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A PIRÂMIDE – ISMAIL KADARÉ

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Autor: Ismail kadaré.

Editora: Dom Quixote.

Na wikipedia:

a-piramide-ismail-kadareO livro foi escrito em  Paris e Tirana (kadaré é albanês);  entre 1988 e 1992. Reflecte a visão do autor, em relação ao que viveu, antes dessa época e ao que estava a viver nessa época.

Para todos os que o leram ou o lerem agora,  podemos, se fizermos um esforço comparativo ver como aquela realidade descrita por Kadaré há 20 anos não está tão distante.

Ø

Kadaré desejava, acima de tudo, contar uma história acerca do  totalitarismo.

Contudo é mais (muito mais) do que só sobre totalitarismo.

É, também sobre o poder; e toda a simbologia associada a esse mesmo poder. E de como isso influencia o próprio totalitarismo e as formas que  este reveste, de país para país.

kadaré, ao escrever, para se proteger da rigidez totalitária estúpida da Albânia comunista situou a acção do livro no antigo Egipto. (3000 anos antes portanto).

piramide-kadareCriou o enredo da narrativa centrado num problema político/de regime: a construção de uma pirâmide – dedicada ao Faraó Keops – que seria, simultaneamente, o túmulo deste, após morte, e uma obra simbólica feita em vida do Faraó, cujo objectivo seria o de servir para demonstrar todo o seu poder sobre o povo egípcio e por extensão, do próprio império egípcio, para os  vizinhos.

Do ponto de vista da leitura, o livro não é nada simples; a tradução não ajuda, e está cheio de metáforas e alusões subliminares ao regime comunista albanês  (isto é, a uma forma peculiar de totalitarismo), mas não só. Podemos reconhecer os “tiques” de poder de qualquer regime ali explicados.

E também reflecte a influência a algum do ambiente pré queda do muro de Berlim (1989), de que o autor se apercebeu estando ainda a viver na Albânia (Kadaré saiu algum tempo antes da queda e pediu asilo político em França); mas o que é interessante verificar, por análise comparativa, da leitura do livro, é como todos os mecanismos de poder totalitários de uma ditadura obtusa, também podem, pelo menos alguns, ser replicados e encontrados numa  qualquer simpática democracia ocidental.

Como Portugal. Caso se preste atenção, bem entendido. Caso se queira prestar atenção, bem entendido. E independentemente dos partidos ou forças políticas que estejam no poder.

É um “estado das coisas” que Kadaré  mostra e nos convida a pensar sobre.

Ø

A história começa com o Faraó Keops a anunciar, poucos meses depois de tomar posse, que não deseja mandar construir nenhuma pirâmide, tal como os seus antecessores tinham feito.

Esta declaração política perturba o equilíbrio.

Os vassalos, servidores, cortesãos, funcionários públicos, enfim toda a fauna social,  fica intensamente perturbada com a notícia.

Para sublimarem a preocupação há que encontrar uma explicação. E a explicação é passar-se a julgar essa atitude do Faraó como  sendo  uma manobra politica do Faraó, mas apenas feita, para testar a lealdade de todos a si, o recém nomeado Faraó.

Paralelamente a este hipotético teste que a sociedade julga ver, o anuncio da “não construção” cria um terrível problema filosófico e metafísico: como iria o Faraó subir até ao céu depois de morto, e levar a sua alma e as bagagens correspondentes, se não existiria pirâmide, como veiculo sagrado de transporte, para o fazer?

E é a partir destes dois pontos que kadaré demonstra como a perturbação entre a fauna cortesã de uma sociedade pode ser lançada – pelo “poder”.

Tal estado das coisas leva a que o Sumo-sacerdote, o Magico-astrólogo e algumas outras figuras da burocracia do Estado se afadiguem a convencer o Faraó de que deve ser construída a pirâmide.

Em baixo uma pequena transcrição de como o Magico-astrólogo tenta criar as bases do convencimento e da influência no Faraó. O Mágico astrólogo, primeiro,  identifica o problema, quando em acto de pensamento e reflexão para si próprio:

“…o bem-estar, ao mesmo tempo que tornava as pessoas mais independentes, mais livres de espírito …as tornava, de igual modo mais reticentes à autoridade em geral e nomeadamente ao poder do Faraó….”

Ø

Percebendo que o seu poder poderia ser posto em causa por não querer mandar construir a Pirâmide e depois de ser persuadido pela fauna de cortesãos (pelos interesses), o  Faraó procura criar uma solução em que sinta ter sido ele próprio a encontra-la, (para fazer assim uma auto demonstração de poder) e para tal envia o Mágico-astrólogo para o Sahara para que este encontre uma solução que satisfaça os desígnios do Faraó.

40 dias depois este retorna e afirma ao Faraó que: “era preciso eliminar o bem-estar

Kadaré demonstra que, no exercício de poder, muitas vezes, não é o soberano/ o ditador/ o líder que de facto comanda, mas sim, julga que comanda, apenas influenciado por “sombras” de interesses que pairam à volta.

Ø

Para eliminar o bem estar, surge a ideia de que é necessário fazer algo:

Mas o quê?

“Algo de fatigante, de destruidor para o corpo e o espírito e absolutamente inútil. Ou mais exactamente, uma obra de tal forma inútil para as pessoas que se tornasse indispensável ao Estado…!

