essa mobilidade não pressupõe que as comunidades “localizadas” tenham tolerância ou aceitação perante isto ou as desenvolvam como conceitos a utilizar…

GUERRAS ESPACIAIS

No capítulo 2 Bauman explica a batalha dos mapas. Estabelece a diferença entre poderes pré modernos e pós modernos. O estado pré baseava-se numa ideia de auto protecção das populações que se agrupavam em sítios e se protegiam de forças estrangeiras ou estranhos,da possibilidade de um ataque.

Para recrutar soldados ou colectar impostos, o Estado pré moderno quase que os pilhava aos seus habitantes. Tal também era feito para tentar uniformizar a cobrança. O Estado pré moderno privilegiava colectividades em vez de indivíduos, devido à multiplicidade de formas de individuais e comportamentos (tentando assim padronizá-las).

O mapa tinha que ser ganho e tinha que ser uniformizado, de acordo com os desejos /necessidades do Estado pré moderno.

… Um aspecto decisivo do processo modernizador foi portanto a prolongada guerra travada em nome da reorganização do espaço. O que estava em jogo na principal batalha dessa guerra era o direito de controlar o ofício de cartógrafo”. – Página 37

Isto num Estado pré moderno a fazer o salto para se tornar moderno. O espaço social tinha que estar subordinado a apenas um “mapa” (não só entendido de forma geográfica) oficialmente aprovado pelo governo desse mesmo espaço.

O que Bauman considera que existe actualmente é?

“… O ponto de gravidade na organização espacial mudou então da pergunta “quem ?” para esta outra “de que ponto no espaço?”

Introduz duas teorias:

– Michel Crozier: “os conceitos de posição dominante pela burocracia que consegue impor a sua acção a terceiros e a tornam opaca” (Ver artigo Dissidente-x: Asae e a Burocracia — Ver Asae e Rock in Rio mais o jornalismo que temos

– Michel Foucault – conceito de panoptico – “Uma torre central” onde um supervisor observa a sociedade, sem esta o ver ou sentir sem esta nunca saber se o supervisor está activo ou não. Ver artigo Dissidente-x – “Panóptico – a atracção pelo Totalitarismo”.

Escreve muitas páginas posteriores fundamentando isto e explicando por exemplo escolas de arquitectura e as suas concepções de planeamento de cidades (especialmente o arquitecto Le Corbusier).:

Explica a agorafobia: Onde antes as cidades eram construídas visando impedir estranhos de entrar, são agora construídas visando impedir estranhos de ficar, os concidadãos indesejados.

Exemplos das comunidades americanas – página 54

a suspeita em relação aos outros, a intolerância face à diferença, o ressentimento com estranhos e a exigência de isolá-los e bani-los, assim como a preocupação histérica, paranóica com a “lei e a ordem”, tudo isso tende a atingir o mais alto grau nas comunidades locais mais uniformes, mais segregadas dos pontos de vista racial, étnico e de classe.”

APÊNDICE sobre EUA – Artigo Dissidente-x chamado “Planeta americano”

No capitulo 4 – A soberania do capital – Verdu explica que os “Pais Fundadores” acreditaram na existência, isto é na possibilidade da criação de novo de uma sociedade que “rebentaria” com as hierarquias europeias – as sociedades hierárquicas de tipo europeu existentes nos séculos 17 e 18. Mas, acrescenta Verdu, tal ideia fracassou miseravelmente uma vez que, quer a passada e actual dinâmica de acumulação de capital desmente isso. O igualitarismo – ideia utópica dos pais fundadores – é desmentido pela acumulação de capital e os pobres são vistos como excrementos do sistema. Como dejectos. É uma lógica de Darwinismo misturada com sorte que existe e é considerada como sendo, realmente, a filosofia dos pais fundadores.

No capitulo 5 – O medo do crime – Verdu explica que o crime é elevado devido a desinvestimento no seu combate e prevenção, e como o sistema social é organizado de forma darwinista – isso obviamente conduz ao crime. Que serve por sua vez de oportunidade para vender sistemas de segurança (a mentalidade de empresário, de vender em comprar surge aqui) – sendo o Lar uma fortaleza. Equipada como tal……

Bauman chama ao panóptico actual, as bases de dados.

Artigos Dissidente -x

(A) Chip electrónico automóvel

(B) Relatório minoritário fiscal

(C) Médicos de clínica geral defendem cruzamento de dados

(D) Cartão electrónico escolar

Defende ainda que ao Panóptico se juntou o “Sinóptico”.

Muitos vigiam poucos. O sinóptico é global. (Os quatro posts acima indicados são um exemplo de uma mistura “sinóptico/panóptico” – de uma tendência)

No panóptico inicial, alguns habitantes seleccionados vigiavam os outros; no Sinóptico os habitantes locais vigiam os globais.

Estas concepções acima expostas levam à intolerância.Bauman tenta explicar as causas da intolerância:

…a uniformidade alimenta a conformidade e a outra face da conformidade é a intolerância. Numa localidade homogénea é extremamente difícil adquirir as qualidades de carácter e habilidades necessárias para lidar com a diferença humana e situações de incerteza; e na ausência dessas habilidades e qualidades é facílimo temer o outro, simplesmente por ser outro – talvez bizarro e diferente, mas primeiro e sobretudo não familiar, não imediatamente compreensível, não inteiramente sondado, imprevisível” Página 55

DEPOIS DA NAÇÃO ESTADO, O QUÊ?

No capítulo 3 é descrita a nova divisão entre Estado e economia. Tudo isso é relacionado, com exemplos, com as deslocalizações de empresas da Europa, para a Ásia. E é relacionado com um sentimento difuso, mas real de que “tudo está a fugir ao controlo”.

(1) Fugindo ao controlo é a tradução da palavra (2) Globalização. E Bauman questiona se deveremos ser Globalizados ou Universalizados.

Define o que era Ordem (antes) e um Estado dotado dela:

...”ordenar um sector do mundo passou a significar:estabelecer um estado dotado de soberania para fazer exactamente isso. (Define a concepção de Max Weber como o Estado sendo o agente que tem o monopólio dos meios de coerção…)

Mas explica que, com a actual morte ou tendencial morte do Estado soberano, despido de muitas das suas “capacidades” de impor ordem dentro do seu espaço, isso – paradoxalmente – gerou Estados que tentam desistir dos seus direitos soberanos, mas de forma não forçada.

  • Pretendem que a sua soberania seja dissolvida em entidades supra estatais( Exemplo, UE).
  • Existem estados ou etnias que já estavam esquecidas e que pretendem passar a ser um Estado.
  • Novas e velhas nações que escaparam a dependência da URSS, e após escaparem resolveram dissolver a sua independência na Nato e na UE.

Paradoxalmente, foi a morte da soberania do Estado, não o seu triunfo, que tornou tão popular a ideia de condição estatal.

Tal leva a situação em que o “Estado é o novo expropriado”.

