DISSIDENTE-X

Posts Tagged ‘IRAQUE

O LUCRO DE 25 EMPRESAS NO IRAQUE.

leave a comment »

No dia 22 de Julho de 2008, um blog norte americano chamado http://www.businesspundit.com, decidiu publicar uma lista de empresas – as 25 maiores empresas que retiraram( RETIRAM?) enormes lucros da guerra do Iraque. O artigo do Business Pundit, enuncia quais são as empresas:

1. Halliburton – construção civil – reparação e construção de bases militares e campos petrolíferos e outras estruturas destruídas no Iraque. À volta de 17.2 biliões de dólares durante o período de 2003-2006. Dick Cheney o vice presidente americano, tem interesses nesta empresa.

2. Veritas capital Fund/ Dyn Corp. Este é um “Private equity fund – um grupo de investidores junta dinheiro e depois investe esse dinheiro numa empresa para que esta faça os serviços necessários. A empresa aqui é a “Dyn Corp” e os serviços são o treino das forças policiais do novo Iraque liberto da tirania – pelo qual os investidores no fundo são pagos pelos contribuintes norte americanos, via orçamento de Estado americano.

3.Washington Group International – reparação e manutenção de campos petrolíferos de alto rendimento. Adicionalmente, a construção de sistemas de abastecimento de agua, escolas e bases militares. Nacionalidade americana. 931 milhões de dólares, durante 2003-2006 de lucro.

4. Environmental Chemical. Limpeza de zonas de guerra das munições abandonadas e das cápsulas dos projecteis que ficaram para trás. Tendo em conta que o negócio destas empresa são projecteis abandonados, se a guerra continuar a limpeza dos mesmos não cessará… 876 milhões de dólares no final do anos fiscal de 2006.

5. Aegis. Ao 5º nome temos uma companhia Britânica. Esta companhia é a que coordena todas as operações privadas de segurança no Iraque (isto é os mercenários). É um contrato de 430 milhões de dólares.

6. International American Produts. Para se fazer uma guerra necessita-se de electricidade, energia. Aqui entra esta companhia. É necessário, em zonas próximas do combate, ter energia eléctrica. Esta companhia ganhou 759 milhões de dólares, em três anos por fazer isso.

7.Erinys. Uma companhia baseada em Londres. Esta e a companhia especificamente destinada a guardar as reservas de petróleo iraquianas. 136 milhões de dólares e 20 mil guardas colocados nos poços de petróleo para evitar sabotagens ou ataques terroristas. Como o preço do petróleo sobe as expectativas positivas para a Erinys são muito boas.

8. A Fluor. É uma companhia simples de pessoas simples que conseguiu um contrato em 2004, no Iraque, no valor de 1.1 biliões de dólares, para criar sistemas de agua/tratamento de esgotos.É uma Joint venture/ um empreendimento conjunto entre a Fluor e a empresa baseada em Londres “London AMEC,PLC” divididos em dois contratos. Um de 600 milhões em que a Fluor tem que construir a infraestrutura de transporte de agua e os saneamentos para as maiores cidades iraquianas e a outra companhia faz o mesmo nas cidades mais pequenas.

9. Perini Corporation. Esta empresa sacou um contrato de 650 milhões de dólares para fazer limpeza ambiental?!, mas o dono da mesma é um financeiro chamado Richard Blum, presidente de um fundo equity, e marido da senadora da Califórnia chamada Dianne Feinstein – a pessoa que dentro do sub comité militar de apresentação e apreciação de projectos deste tipo, o aprovou… Dianne Fenstein pertence ao partido do senhor Barack Obama, o tal político que diz que devemos acreditar etc e tal… e que retira do Iraque em meia hora se for eleito.

10.URS Corporation. esta companhia também é controlada pelo senhor Ricahrd Blum. Recebeu só 792 milhões de dólares em avenças para fazer limpeza ambiental em zonas de guerra iraquianas. Imagem Kaos.

Imagem "We Have Kaos in The Garden"

Imagem

11. Parsons. Uma companhia norte americana, que tinha como tarefa construir academias de polícia, estações de bombeiros e centros de dia. Um pequeno contrato de 540 milhões de dólares, e mais tarde apurado por uma comissão do senado, em 13 dos 14 projectos atribuídos a esta empresa existiam erros grosseiros de construção. Um dos erros eram os desperdícios derivados do uso das casas de banho começarem a sair dos tectos da academia de polícia construída.

12. First kuwaiti General trading and contracting. Esta companhia recebeu um contrato de 500 milhões de dólares para construir a embaixada norte americana no Iraque. A companhia recebeu o contrato porque tinha ligações privilegiadas com membros da administração Bush, não pelos méritos. Foi também acusada de ter usado trabalhadores em trabalhos forçados e coacção dos empregados contratados.

13.Armor Holdings. É uma subsidiaria da empresa inglesa BAE SYSTEMS. Desde o inicio do conflito a sua margem de lucro subiu 2.247% / 634 milhões de dólares. É uma companhia que fornece blindagem topo de gama para veículos e pessoas.

14. L3 comunications. Esta companhia fornece serviços de vigilância electrónica. (câmaras de vídeo, scanners de movimento,etc) Treina ainda pessoal e fornece serviços de tradução no terreno. Apenas 359 milhões de dólares em facturação.

15. AM general.(subsidiaria de uma empresa chamada Renco). Fornecedora de veículos todo o terreno (Jipes).

16. HSBC BANK. Na altura do conflito era o terceiro maior banco do mundo. Comprou uma fatia de 70% do recém criado “Banco Nacional do Iraque”chamado Dar es salaam Investment bank. O HSBC já tem 14 agências no Iraque, e é o primeiro banco privado no Iraque desde o inicio da guerra.

17. Cummins. Apenas 45 milhões de dólares obtidos na produção de motores a diesel e estações de produção de energia electrica. A Cummins é de origem inglesa.

18. Merchant Bridge. Esta empresa é apenas um grupo de investimento bancário que criou uma estratégia de conquista de quotas de mercado no Iraque, nas seguintes áreas: construção, telecomunicações, compra e venda de propriedades, hotéis e industrias de tecnologia de informação. A companhia foi transformada no “principal conselheiro económico do ministro iraquiano”da indústria ” e isso abriu caminho à criação de serviços de leasing, a criação de um banco chamado Mansour Bank e tal gerou apenas uns 61 milhões de dólares. 90% de todos os negócios deste grupo foram financiados, isto é, o dinheiro de investimento veio do próprio Iraque – investidores iraquianos.

19. Global risk strategies. Esta empresa é especializada em gestão do risco, Recebeu apenas 24.5 milhões de dólares por serviços prestados: o aconselhamento das forças norte americanas e da coligação acerca de estratégias de ataques terroristas. Adicionalmente fez-se pagar por fazer serviços de ajuda humanitária.

