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ELEIÇÕES EUROPEIAS 2009
O que é que se retira destas eleições europeias 2009?
Um breve preâmbulo para explicar algumas coisas. Um “preâmbulo” comercial.
Ø
Quando os responsáveis de um hipermercado, ou cadeia de hipermercados, sabem que não estão em condições de competir em preço com outro hipermercado ou cadeia de hipermercados, utilizam um truque para fugir a essa competição.
Anunciam que “cobrem” a diferença de preço se o cliente encontrar no raio de “X” quilómetros o mesmo produto, mas mais barato.
O truque que aqui está é o seguinte:
estão publicamente a sinalizar à concorrência mais competitiva e mais barata que esta pode aumentar os preços até estes chegarem ao mesmo nível dos preços do hipermercado “não competitivo”.
Estão a dizer que “não queremos uma guerra de preços”. Aumentem o vosso preço e ganhámos os dois e ninguém se perturba.
Ø
Na parte política, já a política pura desapareceu há muito tempo. E agora também existem formas sofisticadas de mercado político e de vendas de ideias.
Ontem sucedeu o mesmo, comparativamente, ao que sucede no mercado “comercial” dos hipermercados e das suas lutas semi falseadas de preços.
Uma sinalização de que; é melhor não entrarmos em guerras extremas de preços políticos.
Ø
Dois analistas políticos do PSD, Joaquim Aguiar e Pacheco Pereira, em duas estações de televisão diferentes, a horas diferentes, mais António Barreto, um independente disfarçado do PSD, mencionaram a expressão partido de extrema esquerda, referindo-se ao Bloco de esquerda.
Que pela “primeira vez”, um partido de extrema esquerda tinha tido mais votos do que o Pcp. Que isso tinha sido uma enorme derrota do Pcp, mas que (insinuava-se nesta implicação usando estas palavras) o próximo perigo (o próximo demónio) seria o Bloco de esquerda.
E a partir daí começava-se a “insinuar” que “poderíamos ter “problemas de governabilidade futuros” porque o Pcp e o BE não seriam adequados para coligações eleitorais com o PS, e que o CDS + o PSD poderiam não chegar a ter maioria absoluta, no futuro.
Como todos podem ver, actualmente não temos, ao que parece…problemas de governabilidade….
Actualmente, tudo corre às mil maravilhas.
Ø
Os analistas políticos do PSD começaram ontem a sinalizar aos do PS, que não estão em condições de conseguir competir pelo espaço político de forma a “ganharem inequivocamente eleições”, e que, portanto, é melhor o PS, tentar encolher o espaço do Bloco de esquerda, enquanto o PSD tenta fazer o mesmo do seu lado, e , eventualmente, isto levar a uma coligação de Bloco Central, ou pelo menos a que se “pense no assunto”.
Ou a que um “governe” , e o outro não obstaculize por aí além.
Que, no concreto, os mesmos métodos que tem levado isto para o fundo, continuem a ser seguidos e usados.
Ø
Também existem outras implicações neste tipo de discurso.
A construção de imagens mitológicas de demónios – hoje o Bloco de esquerda, ontem o Pcp, amanhã a extrema direita, depois, quem aparecer, quer esses demónios o sejam, quer não o sejam.
As convenientes desculpas e tentativas de atribuir a outros “características” de radicais, de seres estranhos ao sistema, são uma constante do actual centro político português.
Só assim esse denominado centro político consegue manter o actual sistema decadente, ineficaz e corrupto.
É a “sistemática” construção de um “inimigo externo” que permite que isto se mantenha como está.
Chama a outros (sejam quais forem os outros) radicais, enquanto a si próprio se atribui uma imagem de moderado.
Ø
E a abstenção chegou acima dos 60%.
Uma excelente vitória dos moderados do sistema.
PORTUGAL: UMA LETARGIA MUITO BEM INCENTIVADA
À propósito de uma expressão usada pelo leitor Pedro fontela, nesta caixa de comentários; “uma letargia muito bem incentivada”; uma das formas comummente usadas para incentivar a letargia é por exemplo dizer uma frase como a seguinte:
” os contornos do debate político estão a mudar”.
Quantas vezes não ouvimos ou lemos este tipo de frase?
É-nos dito que existe um debate político que está em mudança. Quem afirma isto (O fazedor de opinião) aumenta a sua credibilidade e anuncia algo de novo a um público sempre ansioso por novidades.
