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Archive for Abril 2009

CRISE FINANCEIRA AMERICANA – AS TEORIAS MAINSTREAM 2

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A lista completa de artigos relacionados com este assunto pode ser encontrada na página da barra lateral ” Z – Crise financeira norte americana”

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No post intitulado Crise financeira americana – as teorias mainstream que a explicam, era mencionado o facto de estarem a surgir inúmeras pessoas – as que tem interesses na manutenção do estado em que isto está – que visam legitimar a actual situação.

Isto é, manter o actual modelo de capitalismo económico norte americano tal como está. E – por extensão – criar problemas ao resto do planeta, tal como está.

Nesse post a dada altura era mencionado o seguinte e cita-se uma parte em baixo:

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Como tal, o discurso médio (falso e mainstream)  que está a ser criado e desenvolvido pelos principais agentes da propaganda (orientados para a manutenção do status quo) e que visa explicar as causas da actual crise baseia-se no facto de tudo isto ter acontecido porque existiu um “acidente” dos mercados.

E as razões para esse “acidente” dos mercados foi o facto de  (1) existirem maus pilotos a a comandar a nau “mercado” ou (2) existirem pessoas corruptas e gananciosas que produziram inúmeras decisões irresponsáveis  – uns quantos intervenientes dentro do mesmo, que “perderam o norte” e se desviaram das boas práticas do mercado, levando ao “acidente”.

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E chegámos a um exemplo típico disto: este artigo do Wall Street Journal chamado “Europe is no model for our banks” /A Europa não é o modelo para os nosso bancos” onde um Ceo de uma empresa defende exactamente um certo tipo de discurso que é o discurso conjugado com a prática que nos levou ao que nos levou.

Onde é dito que os acidentes dos mercado por causa de Ceo´s gananciosos e más praticas, não devem ser usados como argumento para mudar o sistema.

Para “vender” essa ideia usa medo, lutas antagónicas entre correntes ideológicas, e mais medos de que “o risco” – caso se retire os instrumentos de risco dos produtos financeiros  – parará a inovação. Até o medo da China e das Treasury bonds compradas por esta é usado como argumento.

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O artigo afirma que actualmente existe uma luta de opinião pública( ou publicada?) nos EUA, entre Paul Krugman/Jornal New York Times VS Lawrence Summers, o conselheiro económico especial do Presidente Obama.

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Paul Krugman argumenta que:

(1) Chegou-se onde se chegou por falta de transparência financeira.

(2) A situação actual dos bancos ainda é “estranha”.

(3) As “perdas financeiras ” que estão fora dos balanços e não se sabe quanto são.

(4) os fundos públicos dados pelo estado americano parecem não querer acabar ou ter fim.

  • A solução Krugman é acabar com produtos financeiros de elevado risco e derivados.

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Lawrence Summers  (um “democrata” e actual conselheiro económico do Presidente Obama) argumenta que:

(1) Eliminar os produtos derivados e os produtos financeiros de alto risco …. elimina o risco.

(2) Eliminar a securitização financeira de produtos financeiros na area dos seguros  impediria que vastas somas de capital sejam usadas para investimentos.

(3) Dinheiro necessário para ajudar a investir nos mercados de exportação dos EUA não estaria mais disponível.

  • A solução Lawrence Summers é deixar as coisas como estão.

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Será evidentemente a visão defendida por Lawrence Summers que irá ser a visão prevalecente.

Porquê?

Porque é uma questão de poder: quem está no governo norte americano é quem,decide através do braço legislativo e financeiro. Não é Paul krugman ao escrever artigos no New York Times, que irá mudar algo.

Porque é uma questão de poder: a elite financeira norte americana, acaso permitisse que a solução Krugman prevalecesse perderia poder de intervir nos mercados e de condicionar a vida dos cidadãos. *

E também, porque se existisse real vontade em mudar algo, não seria Lawrence Summers, nem a sua “corrente” que estariam no governo, mas sim qualquer outra ou Paul Krugman.

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Esta é a lógica típica de um artigo norte americano de jornal, visando querer convencer uma opinião pública semi anestesiada que existem de facto duas alternativas, quando na realidade existe uma e é essa que será adoptada.

