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GUERRA DO IRAQUE. CUSTOS FINANCEIROS. (3)

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No primeiro artigo intitulado “Guerra do Iraque. Custos financeiros. (1)”

– falou-se do custo do petróleo antes da guerra começar;

– do custo directo da guerra, ao mês, para o governo americano – 12 biliões de dólares

– da privatização de sectores da guerra e de como isso encareceu e aumentou o orçamento de guerra dos EUA.

No segundo artigo intitulado “Guerra do Iraque. Custos financeiros (2)”

– falou-se dos downstram costs – os custos já não derivados directamente dos primeiros custos pagos logo á cabeça.

– falou-se da manutenção diferida do material de guerra – equipamento que não é substituido tão depressa quanto é “gasto”

– falou-se do elevado rácio de baixas/mortes, da ordem dos 15/1.

– falou-se dos empréstimos feitos pelos EUA pata financiar a guerra, e de como a Guerra é financiada através exclusivamente, de empréstimos

– Falou-se da segurança social e dos custos futuros que virão a ser gastos com as pessoas que virão ou ficarão danificadas com a Guerra do Iraque.

Hoje: aspectos financeiros a ter em conta com a retirada dos EUA do Iraque.

A Retirada:

Stiglitz no seu estudo, prova e demonstra que, mesmo que os EUA saissem do Iraque – agora, mesmo assim existiriam custos substanciais só por se sair do Iraque. (Deve-se esquecer a proposta de Jonh Mccain , candidato a Presidente que fala em “uma guerra para durar 100 anos)”.

Quais seriam?

1- reescalonar os militares (todo o exército) e o respectivo equipamento, no caso do equipamento, porque gastou-se equipamento mais depressa do que se repôs;

2. Atender à quebra de padrões de qualidade na formação das forças armadas americanas. Ao aceitar-se toda a gente no recrutamento em vez de excluir candidatos sem perfil começaram-se a contratar criminosos, neo nazis, pessoas notoriamente idiotas, etc, e tudo isso afecta a operacionalidade de um exército e a sua capacidade de combate.

Stiglitz e a sua equipa apontam para um gasto inerente a uma retirada e a este reescalonamento da ordem dos 100 biliões de dólares ou mais. 100 biliões é uma estimativa conservadora.

O tempo da retirada.

Para fazer uma retirada, esta duraria – uma vez que não pode ser feita do dia para a noite – duraria pelo menos um ano a efectivar:

Esta análise de Stiglitz e da sua equipa é baseada no orçamento apresentado pelo departamento correspondente do congresso norte americano, que prevê – muitas pessoas pensam isto mesmo nos EUA, que o que teria que ser feito seria os EUA, rapidamente – ao retirarem – terem que se converter não numa força de combate ainda presente no terreno, mas numa força de ocupação, de estilo força de paz das nações Unidas, e mesmo isso não é destituido de custos elevados.

Stiglitz dá o exemplo da Coreia do Sul, onde, apesar de não combaterem as forças americanas lá estacionadas, estão lá há 40 anos e isso custa, todos os anos, dinheiro.

Razão de ser desta força a ser mantida.

A) Para manter uma presença;

B) Defender os poços de petróleo e as rotas de transporte.

C) Ajudar a estabilizar o Iraque.

e mesmo tudo isso custa dinheiro e tempo, pelo menos 10 anos de tempo. Caso tudo corra bem.

Stiglitz analisou dois cenários, sempre baseados nos dados do departamento do orçamento pertencente ao congresso. Chegou às seguintes conclusões:

(1) Num cenário de forças de paz mesmo a 10 anos isto custaria 382 biliões;( Cenário menos despesista)

(2) Noutro cenário custaria 669 biliões, a tal manutenção de forças americanas como “força de manutenção de paz”, durante estes hipotéticos 10 anos. (Cenário mais despesista)

Mesmo que se optasse pela solução de (“vamos sair depressa”), muito desse dinheiro gasto seria substancialmente menos – apenas 600 biliões em dois anos.

Por isso é difícil ver como se custará menos, porque mesmo 660 biliões é dinheiro.

Num cenário realista, sem juros, chega-se ao tal valor de 3 triliões de dólares.

Ou seja chega-se sempre a 1.3 triliões directos mais os juros e os juros de juros que dão à volta de de 2.7 triliões (daí o titulo do livro – “A guerra de 3 triliões de dólares…”)

A média no orçamento dá 2 triliões, mas e nesta altura já se está a dar folgas orçamentais dai a equipa de Stiglitz ter chegado aos 3 triliões – num cenário realista, apenas para arredondar os números.

Não deixa de ser algo que dá dores de cabeça discutir quantidades grandes de dinheiro, biliões e triliões como se estivesse a falar de 5 euros…

Quais são as muitas dimensões da ocupação em termos de custos?

Vidas perdidas:

Aqui existe uma dimensão macabra.

O Pentágono atribui, por vida perdida, um subsidio de 500 mil dólares, divididos uma parte – 400 mil dólares directamente da Life insurance policy (a tal que o Estado americano como vem explicado no segundo artigo se compromete a pagar, por conta do que as seguradoras deveriam fazer…) e mais 100 mil derivados de um “Death Gratuitity”, se bem percebi a lógica.