O resultado:

“…o soberano e os seus ministros chegaram …. À ideia de um grande monumento funerário. De um grande túmulo.”

Ø

Esta ideia fascinou sobremaneira o Faraó.

E dessa forma, o “novo” edifício principal do Egipto já não seria um templo, nem um palácio real, mas um túmulo. Progressivamente, o Egipto identificar-se-ia com este, e este com o Egipto. (o nacionalismo de mãos dadas com o poder…)

O Faraó fala – para simbolizar o facto de ter decidido tal – e diz:

“A pirâmide será construída. Será a mais alta de todas. A mais majestosa.”

É o “poder” simbólico do Faraó a manifestar-se.

E após o Faraó falar – uma metáfora do poder e do totalitarismo, aplicada de forma prática –  surgem os éditos reais a notificar o povo da construção.

O povo alegre ?!?! por o dia finalmente ter chegado – o início da construção da pirâmide – tem esta manifestação:

“As pessoas saem dos templos, aliviadas. Como somos felizes, diziam, por termos a nossa pirâmide.”

Ø

No livro decorrem acções paralelas. São explicadas as  descrições das decisões técnicas dos arquitectos, a inveja dos embaixadores estrangeiros, a abertura e construção de estradas, necessárias para transportar os enormes blocos de pedra, vindos de barco Nilo acima, a escolha das pedras, o deslocamento dos funcionários públicos para sítios remotos para supervisionarem os trabalhos…tudo se descreve, para mostrar um grande elefante totalitário em movimento.

Assim é-nos dado a observar o simbolismo de toda uma burocracia a movimentar-se ao serviço de uma fachada de poder totalitário.

Ø

Também existem os pormenores cómicos e irónicos: os boatos e as conspirações que dão origem a afastamento sucessivos de responsáveis pela construção, as manobras da policia secreta…

Ou quando se passa à construção propriamente dita, onde todas as pedras são numeradas e tem um nome atribuído.

A meio da construção keops exige ser colocado mais acima (o seu túmulo) no interior da pirâmide:

“Mais alto – disse ele com voz abafada – ainda estou muito abaixo.”

“Compreendo, majestade – respondeu o arquitecto – chefe”.

“- Quero ficar no centro – declarou keops”

“-Compreendo, Majestade.”

Ø

Kadaré ironiza profundamente sobre o “aspecto humano” dos ditadores, por intermédio de interposta personagem – o Faraó Keops. Este, a determinada altura sente melancolia e tristeza por saber aproximar-se o fim da construção e reflecte “humanamente” sobre isso:

“As vezes arrependia-se de ter martirizado o Egipto daquela maneira!…

Ø

Tudo isto também misturado com os problemas com os linguistas do reino e com os filhos de Keops, bem como uma, de várias conversas alucinantes, de Keops com o Magico-Supremo:

“o seu corpo conhecerá um fim, a sua alma nunca!

Mais uma metáfora para o poder e para o facto de os líderes políticos, passado algum tempo de estarem rodeados de pessoas que lhes dizem apenas sub-verdades agradáveis, se tornam completamente autistas para com a realidade, e são sempre bajulados com promessas de intemporalidade da sua obra…

Ø

Também existem crónicas, brilhantemente macabras, acerca da construção usando as  pedras numeradas:

“Centésima nonagésima segunda pedra. Da pedreira de Abousir. Nada de especial”.

Ou:

Antepenúltimo degrau, da nona à quinta pedra, segundo o relatório do gabinete de controlo.

“…a sétima pedra …a pedra negra, a má…as causas do deslize permanecem misteriosas …mas ao nível do nono degrau, a queda acelerou. Foi para lá do décimo segundo que começou a esborrachar as pessoas…ao todo 90 mortos, sem contar com os feridos.

Ou:

“Sexta pedra…ainda que tivesse feito vitimas, parecia um anjo comparada com a anterior. Por isso chamaram-na de pedra boa.”

Ø

Também existe a descrição “vista de fora”. Frustrado pelo facto de ter siso enviado para um local que não queria, e devidamente pressionado incentivado  pela sua sexualmente activa mulher, o Embaixador da Suméria consola-se através de um devaneio sexual analítico:

“Ela acariciou-lhe a barriga, depois o sexo. Reparava que, cada vez que enviava para a sua capital um relatório no seguimento do qual aumentava a esperança de ser nomeado ministro dos negócios estrangeiros, o sexo dela se molhava”.

Ø

Após conclusão da “obra do regime” , o Faraó procura “interrogar-se”  e “saber” qual o “sentido” metafísico da construção. Kadaré ironiza com as tentativas de auto justificação que todos os protótipos totalitários demonstram após acções deste tipo.

Procurando “saber” interroga o Mágico acerca da pirâmide. E o Mágico responde:

— “Se construíste o maior túmulo do mundo é porque a tua vida é suposta ser a mais longa que se já se conheceu À face da terra. Nenhuma outra sepultura este poderia albergar.

Eu sofro – disse Keops.

Ø

Após a obra concluída, os ladrões de túmulos roubam a pirâmide; um dos filhos do faraó é morto pelo irmão, para no futuro reinar e poder ter também a nova grande honra de construir mais uma Pirâmide, e os historiadores querem exumar o corpo do irmão morto, mas tal não lhes é permitido.