E o que será adoptado é mais do mesmo mas feito de maneiras diferentes.

Uma falsa noção de debate e de democracia.

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O inicio desta lógica de argumentação é pretender convencer que existem duas alternativas em cima da mesa; e que se (deve) escolhe (r) uma: mas na realidade isto é uma falácia.

A segunda lógica desta ideia e desta argumentação é definir o inimigo; isto é, o que não se quer.

O que não se quer é o modelo “europeu” (seja lá o que isso for).

Como o modelo europeu é próximo daquilo que Paul Krugman defende, obviamente… não se quer o modelo europeu.

Outros ” perigos” e antídotos são apontados.

(1) Que os “democratas de Paul Krugman” querem nacionalizar os bancos norte americanos, que estão com problemas.

(2) Que os democratas de Lawrence Summers afirmam que nacionalizar os bancos poderia colapsar o sistema.

Uma sub lógica emerge aqui: apontar “perigos” atrás de perigos, atrás de perigos – apelar ao medo atrás do medo.

Porquê?

Porque quem tem medo normalmente não faz nada e opta por ficar como está.  Fica transido de medo.

Ficar como está é não adoptar a solução de Paul Krugman, mas sim a de Lawrence Summers.

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Foram as soluções de Lawrence Summers que levaram isto ao estado em que está. Cita-se o post Crise financeira Americana, Clinton, Rubin, Summers, Geithner, Obama e a desregulamentação :


Demos um salto no tempo e cheguemos ao ano 2000.

No ano de 1999, um senhor chamado Larry Summers, foi promovido. O seu chefe, Robert Rubin, saiu do governo norte americano (em 2000) para ser Vice Presidente do Citigroup (provavelmente uma recompensa por serviços prestados; isto é, pela “ajuda na revogação da Lei Steagall Act; a tal que impediria a fusão do Citigroup com o Travellers Group…) (o mesmo Citigroup de onde tinha saido o livro de Walter Wriston…já citado acima…)

Rubin tinha trabalhado durante 4 anos como secretário do Tesouro do governo de Bill Clinton; quando deixou de ser necessário lá estar, uma vez que o favor necessário estava feito, saiu, deixando Larry Summers no seu lugar.

Summers querendo deixar a sua marca, foi ainda mais longe que Robert Rubin. Ao que parece, convenceu o Presidente Clinton, para que este aceitasse aceitar uma série de propostas de lei do Partido Republicano (os “malandros da direita…).

Apoiou a criação e existência de uma nova lei que tinha o nome de “Commodity Futures Act of modernisation 2000″, uma lei que queria alterar a forma como certos produtos  a serem vendidos nos mercados de futuros (acções ou outros) seriam classificados ( ou não) como tal.

Também fazia o contrário: que certos produtos a serem vendidos no mercado bancário, embora tendo características de acções ou produtos parecidos, passassem a ser classificados como “não o sendo”.

Objectivo: transferir o “risco” de quem vende para quem compra, mas parecendo não o estar a fazer.

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Existem coisas curiosas neste artigo do Wall Street Journal que mostram bem o problema que temos que enfrentar, (e somos todos, no mundo inteiro) mas não da maneira como o colunista nos quer impingir.

Por exemplo, a dada altura diz-se:

” Our largest 10 banks control 75% of total bank assets.”

Tradução: Os nossos maiores 10 bancos controlam 75% dos activos bancários.

Do ponto de vista da “liberdade” de actuação dos agentes económicos norte americanos (empresas e particulares)  isto é extremamente problemático. Um oligópolio de 10 bancos está – de facto – em posição monopolista. (acresce a isso o facto de estes grupos bancários serem donos de seguradoras e de posições accionistas noutras empresas…)

(A posição de monopólio acontece quando um determinado grupo de empresas ou somente  uma tem uma tal quota de mercado que consegue “fazer preços” dentro do sistema em que está incorporada, e consegue impedir novas entradas de novos concorrentes no mercado, por exemplo).

Será normal que num país tão grande como os EUA, apenas 10 bancos tenham tanta quota de mercado?

(Será normal que num país tão pequeno como Portugal, 4 grupos bancários tenham à volta de 70% de quota de mercado?)

