Posts Tagged ‘MÉXICO’
FULL SPECTRUM DOMINANCE – DOIS
No post “Full Spectrum Dominance” falava-se a dada altura do senhor George Friedman, director (CEO) da agência privada americana de produção de conteúdos na área da inteligência económica e da análise geoestratégica chamada “Stratfor”( desde 1996).
Fredman, um bom patriota americano, através da fascinante exploração da história e dos padrões geoestratégicos, afirmava, quer no livro, citado no post, quer no vídeo lá colocado várias coisas, e transcreve-se uma parte:
♣
1. Que a guerra EUA – Jihadismo muçulmano terminará. Sendo substituída por uma segunda guerra fria com a Rússia.
Comentário:
É uma necessidade para a América (e para certas partes do mundo ocidental) que a guerra Jihadista termine. Nada melhor do que tentar ajudar a fazê-lo, moldando os que praticam a guerra jihadista; afirmando que num futuro próximo, a guerra jihadista terminará. Dessa forma “corta-se” e anula-se o ímpeto para a guerra.
Pergunta do advogado do diabo: mas e se os Jihadistas não lerem o livro de George Friedman?
Então também o livro e as ideias nele veiculadas tem a sua utilidade. (Um novo argumento de marketing irrompe…) Desde logo para Friedman, e para a Stratfor, quer através dos honorários recebidos, quer através do prestigio e polémica derivadas que acarreta um livro desta natureza com teses tão controversas.
E também, para aqueles que, dentro do campo de Friedman, ou seja, habitantes do mundo Ocidental, estejam “hesitantes” em reconhecer méritos à guerra ao terrorismo actualmente empreendida pelos EUA, (devido ao facto de a “Guerra contra o terrorismo” estar a servir para limitar liberdades civis por exemplo…) por não verem qualquer “lógica concreta” e racionalidade nessa guerra.
Antes, verifica-se que é apenas, parcialmente, a defesa estrita dos interesses dos EUA, nomeadamente no controlo de fontes de produção de energia.
A nova Guerra fria com a Rússia é apenas uma necessidade desesperada dos EUA. É necessário encontrar um novo inimigo “visível” que replique as condições existentes pré 1989, e dessa forma, a existência desse novo inimigo – real ou imaginário – possa fazer os EUA voltarem a ser ( de um ponto de vista simbólico e legitimador) necessários ao resto do mundo.
♣
2. Que a China irá ter uma importante crise interna, e que o México irá emergir como um importante Poder Mundial.
Comentário:
É absolutamente desejável que a China (do ponto de vista dos EUA) tenha uma crise interna (ou 2 ou 3 crises…). Se a China tiver uma crise interna, o desenvolvimento galopante da China, não acontecerá, e como tal, deixará de poder colocar-se numa posição geoestratégica de contestação ao poder dos EUA.
Não interessa pois, definir qual será o tipo de convulsão interna que a China tenha; apenas interessa que o tenha para que o desenvolvimento chinês seja atrasado. (Seja qual for a definição de desenvolvimento que se queira ter…)
Não existe aqui qualquer altruísmo, mas sim e apenas o desejo de que o “potencial adversário rebente”, mesmo que por exemplo, tal aconteça sendo uma democracia consolidada e estável.
Pergunta do advogado do diabo: Se a China for ou tornar-se uma democracia pacifica, e suplante os EUA, isso também não interessa, mas os desejos de que a china tenha uma grave crise interna serão mantidos à mesma ou não? (Suspeito que sim…)
Quanto ao México, tornar-se uma grande potência, é apenas uma lógica argumentativa baseada na persuasão, pretendendo convencer, antes de mais, os mexicanos que será melhor para eles “juntarem-se” aos EUA, para ambos, se tornarem “uma grande potência” – amiga e unida na fraternidade.
Chama-se” amaciar o ego”. Chama-se “tentar passar o México ” para o nosso lado, continuando a pagar-nos a absurda divida financeira que o México tem para com o sistema financeiro dos EUA.
Se isto for assim, porque é que já antes ao se proporcionou ao México que pudesse tornar-se uma grande potência? (Ver Dissidente -x : como se fabricou a crise financeira mexicana de 1982)
E os mexicanos – após terem já sido várias vezes ao longo da sua história prejudicados pelos EUA, irão agora “acreditar” nesta declaração de fé dos analistas norte americanos, ou irão desconfiar?