(Metáfora do poder totalitário ou democrático que se auto preserva de “olhares estranhos”…)

Ø

É um livro algo datado, sobre totalitarismo e poder, e visando acima de tudo cravar estacas e acertar contas no comunismo albanês.

Contudo, quem resistir à leitura verá que é apropriado para reflectir sobre os tempos que correm, os tempos do medo diferente, … e onde a subversão da democracia é uma constante, tentando-se, sub-repticíamente, impor regras aparentemente democráticas (mas que não o são…) com uma regularidade constante.

Nota final: O livro será, possivelmente, difícil de adquirir, dado que foi publicado pela dom Quixote em 1994.

Contudo está acessível em bilbiotecas públicas.

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A ARMADILHA DA GLOBALIZAÇÃO. LIVRO.

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O livro chama-se “A armadilha da globalização – assalto à democracia e ao bem estar social”.

A-GLOBALIZAÇÃO - LIVRO

Editora Terramar

Autores: Hans Peter Martin e Harald schumann. De Schumann Encontram-se páginas em alemão. De Peter Martin encontram-se várias como Esta:
De Martin está também disponível online uma boa entrevista em inglês

Em 1998, um jornalista austríaco (H. P. Martin) e um alemão (H. Schumann), escreveram em conjunto um livro chamado a “Armadilha da globalização”. Sub titulo: o assalto à democracia e ao bem estar social.

O livro, em todos os seus aspectos é aterrador, precisamente porque é convincente. ( Nos dias de hoje em alguns aspectos já está datado, mas mesmo assim é válido)

Descreve-se de forma precisa, quais é que são as decisões, e as ideias de decisões a tomar que estavam a ser discutidas naquela altura, pelos gestores de topo e políticos do mundo. O que se chama(va) “globalização” e como era visto em 1997/1998.

Página 10:

”na nossa empresa, cada um pode trabalhar tanto quanto queira…” … os governos e as regras por estes impostas ao mundo do trabalho perderam todo o significado…”contratamos os nossos empregados por computador, eles trabalham por computador e são despedidos por computador“.

Algures no diálogo do texto, David Packard, o co-fundador da Hewlett Packard (produção de impressoras e computadores) faz uma pergunta a Jonh Cage da Sun Mcrosystems:

” …– de quantos empregados necessitas verdadeiramente, John?“ Seis, talvez oito, responde secamente Cage. Sem eles estávamos tramados…” – E quantas pessoas trabalham actualmente para a Sun systems? Gage responde:- …” Dezasseis mil. Tirando uma pequena minoria são reservas de racionalização.”

Não se ouve o mais pequeno murmúrio na sala: para os presentes, a ideia de existirem legiões de desempregados potenciais ainda insuspeitos é algo de obvio. Nenhum destes gestores de carreiras, que auferem chorudos salários, provenientes dos sectores e dos países de futuro, acredita ainda que se possa vir a encontrar, nos antigos países e em todos os sectores, um numero suficiente de empregos novos e correctamente remunerados nos mercados em crescimento, com o seu grande consumo de tecnologia.-no próximo século, para manter a actividade da economia mundial, dois décimos da população activa serão suficientes.- Mas e os restantes? Será possível imaginar que 80% das pessoas que desejam trabalhar não vão encontrar emprego?

– Não há duvida que os 80% restantes vão ter problemas consideráveis, afirma o autor norte-americano Jeremy Rifkin que escreveu o livro “The end of work…”

A Sun Mycrosistems é a maior empresa do respectivo sector de actividade na área de produtos informáticos ao nível de redes, servidores de computador, quer pequenos, para entrada de gama, quer gigantes, e a tudo isto acresce os respectivos códigos informáticos para servidores, a um ponto tal que esta empresa tem capacidade comercial, técnica e financeira para se bater contra a Microsoft.

Na quota de mercado dos servidores de computador a Sun conseguiu sempre vedar o controlo do mercado à Microsoft. E incentivou e incentiva projectos gratuitos nas ares onde pode atingir a Microsoft, como por exemplo, o Open Office.

É uma empresa de informática pesada, na pratica funcionando com um sistema operativo próprio na área de redes e servidores chamado – linguagem JAVA – que serve para abrir programas específicos que dela necessitam. É uma linguagem de código aberto – quem tem conhecimentos da linguagem pode programar nela.



Surge definido no livro o conceito de Tittytainment. Em baixo do lado esquerdo, temos (uma) a versão portuguesa de tetas e entretenimento.

floribomba-tittytainment: também a expressão tittytainment, proposta pelo velho rezingão que é Zbigniew brezinsky e fez carreira…… Segundo brezinsky, tittytainment é uma combinação das palavras entertainment e titts (entretenimento e tetas), um termo de calão para designar os seios.

Mas Brezinsky não está tanto a pensar no sexo, mas antes no leite que escorre dos seios de uma mãe que amamenta.

Segundo ele, uma sábia mistura de divertimento estupidificante (Exemplo: Floribela, Morangos com açúcar) e de alimentação suficiente permitiria manter de bom humor a população frustrada do planeta.””

” Impassíveis, os gestores debatem as dosagens aconselháveis e perguntam-se como poderá o afortunado quinto da população ocupar o resto supérfluo dos habitantes do globo.