Página 73 “…A globalização nada mais é que a extensão totalitária de sua lógica a todos os aspectos da vida”. Os estados não tem recursos suficientes nem liberdade de manobra para suportar a pressão – pela simples razão de que “alguns minutos” bastam para que empresas e até estados entrem em colapso”.

Bauman defende que no futuro, (Este livro foi escrito em 1998/99) irão existir cada vez mais Estados e cada vez mais fracos; (Exemplo:Kosovo) isto é, irá existir uma tendência para a existência de territórios ou populações que quererão a independência e o capital extra territorial não está contra essa tendência.

Todos tem interesses adquiridos nos Estados que são fracos, precisamente pelo facto de estes ao serem fracos poderem proporcionar irrestrita liberdade de movimento.

Pagina 75/76 – “Abrir de par em par os portões e abandonar qualquer ideia política económica autónoma é a condição preliminar, dócilmente obedecida, para receber assistência económica dos bancos mundiais e fundos monetários internacionais.

Na parte do capítulo, chamada “a hierarquia global da mobilidade” Bauman avança para a teorização segundo a qual uma ideia de substituição de Estados Fracos por entidades legislativas globais (Exemplo: ONU, UE) será algo de mau, para o poder económico.

A fragmentação política e a globalização económica são nesta acepção “aliados”.

O que gera uma “nova hierarquia sociocultural à escala planetária” – página 78 – conceito de “Glocalização”

Bauman fala dos meios de comunicação mundiais e de como a maior parte dos pobres não tem a eles acesso e de como – também – estes meios divulgam a existência de pobres num local (a Ásia, por exemplo) mas também divulgam a existência de crescimentos económicos brutais nesses locais.

É criada uma ideia de que

(SÓ A) Pobreza = a fome ( página 81)

Mas os outros aspectos complexos da pobreza são “abafados” . (péssimas condições de vida, analfabetismo, agressão, famílias destruídas, coesão social destruída ou enfraquecida)

TURISTAS E VAGABUNDOS

É um capítulo dedicado ao movimento e à noção de que hoje em dia todos estamos em movimento. Quer quando estamos fisicamente parados, quer não.

E Bauman define o que é ser consumidor numa sociedade de consumo, mas estando em movimento como esta o é.

Em como o que actualmente se pede, (1) não são exércitos de cidadãos que são produtores de bens, como numa sociedade industrial do século 19, (2) mas sim cidadãos consumidores, mas consumidores de um tipo muito especial.

O que realmente conta é apenas a volatilidade, a temporalidade interna de todos os compromissos,; isso conta mais que o próprio compromisso…”

A lógica que está por detrás é:

  1. Sente-se mal?
  2. Então, consuma qualquer coisa.
  3. Será aliviado do seu mal estar, se consumir.

É um consumidor sempre avido de novas sensações, mas enfastiado com elas mal as obtém – uma pessoa/consumidor em movimento.

(Nota. o que ajuda a explicar o sucesso da pornografia, entre muitos outros exemplos…)

Movemo-nos divididos significa que:estamos a viver num mar aberto, sem sinalização que nos indique o caminho.

Ou (1) nos alegramos com isso, ou (2) morremos de medo. A terceira opção; escolher um (3) porto seguro, não existe. Caso escolhamos um porto seguro, alguém aparece e o vai modernizar…

As duas primeiras opções não são escolhas livres.. podem ser escolhas livres ou podem ser impostas.

Página 94 – …Todo o mundo pode ser lançado na moda do consumo;todo o mundo pode desejar ser um consumidor e aproveitar as oportunidades que esse modo de vida oferece. Mas nem todo o mundo pode ser um consumidor…”

Bauman dá dois exemplos extremos disto:

  • o turista
  • o vagabundo

– O turista é um privilegiado especial que conquistou o prémio da mobilidade. O turista apenas tem a frustração de pensar que pelo facto de estar agora, aqui, neste lugar, não pode estar ou noutro lugar outro lado. O turista vive “ansioso” pela nova experiência.

  • Mas movimenta-se porque quer, como quer e quando quer.

– O vagabundo é o alter ego negativo do turista. É um consumidor frustrado. Apenas se movimenta porque é empurrado pela necessidade de experiência. E mesmo assim tem severas restrições. Os seus sonhos são apenas um emprego qualquer, uma tarefa humilhante para os turistas.

Pareceu-me que Bauman cria uma metáfora aqui, designando por turistas as pessoas com extrema mobilidade, e por vagabundos e não em sentido depreciativo, 80% dos cidadãos.

Como parece que isto é a pós modernidade – no actual contexto histórico – Bauman explica que isto apenas vai criar cada vez mais exclusão social.

Para combater a exclusão social surge a “mensagem mitológica”:

– Novas exigências e qualificações no mundo do trabalho.

Que por sua vez geram outra “mensagem mitológica” que dá como resultado:

– a estrutura educativa não consegue acompanhar a constante mudança no que se quer, relativamente ao emprego o que por sua vez gera – mais desemprego.

Existe a condição de pós modernidade, mas a exclusão total dessa condição – carimbo aplicado a inúmeras partes da população – gera uma sub classe. Indivíduos que estão fora e dentro, não conseguindo vincular-se as estruturas de comunicação, e informação, nem como produtores, consumidores ou utilizadores.

E as estruturas e “mensagens mitológicas” não resolvem o problema…

LEI GLOBAL, ORDENS LOCAIS

No último capitulo, Bauman pega em Pierre Bordieu, e na reacção visceral que este teve em 1996, quando viajava de avião ao ler as palavras do governador do banco central alemão…que disse qualquer coisa como:

“o que está em jogo hoje em dia é criar condições de confiança para os investidores”.

(o resto que se lixe,acrescento eu…e como se pode ver o resto em 2008 é “A crise financeira americana- as razões”)

Onde foram criadas “condições “de confiança para os investidores e estes rebentaram com a economia mundial”

E chega à ideia do que se quer que o Estado seja – uma unidade a duas dimensões – um Estado social Bifurcado.

Uma bifurcação:

– Estado social que prevê garantias mínimas de segurança para a classe média;

Outra bifurcação:

– Um Estado cada vez mais repressivo que ataca os efeitos cada vez mais violentos sobre e da população que esteja em condições mais precárias.

O que origina a ideia de Estado social Bifurcado é o seguinte “discurso neo liberal” – O mercado de trabalho é rígido, tem que ser flexível, dócil, maleável, fácil de moldar – transformado em variável económica:

Mas esta ideia de agilização do mercado esconde uma natureza de poder e de relação social.

O que leva à condição de assimetria, entre o lado que é alvo da condição de flexível, que não tem nenhumas opções de movimentação – está “parado” na sociedade” e o outro que decide mover-se quando e como quer.

Na parte do capítulo chamado “Fábricas de imobilidade; Bauman desconstrói o estudo citado por Bourdieu sobre as prisões da Califórnia.

Ideias base:

– A soma do dinheiro dedicado às construções e manutenção de prisões é maior nesse estado do que a soma do dinheiro destinado a todas as instituições do ensino superior.