20. Control risks. Atrás de uma companhia de gestão de risco vem outra companhia de controle e gestão de riscos. Firma inglesa que ganhou 37 milhões de dólares. Os seus empregados,forneceram segurança às forças militares (a companhia numero 11 desta lista teve os empregados da control risks a fazer segurança à esquadra de polícia que a Parsons construía, num curioso esquema de umas trabalharem para as outras…)

21. Caci. A empresa Caci, foi “chamada” pelo governo norte americano para fornecer “interrogadores” para se fazer o respectivo interrogatório a prisioneiros iraquianos. Alguns dos funcionários da Caci estiveram em Abu Graib. Parece que o facto de existir mais tortura gerou maiores rendimentos à Caci… Está a ser investigada.

22. A Bechtel. Estava a ver quando esta aparecia… É só a maior empresa de construção civil do planeta que beneficiou imenso devido às suas ligações ao clã Bush. Recebeu 2.4 biliões de dólares para fazer uns projectos no Iraque – a reconstrução de toda a infraestrutura do país. O funcionário público que contratou a Bechtel disto já tinha falhado nos EUA, na construção de uma zona com uma estrada / túnel, chamada “Big Dig”. Os custos iniciais do Big Dig eram na ordem dos 2.6 biliões de dólares e graças à eficiente gestão de Andrew Natsios, chegaram aos 14 biliões e a obra está longe de estar completa. Nesta ligação 450 milhões dólares são o montante que a Bechtel e os seus sócios estão dispostos a pagar em compensação por uma parte do túnel que estavam a construir ter caído.

No Iraque a Bechtel perdeu o contrato para construir o hospital infantil de Basra porque estava um ano atrasada e tinha excedido o orçamento entre 70 a 90 milhões de doláres.

23.Custer Battles. Esta foi a primeira empresa de construção no Iraque a ser directamente acusada de fraude. Basicamente facturas artificialmente elevadas – 10 milhões de dólares a mais.

24. Nour USA. Uma companhia que não existia antes da guerra do Iraque ter começado. Foi criada apenas para isto. Recebeu 400 milhões de dólares em contratos, um dos quais de 80 milhões de dólares para tomar conta dos pipelines de transporte de petróleo. Alega-se que Ahmed Chalabi, o senhor que era para ser o primeiro ministro do Iraque, grande amigo de Kanan Makyia e considerado como grande oportunista. Oportunista porque é estranho que uma companhia criada apenas para isto e sem experiência nenhuma recebesse um contrato destes… William Cohen, membro do partido Republicano, é um consultor desta companhia. William Cohen foi também Secretário da Defesa 1997-2001, durante o mandato de Bill Clinton.

25. General Dynamics. Esta é uma companhia que fabrica armamento militar dos mais variados tipos. Aviões, balas para tanques, veículos de ataque,etc.

Combater a “Tirania” com este tipo de lucros e afastando completamente empresas iraquianas é apetecível.

NOS 4 ARTIGOS – Guerra do Iraque, Custos financeiros 1,2,3,4 pode-se correlacionar o assunto.

No primeiro artigo intitulado “Guerra do Iraque. Custos financeiros. (1)”

– falou-se do custo do petróleo antes da guerra começar;

– do custo directo da guerra, ao mês, para o governo americano – 12 biliões de dólares

– da privatização de sectores da guerra e de como isso encareceu e aumentou o orçamento de guerra dos EUA.

No segundo artigo intitulado “Guerra do Iraque. Custos financeiros (2)”

– falou-se dos downstram costs – os custos já não derivados directamente dos primeiros custos pagos logo á cabeça.

– falou-se da manutenção diferida do material de guerra – equipamento que não é substituido tão depressa quanto é “gasto”

– falou-se do elevado rácio de baixas/mortes, da ordem dos 15/1.

– falou-se dos empréstimos feitos pelos EUA para financiar a guerra, e de como a Guerra é financiada através exclusivamente, de empréstimos

– Falou-se da segurança social e dos custos futuros que virão a ser gastos com as pessoas que virão ou ficarão danificadas com a Guerra do Iraque.

No terceiro artigo intitulado “A Guerra do Iraque. Custos financeiros. (3)”.

– Falou-se dos aspectos financeiros a ter conta numa eventual retirada do Iraque;

– O tempo que duraria a retirada;

– As muitas outras dimensões financeiras da ocupação do Iraque;

– vários outros tipos de custos indirectos

– Efeitos macroeconómicos na economia americana.

No 4 artigo intitulado “ Guerra do Iraque, Custos financeiros (4)”

– falou-se do impacto da guerra no Iraque e noutras partes do mundo.

– Especificamente, saber se se consegue apurar quanto custou ao Iraque em termos económicos e humanos o lançamento desta guerra.

Advertisement

CAÇAS F16 E O IRAQUE.

leave a comment »

No artigo “livro – o que resta da esquerda- Nick Cohen”, a dada altura escrevi o seguinte:
…O núcleo central de questões que Cohen é coloca é o seguinte”:… “- A esquerda política (no livro designada por liberal, derivado da palavra inglesa “liberals” que será traduzível por pessoas de esquerda), que desde sempre combateu as tiranias não tem outra opção:

tem que ser a favor da deposição de uma tirania – agora e nos dias de hoje – tal e qual o foi no passado.

Este parte do post era o que derivava da minha interpretação das palavras de Nick Cohen a propósito do tema do livro serem as questões relacionadas com a definição política do que deveria ser a esquerda e qual a “posição certa” dos militantes de esquerda (ou outros) relativamente ao Iraque e à Guerra que por lá se trava.

Saindo das tiranias abjectas para o mundo da fantasia em que infelizmente vivemos e onde o combate a tiranias é sempre selectivo e varia em função dos $interesses$ do momento coisas engraçadas ocorrem.

O actual governo do Iraque decidiu adquirir 36 caças de combate de fabrico norte americano chamados F16, para combater os rebeldes da al-kaida, etc.

( Qual é a legitimidade democrática e a credibilidade de um governo naquelas condições para negociar livremente e em plena consciência e uso são das suas faculdades, contratos militares? )

Nota: As forças norte americanas estão em processo de substituição dos seus caças F16 pelos seus novos e modernos caças F22. (O F35 lightning está “atrasado”…)

Em Portugal o jornalismo que se faz é muito mau. A notícia da compra dos F16 é dada da seguinte maneira (ver em baixo): é dito que é o governo Iraquiano que pede condições de compra. E também é dito que a compra pelos iraquianos dos referidos aparelhos visa substituir as forças norte americanas no Iraque.