As teorias económicas de Adam Smith que todos os capitalistas americanos dizem seguir defendem muitas coisas.

Uma das coisas que defendem é a existência de um  “um mercado atomizado”.

Atomizado significa milhares ou milhões de produtores e vendedores, que se encontram num local fictício – o mercado – com os milhares ou milhões de compradores. E acordam entre si o preço.

Num país tão grande como este , com 300 milhões de consumidores, 75% do sistema bancário – que por sua vez controla todo o resto do país * – controla os depósitos e os negócios de 225 milhões de consumidores americanos.

E de quase todas as empresas do país, uma vez que não é crível e lícito pensar que as grandes empresas, como por exemplo a Microsoft ou a GE, sejam clientes de bancos mais pequenos – os restantes 25% do sistema.

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(A) De um lado temos um mercado atomizado – 300 milhões de consumidores.

(B) De outro lado temos um mercado concentrado – 10 bancos que controlam 75% de 300 milhões de consumidores.

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Este nem sequer é o modelo económico capitalista de Adam Smith.

Este modelo capitalista” transfere o poder para um número reduzido de actores.

Este modelo capitalista transfere a informação acerca dos consumidores para um numero reduzido de actores.

Este modelo capitalista não é democrático.

A ECONOMIA DE GUERRA PORTUGUESA VIA AFEGANISTÃO ATRAVÉS DE AFRICA

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No dia 28 de Abril de 2009, o ministro da defesa mostrou-se visível e proferiu declarações públicas.

Afirmou que as fronteiras de segurança de Portugal jogam-se no norte de África e no Mediterrâneo. Notícia Lusa.

defesa-portuguesa-norte-de-africa-mediterraneo

Temos aqui a definição de uma política prioritária, assente em duas zonas de acção: o (1) mediterrâneo e (2) o norte de África.

E no entanto, 17 dias antes, acontecia o seguinte, explicava-nos o DN:

tropas-portuguesas-africa-manuel-alegre

VITOR BENTO, O “ÉTICO”…

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Decidi fazer um acto que implica correr risco de vida. Citar o blog arrastão, um blog de que não gosto particularmente. E que raramente acompanho.

Mas isto constitui –  nos dias que correm – perigo de vida.

A polícia ideológica espreita a cada esquina.

Podemos ser acusados de sermos fascistas por citarmos um blogue que é conotado com a extrema esquerda. É bizarro e estranho, mas é assim mesmo.

Se  o conteúdo do post do blog for correcto, mesmo assim não o devemos citar. Estaremos aparentemente a fazer o jogo dos inimigos da liberdade. Segundo me explicaram…

E cita-se porquê?

Por isto:

arrastao-vitor-bento

Temos que:

(a) Vítor Bento diz que os salários dos portugueses tem que descer. A bem ou a mal. Quem não concordar será apelidado de”fascista”,suponho…)

salarios-em-portugal-vao-diminuir-a-bem-ou-mal

(b) Vítor Bento chamava há uns tempos a atenção para o mal estar difuso (um estudo da SEDES) que acompanha a sociedade portuguesa

(c) Vítor Bento foi promovido por mérito no Banco de Portugal, apesar de não ir até lá há 8 anos – desde 2001.

(d) a licença sem vencimento que garantia que Vítor Bento não fosse lá, só pode durar 3 anos.

Como não podemos fazer o jogo dos inimigos da liberdade e temos que ser “construtivos” , isso significa que deveremos – obviamente – fechar os olhos a esta situação e deixarmos o senhor Bento continuar a ser promovido por mérito, apesar de não ter nenhum mérito visível ou invisível e continuarmos a escutar as declarações do senhor Bento a falar sobre salários.

Existe por aí algum jurista que explique como uma licença sem vencimento de 3 anos é de 8 anos?

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Este post está ligado a estes dois:

Os economistas do regime continuam a condicionar as pessoas – dedicado a Silva Lopes

e a este:

Os economistas do regime continuam a condicionar as pessoas  – 2 – dedicado Vítor Bento.

Sobre ordenados no Banco de Portugal também temos este:

Banco de Portugal,Vítor Constâncio, ordenados dos administradores.