A crescente pressão da concorrência não permitirá às empresas que participem desse esforço social. Portanto, outras instancias deverão ocupar-se dos desempregados.

Os participantes no colóquio contam com um outro sector para dar sentido à existência e garantir a integração: o voluntariado a favor da colectividade, a participação nas actividades desportivas mediante a atribuição de uma remuneração modesta, o que ajudaria milhões de cidadãos a serem conscientes do seu próprio valor», opina o professor Roy.

(Nota lateral: é pelo que está acima descrito que sou completamente contra o voluntariado)

Os patrões dos grupos industriais estão à espera de que, a breve prazo, nos países industrializados sejam postas pessoas a varrer as ruas por um salário praticamente nulo ou que haja quem aceite um emprego de criado a troco de um miserável alojamento. Página 10/11

Página 19.

“Os derrotados tem voz e hão-de servir-se dela. ”

Há cada vez mais eleitores a tomarem à letracartaz PNR -basta de imigração as fórmulas dos advogados da mundialização. Não é entre nós que há que procurar responsáveis, a culpa é toda da concorrência estrangeira: eis o que se apregoa aos cidadãos de um telejornal em cada dois – frases pronunciadas exactamente por aqueles que se espera que defendam os interesses da população.

Entre este argumento – economicamente falso – e uma franca hostilidade contra tudo o que é estrangeiro medeia um passo, que rapidamente foi dado. Desde há muito tempo que milhões de cidadãos, das classes médias, desestabilizados, procuram a salvação na xenofobia, no separatismo, no afastamento relativamente ao mercado mundial. Os excluídos respondem com a exclusão.

Faça-se a comparação com o discurso que tem estado a ser sistematicamente propagandeado em Portugal de há 10 anos para cá.

Quem está a ler isto irá fazer parte dos 80% que irão ser excluídos ou não?

Quem está a ler isto, analise o discurso do actual partido socialista (…frases pronunciadas exactamente por aqueles que se espera que defendam os interesses da população) no governo quando se diz que a culpa a culpa do fecho de uma fábrica é da concorrência estrangeira (Globalização).

Ou na tradição portuguesa, relacionada com os sindicatos que resolvam não aceitar baixas insuportáveis de ordenados dos seus filiados?

Quem está a ler isto deve fazer o esforço de reparar na especificidade do caso português. As coisas não acontecem por acaso.

FEIRA DE EMPREGO TECNOLÓGICOExistiu uma recente feira de emprego tecnológico e científico. Mas…não houve porque em mais de 100 empresas contactadas por quem organizou o evento só duas responderam ao convite.


É claro que amanhã (um amanhã sem data marcada…) a culpa será assacada aos funcionários públicos porque (pretexto) não aceitam ir para o quadro de excedentes(por exemplo).

A sociedade de excluídos através destes sinais subtis (as empresas não querem cientistas ou candidatos a cientistas mas sim empregados de mesa) está aí.

Todos estamos a ajudar isto simplesmente pelo facto de fecharmos os olhos e julgarmos que, individualmente, nos vamos safar.

Com percentagens em jogo, segundo a lógica do conceito apresentado no livro a “Armadilha da Globalização”; de 80% – 20% não fico tranquilo nem por mim nem por todos os outros, quer os que “ganham”, quer os que “perdem” .

A única percentagem aceitável é 100% de êxito. Não divisões de 80-20%.


Após ter sido aplicado como argumento de venda ideológico e económico, o conceito segundo o qual, o desenvolvimento tecnológico, a valorização da competição e da livre iniciativa, apoiadas no primado da lei, iriam resultar e levar a humanidade para novos patamares, “isto” é o que temos.

O actual capitalismo está a gerar nem emprego nem desenvolvimento económico, só crescimento económico-financeiro. Pela primeira vez na história do capitalismo ele é incapaz de gerar emprego.

Então para que serve o capitalismo? Para que serve um sistema cujos principais objectivos estão a falhar? ?

Todos os países que importaram o modelo de capitalismo americano – chamado também de globalização – na parte económica e social, estão a ter inúmeros problemas.

Essa importação cria danos sociais e económicos tremendos às populações ou países que adoptaram isto.

Written by dissidentex

09/06/2008 at 14:35

NAOMI WOLF. 10 Passos para o Totalitarismo. E Portugal?

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Em Setembro de 2007, Naomi Wolf, escritora americana, feminista, lançou um livro. Chama-se “The End of América, Letter of warning to a Young patriot”.

naomi-wolf.jpg

No livro Wolf descreve os 10 simples passos para se fazer um país caminhar para uma ditadura.

O livro faz uma comparação com situações passadas e que estão bem documentadas em termos académicos e históricos. O livro analisa a situação nos EUA e analisa a situação a que a Administração Bush – que está, felizmente, de saída – tem criado no país, e por acréscimo no resto do mundo.

E questiona até que ponto não estará já a América transformada numa ditadura ou pelo menos a, para ela caminhar; enquanto os cidadãos americanos se entusiasmam com o concurso televisivo “American Idol” ou com as compras pela Internet … pensando em como pagar a casa, dado que, estão cheios de dividas… ou como resolver o atoleiro em que o Iraque se transformou.

