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FASCISMO EM PORTUGAL IGUAL A SALAZARISMO.
JORNAL DIÁRIO DE NOTÍCIAS – 23 – 06 – 2008 – Transcrição parcial.
Entrevista. MANUEL LOFF, HISTORIADOR
No seu livro O Nosso Século é Fascista! – O Mundo Visto por Salazar e Franco analisa as ditaduras ibéricas. Houve mesmo fascismo em Portugal?
É claro que houve fascismo em Portugal. O Salazarismo foi a adequação que as direitas portuguesas fizeram de um modelo fascista à conjuntura portuguesa. Neste livro sustento que o Salazarismo é claramente o fascismo.
António José de Brito, que se assume como fascista e de extrema-direita, diz que há apenas afinidades entre o Estado Novo e o fascismo.
A ultradireita do regime defende isso. Não nos esqueçamos de que Jaime Nogueira Pinto sustentava a tese, em 1971 ou 1972, de que Marcelo Caetano era um criptocomunista
Melhor que António José de Brito, José Hermano Saraiva, em determinado momento, chegou a dizer que Salazar teria sido um antifascista, porque teria mandado prender fascistas.
O Hitler mandou matar nazis, não é nazi, está visto; Estaline mandou matar 700 mil comunistas, entre 36 e 38, então não é comunista. Isto é absurdo, é óbvio que a pluralidade interna do regime incluía sectores, sobretudo da área intelectual e sectores de uma pequena burguesia mais moderna que do ponto de vista cultural imitava directamente o caso italiano ou caso alemão.
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Em que base se apoia Salazar para dizer que o seu século, o século XX, era fascista?
Salazar usa outra frase: diz que existe uma linha geral europeia que os triunfos da Alemanha nazi e da Itália fascista têm vindo a consagrar. Salazar não gosta de utilizar o termo fascista, porque sabe que está a usar um termo criado por estrangeiros, e um ultranacionalista não gosta de dizer que o seu regime é uma imitação.
Portanto, fala de um nova ordem, como falavam também Hitler, na Alemanha, Mussolini, em Itália, e Franco, em Espanha. A transformação que a Alemanha estava a produzir na Europa, entendia Salazar, iria consagrar o triunfo dessa via. As direitas ibéricas imaginaram no triunfo da Alemanha uma espécie do fim da história: o triunfo definitivo para o resto do século daquilo que seria a nova ideologia.
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Estes pequenos excertos condensam todos os problemas que o Salazarismo coloca a democratas ou a adeptos da democracia.
– O messianismo inerente à figura do homem, convenientemente defendida pelos discípulos do homem que ficaram para trás e a quem os “democratas”, convenientemente, sempre permitiram em nome de um falso conceito de tolerância que pudessem continuar a minar a democracia e a glorificar o homem tentando fazer dele algo que ele nunca foi e que este historiador define: Salazar foi, de facto, fascista.
– Para obter isso, é necessário dizer que o Salazarismo era apenas um primo distante em 4º grau do nazismo e do fascismo italiano e não um irmão da mesma mãe. Razões para tal invocadas: o facto de o homem ter mandado prender fascistas.
Isto deve ser entendido de forma demagógica , ou seja, que o acto de eliminar facções dentro daquele regime ” que queriam ser o chefe no lugar do chefe” é “vendido” como “Salazar mandou prender fascistas”.
Mandou-os prender antes que estas facções o depusessem.
– a “nova linha geral europeia a que o fascismo português pertencia existiu de facto. No caso português também, embora com excepções. Uma delas era o culto da tecnologia que era apanágio dos regimes italianos e alemão, mas que em Portugal não o era. Essa pequena diferença ( é uma das) é invocada para dizer que o Salazarismo não era fascismo.
– o ultranacionalismo de Salazar que teve máxima expressão na frase “Orgulhosamente sós”. OS democratas portugueses pós 25 de Abril querendo combater a lógica que estava por detrás disto adoptaram a entrada na UE, e adoptaram o ” Orgulhosamente cretinos e corruptos” como novo mote a seguir.
O resultado? Os Salazaristas sentem-se à vontade para chamarem corrupta à democracia e para negarem a essência da corrupção do regime Salazarista e a falta de legitimidade do mesmo.
O ultranacionalismo do senhor levava precisamente à negação da palavra fascismo, como atribuível a “uma outra qualquer ideologia, mas não a dele.
É uma pesada herança esta, a de contrariar “isto”quando os ” democratas” não o querem fazer e adoptam alguns dos tiques do Salazarismo. Leva-nos à pergunta: mas alguma vez desejaram mesmo erradicar da memória das pessoas aquilo governando bem?
Leva-nos também à questão do nacionalismo. Quem defende uma ideia de nacionalismo diferente desta, é sempre atacado. Nessa altura onde param os democratas oficiais?
