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CENSURA NO AUDIOVISUAL. EUA.(3)
♦No primeiro artigo “Censura no audiovisual. EUA (1)” falou-se de:
- MPAA e o sistema de classificação de filmes;
- A forma como a classificação é feita;
- o caso da realizadora Kimberley Pierce.
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No segundo artigo CENSURA NO AUDIOVISUAL .EUA. (2) falou-se de:
- uma perspectiva religiosa aplicada à classificação de filmes.
- a não definição prévia dita aos realizadores do que são cenas a virem a ser classificadas NC-17.
- O segredo relativamente á entidade dos classificadores de filmes.
- Os critérios a usar para classificar.
- A aplicação do critério do “sentimento médio do cidadão americano médio”.
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O conveniente pretexto usado actualmente
para levar as pessoas numa dada sociedade a aceitarem sofrer arbitrariedades são as crianças.
Como no documentário aqui analisado se afirma e nós todos percebemos; é dito às pessoas que classificam filmes que ” eles são a ultima linha de defesa contra males inconfessáveis” ou “temos de proteger as nossas crianças”.
√ Enquanto escrevia isto lembrei-me de um post anterior chamado EQUILIBRIUM. Nesse post – a análise de um filme com o mesmo nome, a dada altura, o ditador diz ao personagem principal – o “clérigo Tetragramatton Jonh Preston” (actor Christian Bale) que ” os clérigos Tetragrammaton são a última linha de defesa contra a desordem na sociedade”.
Existe sempre a necessidade de criar perigos (reais ou não) para justificar a adopção de meios totalitários de controlo de uma população. E existem sempre os pretextos para isso. Um deles são “as crianças”…
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Neste documentário nunca chegamos de facto a saber quais são estas pessoas às quais são atribuídas estas gigantescas tarefas de protecção.
O simples facto de atribuir-se este tipo de poder a pessoas normais, estas tendem, subitamente, a sentirem-se maiores do que são.
Sentem o doce aroma do poder absoluto. Um qualquer aura ou missão maior que elas próprias. Como tal os conceitos que inventam para definir o que é um “filme sério” tem a lógica para essas pessoas de “lei”.
O documentário demonstra que tentam criar padrões para os “outros”- . Não interessando se os padrões são arbitrários ou totalitários; isto é, anti democráticos ou não.
No próprio filme documentário, o critico David Ansen explica como. Dá o exemplo das associações de críticos e como estas desmontam o totalitarismo presente neste tipo de actividade: não lhes dar credibilidade e não lhes ter respeito.
Nota ainda que a critica fica muitas vezes espantada com algumas das decisões de classificação de filmes que a MPAA toma.
Existe um filme maravilhoso, mas algures lá dentro tem “uma palavra”. Essa única palavra é censurada. Isso basta para que o filme seja classificado NC-17. O documentário revela ainda como “os palavrões” são classificados dentro de cada categoria de filme.
E como a palavra “Fo**R apenas só pode ser usada uma vez – por filme Logo os realizadores tem que ter cuidado e escolher bem a altura em que decidam inserir num dialogo a palavra em questão.
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Existem ainda outras nuances. “Fo**r” pode ser inserida uma vez. Mas posso “fo**r-te” e “gosto de ser f****o/a” são absolutamente inaceitáveis para serem colocadas num filme abaixo da categoria NC-17 ou “R”.
É também revelado que se um personagem diz isso, vendo-se no filme estar debaixo da influência de narcóticos é logo classificado “R” e fica à beira de levar com um “NC-17”.
Outras nuances são também interessantes.
Se o filme mostra uma posição sexual sem ser na posição de missionário ( homem em cima da mulher) ai já não é permitido. (Visão cristã de sexo aplicada).
Mas no mesmo filme podem existir cenas em que um assassino mata a tiro e com requintes de crueldade 200 amorosas crianças órfãs que isso não constitui problema nem dá origem a classificações péssimas -“R” ou “NC-17”.
Violência gratuita e muitas vezes deslocada do contexto do filme pode ser.
Mas sexo, colocado em perspectiva e lógico dentro do contexto do filme e da história que se pretende contar no mesmo não pode ser. Ou mais que dois humanos, ou humanos com animais, ou o que seja.