Em Abril de 2007, publicou, no entanto, o jornal inglês The guardian” um ensaio da própria em que ela explica detalhadamente ( para um ensaio publicado num jornal) os 10 passos.

Em mapa eles estão explicados e traduzidos com base na descrição do artigo do “The Guardian”. No ensaio para o The Guardian (o livro viria a sair em 5 de Dezembro de 2007) Wolf explica todos os métodos seguidos pela administração americana para implementar algo que começa a parecer-se com uma forma sofisticada de fascismo.

1.

O primeiro passo foi dado logo após o 11 de Setembro de 2001 – atentado às torres gémeas. 6 semanas depois era aprovada uma legislação chamada “Patriot Act” . Legislação não debatida, não discutida, apenas aprovada às pressas. Objectivo:restringir as liberdades civis, porque “América was under Attack”.

A legislação em questão não tem fim definido para terminar.

O objectivo é criar muito medo na população apresentando o inimigo ainda maior e mais perigoso do que ele é.

2.

Depois de se ter criado medo, é necessário criar um Gulag. Uma prisão – sistema prisional aterrador e kafkiano, onde não esteja incluída a lei e o processo penal devidamente definidos. Um sistema legal sem lei, fora da lei, onde os detidos não tem direitos e assim, como não existe lei, poderá existir e existe tortura e toda a espécie de atropelos que se possam conceber, precisamente porque …… não existe nenhuma lei a enquadrar, proibindo ou permitindo esses atropelos. O nome do local é Guantánamo Bay. Naomi wolf estabelece paralelos com a história. Inicialmente os cidadãos aprovam as prisões secretas, mas depois de aprovadas, estas começam a servir para encarcerar lideres políticos da oposição, religiosos, activistas civis, adeptos de novas tecnologias não aceites, adeptos de cultos religiosos ou sociais marginais, etc…

3.

Para criar este tipo de situação é necessário ter “pessoas do nosso lado”. Uma milícia, uma casta de intimidadores – logo, é necessário criá-las. Após o 11 de Setembro, a administração americana, fez outsourcing ( foi contratar fora) de inúmeras empresas de segurança – em áreas que, tradicionalmente, era o exército norte americano que as mantinha e fazia. O método além disso tinha a ver com contratos de biliões em “Segurança”. Paul Bremer, o primeiro “governador do Iraque” após deposição de Saddam tinha sob as suas ordens firmas de paramilitares privados. Na América passou-se a mesma coisa: após o furacão Katrina, a “Defense Homeland contratou seguranças privados para estabelecerem um perímetro à volta da cidade de Nova Orleans.

4.

Estabelecer um sistema interno de segurança – desde 2005 que todos os cidadãos americanos tem o seu telefone, emails e transacções de dinheiro internacionais sob escrutínio.

5.

A quinta medida que se faz relaciona-se com a quarta – importunar e perturbar pela infiltração, grupos de cidadãos, associações, etc. Activistas vêem as suas contas investigadas com zelo pelo IRS, classificação de manifestações sem violência; de pacifismo ou protesto, como sendo incidentes suspeitos de incitar ao terrorismo e criação de bases de dados cheias de informação acerca de grupos de activistas.

The definition of domestic terrorism is broad enough to encompass the activities of several prominent activist campaigns and organizations. Greenpeace, Operation Rescue, Vieques Island and WTO protesters and the Environmental Liberation Front have all recently engaged in activities that could subject them to being investigated as engaging in domestic terrorism.
naomi-wolff.jpg

6.

Começar a praticar detenções arbitrárias e pôr pessoas inócuas em lista e classificados de “perigos potenciais”. Exemplo. Em 2004, a autoridade americana para a segurança dos transportes aéreos tinha uma lista de “potenciais perigos”. Um deles era o senador Edward Kennedy, porque tinha criticado Bush, mas também cidadãos comuns e normais… Manifestantes contra a guerra: potenciais terroristas. Pessoas que apoiam a constituição: potenciais terroristas.

7.

Atacar indivíduos ou classes especificas. Como: ameaçando-os de perderem o emprego se não andarem na linha. Funcionários públicos, artistas, académicos. Questionar e punir funcionários públicos que não demonstrem ter “suficiente lealdade”:

8.

Controlar a imprensa. Um blogger de São Francisco foi preso durante um ano por se ter recusado a tirar um vídeo do seu blog. As detenções de jornalistas atingiram numero recorde. Jornalistas que escreveram livros a criticar Bush começaram a ser ameaçados. No Iraque, os jornalistas, quer sejam da Al Jazeera, quer da BBC são ameaçados de serem alvo de fogo, por parte de tropas americanas, ou já foram sobre eles disparados tiros.

9.

Estigmatizar e criminalizar a dissidência, chamando-a de “traição”. Em 2006 o congresso aprovou uma lei chamada “Military comissions act”. Dá ao presidente americano o poder de dizer que um determinado americano é um “combatente inimigo” e tem o poder de definir o que combatente inimigo significa ( ou seja, é a opinião de um homem, não um critério legal que define o que é “inimigo). Um cidadão americano inocente, pode ser acusado, apenas porque o presidente americano assim o quer. O estatuto de “combatente inimigo” está a levar a que existam pressões para que, mesmo inocente, o americano nestas circunstancias, não tenha direito a julgamento.