25 DE ABRIL DE 1974 – 35 ANOS DO GLORIOSO ALARIDO.

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Há 35 anos atrás, num dia 25 de Abril, existiu um glorioso alarido que durou uns dias.

Quando o alarido acabou, foi anunciado ao povo de Portugal que doravante o regime passaria a ser outro, com outro nome, mas tudo funcionaria quase na mesma como o regime anterior – embora o processo de funcionamento idêntico ao do regime anterior, fosse “lento” e demorasse tempo a fazer-se e não tivesse sido imediatamente perceptível.

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Uma breve ilusão durante um breve tempo finalmente passou.

Quando a poeira cósmica da ilusão durante um breve tempo, que permitiria Portugal transformar-se num país a sério foi varrida, surgiram as figuras que habitam as sombras do passado. Ajudadas por algumas figuras que habitam as sombras do presente.

A mesma elite, e os seus descendentes, que dominavam com mão de ferro o país antes do dia 25 de Abril de 1974, esperaram nas sombras para reclamarem aquilo que julgam ser deles.

Não tiveram que esperar muito. Sensivelmente 10/15 anos depois de terem sido convidados a sair, foram de novo chamados para “desempenharem” um papel no país.

O papel a “desempenhar” manifesta-se através do “extremo ressentimento” com o facto de terem sido chamados delicadamente à atenção no dia 25 de Abril de 1974, e agora tem um novo plano, dividido em duas partes.

(1) Recuperar as posições que tinham antes de 1974 ou se possível aumentá-las, mas, também, (2) exercerem uma * represália ainda mais completa sobre aquilo que identificaram como sendo uma rebelião dos súbditos.

Na sombra, planeiam sempre mais caos social e económico, mas não sujam as mãos. Promovem – pelo facto de as empresas desta elite os contratarem após saírem da política – medíocres políticos.

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Um sistema que se alimenta a si mesmo, que destrói o país (a elite não se importa verdadeiramente com o país e nunca se importou), mas que sai barato em termos de análise custo – benefício.

É “rentável” oferecer rendimentos chorudos a políticos medíocres premiando-os quando saem de governos, se isso garantir que o regime democrático fica cada vez mais empobrecido, enfraquecido, não dinâmico, espartilhado entre interesses privados, desprovido de conceitos como o “interesse nacional”.

Este sistema é ainda mais perverso porque está a dar ideias a jovens portugueses ambiciosos.

Porque não “enganar” todos ao mesmo tempo?

Produzir um discurso que “chame a atenção da elite” e permita fazer com que esta – após cuidadosa examinação dos predicados do candidato – o submeta ao mesmo regime que já submeteu os políticos portugueses: a recompensa com bons cargos.

É uma forma sofisticada de corrupção moral e ética que se pratica em Portugal.

É tão sofisticada que produz um discurso legitimador da mesma: que não pode ser possível fazer-se discursos semelhantes a este produzido neste post, porque “é um discurso negativo” que não exalta as vantagens e virtudes que decorreram do 25 de Abril de 1974.

Que devemos “exaltar”…

É um * discurso que vem directamente das medidas que se querem aplicar como castigo: um discurso visando obrigar as pessoas a produzirem “sistemáticos elogios” e “frases positivas” sobre os resultados de um (a) revolução alarido que a cada dia que passa começa a criar piores resultados do que o que se passava antes de 1974.

As limitações à liberdade e à justiça, actualmente, começam a ser piores, do que pré 1974, mas as formas mais sofisticadas como se atingem os cidadãos escondem essa realidade – esse aumento do pior.

Written by dissidentex

25/04/2009 at 20:22

Publicado em 25 DE ABRIL DE 1974

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MUSSOLINI E A ITÁLIA FASCISTA

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capa-mussolini-e-a-italia-fascista-m-blinkhornNa Inglaterra, uma colecção de pequenos livros concebida para apoiar o ensino secundário/pré universitário, serviu de mote à editora Gradiva, para os publicar em edição portuguesa, com o nome de “Panfletos Gradiva”.