Existe um público sempre ansioso de novidades porque foi “educado” para ser sempre “ansioso” por novidades, logo, mentalmente mais “desperto” a ser “adaptável”, a mais uma pseudo novidade…
Depois, normalmente o passo seguinte será dizer que
“como os contornos do debate político estão a mudar”
também as forças dentro dos contornos do debate político estão a mudar.
E avança-se para a caracterização da mudança.
E poderá dizer-se que:
a (nova) grande divisão é entre quem a favor da distribuição de poder e quem é a favor da centralização de poder.
Em vez da velha divisão “Esquerda Vs Direita” do antigamente….
E assim somos gentilmente levados para onde se quer que sejamos gentilmente levados…
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Esta é uma forma em Portugal especialmente bem cultivada de incentivo da letargia nas pessoas no que ao debate político e ao pensar política diz respeito.
É uma técnica de “despolitização da sociedade”, tentando evitar a existência de “lados”(opostos).
Como a nova divisão (oficialmente declarada) é entre
– quem é a favor da distribuição de poder;
VS
– quem é a favor da centralização de poder,
o resultado será o seguinte:
Assim nos enganam dizem, ser necessário afirmar que existem, na esquerda política centralizadores de poder que estão lá conjuntamente com “dispersadores de poder” que também lá estão.
E na direita política existem lá dispersadores de poder, assim como centralizadores de poder.
Isto é a tradução de – no caso português – da expressão “Bloco central”, mas agora recauchutada, revista e aumentada e com nova cara.
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Quando se aplica isto ao estado económico, a lógica argumentativa é a mesma.
É dito que (1) uns que querem que o Estado use mais músculo a debelar a crise económica; e
que existem (2) outros que querem que ao individuo seja dado mais poder.
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Esta é uma das formas subtis de letargia muito bem incentivada que é aplicada no país que dá pelo nome de Portugal.
Convencer-nos que isto é meramente um problema de centralização de poder vs distribuição de poder.
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Estas são as “novas teorias” e conceitos completamente importados do mundo político anglo saxónico visando dizer que a dispersão de poder é boa e a centralização de poder é má, e que esta lógica que daqui decorre é que é aquilo que se deve discutir em política.
Discutir “isto” é discutir nada.
E a “tradução” da discussão de nada, é conhecida, em termos práticos, na retórica comum, como sendo a situação em que é usada a palavra “regionalização”.
LIVRO – O QUE RESTA DA ESQUERDA – NICK COHEN.
Livro: “O que resta da esquerda” do autor Nick Cohen, um jornalista inglês.
Editora aletheia – apresentação no sitio “Critica literária” – 2007.
A editora Aletheia é uma editora recente, lançada por Zita Seabra, ex-membro do pcp há uns anos atrás e actualmente membro do PSD. Explica-se desta forma pelo facto de ser a editora que é; a razão de ser das opções editoriais. Cita-se:
“Questionada sobre os critérios de edição, Zita Seabra afirmou que a Alêtheia quer publicar 120 livros por ano, seleccionados de acordo com opções culturais e comerciais.” Diário de Noticias – 08 – 10 – 2005
Mas então a editora não pode escolher editar o que quiser, ò reaccionário?
Claro que pode. Convém é que o faça com pés e cabeça e não cometa erros básicos como este, na ânsia política de publicar algo que representa um esforço comercial mas também uma opção cultural para dar alfinetadas, e fazer guerra ideológica sobre o BE, no PS ( numa parte) e no PCP que até as merece. Ou seja, não fazerem m*erda da grossa como está aqui em baixo.
A imagem em cima pertence à página 10 do livro. A imagem em baixo pertence à contra capa. É evidente que este erro não tem directamente a ver com o conteúdo, mas mostra bem uma série de coisas. Na página 10 temos um professor de inglês, na contra capa temos uma querida e atenciosa professora de Inglês.
Já agora: o livro tem a indicação das fontes feita pelo próprio autor, mas não tem índice remissivo.
Nada mau para um “livro político”…
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Este livro é muito difícil de comentar, porque é difícil escrever sobre um livro globalmente muito mau, mas que tem dentro dele partes muito boas.
Entre factos e criticas correctas que Cohen aponta á esquerda, surgem também numa mistura confusa pequenos truques rasteiros e muita desonestidade intelectual de Cohen relacionada com este assunto, bem como “ajustes de contas” sobre a forma de recados e remoques sobre as diferentes actividades de diferentes personalidades, inglesas e estrangeiras.