( Um governo iraquiano que, para se manter em “funções”, pede condições a quem o protege para comprar aviões a quem o protege…como se isto significasse – neste jornalismo rasteiro – estar-se colocado numa posição negocial igual…)

Esta compra dos aparelhos permitirá retirar militares norte americanos do território.

É-nos assim apresentada a situação (e aos iraquianos) como uma troca. Os iraquianos – em estado de necessidade e em perigo de vida – compram aparelhos de combate que custam perto ( para cima) de uns 50 milhões de dólares (cada aparelho).

(Qual é, concretamente a capacidade negocial de um governo “eleito” em condições duvidosas, para conseguir negociar “livremente” um acordo destes, do qual depende a vida dos seus membros?)

Em contrapartida, os benfeitores gratuitos norte americanos saem, (algumas forças saem) de um território que não é deles, e os iraquianos, recentemente autonomizados, livres e libertos da tirania horrenda de Saddam Hussein, continuarão a pagar as peças, a manutenção dos aviões, o treino dos pilotos, etc, ao benfeitor norte americano tendo simultaneamente que lutar para serem libertos da tirania anárquica dos fundamentalistas muçulmanos.

Porque ( 1 ) caso não o façam, o benfeitor pode decidir invadir de novo o Iraque para restabelecer a ordem, ou ( 2 ) caso não o façam, os insurgentes terroristas muçulmanos rebentam com este mesmo governo.

Presos por ter cão e por não ter; excelente negócio este… mas não para o iraquianos…

Seremos forçados a concluir que acções militares para libertar povos de tiranias horrendas; aparentemente compensa – para algumas empresas e interesses privados.

E que o argumento de venda justificando a necessidade destas compras é apresentado como sendo para “reduzir” a dependência das forças norte americanas por parte dos iraquianos.

Como é que se reduz a dependência dos norte americanos se as já referidas manutenção, peças, treino é feito a partir de serviços prestados pelos norte americanos e pelas correspondentes empresas?

Como é que se reduz a dependência dos norte americanos, se do outro lado estão fanáticos muçulmanos prontos a estourar com o “governo do Iraque”?

Como é que se reduz a dependência se o governo do Iraque estará colocado numa eterna posição de dependência das forças norte americanas, enquanto existirem fanáticos muçulmanos?

Recentemente, Bagdad comprou 24 helicópteros de ataque, num valor global de 2.4 mil milhões de dólares.

E ainda planeia comprar 10 mil milhões de dólares em Material militar aos EUA… Fonte: Diário Digital, 6 de Setembro de 2008.

Lutar contra a tirania sai caro. Mais a quem compra.

Este programa beneficia empresas como a General Dynamics, Boeing e a Raytheon. Os F-16 são fabricados pela Lockheed Martin.

Este programa beneficia empresas como a General Dynamics, Boeing e a Raytheon. Os F-16 são fabricados pela Lockheed Martin. ( Resto das palavras da notícia que não cabia na "fotografia")

Como é óbvio este é mais um artigo que é facilmente rotulável como sendo um artigo anti americano, simplesmente porque critica os norte americanos e os esquemas negociais das empresas norte americanas.

Como é óbvio, segundo a lógica recente dos “novos combatentes contra a tirania” este é mais um artigo que, pelo facto de criticar os norte americanos, fará com que seja rotulável ter sido feito por alguém da extrema direita, ou da extrema esquerda, ou do extremo centro ou do planeta Marte.

A tirania em que é colocado o povo do Iraque e o governo do Iraque sendo forçado a adquirir material militar caro e a tornar-se permanentemente um Estado cliente dos EUA, não é considerado uma tirania feita de uma forma mais subtil e suave.

Só ataques à bomba feitos por fanáticos religiosos é que pertencem às classificações correctas de tirania.

Pegando nas palavras de Nick Cohen no inicio do artigo: a esquerda política (ou outros) deverá simultaneamente ser contra fundamentalistas muçulmanos (ou outros) e ser contra jogadas comerciais como estas acima descritas. Feitas por americanos ou não.

Não se compreender isto, é não se compreender nada.

Written by dissidentex

10/09/2008 at 22:03

LIVRO – O QUE RESTA DA ESQUERDA – NICK COHEN.

leave a comment »

Livro: “O que resta da esquerda” do autor Nick Cohen, um jornalista inglês.

Editora aletheia – apresentação no sitio “Critica literária” – 2007.

A editora Aletheia é uma editora recente, lançada por Zita Seabra, ex-membro do pcp há uns anos atrás e actualmente membro do PSD. Explica-se desta forma pelo facto de ser a editora que é; a razão de ser das opções editoriais. Cita-se:

Questionada sobre os critérios de edição, Zita Seabra afirmou que a Alêtheia quer publicar 120 livros por ano, seleccionados de acordo com opções culturais e comerciais.” Diário de Noticias – 08 – 10 – 2005

Mas então a editora não pode escolher editar o que quiser, ò reaccionário?

Claro que pode. Convém é que o faça com pés e cabeça e não cometa erros básicos como este, na ânsia política de publicar algo que representa um esforço comercial mas também uma opção cultural para dar alfinetadas, e fazer guerra ideológica sobre o BE, no PS ( numa parte) e no PCP que até as merece. Ou seja, não fazerem m*erda da grossa como está aqui em baixo.

Clicar imagem e reparar no que está sublinhado

Clicar imagem e reparar no que está sublinhado

Clicar imagem e observar o que está sublinhado a azul

Clicar imagem e observar o que está sublinhado a azul

A imagem em cima pertence à página 10 do livro. A imagem em baixo pertence à contra capa. É evidente que este erro não tem directamente a ver com o conteúdo, mas mostra bem uma série de coisas. Na página 10 temos um professor de inglês, na contra capa temos uma querida e atenciosa professora de Inglês.

Já agora: o livro tem a indicação das fontes feita pelo próprio autor, mas não tem índice remissivo.

Nada mau para um “livro político”…

Este livro é muito difícil de comentar, porque é difícil escrever sobre um livro globalmente muito mau, mas que tem dentro dele partes muito boas.

Entre factos e criticas correctas que Cohen aponta á esquerda, surgem também numa mistura confusa pequenos truques rasteiros e muita desonestidade intelectual de Cohen relacionada com este assunto, bem como “ajustes de contas” sobre a forma de recados e remoques sobre as diferentes actividades de diferentes personalidades, inglesas e estrangeiras.

Uma das religiões que é mais arduamente defendida no livro é a religião do anti-anti-americanismo.