O número 3 é dedicado ao fascismo italiano e a Mussolini. Um pequeno livro com 94 páginas, fácil de ler e fornecido com uma já extensa referência bibliográfica, sob vários ângulos de análise, dedicada ao fascismo italiano.

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O livro pretende ser um guia indicativo  e explicativo do que era e como foi a ascensão do fascismo italiano, explicando os seus antecedentes, historicamente e como se chegou lá.

É apresentado um índice cronológico e mapas. Como se explica na página 16:

“…O que foi o fascismo? Como e porque emergiu e conquistou o poder em Itália? Como e com que consequências foi exercido esse poder?…

e mais adiante na mesma página explica-se que :

…”o fascismo só pode prosperar num meio socioeconómico muito especifico, da mesma forma que, para desafiar o poder, precisou de um vazio político no seio do qual se pudesse movimentar.”

Na página 17, fala-se do período italiano chamado a “Itália liberal” entre 1861-1915.

E diz-se que:

... O “Risorgimento”…. “legou à Itália um complexa herança, da qual nos importa aqui salientar dois aspectos: gerou entre os italianos politicamente conscientes expectativas exageradas quanto às perspectivas imediatas de poder e prosperidade para a Itália; e, ao forjar uma nova nação sem atrair ou satisfazer a massa da população  produziu um sistema sociopolítico minado por fraquezas potenciais.

Nota lateral: o Risorgimento pode ser – com as devidas proporções e reservas  “adaptadas” – comparado ao que se passou em Portugal aquando da implementação da 1ªRepública, e ao que se passou no alarido pseudo revolucionário que dá pelo nome de 25 de Abril de 1974…

Ainda na página 17:

…A consciência nacional era desigual e extremamente fraca em muitas regiões de província e da Itália rural; persistiam lealdades a dinastias destronadas e  fronteiras históricas, ao mesmo tempo que, para milhões de  camponeses, a única realidade era a administração local, sendo qualquer autoridade exterior considerada como um intruso potencialmente  explorador.

Nota lateral: o actual poder autárquico português está quase a este nível descrito, e a situação em Portugal – actualmente – apresenta semelhanças notáveis… nada disto é novo, já se passou historicamente e no entanto continuamos a ver serem apresentadas as mesmas soluções que eram apresentadas historicamente há 80 anos na Europa, com os resultados que se conhecem…

Estes parâmetros escritos por Martin Blinkhorn definem o “ambiente italiano” naquela época.

Martin Blinkhorn, o autor do livro depois explica como era o “liberalismo” italiano, como por exemplo, com o direito de voto que apenas consagrava esse direito a um milhão de italianos, de entre os 32 milhões de população na época, de como os partidos eleitos faziam sindicatos de votos (semelhanças com Portugal do século 19 são completas…e não só com o Portugal do século 19) de como esta política liberal definia uma sociedade (Página 19) de:

“…a consequência disto era que o Parlamento representava a própria classe política e todos aqueles que estivessem ligados aos seus membros  por laços familiares , locais e económicos, formando redes hoje em dia conhecidas pela designação de “clientelas”…

“…A política liberal reflectia com bastante exactidão  uma sociedade de forte predominância rural, caracterizada pelas estruturas tradicionais da agricultura, por um alto índice de analfabetismo e por uma fraca consciência política…”

Nota lateral: a ultima frase descreve o Portugal actual, e descreve que – apesar de todos nós nos andarmos a auto enganar ; que Portugal está transformado numa sociedade liberal (no pior sentido do que o termo significa), com poucos ou nenhuns direitos reais para quase toda a gente, índices de analfabetismo que se chamam índices de iliteracia (nos séculos 20/21, as palavras mudam) e uma consciência política de grau zero, que se resume aos patéticos apelos ao voto de 4 em 4 anos em que somos convencidos de que isso (apenas só isso) é que é “democracia”… .

Por causa desta situação e de várias outras adjacentes, pressões sobre este sistema italiano do século 19/20 começaram a emergir, quer no sentido de se exigir ter mais direitos de voto, quer no sentido de se alterar a situação e estender o leque de direitos e de participação cívica e política à generalidade da sociedade.