– A prisão é usada como forma de confinamento espacial- panóptico.

O método é: o isolamento dos presos. Físico e psicológico.

A ideia é criar uma lógica social, segundo a qual, os actos que não são crimes, mas são (1) indesejados ou (2) vivem na ambiguidade dos comportamentos são equiparados a crimes. (por exemplo, o que ocupa casas vazias ser preso, ou o homossexual estar ano limite de banimento, como sentimentos “divulgados”, segundo esta lógica aqui descrita).

Daí ser “necessário” uma lógica de isolamento – isto e – de afastamento psicológico da parte do cidadão que detesta (ou julga que detesta) os actos ambíguos que não são crimes, mas que, incomodando-o, este deseja que o Estado os puna e prenda pessoas mandando fora a chave. Afastando as pessoas fisicamente e psicologicamente.

O poder económico vê nisto uma oportunidade, para capitalizar e atemorizar ainda mais a generalidade da população; quer os que são presos quer os que não estão.

Bauman avança para o terreno do concreto e oferece o exemplo da prisão americana de Pelican Bay, totalmente automatizada, e onde cada preso não tem contacto com os outros, e pouco com os guardas. Existe a dimensão de (1) panóptico, misturada com a dimensão de (2) eficiência empresarial. Que depois é utilizada como “argumento de venda” através da palavra “Produtividade”.

Notas: o panóptico inicial visava disciplinar pelo trabalho. Eram “fábricas de trabalho disciplinado”. – Página 117.

Notas: já o “Sinóptico” actual é o seguinte:

Página 119 – Outrora ansioso em absorver quantidades de trabalho cada vez maiores, o capital hoje reage com nervosismo às notícias de que o desemprego está diminuindo;através dos plenipotenciários do mercado de acções, ele premeia as empresas que demitem e reduzem os postos de trabalho.

Nessas condições, o confinamento não é nem escola para o emprego nem um método alternativo compulsório de aumentar as fileiras de mão de obra produtiva quando falham os métodos “voluntários” comuns e preferidos para levar à órbita industrial aquelas categorias particularmente rebeldes…

Nas actuais circunstâncias, o confinamento é antes uma alternativa ao emprego, uma maneira de utilizar ou neutralizar uma parcela considerável da população que não é necessária à produção e para a qual não há trabalho”ao qual se reintegrar…”

Na parte do capítulo chamada “Prisões na idade da pós correcção” são analisados os problemas em que na maior parte dos países os orçamentos prisionais aumentam e o número de novas prisões é construído.

Bauman conclui que isto é uma política estatal/ideológica definida, mas também porque o que é agora considerado como sendo “males” foi reclassificado – gerou o aumento do número de coisas consideradas como sendo “males” – e logo gerando mais pessoas passíveis de “serem presas”

(Em Portugal isto manifesta-se de forma diferente; aqui o que aumenta são as coimas e o tipo de coisas antes não abrangido pelas coimas e agora já abrangido…)

Isso gera aumentos de tensão social e a ideia de “retirada para um porto seguro (que não existe) o que, por sua vez gera mais tensão…

Na parte do capítulo chamado “Segurança:meio palpável, fim ilusório”, Bauamn afirma que reduzir a questão da segurança apenas à questão da segurança pessoal tem vantagens políticas.

Página 127 – “…O efeito geral é a autopropulsão do medo.

Página 130 “…Que por sua vez aguça ainda mais a figura ambígua e imprevisível do estranho…”

E o culminar disto é a parte do capítulo chamada “o fora da ordem”

Página 131 –” …Hoje sabemos, escreve Thomas Mathiesen”, que o sistema penal ataca a base e não o topo da sociedade…

Quem conseguiu chegar aqui e ainda está vivo, parabéns…

PORTUGAL E O FUTURO. DIVISÃO EM ZONAS.

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MAPA DE PORTUGAL "GLOBALIZADO". CLICAR IMAGEM PARA VISÃO "GLOBAL"

MAPA DE PORTUGAL "GLOBALIZADO". CLICAR IMAGEM PARA VISÃO "GLOBAL"

Quando um ministro… ou melhor, alguém que chegou ao cargo por troca de favores e conhecimentos, disse, há uns meses atrás, que a margem Sul era um deserto onde não existia nada, lembrei-me de fazer uma coisinha destas.

Agora encontrei-a. Paralelamente inseri mais algumas “opiniões” acerca do que era a “ideia” de Portugal que se estava e está a trabalhar para “vir a acontecer”.

Um país inclinado para o mar, totalmente desequilibrado economicamente. E desequilibrado, também.

Depois lembrei-me de legendar certas partes, e dividir o país em bantustões ou zonas – numa hipotética ideia do que seria cada zona e do que a cada uma delas seria atribuído, como “especialização económica/social”, num futuro próximo.

Infelizmente a realidade não me está desmentir. A nada ser feito caminharemos para uma situação relativamente “parecida” a esta. O Estado português, isto é, o governo português, isto é, o grosso dos interesses económicos que se concentram por detrás doe Estado Português, isto é, os oportunistas que andaram a dizer ás pessoas que elas deveriam estudar uma série de coisas em “profissões duras” com conhecimentos duros, porque daí viriam empregos bem qualificados, concentra afinal os seus esforços na criação de empregos bem remunerados no estrangeiro.

JORNAL PÚBLICO DE 28-07-2008- NOTÍCIA ACERCA DA PEDINCHICE TURÍSTICA.OU COMOS E TRANSFORMA UM PAÍS NUM CASINO TURÍSTICO

Para que portugueses pertencentes a esta “elite”, presume-se, possam “vender” Portugal como um paraíso turístico especial.

Do qual, supostamente, todos nós vamos viver e comer…para quê ensinar Filosofia ou História, nas escolas?

Para quê, exigência de qualidade em estudos que se façam no secundário se vamos todos fazer serviços ligados ao turismo e actividades adjacentes?

Empregados de mesa de bares e restaurantes e Caddies de golfe, não precisam de estudos elevados, nem de uma coisa tão simples como a noção de “fazer carreira na profissão que escolheram”…

JORNAL PÚBLICO DE 28-07-2008- NOTÍCIA ACERCA DA PEDINCHICE TURÍSTICA. Clicar imagem…

Written by dissidentex

29/07/2008 at 7:08

A ARMADILHA DA GLOBALIZAÇÃO. LIVRO.

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O livro chama-se “A armadilha da globalização – assalto à democracia e ao bem estar social”.

A-GLOBALIZAÇÃO - LIVRO

Editora Terramar

Autores: Hans Peter Martin e Harald schumann. De Schumann Encontram-se páginas em alemão. De Peter Martin encontram-se várias como Esta:
De Martin está também disponível online uma boa entrevista em inglês

Em 1998, um jornalista austríaco (H. P. Martin) e um alemão (H. Schumann), escreveram em conjunto um livro chamado a “Armadilha da globalização”. Sub titulo: o assalto à democracia e ao bem estar social.