Utilizam uma expressão “Death gratuity” – o tal prémio de 100 mil dólares, se bem a consigo ouvir e escrever – algo que o entrevistador comenta nunca ter escutado…a gratuitidade da morte…

O que é mais espantoso é que no sector privado, isto é, alguém que participe na Guerra mas a trabalhar para uma empresa do sector privado, a mesma vida perdida já será avaliada em 7 milhões de dólares.

O entrevistador não percebe como se chegam as estes números; e a estas “diferenças de avaliação” entre o sector privado e o público eu também não.

Stiglitz explica da seguinte maneira:

Quanto o governo americano, faz por exemplo avaliações acerca da implementação ou não implementação de certo tipo de regulamentações, esse mesmo tipo de regulamentações é ” avaliado ” pelo número de “vidas que salva” . Esse é o imbecil critério.

Ou seja avalia-se se esta regulamentação vai custar alguma coisa; e quanto custa. E se vale a pena implementar em função do que vai custar – não existe “ética” aqui nas implementações de regulamentações

Calcula-se qual é o custo da regulamentação e calcula-se quantas vidas se salvou/salvará. Após esta brilhante teoria é assim que se avalia uma vida.

Por exemplo, se se deve perguntar se deve existir uma regulamentação de segurança para um carro ou agua mais limpa, e caso não valha a pena (ou o Poder político/económico o decida) nada se fará se não se considerar que se irá salvar suficientes vidas.

É também um conceito estatístico, como por exemplo, quanto é que uma pessoa ganharia acaso não morresse. E também quanto é que uma pessoa ganharia hipoteticamente ao longo da vida.

Após estas contas “estranhas” chega-se a um numero de:

7 a 8 milhões (ou mais) de uma vida avaliada estatisticamente ( Este é um cenário conservador).

Isto dá à volta de 500/600 biliões de dólares de indemnizações por vidas perdidas e a perder se se continuar na Guerra.

Outros custos indirectos.

Famílias que vão ter que tomar conta de pessoas que ficaram danificadas para o resto das suas vidas.

Aqui as vidas já são avaliadas por menos – as disability payments são apesar de tudo valores inferiores aos que as pessoas perderam.

À volta de 180 a 383 biliões de dólares. Avaliou Stiglitz.

Mas há outro tipo de custos.

Por exemplo, a pessoa de uma família que tem de largar o seu emprego para tomar conta do familiar que ficou incapacitado.

Em cada uma família em 5, que tem pessoas feridas, alguém tem que tomar conta destas pessoas, saindo do seu emprego.

Stiglitz explica que poderiam ficar em Hospitais públicos mas ninguém quer ficar em hospitais públicos e o próprio Estado americano tem interesse em que não fiquem, quer pelos gastos, quer pelo facto de isso “se ver” – até porque isso aparece no orçamento – portanto…

Mais custos indirectos:

Custos económicos- quanto sofre a economia com isto:

Stiglitz afirma que as pessoas esquecem-se que quando a guerra começou o preço do petróleo estava a 25 dólares e os mercados de futuros de petróleo apontavam para esse preço pelo menos durante 10 anos.

A guerra mudou essa equação.

No livro Stiglitz diz que optaram pela estimativa conservadora de apenas considerarem que sobre um preço de 100 dólares o barril , apenas 5 a 10dólares seriam atribuíveis à Guerra do Iraque até para não serem acusados de estarem a ser parciais no estudo. Ou seja, que num aumento de 75 dólares no máximo tal apenas se deveria à guerra em 10 dólares.

Stiglitz acha que é mais do que simplesmente 10 dólares.

Mesmo com estes custos apenas apontados para um aumento de 10 dólares e caso fosse verdade isso custaria aos EUA a módica quanta de 800 biliões durante 8 anos – somente os EUA.

Isto a afectar a economia.

Neste tipo de discussão e com custos ainda mais indirectos, como os EUA tem que mandar cheques para a Arábia Saudita e para o Kuwait( precisamente para pagarem as compras de petróleo) . Ou seja, directamente, este tipo de custos à cabeça apenas custa 400 biliões de dólares – com as compras em petróleo feitas, é que leva aos 800 biliões de dólares. ( Boing Boing, 1 de Fevereiro 2008)

Mas o facto deste dinheiro ir para a economia da Arábia Saudita e para o Koweit significa que não vai ser investido/gasto nos EUA, logo, isso aumenta a depressão na economia americana.

Efeitos macroeconómicos na economia americana

O facto de pedirem emprestado tanto e gastá-lo no Iraque não estimula tanto a economia, como gastar isso em casa, nos EUA.

Essas duas coisas tem um efeito depressivo na economia.

Aqui surge um paradoxo.

A equipa de Stiglitz e os cálculos que estes fizeram não davam a ideia, segundo as explicações do próprio, de que a economia estaria tão recessiva quanto de facto está.

O “esquema” descobre-se da seguinte maneira. O FED (o banco central americano fez “Pump the economy”

  1. Para evitar a economia deprimida fez-se pump the economy, ou seja injectou-se liquidez (dinheiro) na economia americana.
  2. Permitiram-se más praticas com regulamentações fracas
  3. e permitiu-se empréstimos por bancos que não se deveriam ter permitido.

Mas tudo isso gerou menos dinheiro para gastar em casa e isso deprime a economia: gerou que os americanos começassem a viver de dinheiro emprestado e de tempo emprestado.

Isto gerou um dano colateral desta Guerra: uma recessão económica.

Continua
GUERRA DO IRAQUE. CUSTOS FINANCEIROS. (4)

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