Isto é; quem criticar os americanos, mesmo que salte à vista desarmada que os EUA estão a cometer um qualquer erro ou asneira gigantescos, deverá, por sua vez, ser criticado ferozmente e ser apelidado de “anti americano” em tom absolutamente depreciativo.

Dois aspectos.

– Não só isto constitui uma isenção de critica aos norte americanos;

– Como é também assim constituída uma quase “excepção oficial”:

O resultado é simples.

Todos podem e devem ser criticados, menos os americanos, porque são os “combatentes da liberdade” e os combatentes da liberdade não são passíveis de serem criticados.

Adicionalmente:

Também é uma maneira de “isolar” pessoas que não sendo esquerdistas, nem de extrema direita, não apreciem as políticas norte americanas nem com molho de tomate em cima ou senhoras de seios volumosos a saírem de dentro de um bolo a amenizar a falta de aprovação dos actos norte americanos.

Somos todos obrigados a gostar de norte americanos e das suas políticas. É como um restaurante onde só se sirva bolo de bolacha e todos tem que gostar, gostem ou não.

O problema do livro não está no conteúdo (opções) do livro, e no facto de “criticar” a esquerda. Mas sim nos truques rasteiros que Cohen – que se diz de esquerda – usa para o fazer e de como, na quase totalidade do livro cria um lógica intelectualmente desonesta ao serviço dos pontos de vista que pretende demonstrar e que, alguns, não são os da esquerda mas os da direita e da mais profunda. (Nesse aspecto o branqueamento de Paul Wolfowitz, de George Bush, de Tony Blair são notáveis…)

Nas páginas 78 a 90 da edição portuguesa isso nota-se bastante e na zona 88-91 faz a apologia de Paul Wolfowitz da seguinte maneira:

Página 91 ” Ouvimos Wolfowitz apresentar um apelo coerente á ajuda ao movimento democrático no Irão contra os sacerdotes. Era difícil não ficar impressionado com a seriedade dos seus objectivos”.

( Após a implementação do “movimento democrático no Irão” teremos evidentemente a implementação da democracia simplificada, assente no modelo económico neoliberal, mas disso, desses “efeitos”, Cohen não diz uma palavra…) *

E é mais irritante ainda porque para “contrabalançar” este elogio totalmente descabido às operações de propaganda do senhor Wolfowitz, o mentor do projecto PNAC, na página 92, imediatamente a seguir, Cohen critica as políticas norte americanas dos conservadores relacionadas com os soldados americanos; após as comissões de serviço no Iraque regressam a casa.

E percebem, que os ricos que detinham o poder durante o tempo em que estiveram fora, a combater pela América, alteraram as leis. Uma das alterações foram as ajudas a veteranos de guerra – tinham sido “retiradas” – os soldados não tinham qualquer tipo de ajuda para reestabelecerem a vida.

Foi a mesma administração da qual o senhor Wolfowitz fez parte que tomou estas decisões.

O livro todo tem exemplificações deste tipo – estes truques rasteiros; o “dar uma no cravo, outra na ferradura”…

Outra coisa altamente irritante é o seguinte:

Partes em que as nacionalidades dos mais variados intervenientes são colocadas antes do nome ( o Irlandês “X” , o Escocês “Y”,etc) mas curiosamente Tony Blair, George Bush e Wolfowitz, nunca são designados por “o americano ” Bush, o “Inglês” Blair…

A associação de ideias é óbvia visando lançar uma “sombra” sobre as nacionalidades dos intervenientes. Que seriam pessoas “anti poder” e anti Grã-Bretanha, ou anti países anglo-saxónicos, ou “anti conceito de liberdade existente nos países anglo saxónicos” ( a única, a verdadeira, a legítima…)

Há uma parte em relação a Eric Hobsbawm, um excelente historiador, mas marxista, que é sintomática. Hobsbawn é citado a dar uma opinião política, mas é apresentado como sendo “o Historiador “Marxista” Eric Hobsbawm.

A opinião citada de Hobsbawm é política, não marxista, nem de “historiador”, mas as palavras ” Historiador Marxista” aparecem no meio daquilo. Todas as pessoas que ele não gosta ou tem interesse em denegrir (justamente ou injustamente, não interessa) desta forma “subtil” são rotuladas depreciativamente. Já Tony Blair é apenas “Tony Blair….ou Bush é apenas George Bush…

Contudo, o livro tem duas partes muito boas:

– a História pessoal de Kanan Makiya, um refugiado iraquiano que em 1981, sob o pseudónimo de Samir Al Khalil, publicou um manuscrito ( com risco da própria vida ), chamado “a República do medo” onde descrevia a vida horrível, o terror completo, no Iraque debaixo do regime de Saddam Hussein.

– Outra parte muito boa, é a descrição da Guerra da Jugoslávia e subsequente fragmentação. E como a política inglesa da altura ( liderada pelo partido conservador de Jonh Major – a direita que não presta…) agiu em relação ao Balkans, bloqueando toda e qualquer intervenção da União Europeia.

( Cohen nesta parte não faz qualquer elogio a franceses e alemães relacionada com o desejo destes intervirem na ex-Jugoslávia. Noutras partes do livro está sempre a dar alfinetadas à “Bruxelas”, à França, à Europa… (justas ou não, mas é este o tipo de lógica deste livro, de parcialidade…)

Estas duas partes são muito boas porque Nick Cohen conhece pessoalmente Kanan Makiya e escreve umas boas 130 páginas sobre a história pessoal de Makyia, da sua família e do Iraque.

Também conhece pessoalmente no que à Guerra da Jugoslávia diz respeito, o senhor Marko atila Hoare, especialista nesta área, e que escreve no Blog Greater Surbiton.

E também ao conjunto de tipos (entre os quais M. A Hoare) que escrevem sobre o fim das tiranias e quejandos no Harry´s Place

Percebe-se isto claramente no livro – que as melhores partes vem daqui – destas pessoas. O resto de Cohen são ajustes de contas, (Galloway, Gerry Healy e Ken Livingstone, ex- mayor de Londres) (Note-se que Galloway e Healy são do mais detestável que há…) demagogia, anti europeísmo, personificado, especialmente nos sentimentos anti França, Espanha e Europa ( Bruxelas).

( Chomsky e Michael Moore são também arrasados…embora por razões diferentes e no caso de Chomsky bem arrasado…)

Também é interessante notar – notei duas vezes pelo menos ( existem mais, mas estava distraído) – que Nick Cohen cita pessoas e influências sem as citar. Uma série da BBC de 2007 que rebenta argumentativamente com a direita neoconservadora e com a “esquerda Blairista”, bem como um certo filosofo de origem eslovena estão entre os “não citados”… (Mas há lá mais…) (Também faço o mesmo, cito o que ele cita sem citar…)

O núcleo central de questões que Cohen é coloca é o seguinte:

– Existe o mal absoluto e o mal absoluto era o Iraque de Saddam Hussein.

