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A LIBERDADE FOI REDEFINIDA.
Vivemos numa altura histórica má para a liberdade.
A liberdade foi “redefinida”.
Sentimentos morais ou sociais, hábitos comunitários, noções de espaço público, olhado como um espaço livre e de livre acesso a todos e por todos, foram subtilmente redefinidas pelo sistema económico/político que existe não só em Portugal, mas também em quase todo o resto do mundo.
Os recursos financeiros, políticos, de vontade e voluntarismo para implementar sentimentos sociais ou morais, para implementar noções de espaço público foram desviados ou eliminados.
Por causa desta redefinição do conceito de liberdade – do que ela é, e qual é que deve ser a lógica que a orienta, ela transformou-se.
Agora significa apenas a liberdade de fazer os indivíduos numa sociedade poderem obter o que quiserem.
É-nos dito que não há contrato social. Que as pessoas não estão ligadas entre si como cidadãos. Que não existem obrigações morais entre indivíduos numa dada sociedade, antes que só deve prevalecer o egoísmo puro e duro.
O passo lógico seguinte nesta lógica distorcida e totalitária é afirmar que só o mercado é que pode – agora equiparado ao estatuto de liberdade – fornecer a capacidade de as pessoas obterem o que quiserem.
Enquanto que a democracia e as eleições não o farão.
Isto pressupõe uma muito pobre noção de como as pessoas são – um modelo simplificado de pessoas – e pressupõe que os indivíduos apenas são uma máquina calculista de calcular com pernas.
Esta é a “visão” que os políticos e os economistas estão sistematicamente a apregoar sempre que podem.
Esta é a visão dos blogs neoliberais da blogosfera portuguesa. Embora não o admitam.
O individuo verdadeiramente livre não se sente como sendo apenas e só uma maquina calculista de calcular com pernas.
O individuo verdadeiramente livre não se aceita como sendo apenas um modelo simplificado de pessoa, mas sim como cidadão e ser humano de pleno direito.
Quanto mais depressa o indivíduo verdadeiramente livre tomar consciência desta sua dimensão pessoal em que habita, mais perceberá quem são os outros que estão contra ele ser verdadeiramente livre.
A LIBERDADE E A FALTA DE TINTA.
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Numa velha piada que se contava na antiga RDA, um trabalhador alemão obtinha um emprego na Sibéria.
Sabedor de que estaria a ser vigiado diz aos seus amigos como lhes iria mandar as suas mensagens por carta.
Se eu escrever as cartas com tinta azul está tudo bem. Se eu usar tinta vermelha significa que estou a mentir naquilo que vos conto.
O trabalhador vai para a Sibéria e escreve a primeira carta, com tinta azul. A carta diz o seguinte:
Tudo aqui é maravilhoso.
As casas são boas e tem aquecimento. O trabalho não custa a fazer. A paisagem é bonita.
Existem inúmeras raparigas disponíveis e todas elas estão prontas para romance.
Os supermercados estão sempre abastecidos. Os cinemas transmitem filmes ocidentais. Estou muito satisfeito por aqui estar.
Só existe um único problema.
Não se consegue encontrar tinta vermelha nem canetas que escrevam com tinta vermelha.
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Em Portugal já superámos este estádio de desenvolvimento totalitário e emergimos de forma triunfante para outro: o estádio em que nem sequer existe caneta, quanto mais tinta vermelha…
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A história do trabalhador alemão também quer dizer outra coisa: se não soubermos bem qual é o verdadeiro e real estado da nossa liberdade, (individual e colectiva ) isto é, se ele existe, nunca poderemos determinar qual é o estado da nossa não liberdade.
Não temos ponto de comparação entre uma realidade (a liberdade) e outra realidade (a situação de não liberdade).
Falta-nos a tinta vermelha, que permite aferir e comparar entre as duas situações.
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É como um desempregado.
Ele é livre, mas devido à sua condição de desempregado, ele não é livre, uma vez que depende de terceiros a sua liberdade e o exercício pleno da sua liberdade.
Quem diz um desempregado diz outras situações.
Falta tinta vermelha e caneta a Portugal e à maior parte dos portugueses.