O livro, em todos os seus aspectos é aterrador, precisamente porque é convincente. ( Nos dias de hoje em alguns aspectos já está datado, mas mesmo assim é válido)

Descreve-se de forma precisa, quais é que são as decisões, e as ideias de decisões a tomar que estavam a ser discutidas naquela altura, pelos gestores de topo e políticos do mundo. O que se chama(va) “globalização” e como era visto em 1997/1998.

Página 10:

”na nossa empresa, cada um pode trabalhar tanto quanto queira…” … os governos e as regras por estes impostas ao mundo do trabalho perderam todo o significado…”contratamos os nossos empregados por computador, eles trabalham por computador e são despedidos por computador“.

Algures no diálogo do texto, David Packard, o co-fundador da Hewlett Packard (produção de impressoras e computadores) faz uma pergunta a Jonh Cage da Sun Mcrosystems:

” …– de quantos empregados necessitas verdadeiramente, John?“ Seis, talvez oito, responde secamente Cage. Sem eles estávamos tramados…” – E quantas pessoas trabalham actualmente para a Sun systems? Gage responde:- …” Dezasseis mil. Tirando uma pequena minoria são reservas de racionalização.”

Não se ouve o mais pequeno murmúrio na sala: para os presentes, a ideia de existirem legiões de desempregados potenciais ainda insuspeitos é algo de obvio. Nenhum destes gestores de carreiras, que auferem chorudos salários, provenientes dos sectores e dos países de futuro, acredita ainda que se possa vir a encontrar, nos antigos países e em todos os sectores, um numero suficiente de empregos novos e correctamente remunerados nos mercados em crescimento, com o seu grande consumo de tecnologia.-no próximo século, para manter a actividade da economia mundial, dois décimos da população activa serão suficientes.- Mas e os restantes? Será possível imaginar que 80% das pessoas que desejam trabalhar não vão encontrar emprego?

– Não há duvida que os 80% restantes vão ter problemas consideráveis, afirma o autor norte-americano Jeremy Rifkin que escreveu o livro “The end of work…”

A Sun Mycrosistems é a maior empresa do respectivo sector de actividade na área de produtos informáticos ao nível de redes, servidores de computador, quer pequenos, para entrada de gama, quer gigantes, e a tudo isto acresce os respectivos códigos informáticos para servidores, a um ponto tal que esta empresa tem capacidade comercial, técnica e financeira para se bater contra a Microsoft.

Na quota de mercado dos servidores de computador a Sun conseguiu sempre vedar o controlo do mercado à Microsoft. E incentivou e incentiva projectos gratuitos nas ares onde pode atingir a Microsoft, como por exemplo, o Open Office.

É uma empresa de informática pesada, na pratica funcionando com um sistema operativo próprio na área de redes e servidores chamado – linguagem JAVA – que serve para abrir programas específicos que dela necessitam. É uma linguagem de código aberto – quem tem conhecimentos da linguagem pode programar nela.



Surge definido no livro o conceito de Tittytainment. Em baixo do lado esquerdo, temos (uma) a versão portuguesa de tetas e entretenimento.

floribomba-tittytainment: também a expressão tittytainment, proposta pelo velho rezingão que é Zbigniew brezinsky e fez carreira…… Segundo brezinsky, tittytainment é uma combinação das palavras entertainment e titts (entretenimento e tetas), um termo de calão para designar os seios.

Mas Brezinsky não está tanto a pensar no sexo, mas antes no leite que escorre dos seios de uma mãe que amamenta.

Segundo ele, uma sábia mistura de divertimento estupidificante (Exemplo: Floribela, Morangos com açúcar) e de alimentação suficiente permitiria manter de bom humor a população frustrada do planeta.””

” Impassíveis, os gestores debatem as dosagens aconselháveis e perguntam-se como poderá o afortunado quinto da população ocupar o resto supérfluo dos habitantes do globo.

A crescente pressão da concorrência não permitirá às empresas que participem desse esforço social. Portanto, outras instancias deverão ocupar-se dos desempregados.

Os participantes no colóquio contam com um outro sector para dar sentido à existência e garantir a integração: o voluntariado a favor da colectividade, a participação nas actividades desportivas mediante a atribuição de uma remuneração modesta, o que ajudaria milhões de cidadãos a serem conscientes do seu próprio valor», opina o professor Roy.

(Nota lateral: é pelo que está acima descrito que sou completamente contra o voluntariado)

Os patrões dos grupos industriais estão à espera de que, a breve prazo, nos países industrializados sejam postas pessoas a varrer as ruas por um salário praticamente nulo ou que haja quem aceite um emprego de criado a troco de um miserável alojamento. Página 10/11

Página 19.

“Os derrotados tem voz e hão-de servir-se dela. ”

Há cada vez mais eleitores a tomarem à letracartaz PNR -basta de imigração as fórmulas dos advogados da mundialização. Não é entre nós que há que procurar responsáveis, a culpa é toda da concorrência estrangeira: eis o que se apregoa aos cidadãos de um telejornal em cada dois – frases pronunciadas exactamente por aqueles que se espera que defendam os interesses da população.

Entre este argumento – economicamente falso – e uma franca hostilidade contra tudo o que é estrangeiro medeia um passo, que rapidamente foi dado. Desde há muito tempo que milhões de cidadãos, das classes médias, desestabilizados, procuram a salvação na xenofobia, no separatismo, no afastamento relativamente ao mercado mundial. Os excluídos respondem com a exclusão.

Faça-se a comparação com o discurso que tem estado a ser sistematicamente propagandeado em Portugal de há 10 anos para cá.

Quem está a ler isto irá fazer parte dos 80% que irão ser excluídos ou não?

Quem está a ler isto, analise o discurso do actual partido socialista (…frases pronunciadas exactamente por aqueles que se espera que defendam os interesses da população) no governo quando se diz que a culpa a culpa do fecho de uma fábrica é da concorrência estrangeira (Globalização).

Ou na tradição portuguesa, relacionada com os sindicatos que resolvam não aceitar baixas insuportáveis de ordenados dos seus filiados?

Quem está a ler isto deve fazer o esforço de reparar na especificidade do caso português. As coisas não acontecem por acaso.

FEIRA DE EMPREGO TECNOLÓGICOExistiu uma recente feira de emprego tecnológico e científico. Mas…não houve porque em mais de 100 empresas contactadas por quem organizou o evento só duas responderam ao convite.


É claro que amanhã (um amanhã sem data marcada…) a culpa será assacada aos funcionários públicos porque (pretexto) não aceitam ir para o quadro de excedentes(por exemplo).

A sociedade de excluídos através destes sinais subtis (as empresas não querem cientistas ou candidatos a cientistas mas sim empregados de mesa) está aí.

Todos estamos a ajudar isto simplesmente pelo facto de fecharmos os olhos e julgarmos que, individualmente, nos vamos safar.