♣
3. Que em meados do século, uma nova guerra se desenhará entre os EUA, e uma inesperada coligação de forças, da Europa de leste , da Eurásia, e do Extremo oriente, mas os exércitos serão mais pequenos e a guerra “limitada”.
Toda a geo estratégia anglo-saxónica se baseia na origem e a origem chama-se Halford Mackinder.
No século 18, a política britânica preocupava-se com a expansão da Rússia pela Ásia Central e de como isso afectava o Império britânico (a Índia).
E depois, após gerações de preocupados políticos, surgiu o Messias do império, Mackinder.
Este definiu que:
A) Existia um “mundo – ilha” – Ásia, África, Europa, o mais rico e vasto de todos os territórios.
B) Existiam as “ilhas ao largo do mundo ilha” – ilhas britânicas e as ilhas que compõem o Japão.
C) E existiam as “ilhas ainda mais distantes ao largo do mundo ilha” – América do Norte, América do Sul e Austrália.
O “mundo-ilha” chama-se “heartland “/ coração da Terra, na figura – que Mackinder (ou o Império britânico a falar pela voz de Mackinder) considerava como sendo o centro do mundo.
E a partir daí definiu que:
A) quem comanda a Europa de Leste (isto é, a Rússia, principal preocupação dos geoestrategas britânicos no séculos18/19) comanda a “Heartland”;
B) Quem comanda a “Heartland” comanda a Ilha -Mundo”;
C) Quem comanda a “Ilha Mundo”, controla o mundo.
Por causa dos temores infantis de uma teoria que está “algo ultrapassada” mas que é seguida pela geopolítica norte americana (e inglesa) até por necessidade psicológica de o fazer (senão, como iriam arranjar empregos e proveitos todos estes “analistas” pertencentes ao complexo militar industrial americano?), tal explica as afirmações de que uma “coligação” de forças “eurasiáticas” que irá romper a situação actual. (Tradução a um outro nível económico: a Rússia entrar para a União europeia…)
É uma “cópia” do “Mackendirismo” original, e é um “convite” quase provocatório no nariz dos europeus, dos asiáticos e dos que estiverem à mão de semear para que se sintam provocados e “criem de facto” esta “coligação”.
Será também só assim que a “profecia” poderá ser cumprida e o profeta ser canonizado.
Também é uma tentativa de criar “Full Spectrum Dominance” provocando uma guerra (mas uma guerra “prévia” quando quem a instiga está pronto para ela, enquanto que os adversários não o estão) . Existe uma dimensão – a dimensão do armamento nuclear dominada pela Rússia – que escapa aos conceitos de controlo total presentes na doutrina americana de “Full Spectrum Dominance””.
Penso que será por isso que se argumenta que “os exércitos serão mais pequenos e a guerra limitada”. (tradução: pequenos conflitos regionais ou semi regionais…)
Pois… não se pode brincar aos conceitos de “Full Spectrum Dominance” com armas nucleares.
Arriscamo-nos a que o terreno de jogo desapareça.
E também não se pode argumentar, num livro de prognósticos futuristas, outra coisa que não isto, criando uma solução argumentativa: que os exércitos (necessários para que esta aparentemente necessária confrontação exista) terão que ser mais pequenos… (Tradução: conflitos localizados e regionais não precisam de exércitos grandes…mas sim de atrito constante…)
♣
4. Que a tecnologia irá concentrar-se no espaço, quer para uso militar, quer para procura de fontes de energia.
Comentário:
Esta teoria “espacial” é bastante original uma vez que apenas foi declaradamente formulada no ano 2000, quando PNAC – o projecto americano para o novo século foi lançado ao vivo e em directo.
Na página 66 e 67 do respectivo diz-se que:
“Unrestricted use of space has become a major strategic interest of the United States.” (p. 66) …”space is likely to become the new ‘international commons’, where commercial and security interests are intertwined and related.” (p. 67)
Tradução a martelo: O uso irrestrito do espaço tornou-se um interesse estratégico da maior importância ( página 66) …o espaço irá provavelmente tornar-se o novo standard comum” onde os interesses comerciais e de segurança estarão interligados e relacionados”…( página 67)
Em 2008, somos informados pelo senhor Friedman, de algo que já tinha sido definido em 2000, mas desta vez somos informados disso, como sendo uma novidade… absolutamente nova.