Uma das religiões que é mais arduamente defendida no livro é a religião do anti-anti-americanismo.
Isto é; quem criticar os americanos, mesmo que salte à vista desarmada que os EUA estão a cometer um qualquer erro ou asneira gigantescos, deverá, por sua vez, ser criticado ferozmente e ser apelidado de “anti americano” em tom absolutamente depreciativo.
Dois aspectos.
– Não só isto constitui uma isenção de critica aos norte americanos;
– Como é também assim constituída uma quase “excepção oficial”:
O resultado é simples.
Todos podem e devem ser criticados, menos os americanos, porque são os “combatentes da liberdade” e os combatentes da liberdade não são passíveis de serem criticados.
Adicionalmente:
Também é uma maneira de “isolar” pessoas que não sendo esquerdistas, nem de extrema direita, não apreciem as políticas norte americanas nem com molho de tomate em cima ou senhoras de seios volumosos a saírem de dentro de um bolo a amenizar a falta de aprovação dos actos norte americanos.
Somos todos obrigados a gostar de norte americanos e das suas políticas. É como um restaurante onde só se sirva bolo de bolacha e todos tem que gostar, gostem ou não.
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O problema do livro não está no conteúdo (opções) do livro, e no facto de “criticar” a esquerda. Mas sim nos truques rasteiros que Cohen – que se diz de esquerda – usa para o fazer e de como, na quase totalidade do livro cria um lógica intelectualmente desonesta ao serviço dos pontos de vista que pretende demonstrar e que, alguns, não são os da esquerda mas os da direita e da mais profunda. (Nesse aspecto o branqueamento de Paul Wolfowitz, de George Bush, de Tony Blair são notáveis…)
Nas páginas 78 a 90 da edição portuguesa isso nota-se bastante e na zona 88-91 faz a apologia de Paul Wolfowitz da seguinte maneira:
Página 91 ” Ouvimos Wolfowitz apresentar um apelo coerente á ajuda ao movimento democrático no Irão contra os sacerdotes. Era difícil não ficar impressionado com a seriedade dos seus objectivos”.
( Após a implementação do “movimento democrático no Irão” teremos evidentemente a implementação da democracia simplificada, assente no modelo económico neoliberal, mas disso, desses “efeitos”, Cohen não diz uma palavra…) *
E é mais irritante ainda porque para “contrabalançar” este elogio totalmente descabido às operações de propaganda do senhor Wolfowitz, o mentor do projecto PNAC, na página 92, imediatamente a seguir, Cohen critica as políticas norte americanas dos conservadores relacionadas com os soldados americanos; após as comissões de serviço no Iraque regressam a casa.
E percebem, que os ricos que detinham o poder durante o tempo em que estiveram fora, a combater pela América, alteraram as leis. Uma das alterações foram as ajudas a veteranos de guerra – tinham sido “retiradas” – os soldados não tinham qualquer tipo de ajuda para reestabelecerem a vida.
Foi a mesma administração da qual o senhor Wolfowitz fez parte que tomou estas decisões.
O livro todo tem exemplificações deste tipo – estes truques rasteiros; o “dar uma no cravo, outra na ferradura”…
Outra coisa altamente irritante é o seguinte:
Partes em que as nacionalidades dos mais variados intervenientes são colocadas antes do nome ( o Irlandês “X” , o Escocês “Y”,etc) mas curiosamente Tony Blair, George Bush e Wolfowitz, nunca são designados por “o americano ” Bush, o “Inglês” Blair…
A associação de ideias é óbvia visando lançar uma “sombra” sobre as nacionalidades dos intervenientes. Que seriam pessoas “anti poder” e anti Grã-Bretanha, ou anti países anglo-saxónicos, ou “anti conceito de liberdade existente nos países anglo saxónicos” ( a única, a verdadeira, a legítima…)
Há uma parte em relação a Eric Hobsbawm, um excelente historiador, mas marxista, que é sintomática. Hobsbawn é citado a dar uma opinião política, mas é apresentado como sendo “o Historiador “Marxista” Eric Hobsbawm.
