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CRISE FINANCEIRA AMERICANA – AS TEORIAS MAINSTREAM 2
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A lista completa de artigos relacionados com este assunto pode ser encontrada na página da barra lateral ” Z – Crise financeira norte americana”
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No post intitulado Crise financeira americana – as teorias mainstream que a explicam, era mencionado o facto de estarem a surgir inúmeras pessoas – as que tem interesses na manutenção do estado em que isto está – que visam legitimar a actual situação.
Isto é, manter o actual modelo de capitalismo económico norte americano tal como está. E – por extensão – criar problemas ao resto do planeta, tal como está.
Nesse post a dada altura era mencionado o seguinte e cita-se uma parte em baixo:
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Como tal, o discurso médio (falso e mainstream) que está a ser criado e desenvolvido pelos principais agentes da propaganda (orientados para a manutenção do status quo) e que visa explicar as causas da actual crise baseia-se no facto de tudo isto ter acontecido porque existiu um “acidente” dos mercados.
E as razões para esse “acidente” dos mercados foi o facto de (1) existirem maus pilotos a a comandar a nau “mercado” ou (2) existirem pessoas corruptas e gananciosas que produziram inúmeras decisões irresponsáveis – uns quantos intervenientes dentro do mesmo, que “perderam o norte” e se desviaram das boas práticas do mercado, levando ao “acidente”.
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E chegámos a um exemplo típico disto: este artigo do Wall Street Journal chamado “Europe is no model for our banks” /A Europa não é o modelo para os nosso bancos” onde um Ceo de uma empresa defende exactamente um certo tipo de discurso que é o discurso conjugado com a prática que nos levou ao que nos levou.
Onde é dito que os acidentes dos mercado por causa de Ceo´s gananciosos e más praticas, não devem ser usados como argumento para mudar o sistema.
Para “vender” essa ideia usa medo, lutas antagónicas entre correntes ideológicas, e mais medos de que “o risco” – caso se retire os instrumentos de risco dos produtos financeiros – parará a inovação. Até o medo da China e das Treasury bonds compradas por esta é usado como argumento.
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O artigo afirma que actualmente existe uma luta de opinião pública( ou publicada?) nos EUA, entre Paul Krugman/Jornal New York Times VS Lawrence Summers, o conselheiro económico especial do Presidente Obama.
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Paul Krugman argumenta que:
(1) Chegou-se onde se chegou por falta de transparência financeira.
(2) A situação actual dos bancos ainda é “estranha”.
(3) As “perdas financeiras ” que estão fora dos balanços e não se sabe quanto são.
(4) os fundos públicos dados pelo estado americano parecem não querer acabar ou ter fim.
- A solução Krugman é acabar com produtos financeiros de elevado risco e derivados.
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Lawrence Summers (um “democrata” e actual conselheiro económico do Presidente Obama) argumenta que:
(1) Eliminar os produtos derivados e os produtos financeiros de alto risco …. elimina o risco.
(2) Eliminar a securitização financeira de produtos financeiros na area dos seguros impediria que vastas somas de capital sejam usadas para investimentos.
(3) Dinheiro necessário para ajudar a investir nos mercados de exportação dos EUA não estaria mais disponível.
- A solução Lawrence Summers é deixar as coisas como estão.
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Será evidentemente a visão defendida por Lawrence Summers que irá ser a visão prevalecente.
Porquê?
Porque é uma questão de poder: quem está no governo norte americano é quem,decide através do braço legislativo e financeiro. Não é Paul krugman ao escrever artigos no New York Times, que irá mudar algo.
Porque é uma questão de poder: a elite financeira norte americana, acaso permitisse que a solução Krugman prevalecesse perderia poder de intervir nos mercados e de condicionar a vida dos cidadãos. *
E também, porque se existisse real vontade em mudar algo, não seria Lawrence Summers, nem a sua “corrente” que estariam no governo, mas sim qualquer outra ou Paul Krugman.
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Esta é a lógica típica de um artigo norte americano de jornal, visando querer convencer uma opinião pública semi anestesiada que existem de facto duas alternativas, quando na realidade existe uma e é essa que será adoptada.
E o que será adoptado é mais do mesmo mas feito de maneiras diferentes.
Uma falsa noção de debate e de democracia.
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O inicio desta lógica de argumentação é pretender convencer que existem duas alternativas em cima da mesa; e que se (deve) escolhe (r) uma: mas na realidade isto é uma falácia.
A segunda lógica desta ideia e desta argumentação é definir o inimigo; isto é, o que não se quer.
O que não se quer é o modelo “europeu” (seja lá o que isso for).
Como o modelo europeu é próximo daquilo que Paul Krugman defende, obviamente… não se quer o modelo europeu.
Outros ” perigos” e antídotos são apontados.