Consequência:

surgiram movimentos comunistas, socialistas, anarquistas, que por sua vez originaram contra movimentações católicas e de outras forças mais reaccionárias.

A coisa “liberal” aguentou-se enquanto a (1) economia funcionou e as (2) taxas de crescimento eram altas e enquanto (3) “causas nacionalistas” – como anexar ou fazer regressar à Itália continental territórios (em posse da Áustria) onde cidadãos italianos viviam, distraíam as atenções.

Os políticos liberais sentindo o perigo, optaram por uma “troca”. Derivada de uma lógica política perversa.

Fecharam os olhos aos desejos dos patriotas do Risorgimento, relacionados com o “voltar para Itália” dos territórios naquela época na posse dos austríacos, percebendo que esse “fechar de olhos” lhes conseguiria fazer ter/manter/aumentar um império além mar ( anexar Etiópia e Líbia) ou pelo menos conseguir ter esse império sem ser contestado por outras potências com interesses (França e especialmente  Inglaterra…)

Mas o preço viria a ser pago a seguir: com o aumento das forças de contestação, dentro da Itália e dentro do sistema político.

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A partir da década de 1890, e com o decorrer dos anos, outros problemas avizinhavam-se no horizonte. Como explica Blinkhorn, na página 22:

“…Por volta de 1914 emergira no norte de Itália, uma classe poderosa de banqueiros e industriais estreitamente ligados entre si  e a um estado proteccionista. A par da nova classe operária”…”começava a emergir uma  outra “nova” classe urbana: o desenvolvimento do sistema de ensino  nas cidades  italianas  em rápido crescimento ia produzindo uma pequena burguesia  ávida de ocupar lugares  na administração, burocracia e serviços e preocupada em manter as suas distâncias em relação ao proletariado…”

Nota lateral: o que é Portugal actualmente, pelo menos na parte dos banqueiros senão isto “…uma classe poderosa de banqueiros e industriais estreitamente ligados entre si  e a um estado proteccionista…” retirados evidentemente os Industriais e o Estado proteccionista, mas este ainda e só no sentido em que só protege banqueiros…

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E assim chegamos ao efeito de toda esta política perversa, de não satisfação das aspirações de várias classes profissionais e comerciais, de não satisfação da sociedade.

E o efeito foi a criação, vinda de dentro das fileiras deste sistema absurdo e que não satisfazia ninguém,de um homem “providencial” – Mussolini.

Mussolini tinha sido membro do partido socialista italiano, antes de ter saído farto da política de catavento que ali existia.

Durante os anos 10 e 20 do século (depois intensificado com o exemplo externo da Revolução russa de 1917) exigia-se uma “revolução”, mas percebeu-se quer em sindicalistas, quer no PSI italiano, que a culpa não seria do (1) capitalismo italiano, mas sim do (2) poder politico clientelar.

Que era isso, primariamente, segundo explica Martin Blinkhorn, que era preciso mudar.

Nota lateral: em Portugal temos, infelizmente, os dois problemas.

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Após a guerra – primeira guerra mundial, em que a Itália participou, isso alterou a  sociedade, e criou a exigência de satisfação de expectativas criadas em milhões de ex combatentes,aquando do seu regresso após guerra.

Expectativas essas que foram defraudadas.

Imediatamente, surgiram dois problemas: (1) agitação social (2) o ressentimento nacionalista.

A agitação social provocou o medo; poderia estar iminente uma revolução bolchevique? (comunista)

Os grandes proprietários de terras interpretaram a “agitação” como o prenuncio de tal, e lançaram um contra ataque.

Usaram a lei, e deixaram de aceitar o principio da imparcialidade praticado pelos governos liberais italianos nas relações de trabalho, passando a exigir a relação tripartida entre capital, Estado e trabalho.

Isto foi usado como uma forma de “anti socialismo”, no sentido em que atacava o governo socialista italiano por esta época, que ao mesmo tempo que proclamava socialismo, mantinha leis de trabalho absolutamente liberais.

Este anti socialismo era também apoiado pelos pobres italianos que estavam descontentes com os monopólios nas oportunidades de emprego nas regiões pelo partido socialista italiano controladas.