Com percentagens em jogo, segundo a lógica do conceito apresentado no livro a “Armadilha da Globalização”; de 80% – 20% não fico tranquilo nem por mim nem por todos os outros, quer os que “ganham”, quer os que “perdem” .

A única percentagem aceitável é 100% de êxito. Não divisões de 80-20%.


Após ter sido aplicado como argumento de venda ideológico e económico, o conceito segundo o qual, o desenvolvimento tecnológico, a valorização da competição e da livre iniciativa, apoiadas no primado da lei, iriam resultar e levar a humanidade para novos patamares, “isto” é o que temos.

O actual capitalismo está a gerar nem emprego nem desenvolvimento económico, só crescimento económico-financeiro. Pela primeira vez na história do capitalismo ele é incapaz de gerar emprego.

Então para que serve o capitalismo? Para que serve um sistema cujos principais objectivos estão a falhar? ?

Todos os países que importaram o modelo de capitalismo americano – chamado também de globalização – na parte económica e social, estão a ter inúmeros problemas.

Essa importação cria danos sociais e económicos tremendos às populações ou países que adoptaram isto.

Written by dissidentex

09/06/2008 at 14:35

GLOBALIZAÇÃO E CENÁRIOS PARA PORTUGAL.

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Hoje é dia 23 de Abril de 2008. Vai ser ratificada a constituição europeia que não se chama constituição e que vai alterar, para sempre, a natureza de ser dos Estados europeus.

No dia 29 de Maio de 2006, aconteceu uma edição do programa de suposto debate “Prós e Contras”. Aparentemente discutiu-se os caminhos que Portugal iria, eventualmente seguir, no futuro.

Várias dimensões e questões se colocaram. Ou o país fica fechado sobre si mesmo, ou fica aberto e integrado dentro de uma região como a Europa. Ou fica integrado na Europa, mas com algum proteccionismo interno ou não, etc.

Ou Portugal deverá poder ou não poder escolher diferentes (ter capacidade de escolha) estatutos estratégicos, ou conseguirá escolher diferentes estatutos estratégicos. Ou a “elite” portuguesa quererá escolher estatutos estratégicos. Ou terá interesse nisso.

Blog Macroscópio, 30 de Maio de 2006 – uma análise a esta questão. 4 cenários apresentados relativamente à qual é a posição relativa e absoluta de portugal no que toca á Globalização e questões conexas.

Os 4 modelos provém da tese de doutoramento do autor do blog. São hipóteses teóricas de cariz técnico baseadas no planeamento por cenários. É indicada a fonte (o post) e é indicada a obra original, na transcrição. Em baixo, transcrição do 4 cenários teóricos:

QUATRO CENÁRIOS DE PORTUGAL EM CONTEXTO DE GLOBALISMO PORTUGAL GLOBALIZANTE.

Cenário 1

FUNÇÃO EUROPEIA GLOBALIZANTE E UM PORTUGAL PRÓSPERO (AUTÓNOMO)

Isto corresponde a um cenário idílico que só tem lugar em sonho

Cenário 2

PORTUGAL GLOBALIZADO DENTRO DUMA FUNÇÃO EUROPEIA COM UMA FUNÇÃO DELEGADA (subordinação do País e da Europa ao mundo)

Cenário 3

PORTUGAL GLOBALIZADO E FORTEMENTE DEPENDENTE. RESULTADO: INTEGRAÇÃO NA PENÍNSULA IBÉRICA SOB COMANDO POLÍTICO DO REINO DE ESPANHA (COM GRANDE DUALIZAÇÃO SOCIAL)

Cenário 4

PORTUGAL GLOBALIZADO DE TIPO REGRESSIVO, ISOLADO E AUTO-DESTRUTIVO E INVIÁVEL COMO PROJECTO NACIONAL. É O BLOQUEAMENTO INTERNO E PERDA DE IDENTIDADE. CONSEQUÊNCIA: DISSSOLUÇÃO DE PORTUGAL E SUA INTEGRAÇÃO EM ESPANHA COMENTÁRIO DAQUELES 4 CENÁRIOS QUE SE COLOCAM A PORTUGAL:

O 1º cenário corresponde ao estatuto de Portugal globalizante e representa uma posição estratégica (de tipo-ideal), mas não corresponde à sua realidade económica e social nem coincide com a sua dimensão política. A verificar-se este estatuto significaria que Portugal disporia das condições gerais de viabilidade e sustentabilidade dos seus próprios projectos de modernização e desenvolvimento, independentemente da posição estratégica da União Europeia.

O 2º cenário estratégico de Portugal é mais realista com as condições de viabilidade e sustentabilidade do país: o cenário de Portugal globalizado. Pondo de lado a função europeia de Portugal, cometendo à cultura lusíada um papel verdadeiramente grandioso que a nação não pode assumir, o país teria uma função europeia “delegada” onde se procurariam fazer uma de duas coisas, ou ambas: continuar a afirmar a posição da UE no mundo e, para compensar a dependência de Portugal neste cenário estratégico, estabelecer redes de associação em ordem a reunir os recursos e as vontades necessárias para o desenvolvimento das estratégias do país.Este caminho passaria, naturalmente,pela intensificação dos laços de cooperação com os PALOPs. Coisa que hoje não existe ou só está materializada em aspectos empresário pontuais, sem expressão permanente ou estrutural na relação Portugaç-África – que deveria ser um dos pilares da sua política externa.

O 3º cenário inscreve Portugal numa situação de grande dependência face à envolvente, designada de globalização competitiva. Esta configuração toma como ponto de partida o verdadeiro estatuto estratégico de Portugal presentemente. Correspondente a um papel limitado ao espaço europeu, mas sem qualquer protagonismo ou vocação globalizante (excepto na língua, embora até aí o papel maior cabe – ironicamente – à “ex-colónia” – o Brasil) e fortemente dependente do sucesso (pleno) da sua integração europeia e dos Quadros Comunitários de Apoio (QCA) na sociedade nacional sem os quais não se efectivaria a modernização desejada.

Vistas assim as relações entre a política e a geografia, entre Portugal e o mundo – como se do Espírito das Leis de Montesquieu se tratasse, a localização periférica de Portugal no contexto europeu significa que o país perdeu capacidade de iniciativa (por falta de recursos, dimensão política e escala económica) e depende profundamente dos projectos (e dos recursos) de modernização europeia para viabilizar as suas próprias condições de modernização e desenvolvimento.Logo, se a Europa não cresce Portugal fica bloqueado – como, de resto, se encontra há quase meia dúzia de anos.

– Se, porventura, a Europa se fechasse ao mundo (neste 3º cenário de Portugal fortemente dependente e vulnerável) e aparecesse como uma configuração fragmentada, aí o cenário ainda seria pior para Portugal. Emergia um país a duas velocidades, dual do ponto de vista social e repleto de clivagens entre as classes muitos ricas e as classes muito pobres (pelo efeito de ausência da classe média).