(1) Que os “democratas de Paul Krugman” querem nacionalizar os bancos norte americanos, que estão com problemas.
(2) Que os democratas de Lawrence Summers afirmam que nacionalizar os bancos poderia colapsar o sistema.
Uma sub lógica emerge aqui: apontar “perigos” atrás de perigos, atrás de perigos – apelar ao medo atrás do medo.
Porquê?
Porque quem tem medo normalmente não faz nada e opta por ficar como está. Fica transido de medo.
Ficar como está é não adoptar a solução de Paul Krugman, mas sim a de Lawrence Summers.
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Foram as soluções de Lawrence Summers que levaram isto ao estado em que está. Cita-se o post Crise financeira Americana, Clinton, Rubin, Summers, Geithner, Obama e a desregulamentação :
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Demos um salto no tempo e cheguemos ao ano 2000.
No ano de 1999, um senhor chamado Larry Summers, foi promovido. O seu chefe, Robert Rubin, saiu do governo norte americano (em 2000) para ser Vice Presidente do Citigroup (provavelmente uma recompensa por serviços prestados; isto é, pela “ajuda na revogação da Lei Steagall Act; a tal que impediria a fusão do Citigroup com o Travellers Group…) (o mesmo Citigroup de onde tinha saido o livro de Walter Wriston…já citado acima…)
Rubin tinha trabalhado durante 4 anos como secretário do Tesouro do governo de Bill Clinton; quando deixou de ser necessário lá estar, uma vez que o favor necessário estava feito, saiu, deixando Larry Summers no seu lugar.
Summers querendo deixar a sua marca, foi ainda mais longe que Robert Rubin. Ao que parece, convenceu o Presidente Clinton, para que este aceitasse aceitar uma série de propostas de lei do Partido Republicano (os “malandros da direita…).
Apoiou a criação e existência de uma nova lei que tinha o nome de “Commodity Futures Act of modernisation 2000″, uma lei que queria alterar a forma como certos produtos a serem vendidos nos mercados de futuros (acções ou outros) seriam classificados ( ou não) como tal.
Também fazia o contrário: que certos produtos a serem vendidos no mercado bancário, embora tendo características de acções ou produtos parecidos, passassem a ser classificados como “não o sendo”.
Objectivo: transferir o “risco” de quem vende para quem compra, mas parecendo não o estar a fazer.
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Existem coisas curiosas neste artigo do Wall Street Journal que mostram bem o problema que temos que enfrentar, (e somos todos, no mundo inteiro) mas não da maneira como o colunista nos quer impingir.
Por exemplo, a dada altura diz-se:
” Our largest 10 banks control 75% of total bank assets.”
Tradução: Os nossos maiores 10 bancos controlam 75% dos activos bancários.
Do ponto de vista da “liberdade” de actuação dos agentes económicos norte americanos (empresas e particulares) isto é extremamente problemático. Um oligópolio de 10 bancos está – de facto – em posição monopolista. (acresce a isso o facto de estes grupos bancários serem donos de seguradoras e de posições accionistas noutras empresas…)
(A posição de monopólio acontece quando um determinado grupo de empresas ou somente uma tem uma tal quota de mercado que consegue “fazer preços” dentro do sistema em que está incorporada, e consegue impedir novas entradas de novos concorrentes no mercado, por exemplo).
Será normal que num país tão grande como os EUA, apenas 10 bancos tenham tanta quota de mercado?
(Será normal que num país tão pequeno como Portugal, 4 grupos bancários tenham à volta de 70% de quota de mercado?)
As teorias económicas de Adam Smith que todos os capitalistas americanos dizem seguir defendem muitas coisas.
Uma das coisas que defendem é a existência de um “um mercado atomizado”.
Atomizado significa milhares ou milhões de produtores e vendedores, que se encontram num local fictício – o mercado – com os milhares ou milhões de compradores. E acordam entre si o preço.
Num país tão grande como este , com 300 milhões de consumidores, 75% do sistema bancário – que por sua vez controla todo o resto do país * – controla os depósitos e os negócios de 225 milhões de consumidores americanos.
E de quase todas as empresas do país, uma vez que não é crível e lícito pensar que as grandes empresas, como por exemplo a Microsoft ou a GE, sejam clientes de bancos mais pequenos – os restantes 25% do sistema.
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(A) De um lado temos um mercado atomizado – 300 milhões de consumidores.
(B) De outro lado temos um mercado concentrado – 10 bancos que controlam 75% de 300 milhões de consumidores.
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Este nem sequer é o modelo económico capitalista de Adam Smith.
Este modelo capitalista” transfere o poder para um número reduzido de actores.
Este modelo capitalista transfere a informação acerca dos consumidores para um numero reduzido de actores.
Este modelo capitalista não é democrático.