– O mal absoluto deve ser combatido.

– O Iraque de Saddam Hussein, ultrapassou qualquer tirania mais abjecta.

– A esquerda política (no livro designada por liberal, derivado da palavra inglesa “liberals” que será traduzível por pessoas de esquerda), que desde sempre combateu as tiranias não tem outra opção:

tem que ser a favor da deposição de uma tirania- agora e nos dias de hoje – tal e qual o foi no passado.

(A comparação com as circunstâncias do passado é desonesta.)

Esta é basicamente a mensagem – o núcleo deste livro.

Tese central do livro: Cohen coloca quem o lê perante um dilema filosófico e político de resposta impossível para qualquer adepto da esquerda ( e mesmo de direita). Para qualquer cidadão…para o meu gato até…

O dilema é: se não formos contra a tirania do Iraque, seremos obviamente anti democráticos, ou pessoas de extrema esquerda , ou pessoas de extrema direita, nunca seremos “democratas”.

A questão é colocada de uma forma definitiva.

De um lado os defensores da liberdade contra a tirania, e do outro quem não é – imediatamente identificável – contra o derrube das tiranias – quer dizer, desta tirania do Iraque…

Depois Cohen avança e põe outra questão de outra maneira: “o que é que leva a esquerda” liberal (como ele a designa) a adoptar o programa político da extrema direita ou da extrema esquerda?

Esta forma de raciocínio é do pior que se pode encontrar. “Obriga” a que um cidadão, seja de esquerda ou não seja, tenha obrigatoriamente que declarar o seu apoio à invasão do Iraque de 2003, porque, caso não o faça, é apelidado como estando a fazer o jogo da extrema direita ou o jogo da extrema esquerda (ou o jogo do extremo centro…)

As pessoas ficam assim colocadas numa posição em que estão a ser chantageadas – é colocado em causa o seu apego à democracia…

(Isto lembra-me também o Macartismo, quando actores e escritores de filmes em Hollywood dos anos 50 tinham que comparecer numa comissão do Senado americano, para declararem que não eram comunistas nem tinham alguma vez pertencido ao partido comunista. Caso afirmassem que não queriam responder a essas perguntas eram imediatamente colocados sob suspeita e vistos como comunistas e os estúdios deixavam de os contratar. A alternativa era violentarem a sua consciência ou passarem fome… ou traírem terceiros ou desconfiarem de tudo e todos e agirem sempre assim).

( No cinema a história é contada num filme de 2005 – Good Night and Good luck – que mostra o conjunto de reportagens feitas pelo jornalista Ed Murrow acerca do Macartismo e de como isso contribuiu para derrubar as ideias de “caça às bruxas” na América dos anos 50)

A tese acessória deriva da tese central e é a seguinte:

É preferível viver numa “sociedade liberal” do que numa tirania semelhante à iraquiana. Isto é verdade e não se discute. Mas…

Por isso quem vive numa democracia, não pode apoiar manifestações ou protestos que visem impedir o derrube de um regime fascista, porque entre o fascismo e a democracia, o fascismo não se apoia. ( É claro que esta lógica leva inevitavelmente a que outras manifestações contra outros problemas sejam também rotuladas como proto fascismo…por exemplo…)

Mais uma vez colocadas as coisas assim, a desonestidade é evidente, precisamente porque não se pode comparar o incomparável, e porque esta forma de comparação apenas serve de justificação – isto é para que todos nós achemos ser aceitável – que uma “democracia liberal” funcione mal (seja corrupta, injusta, etc), ou que “ditaduras suaves” sejam toleradas.

Vistas as coisas assim, tudo isto legitima e torna aceitável o rebaixamento dos padrões democráticos de uma qualquer sociedade democrática – liberal.

Isto é, desde que os padrões de vida e de democracia de uma “sociedade liberal” sejam mais elevados do que os padrões de uma ditadura ( e são sempre ), isso autoriza a que os organizadores de uma sociedade liberal/democrática possam descer os padrões até níveis bastante baixos, mas sempre a um nível acima do das sociedades totalitárias.

E a legitimidade democrática – segundo este padrão falso – é assim criada.

Por exemplo, segundo esta lógica, é aceitável a prática da tortura em Guantanámo, porque é feita por uma sociedade “liberal” , e esta sociedade liberal, supostamente, possui mecanismos de correcção e parte de uma plataforma moral superior.

Por oposição a uma ditadura sanguinária que faça exactamente o mesmo que se faça em Guantánamo.

Portanto, de um lado temos algo de mau, e do outro temos algo de muito mau.

Como a classificação “algo de mau” é melhor do que a classificação de “algo de muito mau”, parece Cohen opinar, é legitimo aceitar isto assim.

Sobre Capitalismo, tirania dos mercados e corporações, manipulação de Estados e influência sobre organizações internacionais e da forma como estas condicionam o poder político e a democracia, nada se diz no livro de Cohen, nem se relaciona a esquerda ou a direita com estes contextos.

Nem como os interesses económicos destas mesmas corporações estão a começar a ameaçar e a destruir os sistemas políticos democráticos nos quais Nick Cohen pode livremente escrever livros sobre o fim de tiranias…geograficamente distantes.

* Também é de notar que o facto do petróleo e a posição geo estratégica do Iraque não serem mencionadas por Cohen, nem nunca ter mencionado a possibilidade de uma invasão … sei lá… do Zimbabue, onde um ditador sanguinário existe. O Zimbabue é longe, vale zero geoestrategicamente, e não tem petróleo, só gazelas…

Mas mais perto, temos também a Bielorússia.

– No blog “Esquerda- Republicana” existe um post dedicado a Nick Cohen com uma citação em Inglês onde ele está dar na cabeça de muçulmanos e no multiculturalismo

– No blog “menino rabino” existe a transcrição de uma entrevista de Cohen feita a Teresa de Sousa no Jornal Público em 2005

– No blog Agua lisa 6 existe uma recensão sobre o livro diferente desta feita aqui,onde o objecto da mesma é mais colocado sobre as cacetadas que Cohen dá sobre a extrema esquerda.

– No blog “Mare liberum “existe um conjunto de citações do livro” (que infelizmente só chegam à página 80), que demonstram mais ou menos o estilo global do livro.

O livro é perfeito para atacar ideais de esquerda (os verdadeiros) e para lançar a confusão na cabeça de quem o lê (pelo menos da maior parte das pessoas).