– Naturalmente, o que é válido para Portugal em termos de cenarização das condições de modernização e desenvolvimento por efeito do contexto de globalização competitiva, também se aplica às outras sociedades europeias, embora estes desafios se coloquem com maior acuidade a Portugal por causa das suas condições geográficas, de recursos e de pobreza e de atraso estrutural crónico relativamente aos demais países da Europa com quem hoje nos queremos (estatísticamente) comparar. O mesmo é dizer que a sua periferização dificulta a sua consequente integração nas redes europeias de que dependem os níveis de modernização (continuados) indispensáveis ao progresso das sociedades. Talvez por isto, meia dose de ironia, o TGV custe tanto a levantar vôo ou a OTA ainda não tenha entrado nos carris. Razão tem Belmiro de Azevedo quando diz que não se preocupa com estes dois abcessos porque tem confiança que os portrugueses já se tenham esquecido deles. Os tugas agora querem é bola, e com a ajuda de Marcelo no fute-comentário ainda melhor.

O 4º cenário – é o mais pessimista para a economia e sociedade nacionais. Ou seja, configura um estatuto estratégico em que Portugal apareceria (ou aparece) numa situação altamente globalizada e regressiva. Naturalmente, este cenário configura a pior situação possível para o país. Significaria que a comunidade nacional, agora numa posição de fatalismo e descrença, encontado aos 3Fs – (Fado, Futebol e Fátima) não conseguiria apenas acompanhar os níveis mínimos de modernização soprados pelos ventos da Europa, como também a identidade política, teria perdido toda a capacidade de iniciativa política ficando, neste caso, absolutamente dependente dos inputs vindos do exterior.

– Chamaria a este cenário – o cenário Mr. Maggo, ou seja, o cenário Medina Carreira que, aliás, como disse, é o único advogado a fazer as contas ao país e cuja apreciação estrutural – em termos de diagnóstico – me parece sábia e realista. Portanto, não creio, como referi, que Mr. Magoo – e até é afectuosamente que assim o designamos, esteja a levantar labaredas para que Sócrates lhe dê um tacho. E quem diz um tacho diz uma panela ou a presidência duma qualquer Comissão de Avaliação daquilo que todos nós já sabemos: o Estado está gordo e banhudo, cheio de adiposidades, não consegue correr.

– Perante esta situação regressiva, Portugal não teria qualquer contributo a dar à Europa, mesmo que esta se abrisse ao mundo e aí mantivesse uma posição relevante. O país seria automaticamente “engolido” pelas redes ibéricas tornando-se uma mera província da Península. E no caso ainda mais problemático de a Europa se fechar e fragmentar ao mundo, mantendo um estatuto de Europa-fortaleza, Portugal ficaria totalmente bloqueado restando-lhe a autodestruição da sua própria identidade nacional.

– Conclusão: temos de reinventar Portugal.

Notas: esta cenarização foi extraída da n/ tese de doutor/ denominada – Globalização – a crise do Estado soberano?, Lisboa, ISCSP, 2004, págs. 547-554

MAPA DE TELECOMUNICAÇÕES 2000 - TELE GEOGRAPHYPor falar em “Portugal ser engolido pelas “redes Ibéricas”. Observe-se um mapa de 2000, apesar da diferença de 8 anos; onde já se pode perceber muita coisa.

É um “mapa de fluxo” de telecomunicações na Europa medido no ano de 2000. Como a progressão da aquisição de equipamentos e o aumento do número dos consumidores será mais ou menos estável entre os vários países e, apesar do esforço português, de tentar apanhar os mais desenvolvidos, reduzindo a diferença, penso que se demonstra que a diferença, já naquela altura, demonstrava muita coisa.

O autor do texto e da tese de doutoramento pensa que Portugal está no 3º cenário. A conclusão é minha.

Creio que está no quarto cenário, com os governantes portugueses e a “elite” a venderem (tentarem vender) a ideia aos portugueses que Portugal está no primeiro cenário, ou na pior das hipóteses, no segundo cenário. Notícia Expresso de 19-04-2008 – onde podemos ver uma declaração exemplificativa de cariz estúpido-político de que Portugal está no primeiro cenário, mostrada uma parte, em baixo.

Creio que está no quarto cenário aqui descrito, mas só em algunsExpresso-19-04-2008 aspectos, noutros não. Nesses outros aspectos estará ainda em pior situação e com outro tipo de nuances e problemas para resolver. (Nota: o facto de eu achar que está no 4º cenário nada tem  directamente que ver com o post do Blog Macroscópio ou deve ser entendido como crítica ao mesmo e ao autor.)

Veja-se, outra vez, por exemplo, neste simples mapa acima mostrado, o tamanho das redes de fluxo comunicacional, da Suécia, da Bélgica, da Holanda, da Finlândia, da Dinamarca.

Só para dar um pequeno exemplo. Países, sensivelmente em termos de população, da mesma dimensão (excepção à Holanda) ou menor dimensão.

No ano 2000 vê-se, claramente, que estão extraordinariamente adiantados nesta área.

Não é “normal” que estejam tão adiantados. Já nesta altura!

Isto é por acaso?

Written by dissidentex

23/04/2008 at 10:53

PEQUIM 2008. TIBETE. BOICOTE.

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GANE OVER - FREE TIBETAtravés do Daniel Marques.Net chego a este relato na primeira pessoa directamente do Tibete.

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Devem saber o que se passa no Tibete… O que vos posso dizer eh que tudo eh muito mais violento do que mostram na televisao. Foi muito muito violento. Para os tibetanos vai ser um massacre. Nunca vamos saber quantos morreram ou morrerao. Para nos, alem de violento psicologicamente, foi mais perigoso porque acabou por se saber que fomos os dois (eu e o Miguel) as unicas testemunhas do principio de tudo (no mosteiro de Drepung, onde estavamos no dia 10 de Marco, por acaso).

Ficamos imediatamente controlados pela policia ao ponto de, a caminho para o Nepal, nos dizerem que estavamos presos no hotel. Nunca tinha sentido o que era estar “presa” nao porque tivesse feito alguma coisa mas porque nao queriam que falassemos. O nosso mail e telefone ficaram, tambem, imediatamente controlados e as nossas maquinas fotograficas bem inspeccionadas.

Vimos a maior violencia policial que podem maginar, sobre pessoas desarmadas. Nao vimos ninguem morrer, mas sabemos que muitos dos monges com quem estivemos durante todo o dia 10, morreram depois, nesse mesmo dia. Vai ser um massacre em Lassa. Tudo o que disserem nas noticias de contrario podem acreditar que eh mentira. Ha lugares no mundo onde pessoas morrem por terem opiniao. Nao se passa apenas na distancia da televisao, ou em filmes com actores conhecidos, passa-se na realidade e muito perto de nos.

Clara Faria Piçarra no Minisciente

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Um dos falsos argumentos utilizados para se dizer que não se deve boicotar os Jogos Olímpicos de Pequim consiste na afirmação de que “não se devem misturar duas coisas diferentes – a ditadura Chinesa e uma manifestação desportiva. E que isto (a insurreição no Tibete ) é tudo muito complexo.