A opinião citada de Hobsbawm é política, não marxista, nem de “historiador”, mas as palavras ” Historiador Marxista” aparecem no meio daquilo. Todas as pessoas que ele não gosta ou tem interesse em denegrir (justamente ou injustamente, não interessa) desta forma “subtil” são rotuladas depreciativamente. Já Tony Blair é apenas “Tony Blair….ou Bush é apenas George Bush…
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Contudo, o livro tem duas partes muito boas:
– a História pessoal de Kanan Makiya, um refugiado iraquiano que em 1981, sob o pseudónimo de Samir Al Khalil, publicou um manuscrito ( com risco da própria vida ), chamado “a República do medo” onde descrevia a vida horrível, o terror completo, no Iraque debaixo do regime de Saddam Hussein.
– Outra parte muito boa, é a descrição da Guerra da Jugoslávia e subsequente fragmentação. E como a política inglesa da altura ( liderada pelo partido conservador de Jonh Major – a direita que não presta…) agiu em relação ao Balkans, bloqueando toda e qualquer intervenção da União Europeia.
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( Cohen nesta parte não faz qualquer elogio a franceses e alemães relacionada com o desejo destes intervirem na ex-Jugoslávia. Noutras partes do livro está sempre a dar alfinetadas à “Bruxelas”, à França, à Europa… (justas ou não, mas é este o tipo de lógica deste livro, de parcialidade…)
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Estas duas partes são muito boas porque Nick Cohen conhece pessoalmente Kanan Makiya e escreve umas boas 130 páginas sobre a história pessoal de Makyia, da sua família e do Iraque.
Também conhece pessoalmente no que à Guerra da Jugoslávia diz respeito, o senhor Marko atila Hoare, especialista nesta área, e que escreve no Blog Greater Surbiton.
E também ao conjunto de tipos (entre os quais M. A Hoare) que escrevem sobre o fim das tiranias e quejandos no Harry´s Place
Percebe-se isto claramente no livro – que as melhores partes vem daqui – destas pessoas. O resto de Cohen são ajustes de contas, (Galloway, Gerry Healy e Ken Livingstone, ex- mayor de Londres) (Note-se que Galloway e Healy são do mais detestável que há…) demagogia, anti europeísmo, personificado, especialmente nos sentimentos anti França, Espanha e Europa ( Bruxelas).
( Chomsky e Michael Moore são também arrasados…embora por razões diferentes e no caso de Chomsky bem arrasado…)
Também é interessante notar – notei duas vezes pelo menos ( existem mais, mas estava distraído) – que Nick Cohen cita pessoas e influências sem as citar. Uma série da BBC de 2007 que rebenta argumentativamente com a direita neoconservadora e com a “esquerda Blairista”, bem como um certo filosofo de origem eslovena estão entre os “não citados”… (Mas há lá mais…) (Também faço o mesmo, cito o que ele cita sem citar…)
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O núcleo central de questões que Cohen é coloca é o seguinte:
– Existe o mal absoluto e o mal absoluto era o Iraque de Saddam Hussein.
– O mal absoluto deve ser combatido.
– O Iraque de Saddam Hussein, ultrapassou qualquer tirania mais abjecta.
– A esquerda política (no livro designada por liberal, derivado da palavra inglesa “liberals” que será traduzível por pessoas de esquerda), que desde sempre combateu as tiranias não tem outra opção:
tem que ser a favor da deposição de uma tirania- agora e nos dias de hoje – tal e qual o foi no passado.
(A comparação com as circunstâncias do passado é desonesta.)
Esta é basicamente a mensagem – o núcleo deste livro.
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Tese central do livro: Cohen coloca quem o lê perante um dilema filosófico e político de resposta impossível para qualquer adepto da esquerda ( e mesmo de direita). Para qualquer cidadão…para o meu gato até…
O dilema é: se não formos contra a tirania do Iraque, seremos obviamente anti democráticos, ou pessoas de extrema esquerda , ou pessoas de extrema direita, nunca seremos “democratas”.
A questão é colocada de uma forma definitiva.
De um lado os defensores da liberdade contra a tirania, e do outro quem não é – imediatamente identificável – contra o derrube das tiranias – quer dizer, desta tirania do Iraque…
Depois Cohen avança e põe outra questão de outra maneira: “o que é que leva a esquerda” liberal (como ele a designa) a adoptar o programa político da extrema direita ou da extrema esquerda?