10.

Eliminar a lei ( rule of law) . Na actual legislação americana, o presidente tem – de facto – a possibilidade de mandar os militares fazerem trabalho de polícia. Ou seja, a declarar a lei marcial por pequenos pormenores e estende-la a todos o país apenas por assuntos que de facto não caiem dentro do que é a lei marcial.

Em Portugal podemos observar o seguinte:

O segundo quadro deve ser visto em comparação com o primeiro obviamente.

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Deve também ser visto em comparação e tendo em conta a incompetência e a estupidez dos actuais aprendizes de ditadores auto intitulados como sendo de esquerda política, coisa que não são.

1- O terrorismo e os sindicatos são os inimigos que servem para tudo legitimar.

2. O sistema prisional é uma bandalheira. Existe lei formal apenas. Na pratica parece um manicómio em auto gestão.

3. Como aqui não há dinheiro para contratar soldados da fortuna faz-se a táctica interna de intimidação. Usar a necessidade de fiscalização de serviços e produtos como arma política ou para fazer favores económicos. Exemplo: A ASAE não põe os pés num hipermercado em obras pelo menos durante 6 meses. Depois fecha-o 4 dias a uma semana da abertura… Mas chateia o “Btuga”. Ou os feirantes de um sitio qualquer…

4. Gravação de emails e telefones sem mandato.

5. Com a desculpa que não há dinheiro, corta-se as pernas a diversas associações, limitam-se direitos de deficientes, de estudantes, etc, e alterou-se a forma de um contribuinte se poder relacionar com o Estado quando apresenta reclamação – se bem me recordo, salvo erro, passa a ser o contribuinte a ter que provar, não o Estado e as suas contas passam imediatamente a não estarem sujeitas a sigilo bancário. Isto é claramente uma medida pré dissuasora de um contribuinte poder apresentar uma reclamação.

6.Começar a praticar detenções arbitrárias ainda não começou – mas a nova lei de imprensa no que toca a ter que revelar fontes e não poder publicar relatos de escutas telefónicas vai por esse caminho, no sentido de precipitar a prisão de alguém…

7. Atacar indivíduos ou classes especificas. Enfermeiros, médicos, funcionários públicos, desempregados, pensionistas, pessoas com baixa médica, legitima ou ilegítima, todos já foram atacados.

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Capa DN de 25 de Março de 2006.

8. Controlar a imprensa. Aqui faz-se através das agências de comunicação que controlam o fluxo de informação que sai para fora ou encharcam o dia com noticias que abafem algo desfavorável ao actual governo. Pelo meio existe, também, a massiva propaganda. Para quem tem dúvidas sugiro visita ao site do ministério da saúde. A propaganda é incrível dentro daquilo. Em contrapartida, números de telefone de contacto, emails, moradas são quase inexistentes.

9. Em Portugal os que são “contra as reformas ” ( mais quais reformas; onde estão elas?) são estigmatizados e atacados. Hostilizados. Que o digam os professores ( e também os que dizem piadas pessoais sobre primeiros ministros) e são suspensos disciplinarmente ou os bloggers que escrevem sobre a licenciatura do primeiro ministro e são processados. Todos forças de bloqueio contra o santificado progresso do grande líder e dos seus seguidores.

10. Em Portugal a regra 10 conjuga-se com a 4 – alteração dos códigos penais, lei de imprensa,etc. Pequenos passos, com pequenas situações que levam para que a lei seja inexistente, na prática. Que se auto anule. Que seja construída de forma a que um artigo anule a disposição de outro.

Written by dissidentex

06/02/2008 at 11:40

PLANETA AMERICANO

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  • Tipo: livro.
  • Titulo: “O planeta Americano”.
  • Autor: o ensaísta espanhol Vicente Verdu.
  • Editora: foi publicado em Portugal pela Editora Teorema, mas já não está disponível no catalogo da editora.
  • Data: 1997.
  • Tema: uma análise da sociedade e do pensamento e maneira de ser dos norte americanos, e da forma como estes se vêem a si próprios e como olham para o resto do mundo.
  • Nota adicional: Pode, ao que me informaram, ser ainda encontrado nas feiras de Lisboa do Cais do Sodré ou em algumas feiras do livro/alfarrabistas bem como em bibliotecas municipais.
  • É um ensaio breve, despretensioso, bem escrito e concreto.
  • 1903 palavras. Dois mapas.
    PLANETA AMERICANO1

O livro está dividido em 12 capítulos.

Estes são os capítulos do livro. No primeiro deles – O orgulho americano – Verdu descreve como os americanos nada conhecem geograficamente do resto do mundo e mesmo da América – isto é onde ficam posicionados num mapa e onde ficam os outros. Isto sucede, segundo Verdu, porque o ensino no EUA é apenas prático. A ideia é dotar os americanos de uma enorme auto confiança, não fortes conhecimentos de matemática, geografia ou história. Como tal é inútil ou pelo menos, pouco útil, saber onde se fica ou se está posicionado no mapa do mundo. Serão os outros povos que se terão que adaptar aos norte americanos e não o contrário. Verdu conclui – da observação – que nenhuma outra sociedade vive tão ensimesmada como a americana.