A CULPA.
“Chegamos à situação em que nos fazem sentir culpados para que nos vejamos obrigados a sentir-mo-nos na obrigação de pagarmos as dívidas deles e da gerações anteriores, e das posteriores e dos erros deles actuais e futuros e pensados e sonhados”
– Gostava de perceber porque é que os portugueses são especialmente vulneráveis a esta culpabilização, a este assumir de um fardo que não é seu e não se viram para uma verdadeira criação de si, confiante e alegre.
“especialmente vulneráveis a esta culpabilização…”
À propósito desta caixa de comentários
Historicamente, porque é um país com “tradição” nessa área de especialização. Festivais de angústia e sonatas de desespero sempre fizeram parte do caldo de cultura português.
Influência da Igreja católica. Uma religião onde a culpa é sempre omnipresente.
Evolução histórica do país e uma tendência 8/80.
Mas com o peso da história pode-se bem.
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Após 25 de Abril de 1974, tal aconteceu porque (tem acontecido) a auto nomeada “esquerda” vendeu este discurso desde imediatamente a seguir ao 25 de Abril de 1974. *
Embora com algumas nuances que penso que sucederam. A lógica foi sempre muito simples.
Antes (Salazar) existia o mal absoluto ( o que era verdade…).
Mas depois, os”democratas” trouxeram a luz, o Sol, a liberdade, a democracia, etc e tal e restante parafernália argumentativa.
Aqui importa fazer um pequeno desvio deste tema e da culpa:
A “técnica” usada consistiu em afirmar-se que, com o advento da liberdade e da democracia, etc e tal, por obra e graça divina de uma santo qualquer, o país se iria desenvolver automaticamente, toda a gente recitaria Kant e Hegel ao pequeno almoço sabendo o que significavam ambos, e tudo estaria bem, e o país recuperaria a sua grandeza no concerto das nações.
Os portugueses seriam os mais erectos da Europa e arredores.
No entanto é óbvio e salta imediatamente à vista desarmada, que qualquer planificação estratégica para fomentar o desenvolvimento ( atenção que estou a dizer desenvolvimento, não crescimento, que são duas coisas diferentes) nunca foi feita.
Quando e se alguém, independentemente da sua filiação política, ideológica ou outra questionava isto – este pseudo modelo de desenvolvimento – a partir daí avançava-se para a técnica da culpabilização das pessoas.
Estas novas pessoas culpabilizadas seriam então colocadas numa nova categoria, seriam lançadas no mais vil óprobio possível, em que toda a carga negativa lhes seria associada vinda do antigamente: a de fascistas ou saudosistas do antes, ou pessoas de extrema direita, ou de extrema esquerda, ou radicais ou o que seja que fosse conveniente no momento para alcunhar as pessoas.
E as pessoas, os cidadãos, crentes na sua maior parte em quem julgavam e achavam que os tinha salvo e a cima de tudo a confiarem na “protecção”, naquilo que julgam ser a protecção que retirariam dessas pessoas deixaram-se levar pelo discurso da culpa.
Discurso esse que vinha, como memória próxima, do Salazarismo, e que os democratas de esquerda e de direita, nunca combateram em tempo algum e situação alguma. **
Ou seja, os democratas de esquerda e os de direita, sabedores de que poderiam vir a precisar de explorar essa “fragilidade” que tinha sido sempre produzida quer historicamente, no passado distante, quer no passado recente, isto é, no Salazarismo, em vez de fazerem um corte radical com esses métodos, usaram-nos.
É por isso que esta “ilusão” se mantém. E a “culpa”, como factor de formação profissional e pessoal continua alegremente a ser explorada com todos os requintes e de todas as formas pela suposta classe e elite dirigente.
Precisam dessa predisposição latente nas pessoas, nos portugueses para existirem e parecerem alternativas.
Este “jogo” de culpas e de jogar com as culpas, foi feito quer pela esquerda, quer pela direita políticas.
Na direita percebe-se que o tenham feito, porque, até 1985, nunca aceitaram o jogo democrático de eleições ( excepção aSá Carneiro, mas esse era outra louça…), porque não as ganhavam.
Fim do desvio
Técnicas de culpa – alguns exemplos.
1.
– Vamos alterar as condições laborais para nos aproximarmos do modelo laboral chinês?
– Não, não queremos!
Se os senhores não querem é porque não são de esquerda, são fascistas.
2.
– Vamos impor gravações de dados pessoais e câmaras de vigilância por todo o país, para combater o terrorismo?
– Não, não queremos!
Se os senhores não querem é porque fazem parte da esquerda sectária e anti democrática, anti americana que põe em causa o 25 de Abril de 1974 e gostaria de viver em Cuba.
3.
– Vamos meter o país na Europa à força, não perguntando a ninguém a opinião?
– Não, não queremos!