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Esta forma de raciocínio é do pior que se pode encontrar. “Obriga” a que um cidadão, seja de esquerda ou não seja, tenha obrigatoriamente que declarar o seu apoio à invasão do Iraque de 2003, porque, caso não o faça, é apelidado como estando a fazer o jogo da extrema direita ou o jogo da extrema esquerda (ou o jogo do extremo centro…)
As pessoas ficam assim colocadas numa posição em que estão a ser chantageadas – é colocado em causa o seu apego à democracia…
(Isto lembra-me também o Macartismo, quando actores e escritores de filmes em Hollywood dos anos 50 tinham que comparecer numa comissão do Senado americano, para declararem que não eram comunistas nem tinham alguma vez pertencido ao partido comunista. Caso afirmassem que não queriam responder a essas perguntas eram imediatamente colocados sob suspeita e vistos como comunistas e os estúdios deixavam de os contratar. A alternativa era violentarem a sua consciência ou passarem fome… ou traírem terceiros ou desconfiarem de tudo e todos e agirem sempre assim).
( No cinema a história é contada num filme de 2005 – Good Night and Good luck – que mostra o conjunto de reportagens feitas pelo jornalista Ed Murrow acerca do Macartismo e de como isso contribuiu para derrubar as ideias de “caça às bruxas” na América dos anos 50)
♣
A tese acessória deriva da tese central e é a seguinte:
É preferível viver numa “sociedade liberal” do que numa tirania semelhante à iraquiana. Isto é verdade e não se discute. Mas…
Por isso quem vive numa democracia, não pode apoiar manifestações ou protestos que visem impedir o derrube de um regime fascista, porque entre o fascismo e a democracia, o fascismo não se apoia. ( É claro que esta lógica leva inevitavelmente a que outras manifestações contra outros problemas sejam também rotuladas como proto fascismo…por exemplo…)
Mais uma vez colocadas as coisas assim, a desonestidade é evidente, precisamente porque não se pode comparar o incomparável, e porque esta forma de comparação apenas serve de justificação – isto é para que todos nós achemos ser aceitável – que uma “democracia liberal” funcione mal (seja corrupta, injusta, etc), ou que “ditaduras suaves” sejam toleradas.
Vistas as coisas assim, tudo isto legitima e torna aceitável o rebaixamento dos padrões democráticos de uma qualquer sociedade democrática – liberal.
Isto é, desde que os padrões de vida e de democracia de uma “sociedade liberal” sejam mais elevados do que os padrões de uma ditadura ( e são sempre ), isso autoriza a que os organizadores de uma sociedade liberal/democrática possam descer os padrões até níveis bastante baixos, mas sempre a um nível acima do das sociedades totalitárias.
E a legitimidade democrática – segundo este padrão falso – é assim criada.
Por exemplo, segundo esta lógica, é aceitável a prática da tortura em Guantanámo, porque é feita por uma sociedade “liberal” , e esta sociedade liberal, supostamente, possui mecanismos de correcção e parte de uma plataforma moral superior.
Por oposição a uma ditadura sanguinária que faça exactamente o mesmo que se faça em Guantánamo.
Portanto, de um lado temos algo de mau, e do outro temos algo de muito mau.
Como a classificação “algo de mau” é melhor do que a classificação de “algo de muito mau”, parece Cohen opinar, é legitimo aceitar isto assim.
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Sobre Capitalismo, tirania dos mercados e corporações, manipulação de Estados e influência sobre organizações internacionais e da forma como estas condicionam o poder político e a democracia, nada se diz no livro de Cohen, nem se relaciona a esquerda ou a direita com estes contextos.
Nem como os interesses económicos destas mesmas corporações estão a começar a ameaçar e a destruir os sistemas políticos democráticos nos quais Nick Cohen pode livremente escrever livros sobre o fim de tiranias…geograficamente distantes.
* Também é de notar que o facto do petróleo e a posição geo estratégica do Iraque não serem mencionadas por Cohen, nem nunca ter mencionado a possibilidade de uma invasão … sei lá… do Zimbabue, onde um ditador sanguinário existe. O Zimbabue é longe, vale zero geoestrategicamente, e não tem petróleo, só gazelas…
Mas mais perto, temos também a Bielorússia.