O sentir popular do americano relativamente ao estrangeiro divide-se em duas partes:

  1. É um produto que se deve suportar com as suas diferenças umas vezes;
  2. e outras vezes deve-se tolerar até este (o estrangeiro) se converter aos modos americanos de viver.

Verdu descreve e explica também que os americanos são muito caseiros e detestam civilizações complexas e sofisticadas. Os outros são vistos apenas como uma entidade exterior – um mercado – a quem vender – uma entidade propicia para o comércio.

No segundo capitulo – O amor a Deus – Verdu explica como em nenhum outro país a vida pública é tão imbuída de religiosidade como nos Estados Unidos. A bíblia é citada por tudo e por nada. Verdu explica que os “Pais Fundadores” criaram uma Nação em que, na ideia original, não concebiam a separação entre Estado e Igreja. Cita ( dentro do contexto temporal em que o livro foi escrito) Newt Gingrich, o ex chefe do senado e um trapaceiro da pior espécie que afirmou que a América é um “Estado Mental”. Este peculiar “Estado Mental” inclui:

  1. A fé em Deus;
  2. A predisposição para o sacrifício;
  3. A ânsia de sucesso;
  4. O respeito pelos outros;
  5. E a esperança na missão redentora da América. (Em relação ao resto do mundo)

Depois Verdu liga isto à várias partes históricas dos EUA e ao renascer do conservadorismo americano nos anos 90. Cujos objectivos seriam:

  1. Menos Estado, mais oração;
  2. Menos prevenção, mais punição.
  3. Menos ajudas publicas aos necessitados considerados como apenas elementos mais preguiçosos; antes maior esforço individual, mais censura nos ecrans de televisão.

Exemplos: Ao reduzir-se ( propor-se uma política de redução) um subsidio a uma mãe solteira isso não é visto como um erro político ou económico, por um conservador, mas sim como uma oportunidade de alguém com dinheiro poder praticar a caridade para com o necessitado. O andrajoso que pulula nas ruas deverá ser incentivado através do esforço individual e da fé no sonho americano (quer este exista ou não exista) para sair do buraco em que está. Caso não saia é porque Deus o fez merecer tal situação.

Nota: Argumentação simplista visando legitimar e tornar aceitáveis aos olhos da grande maioria da população norte americana e mesmo de população exterior aos EUA, as desigualdades sociais extremas. E a existência de pobres, como sendo uma “ideia de Deus” que existam. Porque tem uma função a cumprir.

No capitulo 3 – O amor ao dinheiro – Verdu explica que os americanos respeitam muito o dinheiro. E que o hábito de “vender e comprar” está completamente enraizado. Vendem bem a varias escalas de venda. E que a base cultural que é ensinada a toda a gente é a de passar o tempo a vender algo a outrem … Ou seja, aprender a ser um empresário eficaz, seja lá o que isso for…. seja lá o que for que, “empresário” e “eficaz” signifiquem.

No capitulo 4 – A soberania do capital – Verdu explica que os “Pais Fundadores” acreditaram na existência, isto é na possibilidade da criação de novo de uma sociedade que “rebentaria” com as hierarquias europeias – as sociedades hierárquicas de tipo europeu existentes nos séculos 17 e 18. Mas, acrescenta Verdu, tal ideia fracassou miseravelmente uma vez que, quer a passada e actual dinâmica de acumulação de capital desmente isso. O igualitarismo – ideia utópica dos pais fundadores – é desmentido pela acumulação de capital e os pobres são vistos como excrementos do sistema. Como dejectos. É uma lógica de Darwinismo misturada com sorte que existe e é considerada como sendo, realmente, a filosofia dos pais fundadores.

No capitulo 5 – O medo do crime – Verdu explica que o crime é elevado devido a desinvestimento no seu combate e prevenção, e como o sistema social é organizado de forma darwinista – isso obviamente conduz ao crime. Que serve por sua vez de oportunidade para vender sistemas de segurança (a mentalidade de empresário, de vender em comprar surge aqui) – sendo o Lar uma fortaleza. Equipada como tal……

No capitulo 6 – A paixão pelo medo – Verdu descreve a total tesão pelo medo que os americanos têm e que é potenciada até às extremas pela imprensa. A ideia psicológica subjacente a tudo isto é a de que os EUA estão colocados numa posição de perigo; em que forças humanas ou sobrenaturais ameaçam, atacam e espiam a população. Existe um conceito muito presente ” o disaster never sleeps/ o desastre nunca dorme. Medo, supra medo, injecções de medo umas atrás das outras. Ou seja, o medo e a sua exploração são as imagens de marca daquela sociedade.

No capitulo 7 – O gosto pelo obsceno – Verdu explica que os americanos publicamente são recatados no sexo. Mas em tudo o resto são obscenos na maneira como se comportam. A comer a beber, a falar. Toda a gente come em todo o lado mastigando e fazendo barulho. Ou seja, a um individualismo recatado no lar sexualmente; corresponde um exibicionismo publico excessivo noutras áreas.

Verdu dá um exemplo excelente: os perfumes. As mulheres americanas usam perfumes extremamente fortes sem subtileza nenhuma. Também as “relações de amizade” são calculadas em Horas. Durante o acto de comer tudo é excessivo: um arsenal de molhos deve temperar uma já de si exagerada comida calórica. Na escola, uma que privilegie a erudição é vista com desconfiança.