Em 1979 e 1980 os países Ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, abriram um precedente. Misturaram duas coisas diferentes – a invasão do Afeganistão pela então USSR e os jogos Olímpicos de Moscovo.

Era, também, à época, uma situação muito complexa.

E no entanto…abriu-se um precedente…

CARTAZ DOS JOGOS OLÍMPICOS DE MOSCOVO

É espantoso o que 28 anos de diferença podem fazer, alterando a percepção de coisas misturadas.

E alterando a percepção do que é complexo e do que não é complexo.

Talvez este mapa em baixo possa ajudar a perceber estas complexas mudanças de percepção. PERCENTAGEM DE EMPRESAS MULTINACIONAIS DE PAÍSES EMERGENTES

Este é um quadro que mostra a percentagem de empresas multinacionais oriundas de mercados ( países) emergentes e qual é o peso relativo dos países na percentagem considerados. A “unidade de medida a que corresponde o quadro é 100”. ( 46 empresas chinesas, 21 indianas, 12 brasileiras…etc…)

Estas empresas, estão presentes não só nos mercados de origem (Ásia) mas também na Europa, África e Estados Unidos. Uma delas é só a número dois a nível mundial no fabrico e venda de computadores portáteis.

É uma situação muito complexa, esta…

ZYGMUNT BAUMAN, globalização, modernidade, sociedade fragmentada.

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Tipo: post com uma entrevista completa de Zigmunt Bauman,sociologo polaco, retirada informação e a ligação do blog macroscópio de 01 de Julho de 2007.

Sobre: amizade, globalização, sociedade fragmentada, ritmo de vida.

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“””Entrevista com o sociólogo Zygmunt Bauman, autor do famoso “O mal-estar da pós-modernidade”.

É impressionante a forma como o sociólogo estabelece conexões entre muitos dos temas que têm baliado muitas das nossas relações. Valerá a pena rever algumas dessas questões do nosso tempo.

Como amar em um mundo assustador?

Há anos o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, professor emérito da Universidade de Leeds e de Varsóvia, dedica-se a retratar as desastrosas consequências sociais de uma modernização que privilegia apenas uma minoria. Prestes a completar 80 anos, o autor dos best-sellers “O mal-estar da pós-modernidade” e “Amor líquido” está mais activo do que nunca: dois novos livros estão chegando ao Brasil, ambos pela Jorge Zahar Editor. Em “Vidas desperdiçadas”, Bauman faz um prognóstico assustador: o crescimento incontrolável do “lixo humano”, pessoas descartáveis ou “refugadas”, como prefere que não puderam ser aproveitadas e reconhecidas numa sociedade cada vez mais seletiva. O outro lançamento é “Identidade”, uma entrevista que concedeu ao jornalista italiano Benedetto Vecchi, em que reforça seus conceitos sobre a crise de identidade imposta pela modernização.

Em entrevista exclusiva ao jornal O Globo, 5-11-05, Bauman analisa a fluidez dos relacionamentos amorosos, compara a vida em sociedade ao “Big Brother”, critica o combate militar ao terrorismo, comenta o “jeitinho brasileiro” e nega o rótulo de pessimista: “Acredito fortemente que um mundo alternativo seja possível”, diz ele.

  • No seu livro “Amor líquido” é um sucesso comercial no Brasil. Na sua opinião, por que as pessoas têm se interessado tanto pelo assunto? Por que a idéia de durabilidade das relações amorosas nos assusta tanto?

ZYGMUNT BAUMAN: As relações amorosas estão hoje entre os dilemas mais penosos com que precisamos nos confrontar e solucionar. Nestes tempos líquidos, precisamos da ajuda de um companheiro leal, “até que a morte nos separe”, mais do que em qualquer outra época. Mas qualquer coisa “até a morte” nos desanima e assusta: não se pode permitir que coisas ou pessoas sejam impedimentos ou nos obriguem a diminuir o ritmo de vida. Compromissos de tempo indeterminado ameaçam frustrar e atrapalhar as mudanças que um futuro desconhecido e imprevisível pode exigir. Mas, sem esse compromisso e a disposição para o auto-sacrifício em prol do parceiro, não se pode pensar no amor verdadeiro. De facto, é uma contradição sem solução. A esperança ainda que falsa é que a quantidade poderia compensar a qualidade: se cada relacionamento é frágil, então vamos ter tantos relacionamentos quanto forem possíveis.

  • O senhor está casado com a mesma mulher há 56 anos (a também socióloga Janina). Há segredo para uma união duradoura em tempos de “amor líquido”, em que os parceiros são descartados de acordo com a sua funcionalidade?

BAUMAN: Quanto mais fácil se torna terminar relacionamentos, menos motivação existe para se negociar ou buscar vencer as dificuldades que qualquer parceria sofre, ocasionalmente. Afinal, quando os parceiros se encontram, cada um traz a sua biografia, que precisa ser conciliada, e não se pode pensar em conciliação sem fazer concessões e auto-sacrifício. Eu e Janina, provavelmente, consideramos isso mais aceitável do que a perspectiva de ficarmos separados um do outro. No fim das contas é uma questão de escolha, do valor que se dá a estar junto com o parceiro e da força do amor, que torna o auto-sacrifício em prol do amado algo natural, doce e prazeroso, em vez de amargo e desanimador.

  • A sociedade fragmentada que o senhor apresenta em “Vidas desperdiçadas” não estimula a individualização e o sentimento de medo ao estranho que foram apresentados em “Amor líquido”?

BAUMAN: Claro. Nos comportamos exactamente como o tipo de sociedade apresentada nos “reality shows”, como por exemplo, o “Big Brother”. A questão da “realidade”, como insinuam os programas desse tipo, é que não é preciso fazer algo para “merecer” a exclusão. O que o “reality show” apresenta é o destino e a exclusão é o destino inevitável. A questão não é “se”, mas “quem” e “quando”. As pessoas não são excluídas porque são más, mas porque outros demonstram ser mais espertos na arte de passar por cima dos outros. Todos são avisados de que não têm capacidade de permanecer porque existe uma cota de exclusão que precisa ser preenchida. É exactamente essa familiaridade que desperta o interesse em massa por esse tipo de programa. Muitos de nós adoptamos e tentamos seguir a mensagem contida no lema do programa “Survivor”: “não confie em ninguém!” Um slogan como esse não prediz muito bem o futuro das amizades e parcerias humanas.

  • Em “Vidas desperdiçadas” o senhor menciona a questão criada por “imigrantes” em busca de um Estado que os proteja e lhes dê sobrevivência. De que modo os recentes atentados terroristas nos EUA e Europa são uma conseqüência dessa “marginalização” de seres humanos?