– No blog “Esquerda- Republicana” existe um post dedicado a Nick Cohen com uma citação em Inglês onde ele está dar na cabeça de muçulmanos e no multiculturalismo
– No blog “menino rabino” existe a transcrição de uma entrevista de Cohen feita a Teresa de Sousa no Jornal Público em 2005
– No blog Agua lisa 6 existe uma recensão sobre o livro diferente desta feita aqui,onde o objecto da mesma é mais colocado sobre as cacetadas que Cohen dá sobre a extrema esquerda.
– No blog “Mare liberum “existe um conjunto de citações do livro” (que infelizmente só chegam à página 80), que demonstram mais ou menos o estilo global do livro.
O livro é perfeito para atacar ideais de esquerda (os verdadeiros) e para lançar a confusão na cabeça de quem o lê (pelo menos da maior parte das pessoas).
Notas finais:
A) o livro deve, apesar de tudo, ser lido;
B) O livro parece muito bom; não o é; sob qualquer ponto de vista que se queira escolher (excepto pelas duas partes que expliquei mais acima)
C) Era um livro que me gerava enormes expectativas, e que é uma desilusão completa no que interessava perceber…
C) Agradecimentos à Sabine por me ter enviado há um ano notícia acerca deste livro.
POLÍTICA – E NOVOS PROJECTOS
Existe uma corrente( voluntariosa) que diz “intelectuais de nova geração, uni-vos”- se não quereis ser esmagados pela mediocridade e pelo caos reinante. A corrente diz (também com verve), que é preciso algo mais do que só despejar veneno acerca do estado das coisas (penitenciando-se o próprio) e não estar numa onda de resignação ou comodismo permanente.
Reorientando este texto, vou citar a personagem interpretada pela actriz Glenn Close/condessa de Merteuil, no filme “Ligações Perigosas” baseado no livro do escritor Choderlos de Laclos. A dada altura a Condessa diz a propósito de outro personagem do filme «o Cavaleiro Danceny» o seguinte: “Danceny como todos os intelectuais é intensamente estúpido”.
- Significa isto no contexto do filme que o intelectual Danceny não estava ver o óbvio.
- Não significa isto que eu estou a chamar estúpido ao proponente da corrente ” Intelectuais,uni-vos.”
Apesar de existirem (alguns) intelectuais que não são intensamente estúpidos devemos partir do princípio que não é esse o caso generalizado em Portugal.
Logo, como “confiar” em qualquer corrente ou grupo de intelectuais que pretendam fazer uma “Fronda”, se a experiência demonstra que, quase todos, historicamente, são intensamente estúpidos e mal preparados?
Que tem pouca ou nenhuma cultura histórica e que apenas emprenham pelos ouvidos de ideias importadas directamente do estrangeiro?
Este é desde logo o principal problema de qualquer “corrente” política aqui.
Essa fronda de intelectuais, ou corrente, apesar de tudo, permite (deverá permitir) sonhar com a construção de novos horizontes. E desses novos horizontes nascerá a mudança social, política e económica que de que este país carece.
Crítica: para se criarem novos horizontes, é necessário afastar pessoas que ocupam os velhos horizontes.
Problema: Essas pessoas recusam sair pelo seu próprio pé; antes pelo contrário agarram-se cada vez mais ao poder, seja qual for a forma em que este é entendido.
Método: Como não se pode fazer uma revolução sangrenta, porque não é fino, não tem estilo, as ruas ficam sujas de sangue, e além disso cheira demasiado a comunismo ou a esquerdismo jacobinista ( deverá ser quando as pessoas estiverem em estado de escravatura que alguém, eventualmente, talvez, comece a pensar que talvez se tenha que usar a força…para aí deixar de ser considerado como não tendo estilo…), então devemos apontar para existir a ideia de mudança, através de um projecto político.
Mais crítica: para se fazer um projecto político sério, é necessário abandonar ideias “estrangeiras” – é um imperativo neste momento para Portugal, desligar-se o máximo que se puder de certas influências. Isto significa que deverá fazer-se um afastamento, um corte claro.
√ * Mas as condições desse afastamento deverão ser, (1) não de tipo Salazarista, (2) deverão basear-se na criação de condições democráticas reais, (3) não cair nos esquerdismos tipo PCP ou BE, (4) recusar posição aos grupos de amigos PS/PSD e (5) afastar os cds-pp e restantes forças que nada representam, (6) impedir qualquer influência do poder económico.
Afastar tudo.