No capitulo 8 – O ódio aos intelectuais – Verdu demonstra com imensos exemplos que os americanos detestam a sofisticação. Apenas é necessário:

  • simplicidade;
  • discursos que vão directos ao essencial;
  • clareza;
  • simpatia.

A ambiguidade intelectual quando mostrada, desagrada. Só coisas “terra a terra” é que contam.

(Nota: os resultados deste basismo estão aí em todo o seu esplendor…)

No capitulo 9 – A geração sem pais – Verdu fala da geração que conheceu quando lá passou 3 anos no inicio dos anos 90. Uma geração que, quer fisicamente, quer psicologicamente cresceu ou sem pais, ou pelo menos sem “o pai” – elemento masculino da família. Descreve que a instituição família deixou de ser o centro do conflito geracional. Ou seja, que as pessoas permanecem em casa mas não falam como família – apenas vive no mesmo espaço. E que é a cozinha que é colocada como o centro da casa, não uma sala de estar.

Esta geração está nos vídeos jogos, é entendida em violência e electrónica, mas não liga muito à escola. Perceberam muitas coisas acerca do mundo, através da vida concreta e tornaram-se adultos mais cedo quando ainda eram, ou jovens ou adolescentes. O culpado designado oficialmente para ser culpado disto, derivado a tudo o que se escreveu antes é o pai. O tal que para cumprir o “sonho americano” terá que trabalhar muitas horas por dia/semana; logo, não estar em casa para dar atenção aos filhos. Este “pai”, colocado nesta situação é “afastado” do centro familiar. Os professores estão, também dentro desta lógica, cada vez mais fora de jogo.

Verdu explica depois como na escola se formam vários grupos, espontaneamente ( nada mau em termos de resultados para uma sociedade a quem os “pais fundadores” queriam extirpar as hierarquias europeias”…), a saber:

  1. Os “atletas” (que se dão com os “espertos”)
  2. Os “espertos”(que se dão com os acima designados e são os mais populares…)
  3. A seguir os que estudam Artes e Humanidades( mais afastados do centro desta estúpida e redutora vida social escolar…)
  4. A seguir os drogados; isto é, os que fumam charros( ainda mais afastados…)
  5. E por fim os “nerds” , os tipos marrões…

Uma sociedade escolar hierárquica e ordenada de forma semi comunista…

No capitulo 10 – As edge cities – Verdu explica como os americanos vivem. Vão pouco ao café, investem pouco em restaurantes, tudo é feito a correr para se ir para casa, situada, nas periferias ou orlas das cidades. Na casa é investido imenso dinheiro em melhoramentos. Cada um vive fechado no seu habitat. Dai a importância do automóvel para deslocamento para trabalhar no centro das cidades. Isto origina que os brancos e os mais abastados se mudem para a periferia e o centro das cidades seja associado ao mal – ao estrangeiro; as influencias estrangeiras. Daí o americano médio detestar Nova York que associa – a um cidade impura onde tudo o que é má influencia estrangeira está.

O capitulo 11 é dedicado ao – Cibercapitalismo – a parte mais fraca do livro, porque é datada. Ou seja entre a época em que Verdu o escreveu e o actual, muita coisa já se passou. Contudo já naquela altura a lógica era a seguinte: quem não “estava na rede” era retrógrado ou visto como alguém que não interessava. Ou seja, não pertencia à classe social que verdadeiramente contava. Isto “media-se “ na altura pelo simples endereço de email. Por ter um.

Actualmente em Portugal como somos cretinos e não temos pensamento próprio autónomo enquanto sociedade; adoptamos o telemóvel como símbolo de se ser alguém ou não ser. É o substituto do email de há 12 anos atrás. Somos originais realmente…Mas tenhamos esperança: o TomTom promete substituir o telemóvel como novo símbolo

No capitulo 12 – O planeta americano – é uma espécie de fecho do livro e de aviso que Verdu faz a quem o lê. Começa por descrever que nada define mais a América que o Hamburguer. Ele considera o Hamburguer não um produto mas um documento. E quando a Mcdonalds se instala numa localidade começa logo a rodar um filme americano – deixando essa localidade de ser o mesmo que era antes. Mas como Verdu diz na página 133 “aceitar o modelo americano como desígnio do nosso futuro é o equivalente a suicidar-mo-nos no desígnio do seu presente.”

Verdu conclui que o que é bom para os americanos não o é necessariamente para os restantes povos, e que isso tem que ser tido em conta. Verdu explica também que:

PLANETA AMERICANO 2

  • Os americanos não sentem que submergem os outros com a sua cultura.

Ou na página 135 ” a idílica revolução norte – americana é, presentemente, do ponto de vista humano, um fracasso tão grande como o foi a da URSS. A aura das utopias iniciais extinguiu-se na América, com as desigualdades sociais,o controlo policial da vida privada….

E termina dizendo: ” não existe dignidade ideológica que autorize a América a liderar a humanidade”

ADENDA, 12 de Fevereiro de 2008: Graças ao Daniel Marques vem-se a saber que:

” A editora agora é a Terramar, encontra-se à venda na Byblos com 10 por cento de desconto a € 6,73. “

Written by dissidentex

07/11/2007 at 22:18

Publicado em EUA, LIVROS, PAÍSES

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