Como no documentário se explica bem, uma NC-17 pode ir desde uma orgia de pessoas de 3ª idade até um filme estrangeiro do Pedro Almodôvar.
Como se uma coisa tivesse algo que ver que a outra.
O conceito de “sentimento médio de justiça”, é igualmente aplicado para classificar um filme pornográfico com uma orgia incluindo anões e cavalos, ou um cineasta sério como Pedro Almodôvar.
Outra técnica também existe.
A MPAA chama o realizador e diz-lhe que ele será classificado da maneira “y”. E intimida-os dizendo-lhe “que se quiseres ser mais radical, então terás 5 pessoas a ver o teu filme”.
No documentário é delicioso ver o Sr Jack Valenti a dizer que “eu aplico a Lei Valenti”: “se tu quiseres fazer um filme que muita gente quer ver, ninguém te prejudicará; se quiseres fazer um filme que pouca gente quer ver, não existe classificação que te valha”.
Isto é oposto de democracia.
A ideia de igualdade para todos e de aceso de todos a todos os conceitos e gostos, excepto desde que não violem a lei. Aqui é a lei subvertida por um sistema arbitrário.
As bilheteiras.
O Sr Valenti avança para o dinheiro dizendo que as classificações nada tem que ver com as bilheteiras.
Se existir uma classificação que diga que um filme é mau, as pessoas naturalmente sentir-se-ão inclinadas a não ir ver.
Como diz o analista Paul Gerdaravian, as diferenças entre ser classificado NC-17 e outras classificações são de vários milhões de dólares, entre 20 a 40 milhões de diferença de receitas, consoante o tipo de filme.
Gerdaravian afirma: “porque definitivamente limita a nossa capacidade de comercializar um filme”.
A MPAA serve o interesses dos grandes estúdios passando por ser uma classificação séria e honesta.
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Um da situações interessantes do documentário é o facto do realizador do mesmo, Kirby Dick, ter contratado detectives particulares para saber quem eram efectivamente as pessoas que classificam os filmes.
Os nomes dos classificadores foram mantidos em segredo durante mais de 30 anos pelo senhor Jack Valenti, o chefe da MPAA.
O ordenado de um classificador era de 40.500 euros. Dois classificadores (em 30 anos ) forma os únicos a falarem.
Declararam que :não havia um sistema definido, um padrão de classificação;
Reuniam-se numa manhã para falarem e darema sua opinião sobre o filme do dia anterior.
Existem também depoimentos dos mais variados tipos explicando porque é que o actua sistema de classificação norte americano é inconstitucional, baseando-se também retrospectiva histórica em que até aos anos 5o,nunca houve qualquer intervenção governamental sobre este assunto implicando censura( excepto no domínio da pornografia infantil, por razões óbvias…) e como é absurdo que existam entidades privadas a deliberar sobre este assunto.
Um dos depoentes declara claramente que a indústria americana de filmes, não é competitiva, antes entra em conluio entre si para atacar a criação de sindicatos entre as mais variadas profissões dentro do sistema.
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Nos anos 50 durante o Mcartismo era perguntado, por influência dos estúdios também e pelo fenómeno que ficou conhecido pela “caça às bruxas”e que transcrevo:
Durante a Lista negra as duas perguntas que eram feitas eram se rotineiramente aos inquiridos eram:
(1) é membro do partido comunista?
(2) Já exerceu algum cargo no “screen writers Guild” ( sindicato)?
E como explica quem dpõe, “em primeiro lugar ao fazerem as duas perguntas em conjunto, isso sugeria que existiria uma conexão entre as duas”. E ao fazer a segunda pergunta, torna a resposta “SIM” um acto muito perigoso. Entã’ confessar( confessar parece-me um termo errado) a filiação no sindicato, seria o equivalente a aceitar uma condenação perpetua, uma lista negra”.
As pessoas geralmente associam isto ao Macartismo, mas não tem nada a ver com o Mccarthy.Assim que a MPAA,entrou em acção, a MPPA fez tudo sozinha. E a “lista negra” foi implementada pelos mesmos que controlavam a industria.