♣
5. Que os EUA irão experimentar uma nova “Idade de Ouro” a partir de meados deste século.
Comentário:
A ideia da nova “Idade de Ouro” deriva de uma ideia original da Grécia antiga. Onde as pessoas viviam em prosperidade e harmonia,. Esta mitologia carrega dentro de si a ideia de que, para a Humanidade, tudo se tornou pior e pior desde a “ideia original grega”. E atrás da ideia de “Idade de ouro” vem as ideias de “Idade de prata” onde as coisas já não eram tão boas, da “Idade de bronze” – ainda pior, e a “Idade do Ferro” – a nossa idade actual, onde a guerra e a violência existem.
Ao lançar a ideia de idade de Ouro, Friedman está a jogar com o imaginário e com a mitologia.
No post Dissidente-x chamado o “Planeta americano”, a dada altura diz-se que:
” … No segundo capitulo – O amor a Deus – Verdu explica como em nenhum outro país a vida pública é tão imbuída de religiosidade como nos Estados Unidos. A bíblia é citada por tudo e por nada. Verdu explica que os “Pais Fundadores” criaram uma Nação em que, na ideia original, não concebiam a separação entre Estado e Igreja. Cita ( dentro do contexto temporal em que o livro foi escrito) Newt Gingrich, o ex chefe do senado e um trapaceiro da pior espécie que afirmou que a América é um “Estado Mental”. Este peculiar “Estado Mental” inclui:
- A fé em Deus;
- A predisposição para o sacrifício;
- A ânsia de sucesso;
- O respeito pelos outros;
- E a esperança na missão redentora da América. (Em relação ao resto do mundo)
♦
Afirmar que daqui a 50 anos a América terá uma nova “Idade do Ouro” corresponde a três das cinco coisas que estão ali em cima:
1 – A fé em Deus;
2 – A predisposição para o sacrifício
5 – E a esperança na missão redentora da América. (Em relação ao resto do mundo).
Tradução da profecia de Friedman: Tenham fé em Deus, e predisponham-se ao sacrifício, porque a nossa missão redentora de salvar o mundo conduzir-nos-á a uma nova Idade de Ouro – onde tudo será puro, como a América original assim pensada pelos peregrinos, do Mayflower, livre da corrupção do Velho Mundo…( isto é, a Eurásia…)
Vamos mostrar agora a actual “Idade de Latão” em termos de produto interno bruto mundial, dados de 2006.
De notar também que a China, a nação que se espera e se deseja que venha a ter uma convulsão interna está a aproximar-se rapidamente do segundo lugar desta tabela, e que se espera que lá pelos idos de 2020 ultrapasse em produto interno bruto os EUA. Excepto se tiver uma convulsão interna…
Para deprimir mais as hostes, mostra-se a zona onde se situa esta magnífico país de sucesso que se chama Portugal:
Repare-se na Grécia, na Bélgica, na Suécia e na Finlândia… e compare-se com o magnifico êxito que Portugal é.
De caminho compare-se também com o México, o tal país que vai rivalizar dentro de 50 anos com os EUA.
A China irá ter uma convulsão interna que a paralisará, mas o México não, só para darmos um exemplo comparativo… uma vez que “isto” não paralisa o México…
COMO SE FABRICOU A CRISE FINANCEIRA MEXICANA DE 1982
Nos finais dos anos 70, o mundo político/financeiro discutia abundantemente um problema que carecia de solução: a possibilidade de “o terceiro mundo” entrar numa crise de insolvência das dividas que todos esses países contraíram para fomentarem o investimento e se “desenvolverem”…
Ø
Paul Volcker.
Nessa época, os factores que contribuíram para essa crise foram muitos, mas um dos principais foram as acções dos EUA (e Grâ-Bretanha), e a política de “combate à inflação” defendida pelo senhor Paul Volcker, nomeado chefe da FED – reserva Federal norte americana – o banco privado que faz as vezes de Banco Central, por duas administrações diferentes, uma Democrata e outra Republicana.
♦
Paul Volcker foi, recentemente, há umas duas semanas atrás, com a idade de 81 anos, chamado para fazer parte da administração Obama – uma administração democrata (aquilo que passa por ser a esquerda nos EUA). Nos anos 80, Volker tinha sido nomeado por Ronald Reagan, um feroz adepto do conservadorismo…
Retire-se conclusões do que se está a preparar de novo…
♦
Volker é membro da Trilateral, uma organização “duvidosa” para não dizer mais…
Teve cargos na Federal Reserve Bank of New York, e no Chase Manhatan Bank, como economista, bem como no Us Treasury department– o departamento do tesouro norte americano.