Notas finais:

A) o livro deve, apesar de tudo, ser lido;

B) O livro parece muito bom; não o é; sob qualquer ponto de vista que se queira escolher (excepto pelas duas partes que expliquei mais acima)

C) Era um livro que me gerava enormes expectativas, e que é uma desilusão completa no que interessava perceber…

C) Agradecimentos à Sabine por me ter enviado há um ano notícia acerca deste livro.

Written by dissidentex

04/09/2008 at 11:04

GUERRA DO IRAQUE. CUSTOS FINANCEIROS. (3)

leave a comment »

No primeiro artigo intitulado “Guerra do Iraque. Custos financeiros. (1)”

– falou-se do custo do petróleo antes da guerra começar;

– do custo directo da guerra, ao mês, para o governo americano – 12 biliões de dólares

– da privatização de sectores da guerra e de como isso encareceu e aumentou o orçamento de guerra dos EUA.

No segundo artigo intitulado “Guerra do Iraque. Custos financeiros (2)”

– falou-se dos downstram costs – os custos já não derivados directamente dos primeiros custos pagos logo á cabeça.

– falou-se da manutenção diferida do material de guerra – equipamento que não é substituido tão depressa quanto é “gasto”

– falou-se do elevado rácio de baixas/mortes, da ordem dos 15/1.

– falou-se dos empréstimos feitos pelos EUA pata financiar a guerra, e de como a Guerra é financiada através exclusivamente, de empréstimos

– Falou-se da segurança social e dos custos futuros que virão a ser gastos com as pessoas que virão ou ficarão danificadas com a Guerra do Iraque.

Hoje: aspectos financeiros a ter em conta com a retirada dos EUA do Iraque.

A Retirada:

Stiglitz no seu estudo, prova e demonstra que, mesmo que os EUA saissem do Iraque – agora, mesmo assim existiriam custos substanciais só por se sair do Iraque. (Deve-se esquecer a proposta de Jonh Mccain , candidato a Presidente que fala em “uma guerra para durar 100 anos)”.

Quais seriam?

1- reescalonar os militares (todo o exército) e o respectivo equipamento, no caso do equipamento, porque gastou-se equipamento mais depressa do que se repôs;

2. Atender à quebra de padrões de qualidade na formação das forças armadas americanas. Ao aceitar-se toda a gente no recrutamento em vez de excluir candidatos sem perfil começaram-se a contratar criminosos, neo nazis, pessoas notoriamente idiotas, etc, e tudo isso afecta a operacionalidade de um exército e a sua capacidade de combate.

Stiglitz e a sua equipa apontam para um gasto inerente a uma retirada e a este reescalonamento da ordem dos 100 biliões de dólares ou mais. 100 biliões é uma estimativa conservadora.

O tempo da retirada.

Para fazer uma retirada, esta duraria – uma vez que não pode ser feita do dia para a noite – duraria pelo menos um ano a efectivar:

Esta análise de Stiglitz e da sua equipa é baseada no orçamento apresentado pelo departamento correspondente do congresso norte americano, que prevê – muitas pessoas pensam isto mesmo nos EUA, que o que teria que ser feito seria os EUA, rapidamente – ao retirarem – terem que se converter não numa força de combate ainda presente no terreno, mas numa força de ocupação, de estilo força de paz das nações Unidas, e mesmo isso não é destituido de custos elevados.

Stiglitz dá o exemplo da Coreia do Sul, onde, apesar de não combaterem as forças americanas lá estacionadas, estão lá há 40 anos e isso custa, todos os anos, dinheiro.

Razão de ser desta força a ser mantida.

A) Para manter uma presença;

B) Defender os poços de petróleo e as rotas de transporte.

C) Ajudar a estabilizar o Iraque.

e mesmo tudo isso custa dinheiro e tempo, pelo menos 10 anos de tempo. Caso tudo corra bem.

Stiglitz analisou dois cenários, sempre baseados nos dados do departamento do orçamento pertencente ao congresso. Chegou às seguintes conclusões:

(1) Num cenário de forças de paz mesmo a 10 anos isto custaria 382 biliões;( Cenário menos despesista)

(2) Noutro cenário custaria 669 biliões, a tal manutenção de forças americanas como “força de manutenção de paz”, durante estes hipotéticos 10 anos. (Cenário mais despesista)

Mesmo que se optasse pela solução de (“vamos sair depressa”), muito desse dinheiro gasto seria substancialmente menos – apenas 600 biliões em dois anos.

Por isso é difícil ver como se custará menos, porque mesmo 660 biliões é dinheiro.

Num cenário realista, sem juros, chega-se ao tal valor de 3 triliões de dólares.

Ou seja chega-se sempre a 1.3 triliões directos mais os juros e os juros de juros que dão à volta de de 2.7 triliões (daí o titulo do livro – “A guerra de 3 triliões de dólares…”)

A média no orçamento dá 2 triliões, mas e nesta altura já se está a dar folgas orçamentais dai a equipa de Stiglitz ter chegado aos 3 triliões – num cenário realista, apenas para arredondar os números.

Não deixa de ser algo que dá dores de cabeça discutir quantidades grandes de dinheiro, biliões e triliões como se estivesse a falar de 5 euros…

Quais são as muitas dimensões da ocupação em termos de custos?

Vidas perdidas:

Aqui existe uma dimensão macabra.

O Pentágono atribui, por vida perdida, um subsidio de 500 mil dólares, divididos uma parte – 400 mil dólares directamente da Life insurance policy (a tal que o Estado americano como vem explicado no segundo artigo se compromete a pagar, por conta do que as seguradoras deveriam fazer…) e mais 100 mil derivados de um “Death Gratuitity”, se bem percebi a lógica.

Utilizam uma expressão “Death gratuity” – o tal prémio de 100 mil dólares, se bem a consigo ouvir e escrever – algo que o entrevistador comenta nunca ter escutado…a gratuitidade da morte…

O que é mais espantoso é que no sector privado, isto é, alguém que participe na Guerra mas a trabalhar para uma empresa do sector privado, a mesma vida perdida já será avaliada em 7 milhões de dólares.

O entrevistador não percebe como se chegam as estes números; e a estas “diferenças de avaliação” entre o sector privado e o público eu também não.

Stiglitz explica da seguinte maneira:

Quanto o governo americano, faz por exemplo avaliações acerca da implementação ou não implementação de certo tipo de regulamentações, esse mesmo tipo de regulamentações é ” avaliado ” pelo número de “vidas que salva” . Esse é o imbecil critério.

Ou seja avalia-se se esta regulamentação vai custar alguma coisa; e quanto custa. E se vale a pena implementar em função do que vai custar – não existe “ética” aqui nas implementações de regulamentações

Calcula-se qual é o custo da regulamentação e calcula-se quantas vidas se salvou/salvará. Após esta brilhante teoria é assim que se avalia uma vida.