Habituada toda uma população a ” referências ” e a “marcas comerciais políticas” que já conhece, porque terá êxito – agora – uma marca nova? Porque terá êxito uma Fronda de intelectuais que proporá uma «posição» nova, que substituirá com vantagem, pressupõe-se, o que existe?
Quais são as garantias disto?
Porque é feita por intelectuais que não querem ser engolidos?
Cito em baixo uma caixa de comentários a contrariar parcialmente estas criticas.
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Dissidente,
eu penso que já te disse isso mas por essa lógica só há 3 hipóteses, nenhuma delas agradável:
1) Cometer suicídio.
2) Assassinar a classe política, económica e intelectual em massa.
3) Ir para fora e não voltar e dar o país como perdido.
Não me parece que nenhuma seja razoável.
♦
Daí a minha resposta: A quarta hipótese é continuarmos com este sistema em que todos se desgastam uns aos outros, criando um ambiente irrespirável.
Será esse o sistema político português a vigorar.
A razão pela qual será esse a vigorar é a seguinte.
A maior parte das pessoas não está, nem sequer minimamente, disposta a abandonar o conforto – a zona de conforto – em que vive e disposta a fazer algo – o mínimo que seja, para contestar o actual estado de coisas. Correndo o risco de ser acusado de marxismo diria que o vídeo gravador e a maquina de lavar venceram sobre a necessidade de as pessoas se baterem através de acções concretas contra um certo estado de coisas.
Acções concretas que não passem pelo acto inútil de ir votar.
* Uma vez que não se quer ou pode fazer o que está exposto lá mais acima.
Pré nota lateral: Quem faz o jogo argumentativo de exigir mudança e depois, nem sequer ao nível de uma debate de caixa de comentários trata em pé de igualdade, respondendo a comentários baseado nessa mesma lógica, antes tentando colocar-se num ponto e numa distância superior, tentando criar “plataformas” em que so comentadores estarão em planos diferentes perde imediatamente a credibilidade.
Pré nota lateral 2: existe uma coisa que se chama Double Speech. Com conhecidos ou amigos diz-se algo muito menos polémico do que se diz noutros sítios, sítios esses onde o radicalismo e a a abertamente demonstrada hostilidade à democracia são explanados com todo o vigor. Depois existem os sítios Inbetween onde se oscila e se flutua, usando o dono do sítio como cobertura para fazer isso mesmo.
O dono do sítio que sabe que eu sou um casca grossa com muitos defeitos, também sabe que normalmente digo o que penso, e também sabe que nada deste artigo é contra o dono do sítio; só uma chamada de atenção ao dono do sítio para o facto de que eu não ando a tentar convencer ninguém a embarcar em projectos políticos, não ando a recrutar conspiradores.
O dono do sítio é um rapaz inteligente; percebe isto.
Nota lateral:
√ O discurso dos que discordam do funcionamento em rede porque isso era “cacofonia” e multiplicidade de ideias é o discurso idêntico aos que defendiam a ditadura Salazarista, especificamente e também, o próprio, clamando contra a desordem que uma multiplicidade de vozes e ideias geraria – assim justificando que só uma voz falasse.
√ Também é o discurso dos que aspiram a chegar ao poder sem terem que combater o mínimo que seja, para lá chegar – esperam que outros lhes aplainem o caminho – e uma vez lá chegados, receberem o poder «intacto» sem mossas ou danos de qualquer espécie.
Podendo assim começar do zero e vender a ilusão de uma nova era que – imagine-se só – começou precisamente quando estas pessoas chegaram ao poder.
√ E também é o discurso dos que pretendem « atrair para a sua esfera de influência» pessoas interessadas em projectos políticos novos e sérios, mas não o parecendo estar a fazer, isto é, não parecendo estar a atrair as pessoas interessadas em projectos políticos novos e sérios para a sua esfera de influência.
JOGOS DE PALAVRAS POLÍTICOS.
Um assassino profissional dispara uma arma.
A bala que dela sai atinge o seu alvo pré-destinado.
Pode-se fazer a pergunta: a bala que atinge a vitima é de esquerda ou de direita?
Nos últimos 3 anos, pelo menos descobrimos algumas coisas novas. Um novo jogo de palavras que é feito pelos políticos portugueses tem acontecido de forma mais definida. Chama-se “Liberalismo de Esquerda”, também conhecido por “Esquerda Moderna”.