Ø
No ano de (1) 1972 e no ano de (2) 1979 existiram dois choques petrolíferos – aumentos brutais do preço do petróleo. Esses factos levaram a que a inflação (a subida continuada e regular dos preços) fosse extremamente alta, especialmente nos EUA.
Começaram então a surgir (a serem aplicadas) as teorias monetaristas (um nome diferente – “mais técnico” – para “neoliberalismo) que preconizavam as ideias de choque ou “terapia de choque” ( Recordar a este propósito o péssimo governo português de Durão Barroso (2001-2004) – o actual Presidente da União europeia e o seu programa de governo onde o “choque fiscal” provinha directamente destas ideias…).
O conceito subjacente às ideias de Volcker (retirado do Tatcherismo) era “cut and squeeze”/ cortar e apertar.
Como?
O mecanismo básico é o seguinte.
Primeiro começa-se por aumentar as taxas de juro base – preferencialmente para valores muito mais altos.
Isto leva a que se torne quase proibitivo para industrias e particulares conseguirem ir ao mercado bancário financiar-se, para fazerem investimentos produtivos, e de modernização ou de simples consumo, no caso dos particulares….
(Quem é mais velho lembra-se da situação em Portugal nos anos 80, em que as taxas de juro chegaram aos 22 %…)
Ao mesmo tempo que as taxas de juro base são aumentadas para valores estratosféricos, o Banco Central de um qualquer país que use esta “terapia” começa a cortar crédito aos bancos, isto é, começa a restringir a oferta de moeda – o já famoso agregado M3. (Ver Dissidentex – a Crise financeira americana – a impressão de moeda…)
O resultado?
(1) Menos moeda em circulação e (2) juros mais altos fazem com que as pessoas/empresas não pensem em investir (até porque não podem) e fazem com que os preços tenham tendência a manterem-se ou a descerem.
A lógica que daqui decorre é que novos investimentos em (A) estruturas, (B) material e (C) formação de mão de obra não são feitos pelas empresas, e muitas delas acabam – posteriormente – por ir à falência.
Do lado dos particulares, muitos deles (quase todos) ficam completamente impossibilitados de adquirir novas casas ou outros produtos (as taxas de juro dos empréstimos são proibitivas e a poupança própria é quase inexistente ou nula).
E o desemprego aumenta sempre extraordinariamente.
Isto é o monetarismo (em termos médios) também conhecido por neoliberalismo económico, (versão antiga até aos anos 70) embora actualmente, no século 21, haja uma certa reciclagem…dos métodos.
Ø
O monetarismo versão 2.0 (mais) moderna e em evolução começou com Thatcher nos anos 80, e rapidamente se expandiu para os EUA tendo Paul Volcker como o seu principal artífice lá.
Os principais objectivos e exigências que os políticos (monetaristas) dos anos 80 (neoliberais) passaram a papaguear eram:
(1) Exigências constantes para que o “Governo” gastasse menos.
(2) Taxas de impostos muito mais baixas (ou a criação de uma taxa de “imposto único” para todos…)
(3) Criação de legislação que desregulamente a industria e a banca (deixando de haver quaisquer limites restritivos para a actividade da banca e da industria).
(4) Atacar e quebrar o poder dos sindicatos.
Conjugadamente as taxas de juro aumentaram por todo o mundo. E possibilitaram que os 4 pontos acima descritos fossem disseminados por muitos lados – após terem sido importadas estas técnicas” da Grâ-Bretanha e do monetarismo radical de Paul Volker e do seu banco central – o FED.
Ø
O Presidente americano Carter, um campónio (cultivava amendoins antes de ser Presidente) ignorante, foi aterrorizado a aceitar estas “técnicas” e em 1980, antes das eleições – querendo ganha-las – aceitou assinar um pedaço de asno de legislação chamado “The Depository institutions deregulation antMonetary control Act of 1980”.
Title: An act to facilitate the implementation of monetary policy, to provide for the gradual elimination of all limitations on the rates of interest which are payable on deposits and accounts, and to authorize interest-bearing transaction accounts, and for other purposes. Retirado “DAQUI”
Tradução a martelo: Uma lei para facilitar a implementação de uma política monetária (monetarista) que consiga fornecer a gradual eliminação de todos os limites sobre as taxas de juro que são pagáveis sobre depósitos e contas…
A lei foi pela primeira vez apresentada a 27/7/1979 e foi aprovada em 31/3/1980.