Por exemplo, se se deve perguntar se deve existir uma regulamentação de segurança para um carro ou agua mais limpa, e caso não valha a pena (ou o Poder político/económico o decida) nada se fará se não se considerar que se irá salvar suficientes vidas.

É também um conceito estatístico, como por exemplo, quanto é que uma pessoa ganharia acaso não morresse. E também quanto é que uma pessoa ganharia hipoteticamente ao longo da vida.

Após estas contas “estranhas” chega-se a um numero de:

7 a 8 milhões (ou mais) de uma vida avaliada estatisticamente ( Este é um cenário conservador).

Isto dá à volta de 500/600 biliões de dólares de indemnizações por vidas perdidas e a perder se se continuar na Guerra.

Outros custos indirectos.

Famílias que vão ter que tomar conta de pessoas que ficaram danificadas para o resto das suas vidas.

Aqui as vidas já são avaliadas por menos – as disability payments são apesar de tudo valores inferiores aos que as pessoas perderam.

À volta de 180 a 383 biliões de dólares. Avaliou Stiglitz.

Mas há outro tipo de custos.

Por exemplo, a pessoa de uma família que tem de largar o seu emprego para tomar conta do familiar que ficou incapacitado.

Em cada uma família em 5, que tem pessoas feridas, alguém tem que tomar conta destas pessoas, saindo do seu emprego.

Stiglitz explica que poderiam ficar em Hospitais públicos mas ninguém quer ficar em hospitais públicos e o próprio Estado americano tem interesse em que não fiquem, quer pelos gastos, quer pelo facto de isso “se ver” – até porque isso aparece no orçamento – portanto…

Mais custos indirectos:

Custos económicos- quanto sofre a economia com isto:

Stiglitz afirma que as pessoas esquecem-se que quando a guerra começou o preço do petróleo estava a 25 dólares e os mercados de futuros de petróleo apontavam para esse preço pelo menos durante 10 anos.

A guerra mudou essa equação.

No livro Stiglitz diz que optaram pela estimativa conservadora de apenas considerarem que sobre um preço de 100 dólares o barril , apenas 5 a 10dólares seriam atribuíveis à Guerra do Iraque até para não serem acusados de estarem a ser parciais no estudo. Ou seja, que num aumento de 75 dólares no máximo tal apenas se deveria à guerra em 10 dólares.

Stiglitz acha que é mais do que simplesmente 10 dólares.

Mesmo com estes custos apenas apontados para um aumento de 10 dólares e caso fosse verdade isso custaria aos EUA a módica quanta de 800 biliões durante 8 anos – somente os EUA.

Isto a afectar a economia.

Neste tipo de discussão e com custos ainda mais indirectos, como os EUA tem que mandar cheques para a Arábia Saudita e para o Kuwait( precisamente para pagarem as compras de petróleo) . Ou seja, directamente, este tipo de custos à cabeça apenas custa 400 biliões de dólares – com as compras em petróleo feitas, é que leva aos 800 biliões de dólares. ( Boing Boing, 1 de Fevereiro 2008)

Mas o facto deste dinheiro ir para a economia da Arábia Saudita e para o Koweit significa que não vai ser investido/gasto nos EUA, logo, isso aumenta a depressão na economia americana.

Efeitos macroeconómicos na economia americana

O facto de pedirem emprestado tanto e gastá-lo no Iraque não estimula tanto a economia, como gastar isso em casa, nos EUA.

Essas duas coisas tem um efeito depressivo na economia.

Aqui surge um paradoxo.

A equipa de Stiglitz e os cálculos que estes fizeram não davam a ideia, segundo as explicações do próprio, de que a economia estaria tão recessiva quanto de facto está.

O “esquema” descobre-se da seguinte maneira. O FED (o banco central americano fez “Pump the economy”

  1. Para evitar a economia deprimida fez-se pump the economy, ou seja injectou-se liquidez (dinheiro) na economia americana.
  2. Permitiram-se más praticas com regulamentações fracas
  3. e permitiu-se empréstimos por bancos que não se deveriam ter permitido.

Mas tudo isso gerou menos dinheiro para gastar em casa e isso deprime a economia: gerou que os americanos começassem a viver de dinheiro emprestado e de tempo emprestado.

Isto gerou um dano colateral desta Guerra: uma recessão económica.

Continua
GUERRA DO IRAQUE. CUSTOS FINANCEIROS. (4)

GUERRA DO IRAQUE.CUSTOS FINANCEIROS. (2)

leave a comment »

No primeiro artigo intitulado “Guerra do Iraque. Custos financeiros. (1)”

– falou-se do custo do petróleo antes da guerra começar;

– do custo directo da guerra, ao mês, para o governo americano – 12 biliões de dólares

– da privatização de sectores da guerra e de como isso encareceu e aumentou o orçamento de guerra dos EUA.

Continuação:

Os custos directos actuais da guerra do Iraque: 12 biliões de dólares por mês.

Acresce a isso os custos indirectos derivados de varias causas. Os custos indirectos calcula stiglitz e a sua equipa devem ascender por mês a 25 biliões de dólares.

São os “downstream costs” – “os custos ao longo da corrente” – aqueles que aparecem, já não derivados directamente dos primeiros custos pagos logo á cabeça.

  • custos com os veteranos da guerra;
  • custos com as baixas/pensões dadas a desmobilizados que tenham sido feridos;
  • Reparação e substituição de equipamentos que tenham sido danificados ou desgastados pelo uso.

Este tipo de custos, provavelmente, duplicam o valor por, mês de 12, para 24 biliões de dólares (Só no Iraque).

O valor de 12 biliões de dólares , em estimativas por alto, feitas pela equipa de Stiglitz, triplicou desde o inicio da guerra.

No inicio, há 5 anos, por mês, directamente, custaria a guerra, 3/4 biliões de dólares por mês.

Razões:

Stiglitz aponta uma das razões: a manutenção diferida.

Ou seja, manutenção de material programada para certas datas e que não é/foi cumprida, fazendo com que o equipamento se desgastasse ainda mais depressa do que seria normal. E aumentando ainda mais exponencialmente os custos, precisamente, quando mais atrasada é a manutenção de coisas mecânicas, mais defeitos, exponencialmente, começam a surgir.

Ou equipamento ao qual não foi, de todo, feita a sua manutenção.

É todo um encadeamento de peças e equipamentos que se desgasta e já não só apenas aquela especifica peça que se deveria reparar, e que evitaria o desgaste de – vamos supor ” 10 peças.

O equipamento é usado, mais depressa, do que é substituido.