Com a inevitável passagem do tempo, descobriremos, extasiados, e acaso a doutrina se desenvolva de forma sociológica e harmoniosa que isto é tudo normal e que, historicamente ( ser-nos-à assegurado isso) até já existiu o nazismo de esquerda – por oposição ao nazismo de direita.
Ou que até já existiu o fascismo de direita por oposição ao fascismo de esquerda.
Contorcendo mais e mais as palavras, provavelmente, viremos a descobrir que existiu um regime Cambodjano “Khmer Rouge” de direita e o regime Cambodjano”Khmer Rouge” de esquerda.
Embora “rouge” seja um sinónimo de “vermelho” e de vermelho no sentido de esquerda comunista/maoísta.
Ambos os regimes Khmer, o de esquerda e o de direita foram responsáveis por um massacre de 3 milhões de pessoas.
Algumas dessas pessoas eram mortas, apenas pelo simples facto de terem óculos.
Isso indicava que eram intelectuais, aos olhos dos dirigentes Khmers, quer os considerados da tendência esquerda moderna/liberal quer os da tendência direita moderna/liberal.
Tinham óculos, eram intelectuais, deviam ser exterminados.
Qual é a necessidade por parte dos ideólogos da esquerda ( nesta altura já começo a estar confuso para conseguir classificá-los…) de quererem esmiuçar com toda esta precisão metodológica e especificidade semiótica as palavras?
É um problema de orfandade e de infantilidade política.
Incapaz de competir com a produção de fumo intelectual e retórico da Direita neo liberal, com o discurso desta, com o discurso demagógico e simplista desta, a solução é partir para a orfandade.
Após a orfandade ser superada passa-se à comparação.
Se os “outros” usam a expressão “liberalismo” e a associam à Direita, dizendo “Liberalismo de direita” ou só “Liberalismo” então nós também a usaremos e falaremos em “Liberalismo de esquerda” para”salientar as diferenças”.
Este processo psicológico poderoso de auto convencimento permite fazer crer aos próprios que, assim, com estas novas definições, poderão lutar melhor e mais eficazmente, diria mesmo, até ideologicamente, contra a Direita neo Liberal.
Tenho que dar a mão à palmatoria.
Quem criou esta “nova ciência de fumo ” chamada Liberalismo de esquerda” ou “Esquerda Moderna” é um conjunto já razoável de excelentes ilusionistas e prestidigitadores.
Atrever-me-ia mesmo a dizer “Magos do hipnotismo político virtual”.
Quando este produto mostrar as suas insuficiências, especialmente porque é um produto inexistente, existirá sempre um novo segmento de mercado político a explorar.
Especulativamente direi que o “liberalismo de esquerda” corre sérios riscos de ser transformado numa nova fase conceptual de retórica política: a “inteligência emocional de esquerda”.
Desta, um novo Uppgrade tecnológico/retórico conceptual poderá advir daí: “a libertação do feminino escondido na pessoa de esquerda”.
Caso a pessoa de esquerda seja um homem.
Se for uma mulher será ” libertação do masculino escondido na mulher de esquerda”.
Enfim ……. meros jogos de palavras para esconderem o que efectivamente acontece.
Uma prática e um discurso neo liberal. Privatizações sistemáticas. Impostos elevados.
Antes (ou será depois?! que isto já começa a ser difícil cronologicamente de definir…) já tivemos a celebre “Terceira Via” ( que evoluiu para o Liberalismo de esquerda, etc…)
Nota de término: o grupo humorista “gato fedorento”, tinha um sketch assassino na sua série Lopes da Silva.
Num dos sketches existia um candidato político; chamado Doutor “Lopes da silva”.
Gongórico e pretensioso está num comício a falar às massas. Não diz nada de relevante. Mas a multidão entusiasmada acaba – com os gritos que dá de apoio – por não o deixar falar.
Após pedidos insistentes para o deixarem falar a multidão apenas repete a última palavra que ele disse, até que ele inicia uma frase dizendo – NADA.
A multidão interrompe-o, de novo, e grita incessantemente – NADA.
O candidato perante a impossibilidade de continuar junta-se a eles e grita – NADA.
Após isto, no fim do sketch, um transeunte vê numa rua um cartaz de propaganda eleitoral do candidato “Lopes da silva” com o seguinte slogan “NADA PARA PORTUGAL”.
Será este “Nada para Portugal”, de esquerda Liberal ou de direita Liberal”? Alguém sabe?