Ø
Esta lei tinha ainda outras características:
– forçava todos os bancos a alinharem pelas regras do FED (o FED é um banco privado, note-se…)
– Permitia livremente (sem restrições relacionadas com problemas de direito da concorrência) fusões de bancos.
– Retirava o poder de veto dos governadores do banco em relação as taxas de juro das contas a prazo propostas pelos bancos.
– Permitia que qualquer instituição pudesse decidir a taxa de juro que quisesse.
Na prática dava a Paul Volcker o extraordinário poder de conseguir aplicar a sua “terapia de choque” , porque todos os bancos alinhavam pelas regras do FED, uma vez que a partir desta lei, o céu era o limite para as taxas de juro – abrindo o caminho a que a Reserva Federal (Volcker) decidisse subir as taxas. (E o bancos “subiam” a taxas…obedecendo a Paul Volcker…e ganhando mais dinheiro com isso…)
O que quer dizer que quem tivesse dividas – as pagaria – (entrando) “neste novo esquema” a taxas de juro muito mais altas do que seria o normal. *
Ø
O cenário é o seguinte.
– Através de legislação altera-se a taxa de juro a pagar fazendo-a ser muito alta.
– O pretexto para tal é o combate à inflação.
– Gera-se um acordo tácito entre a FED (Banco central, mas privado) e os bancos comerciais para que as taxas de juros subam, sendo que muitos dos bancos privados que emprestavam dinheiro, eram ( ao mesmo tempo) donos do Banco central que tinha um chefe economista a determinar que as taxas de juro deveriam ser altas para “combater a inflação”.
– A economia “produtiva” fica desprovida de meios para se financiar e conseguir investir, os consumidores incapazes de investir, o desemprego aumenta extraordinariamente, e os bancos financeiros que engendraram toda esta lógica ganham em taxas de juros altas o que nunca ganharam antes…
Ø
E o que tem tudo isto a ver com o México?
No inicio dos anos a “crise de divida do terceiro mundo” foi provocada pelo monetarismo de Volcker e o Tatcherismo (isto é, dos interesses económicos/políticos por detrás).
Lopez Portillo, o presidente mexicano, por idos de 1981/1982, decidiu empreender um vasto e ambicioso programa de investimento industrial para promover o desenvolvimento do México.
Nos Estados mexicanos de Vera Cruz e Tabasco, a companhia mexicana de petróleos Permex (de capitais exclusivamente públicos, desde 1938) tinha descoberto enormes jazidas de petróleo. Com os rendimentos daí retirados Portillo lançou o seu programa (que já vinha do anterior Presidente).
Adenda, retirado DAQUI, Pdf 94 páginas, página 6 – o ensaio é sobre imigração, mas no que a esta parte diz respeito, mostra a “dimensão” e as possibilidades da economia mexicana:
But by December 1976/January 1977, with the nearly simultaneous inaugurations of U.S. president Carter and Mexican President López Portillo, Mexican fortunes were looking up. A 100 percent peso devaluation in 1976, followed by an IMF-managed austerity program restored eight to nine percent GDP growth levels. Peso stability and López Portillo’s “alliance for production” restored investor confidence. More importantly, by 1977 production based on vast new oil reserves discovered in May, 1972 had come on line. Mexican oil production increased from 311,000 barrels a day in 1970, to a million barrels a day by 1977, to 2.25 million barrels a day by 1980, one million of which were exported, reducing (theoretically) the need for new bank credits. In September, 1980, Mexico became the fifth- largest oil producer in the world, with announced proven reserves of 60 billion barrels, and possible holdings of 250 billion barrels.
Portillo era nacionalista, no sentido em que defendia os interesses do México. Isso veio a custar-lhe caro e ao seu país.
Ø
Em 1981, certos sectores da política americana, não viam com bons olhos as ideias de Portillo. A ideia de um México industrializado, a sul das fronteiras dos Estados Unidos (um “micro Japão”), não era agradável, nem seria tolerada.
Era necessário fazer algo.
E a “terapia de choque” de Paul Volcker serviu (entre outras coisas) para “sabotar” os projectos de desenvolvimento industrial do México. E coarctar estrategicamente e industrialmente a ascensão do México ao estatuto de grande potência económica.