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Em seguida vêem-se frases do senhor Eric Jonhson, presidente da MPAA de 1943 a 1965 dizendo” não existe propaganda subversiva na industria de cinema americana nem vai haver”.
E foi assim que uma associação visando o poder oligopolístico de uma industria e dos lucros e poder inerentes à mesma usou as tensões políticas do seu tempo,para perseguir a liberdade de expressão e o associativismo dos seus profissionais.
Continua…
CENSURA NO AUDIOVISUAL. EUA. (1)
Continuação
“CENSURA NO AUDIOVISUAL. EUA (2)”
“CENSURA NO AUDIOVISUAL. EUA (3)”
Artigo de bolinha vermelha.
Em 1968, um senhor chamado Jack Valenti, o chefe da MPAA – Motion Picture Association of América – o conjunto de associados da industria cinematográfica norte americana decidiu criar uma classificação não compulsória de filmes.
Assim começa o filme / documentário “This Film Is Not Yet Rated” do realizador Kirby Dick. Começa também com uns quadros mostrando que as várias associações de críticos cinematográficos existentes aprovaram o filme de Kirby Dick, mas a MPPA não aprovou, nunca aprovará e o quadro termina perguntando “Why not? / Porque não?
A ideia deste documentário é mostrar o totalitarismo / arbitrariedade selectiva inerente à classificação de filmes nos EUA.
Em que é que isto nos afecta?
Afecta-nos em muito dado que 90% de tudo o que é passado em televisões / cinemas / vídeo é feito nos EUA.
O documentário começa como o descrevi, passa depois a uma imagem de 1978 de um noticiário onde se dá conta do trabalho de sistema de classificação, e um noticiário de 1999, onde os diálogos são ao mesmo tempo hilariantes. O noticiário de 1999, diz qualquer coisa como ” Há 30 anos que a MPAA ajuda os pais a decidir quais os filmes que os filhos deverão assistir”.
Os país são pois elevados à categoria de totais mentecaptos aos quais a MPAA , generosamente e de forma altruísta, ajuda a “decidir”…
Ultimamente, nos EUA, as suas decisões tem estado sob fogo cerrado, diz ainda o noticiário. Ao longo do documentário (e, espero eu, deste post/conjunto de posts) perceber-se-á porque …
Antes do “sistema de classificação” estar em vigor a MPAA CENSURAVA directamente e activamente filmes. No país mais livre do mundo censuram-se filmes?
Estranho…Dai o documentário chamar-se “This Film is Not Yet Rated” – este filme ainda não foi classificado. As classificações são 5:
- G (TODOS)
- PG 13 (MENORES DE 13)
- PG (MAIORES DE 13 ACOMPANHADOS PELOS PAIS)
- R ( 17 ANOS )
- NC-17 (CLASSIFICAÇÃO ANTIGA “X”, OU SEJA, POR EXEMPLO FILMES PORNOGRÁFICOS)
A classificação, como mostra o documentário é feita da seguinte maneira:
um grupo de pais, reúne-se na sede da MPAA em Encino, Califórnia e …… classifica.
As decisões são extraordinariamente controversas nomeadamente no que aos filmes classificados NC-17 diz respeito e é isso que o documentário mostra. São extraordinariamente controversas, fazendo perceber a manipulação e o enviesamento das classificações e de como somos induzidos a ser manipulados – todos os que vemos filmes…
Existem questões relacionadas com classificações relativas a sexo, mas não só. É é todo esse “mecanismo” que é mostrado por este documentário para se perceber como estranhas forças religiosas e do dinheiro atacam deliberadamente a liberdade de expressão e a liberdade artística usando esta classificação pomposa para o fazer.
Não deixa também de ser engraçado que o país auto proclamado “mais liberal do mundo” sinta a necessidade de encorajar um sistema de classificação – na pratica, uma regulamentação. Sendo nos EUA, a regulamentação olhada – quando feita noutros países como sendo uma pratica “comunista ou socialista ou Estatal”; aqui, neste assunto, um conjunto de empresas privadas utiliza essa pratica comunista ou socialista ou estatal para se imiscuir e definir os gostos de terceiros…
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Numa determinada parte do filme a realizadora Kimberley Peirce – realizadora do filme “Boy´s Don´t Cry” explica o que lhe sucedeu.
kimberley é lésbica, embora tenha uma filha…de acordo com os seus gostos e liberdade de expressão artística, realizou um filme sobre mulheres lésbicas na cidade de Nova Iorque.