O mais estranho, aponta Stiglitz, é o facto de o departamento responsável pelo orçamento do Pentágono, ter aumentado os seus custos/ o orçamento, nuns 4/5 biliões de dólares, mas sem incluir nessas contas o gasto directo no Iraque e no Afeganistão. Isto tem claramente a ver, com uma tentativa de “fazer percepcionar” aos olhos do público americano que os gastos não aumentaram tanto quanto, de facto, aumentaram.

Stiglitz aponta para certas razões para que esses gastos considerados “normais” ocorram.

  • O facto de se ter que pagar mais para recutratr soldados, agora, do que se estava a fazer no inicio da guerra,
  • o facto de ter que se pagar bónus mais altos.
  • o facto de a guerra não ser popular e o tratamento péssimo que foi dado a veteranos, dificultando os novos recrutamentos,
  • o equipamento de protecção que não foi fornecido aos soldados( coletes anti bala, etc)

Quanto aos políticos democratas, que querem sair do Iraque, Stiglitz aponta o facto de ainda não terem bem percebido que 3/4 do gasto de 16 biliões de dólares apens e só, vai para o Iraque.

Outras razões:

Esta guerra custa ainda mais porque, como Stiglitz o explica, o rácio de baixas/ mortes é de 15 para 1.

Ou seja, existem 15 feridos, para cada uma morte. Em guerras anteriores do EUA, o rácio era de 2/1 ou 3/!, sendo que os números 2 e 3 são os feridos e o 1, as mortes.

Isto aumenta tremendamente os custos sob todos os aspectos. Que se manifestam num rácio de gastos por país, em 90% Iraque, 10% Afeganistão.

Quando se passam às baixas militares, é Stiglitz questionado se é fácil obter os números de baixas militares?

Este responde que não, não é fácil:

Tal como em outras áreas, a administração Bush pôs todos os obstáculos.

Não se consegue saber em termos de baixas quais é que são as reais.

Porquê?

O que fazem é publicar o numero total de mortes; mas quando se chega àos ferimentos aí só são publicados os feridos hostis(inimigos), e é a administração que define o que é acção hostil e quem nela foi ferido.

Exemplo:

um comboio militar que vai contra uma mina. O primeiro veiculo explode e existem vitimas norte americanas, por exemplo. Contam como vitimas.

O segundo veiculo que por hipótese, trave, mas não vá a tempo de parar e choque com o primeiro veiculo daí resultando ou feridos ou mortos, já não é considerado como tendo tido vitimas derivadas do conflito, mas sim é considerado como sendo um acidente de viação.

Isto, obviamente “baixa” as baixas de guerra directamente atribuíveis à mesma.

O rácio de não acções hostis é maior do que o numero de acções hostis, 7/1., mas o total é 15/1,

Empréstimos:

Para pagar os 16 biliões/mês (ou 25 consoante se faça as contas contando com o Afeganistão) ) os EUA tem que pedir emprestado. Isso é (irá ser)passado às posteriores gerações para carregar a divida e pagá-la.

Toda a guerra é financiada externamente.

Porquê?

– Stiglitz chega a conclusão que, em termos normais, uma guerra será paga com 1/3 dos impostos cobrados ou no máximo 2/3 dos impostos cobrados por um país, o que sempre sucedeu na história do EUA.

Aqui, nesta guerra, sucede o oposto.

Não só não é isso que se passa, como é a primeira vez, (e Stiglitz aponta o mundo também como exemplo), em que um país não só baixa os impostos para ir para uma guerra como na pratica toda a guerra – todos os 16 biliões de dólares mês( ou 24/5 conforme se quiser fazer as contas de acordo com os exemplos anteriores) é inteiramente pago pelo resto do mundo através de empréstimos feitos aos EUA.

Empréstimos esses, obviamente, que os EUA tem que pagar e estão a pagar juros e juros de juros dos mesmos.

Todo o custo desta guerra foi pedido emprestado.

Estranho, mas é assim.

40% desses pedidos de emprestimo tem origem fora dos EUA. ( China, e Japão, principalmente, mas também a Europa…)

Stiglitz afirma que é a primeira guerra desde a guerra da revolução americana, que os EUA se voltaram para países estrangeiros para financiarem a luta.

O mais estrambólico disto é que o que é cobrado em impostos actualmente nos Estados Unidos nem sequer cobre os juros a pagar, daí ter-se que pagar juros sobre juros.

Como tal a dívida acumula: Stigltiz estima que em 2017 a divida nacional americana será 2 triliões de dólares mais alta do que é hoje.

Confesso a minha dificuldade em apreender a vastidão destes números…

e chega Stiglitz a ideia que até ao infinito, os EUA pagarão de divida anual 100 biliões de dólares em pagamento dos empréstimos e correspondentes juros, isto até ao infinito. (Não tem data de termo de pagamento dados os astronómicos valores envolvidos…)

Stiglitzz diz que até mesmo um país rico “brinca com números destes” por sua conta e risco, e que o melhor a fazer é pensar-se no que teria sido possível fazer com uma outra aplicação do dinheiro.

A segurança social:

Stiglitz afirma que por !/6 do valor da guerra do Iraque, seria possível pagar os problemas americanos de segurança social e po-la em ordem durante os próximos 75 anos.

Os custos:

directamente custa 6.6 biliões de dólares + 5,6 biliões em custos com pagamentos de juros e juros de juros, pensões a veteranos, seguros etc- tudo custos “externos” ao envolvimento directo e ao pagamento primário.

Custos futuros com as pessoas que virão danificadas da guerra:mentalmente e fisicamente.

( Dá-se o exemplo da anterior guerra do Iraque em que quem pagou a conta do custo á frente” foram os “aliados do Estados Unidos (especialmente o Japão e a Arábia Saudita…”))

39% dos soldados são elegíveis para serem dispensados;

44% dos soldados candidataram-se a pensões;

39% dos soldados; do total de efectivos, receberam-na;

Com base na experiência da primeira guerra do Golfo, mesmo ainda nos dias de hoje, stão os EUA ainda a pagar em pensões (disability payments) a veteranos que nela participaram 4 biliões de dólares / ano.

Ora esta 2ª guerra não é uma guerra de 30 dias- isto dá uma ideia ainda maior dos custos.

Estimou-se em;

630 biliões de dólares o que se pagou em custos de pensões para os veteranos da guerra do golfo 1.

Continua.

NOTA: ESTE ARTIGO, O ANTERIOR E OS PRÓXIMOS SÃO FEITOS COM BASE NUMA ENTREVISTA DE JOSEPH STIGLITZ, ONDE ELE FALA SOBRE O LIVRO, CUJA CAPA É MOSTRADA EM CIMA , NÃO É FEITA DIRECTAMENTE SOBRE O LIVRO.