A ideia era “assegurar” de forma absoluta que a divida externa mexicana, seria paga, e sempre paga, a taxas altíssimas. *
Ø
No Outono de 1981, uma “corrida ” à moeda mexicana – o peso – foi feita (inventada). Artigos de imprensa nos jornais dos EUA começaram a circular afirmando que estava a existir uma fuga de capitais – feita por “sábios” homens de negócios mexicanos – que, após terem trocado os seus pesos por dólares, os estavam a fazer sair do país. Antes que a “crise” explodisse.
A ideia desta jogada jornalística/ de imprensa era “forçar” a desvalorização do peso em relação ao dólar.
Porquê?
Porque dessa forma, as companhias mexicanas e o Estado Mexicano – que tinham contraído empréstimos vultuosos em dólares – para realizar os ambiciosos projecto de investimento e industrialização do país, mas obtinham rendimento para os pagar em Pesos mexicanos, ficariam colocados numa situação caricata.
(1) A terem que pagar o serviço de divida pelos empréstimos que contraíram, em dólares, cujo valor era cada vez mais alto;
(2) enquanto que, ao mesmo tempo, o Peso, era atacado e forçado a descer o seu valor.
A 19 de Fevereiro de 1982, submetido a uma fuga de capitais intensa, o governo de Lopez Portillo teve que ceder e desvalorizou o Peso mexicano em 30 % – a ideia era tentar parar a enorme fuga de capitais, com esta desvalorização.
Ø
Para a industria privada mexicana as consequências foram desastrosas.
Esta industria tinha pedido emprestado em dólares para financiar investimentos, mas obtinha ganhos em pesos, e entrou em falência quase da noite para o dia.
Apenas para manter as posições relativas idênticas ao que se verificava antes da desvalorização de 30% do Peso, as industrias tinham que:
– ou aumentar o que vendiam em 30%
– ou cortarem custos através da redução da sua força de trabalho, isto é, desempregarem pessoas.
Um dos exemplos disto era o poderoso grupo Alfa Group – Monterey, que ficou completamente endividado, só conseguindo recuperar posição em meados da década de 90. (o que quer dizer que a sua capacidade de se tornar uma empresa multinacional foi “parada”…)
Paralelamente a isto, e com o decorrer da crise, o México era agora olhado como:
(A) um país de alto risco;
(B) um país com sérios problemas para pagar dividas;
(C) o que originou que as praças financeiras europeias e americanas recusassem planos de reestruturação das dividas mexicanas, consequentemente afundando ainda mais a economia mexicana.
Ø
A 20 de Agosto de 1982, na sede da Reserva federal, (FED) o ministro das finanças mexicano comunicou que o México estava impossibilitado de pagar a divida. Nessa altura ascendia a 82 biliões de dólares.
A 20 de Setembro de 1982, na Televisão, Lopez Portillo anunciou que a banca mexicana seria nacionalizada.
As ideias por detrás desta nacionalização seriam “parar” a confusão generalizada e parar a fuga de capitais que tinha continuado desde Fevereiro.
Lopez Portillo depois fez várias intervenções públicas afirmando que “o não pagamento da divida não era do interesse, nem de credores, nem de executados”.
E apelou a uma união de países sul americanos (Brasil e Argentina, especialmente) para que denunciassem a situação e recusassem pagar todos em conjunto uma divida, cuja estrutura da mesma era absurda e injusta.
A partir daí começou um “discurso” médio que nos conhecemos também nos dias de hoje.
Na imprensa internacional começaram a escutar-se “vozes” falando dos prejuízos que os bancos que emprestaram o dinheiro aos países credores teriam; e de como isso afectaria a economia mundial gerando uma crise, etc.
E surgiu a solução “mágica”:
Os bancos “socializaram” os seus riscos de emprestar dinheiro forçando os governos da altura a responsabilizarem-se pelas dividas (também), enquanto que os ganhos eram privatizados para esses mesmos bancos.
E após isso a casa Branca chamou Paul Volcker, e o FMI, para imporem regras ainda mais restritas para “estancar a crise”.
Cada país devedor passou a ser considerado “uma caso separado” ( para evitar que outros Lopez Portillo, fizessem discursos a apelar à união dos países devedores…e estes não pagarem).
Ø
O FMI aparece no meio disto porque foi uma ideia americana. Os rigidos programas de ajustamento do FMI. Irving Friedman foi o autor da ideia e era um enorme advogado a que a banca comercial emprestasse a países do terceiro mundo , como se pode ler nesta “entrevista”...
Friedman foi depois “recompensado” com um lugar de topo no Citicorp, um dos bancos que tinha engendrado e beneficiado de toda esta história das taxas de juro…