BAUMAN: A globalização negativa cumpriu sua tarefa. As fronteiras que já foram abertas para a livre circulação de capital, mercadorias e informações não podem ser fechadas para os humanos. Podemos prever que quando e se os atentados terroristas desaparecerem, isso irá acontecer apesar da violência brutal das tropas. O terrorismo só vai diminuir e desaparecer se as raízes sociopolíticas forem eliminadas. E isso vai exigir muito mais tempo e esforço do que uma série de operações militares punitivas. A guerra real e capaz de se vencer contra o terrorismo não é conduzida quando as cidades e vilarejos arruinados do Iraque ou do Afeganistão são devastados, mas quando as dívidas dos países pobres são canceladas, os mercados ricos são abertos à produção dos países pobres e quando as 115 milhões de crianças actualmente sem acesso a nenhuma escola são incluídas em programas de educação.

  • O que o senhor acha da afirmação de alguns acadêmicos que a globalização acabou e que o momento que vivemos agora é de vácuo pós-globalização?

BAUMAN: Não sei o que esses “acadêmicos” têm em mente. Até agora, a nossa globalização é totalmente negativa. Todas as sociedades já estão abertas. Não há mais abrigos seguros para se esconder. A “globalização negativa” cumpriu seu papel, mas sua contrapartida “positiva” nem começou a actuar. Esta é a tarefa mais importante em que o nosso século terá que se empenhar. Espero que um dia seja cumprida. É questão de vida ou morte da Humanidade!

  • O que será preciso acontecer para que nossa sociedade se dê conta da armadilha que caiu em busca da suposta “modernidade”?

BAUMAN: A civilização moderna não tem tempo nem vontade de reflectir sobre a escuridão no fim do túnel. Ela está ocupada resolvendo sucessivos problemas, e principalmente os trazidos pela última ou penúltima tentativa de resolvê-los. O modo com que lidamos com desastres segue a regra de trancar a porta do estábulo quando o cavalo já fugiu e provavelmente já correu para bem longe para ser pego. E o espírito inquieto da modernização garante que haja um número crescente de portas de estábulos que precisam ser trancadas. Ocasiões chocantes como o 11 de Setembro, o tsunami na Ásia, (o furacão) Katrina, deveriam ter servido para nos acordar e fazer agir com sobriedade. Chamar o que aconteceu em Nova Orleans e redondezas de “colapso da lei e ordem” é simplista. Lei e ordem desapareceram como se nunca tivessem existido.

  • O senhor aponta uma “crise aguda da indústria de remoção de refugo humano”. É possível criar mecanismos de inclusão dos seres humanos “excessivos” e “redundantes”? A modernização implica, necessariamente, uma “lixeira humana”?

BAUMAN: Esse excesso de população precisa ser ajudado a retornar ao convívio social assim que possível. Eles são o “exército reserva da mão-de-obra” e lhes deve ser permitido que voltem à vida activa na primeira oportunidade. Os “redundantes” são obrigados a conviver com o resto da sociedade, o que é legitimado pela capacidade de trabalho e consumo. Em vez de permanecer, como era visto anteriormente, como um problema de uma parte separada da população, a designação de “lixo” torna-se a perspectiva potencial de todos. Há partes do mundo que se confrontaram com o antes desconhecido fenômeno de “população sobrando”. Os países subdesenvolvidos não se disporiam, como no passado, a receber as sobras de outros povos e nem podem ser forçados a aceitar isso.

  • Países como Brasil, Índia e China são constantemente apontados como estratégicos para o século XXI. Ao mesmo tempo, são três países com grande número de “lixo humano”, com alto índice de desemprego. Isso não é uma contradição?

BAUMAN: Certamente. Isso fica ainda pior quando os gigantes do século XXI, China, Índia, Brasil, entram no “processo de modernização”. O número de “pessoas desnecessárias” crescerá. E aí há o grande problema que mais cedo ou mais tarde teremos que enfrentar: capacitar ou não China, Índia e Brasil a imitar o modelo de “bem-estar” adotado nos Estados Unidos em uma época em que “modernização” ainda era um privilégio de poucos? Para dar vazão, seriam necessários três planetas, mas nós só temos um para dividir.

  • Um dos mais importantes compositores brasileiros, Chico Buarque de Holanda, afirmou que “uma nação grande e forte é perigosa, mas que uma nação grande, forte e ignorante é ainda mais perigosa”. Ter uma nação grande, forte e ignorante no comando do mundo como parecem ser os Estados Unidos da Era Bush não pode acirrar ainda mais o “refugo” dos seres humanos?

BAUMAN: Lamento não conhecer Chico Buarque: ele toca no cerne da questão. Até onde vai a situação de nosso planeta com um único superpoder, confundido e subjugado pela ilusão de sua repentina ilimitada liberdade? A elevação súbita dos Estados Unidos à posição de superpotência absoluta e uma incontestada hegemonia mundial pegou líderes políticos americanos e formadores de opinião desprevenidos. É muito cedo para declarar a natureza deste novo império e generalizar seu impacto no planeta. Seu comportamento é, possivelmente, o fator mais importante da incerteza definida como “Nova Desordem Mundial”. Um império estabelecido pela guerra tem que se manter por guerras. Acabamos de ver isso no Iraque, apesar de todos saberem que era óbvio que bombardear e invadir o país não aniquilaria o terrorismo.

  • No Brasil, temos uma expressão muito popular, “jeitinho brasileiro”, que representa a capacidade do povo de superar adversidades, sejam elas pequenos problemas do cotidiano ou não. O senhor acredita que há nações com seres “redundantes” que saibam sobreviver melhor do que outros?

BAUMAN: O que vocês chamam de “jeitinho brasileiro” é a maneira que a modernização nos obrigou a reagir. Um dos resultados cruciais da modernização é a dependência dos processos da vida humana pelos “jeitinhos”. Isso implica o outro lado da mesma moeda: a vulnerabilidade crescente dos legítimos modos instruídos de viver.

  • Aos 80 anos, sua produção intelectual ainda é grande. O que o motiva a continuar escrevendo?

BAUMAN: Pierre Bourdieu ressaltou que o número de personalidades do cenário político que podem compreender e articular expectativas e demandas está encolhendo. Precisamos aumentá-lo, e isso só pode ser feito apresentando problemas e necessidades. O próximo século pode ser o da catástrofe final ou um período no qual um novo acordo entre os intelectuais e as pessoas que representam a Humanidade seja negociado e trazido à tona. Vamos esperar que a escolha entre estes dois futuros ainda seja nossa.

  • Todas suas obras apresentam um cenário bastante pessimista do mundo. Temos razão para acreditar em dias melhores?

BAUMAN: Rejeito enfaticamente essa afirmação. Optimistas são pessoas que insistem que o mundo que temos é o melhor possível; os pessimistas são os que suspeitam que os optimistas podem ter razão. Portanto eu não sou nem optimista nem pessimista, porque acredito fortemente que outro mundo, alternativo e quem sabe melhor, seja possível. Acredito que os seres humanos sejam capazes de tornar real essa possibilidade.

Written by dissidentex

20/12/2007 at 10:44