Se os senhores não querem a Europa, é porque são perigosos nacionalistas de extrema direita e tem a culpa de quererem atrasar o desenvolvimento português que nos foi trazido pela Europa, querendo instituir a ditadura.
É assim e milhares de outros exemplos como este se poderiam dar e que ilustram como as coisas se passam.
Chantagem permanente apoiada em poderosos meios de comunicação social, por sua vez apoiada numa mensagem totalitária de demonização do outro, de constante comparação com o antigamente para
dessa forma,
não resolver os problemas do presente, e para nos condicionar a (quase) todos em nome de uma pseudo esquerda que nos defende; aceitarmos viver numa situação de semi escravos. (Isto é válido também para a maior parte da direita portuguesa…)
É precisamente por este tipo de razões e pela culpa adjacente a elas que nunca se governou bem neste país.
As motivações.
Nunca se tendo governado bem neste país foi necessário deixar viver o partido comunista português.
Acaso se tivesse governado bem ou existisse esse objectivo, as pessoas, os cidadãos, deixariam automaticamente de considerar ser necessário votar no PCP.
Mas não. Como é necessário fomentar – sempre – esta “culpa” latente as coisas são o que são e é necessário que as pessoas se sintam devedoras destes magníficos heróis.
Toda a busca de um herói deve começar com algo que um herói requere: um vilão.
Para existir vilão, deve existir medo nos que serão as potenciais vitimas do vilão auto designado para o efeito.
Se existe um vilão, e as correspondentes vitimas nomeadas para tal, não sentem medo, é necessário instilar-lhes culpa, para que sintam medo.
Estes são os métodos das ditaduras normais e comuns. **
E são os métodos da democracia portuguesa que sempre precisou dos vilões e da culpa a eles associada e da culpa feita sentir a quem não se junta aos “democratas” para lutar contra os vilões.
Essa culpa foi sempre “trabalhada”.
Cito Adolfo Casais Monteiro, nos anos 50:
Pré 25 de Abril de 1974
Página 46.
” Infelizmente, eu não consigo esquecer- eu que tão pobre memória tenho! – as palavras há muitos anos proferidas por um outro alto dignitário da Igreja, o cónego Correia Pinto. Pois disse ele (e não há notícia de que a igreja tivesse condenado as suas declarações) que a humanidade futura seria constituida por «ricos generosos e pobres agradecidos»…”
“…E isto mostra que a responsabilidade da Igreja na instauração do Estado Novo não foi um acidente, mas correspondeu a uma «política» por ela seguida ao longo de muito anos.
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“Tinha eu 18 anos incompletos quando a ditadura se instalou no poder…”
“… Eu tinha grandes discussões com o dono de uma banca, um dos mais activos propagandistas do partido.
Nem ele deixou de o ser, nem eu me «converti». Éramos todos sobretudo adversários dos broncos militares reaccionários, que se tinham apoderado do poder com a conivência tácita de uma grande parte dos políticos, sem terem que disparar um tiro.
Não se falava ainda no »perigo comunista», mas só no perigo que seria a permanência da ditadura.
Conto isto para lembrar que a arma psicológica chamada «anti comunismo » só viria a surgir por obra e graça da própria ditadura, e que não exprimia qualquer problema real da vida política portuguesa.
Embora ilegal, o comunismo não era visto por nós, jovens liberais” … “como um inimigo.”
Página 84
“… Discussão política propriamente não havia. Pelo seu lado, a confusão intencionalmente criada pelos porta vozes intelectuais ( ? ) do governo sobre as tendências de esquerda, todas englobadas sob a cómoda designação de bolchevistas, incluindo as liberais, não podia deixar de criar uma tácita solidariedade entre as vitimas, por mais violentamente se degladiassem – nas prisões por exemplo, numa das quais estive dois meses sem falar ao único companheiro de cela, que era um Estalinista ferrenho e tacanho…
Pagina 85
…Mas acresce também que só falsos oposicionistas poderiam ir na onda do »anti comunismo» artificialmente insuflado pela política e pela imprensa oficial.
E nem vou citar mais:
Disclamer: isto não significa qualquer apoio ao partido comunista da minha parte.
O ponto é outro: é necessária esta culpa de tamanho gigante e estes “inimigos úteis” ( o partido comunista serve como serve o bloco de esquerda…como serve a associação recreativa da Pontinha e Alfornelos caso exista.
O ponto é que se demonstra que os “democratas” utilizam a culpa como arma de arremesso, tal e qual a ditadura o fazia.
O que leva a seguinte questão: acreditam mesmo estas pessoas na democracia?
NOTA: Já agora esclareça-se: o texto de Adolfo Casais Monteiro é escrito, nos anos 50, mas reporta a acontecimentos passados em 1926.
NOTA: nada, mas absolutamente nada do que se está a passar neste país é novo ou original.