Conhecia o tema e conhecia muitas raparigas que se vestiam de homens e viviam como se fossem homens em Nova Iorque. (Porquê, não sei, nem me interessa por aí além..)
Um belo dia, após ter feito o filme, o agente dela informa-a, que ela recebeu um NC-17. A pior classificação.
“Isso é porreiro”, observamo-la na sua cândida ingenuidade, porque todos os filmes porreiros (para ela) que tinha visto estavam classificados NC-17. O agente explicou que não, aplicando um balde de agua fria.
Não era bom, porque o Estúdio, não lançaria o filme; não o lançaria no canal de distribuição, nem o promoveria, caso o filme recebesse um “NC-17.
A realizadora ficou de rastos porque tinha trabalhado contra todos os obstáculos de: (A) não ter dinheiro para fazer o filme e ter de o procurar ( B ) ir contra as pessoas; as muitas opiniões, segundo as quais ela não poderia fazer um filme daqueles porque aquilo não interessava a ninguém, (C) e depois passar o teste de publico, que gostou do filme.
Todo um esforço e tempo de trabalho desperdiçado, para, depois, aparecer esta misteriosa comissão que classificava o filme como NC-17, na pratica inviabilizando o lançamento comercial do filme. Como ela explica e passo a citar com a mesma linguagem gráfica dela parece que os problemas do filme eram 3: (Bolinha vermelha AQUI O)
1- Depois do Brandon ter feito um minete à Lana ele vem para cima e limpa a boca. Como ela diz, (kimberley)/ we had a strike on that”. (Fomos riscados…nessa).
Posso também explicar que não se vê sexo explicito filmado ao pormenor. Apenas se sugere isso. (No documentário, no filme não sei…) O que é hilariante é que ela pergunta o porquê ao seu advogado (que lhe contou isto) e responde-lhe (que lhe explicaram) que “” não souberam bem porquê, mas é ofensivo””.
Fantástico argumento este para recusar algo…
O mais hilariante no filme é que existe uma cena em que a protagonista principal dá um tiro na cabeça à queima roupa do personagem Brandon e isso não é considerado ofensivo ou chocante.
2 – A segunda cena que levou com NC-17 é uma cena de violação anal.
Ao que parece queriam que ela a cortasse. Como a cena em questão fazia parte do contexto global do filme – contribuía para se perceber a história – ela recusou logo o corte e perguntou qual era a terceira razão.
3 – Parece que a terceira cena a ser cortada e que levou com um NC – 17 é o orgasmo da Lana, a protagonista. Parece que o ” orgasmo dela é demasiado longo”.
Numa nota mais pessoal e de profundo gozo por este tipo de argumentações; diria que a tabela de tempo de duração de orgasmos apresentada pela Sociedade Mundial de Definição do Tempo dos Orgasmos na sua última assembleia geral não conseguiu chegar a acordo entre os seus membros sobre a definição do tempo dos orgasmos longos a adoptar e votou – por unanimidade – não chegar a consenso.
Talvez uma norma comunitária resolva o assunto…
Ou seja, o orgasmo era (foi) considerado ofensivo.
Não por ser orgasmo, mas por ser longo. Presume-se. Mas isto foi no dia em que o filme foi classificado. No dia a seguir, suponho, a classificação já teria sido dada de outra maneira.
Kimberley foi voltar a ver a cena do orgasmo e percebeu que o problema daquela cena, não era o orgasmo da LANA, a personagem principal, mas sim o facto de a personagem estar a ter um enorme prazer, isto é, a representar ter um enorme prazer ao ter um orgasmo longo.
Como conclui a realizadora, é isso – algo nisso – que “os está a assustar, e a enervar”.
Além disso, a senhora que está a ter o orgasmo longo é “muito vocal”. A imagem cinematográfica é bem feita e descreve uma mulher – ainda por cima, a actriz em questão é loura e bonita, a ter prazer.
Continua.