O ressentimento nacionalista era alimentado, por exemplo, pelos ataques verbais que eram feitos contra os veteranos  de guerra.

“… o termo fascio,que já fora um exclusivo da esquerda, era agora mais comum à direita., para cujos devotos  com o fasces, os feixes de varas que eram a insígnia da magistratura da Roma Italiana, e com a noção de “força na união”. (Página 37)

Nota: o fascismo urbano e o fascismo rural coexistiam. Mas tinham lógicas diferentes.

Nas eleições de Novembro de 1919, o fascismo teve péssimos resultados ao concorrer, apenas conseguiu obter 5000 votos  em Milão num universo eleitoral de 275000.

Grande parte do esquerdistas que aderiram ao fascismo afastaram-se.

Mussolini que já nessa altura emergia e tinha-se afastado das suas raízes socialistas porém ,”manteve-se firma com o apoio de alguns milaneses abastados que pressentiam o potencial anti socialista do fascismo... (página 37).

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O resto já sabemos.

Written by dissidentex

23/04/2009 at 12:41

AS FORÇAS HOSTIS EM PORTUGAL

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É urgente fazer um esforço para compreender um conceito e o que está por detrás: o conceito de “força hostil”.

A “força hostil”, na acepção que pretendo descrever é algo “não democrático”, e “não visível” que está colocado numa zona que chamarei de “a sombra”.

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Existem neste momento 3 problemas para resolver. Dois são de ordem pratica e imediata.

(1) O primeiro é o sistema financeiro; a necessidade de nos vermos livres dos problemas económicos e financeiros relacionados com os “produtos tóxicos” que este sistema produziu.

(2) O segundo problema é limpar o sistema político subjacente ao sistema financeiro, começando pela limpeza dos responsáveis político partidários que são os responsáveis visíveis pela desgraça política e económica nacional.

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As razões para que se faça isso são as seguintes:

Estamos a começar a ficar colocados numa situação de pré anarquia social, onde o descontentamento ameaça estourar e quando o ressentimento inerente aos descontentamento finalmente se manifesta as ” ruas” tomam conta do poder.

Já existiu um vislumbre disso, quando nos últimos grandes aumentos dos combustíveis começaram a existir bloqueios de estrada (entre 8 e 12 de Junho de 2008)  espontâneos, primeiro, organizados sem ordem, depois.

Um pequeno indicio de uma forma de anarquia e de não existência de poder estatal capaz de evitar que as coisas acontecessem.

Um pequeno indicio de uma forma de anarquia e de facilitação do poder estatal não querendo evitar que as coisas acontecessem.

Uma das razões poderosas para isto deve-se ao facto de não se poder viver num país onde os pessoas que cometeram crimes de forma notória  aparecem na  televisão a afirmar sistematicamente que “confiam que a justiça será feita”!

Outra das razões deve-se ao facto de não se poder viver num país onde a criatividade nacional se manifesta no encharcamento do cidadãos, com multas, taxas, impostos, coimas, etc, as quais servem para alimentar um numeroso exército de inúteis e parasitas.

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O terceiro problema é pior que os anteriores.

(3) Não se pode tolerar que existam grupos económicos ou empresas, cujos proprietários adoptam – de forma sistemática – uma atitude hostil contra a população e contra qualquer governo eleito.

São aqueles que vivem “na sombra”. E a partir da “sombra” escolhem serventuários “adaptáveis” que os ajudem a subverter o sistema, parecendo não o estar a fazer. O mundo académico ou o mundo dos candidatos ao mundo académico é o terreno fértil para estas actividades.

Estes grupos económicos e empresas devem ser convidados a sair.

Ou deve ser-lhes explicado pelo poder político que pagam um preço se continuarem a comportar-se dessa maneira.

Por cada um que sair, 20 outros grupos económicos quererão entrar, para os substituir.

Written by dissidentex

22/04/2009 at 15:44

AS PESSOAS QUE VIVEM NAS SOMBRAS

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Na política, um dos maiores problemas que existem em Portugal, especificamente ligado aos actos de (1) pensar política e (2) fazer política tem a ver com uma certa classe de pessoas que existem dentro do sistema político e social, quer este seja considerado “institucional” ou informal.

São os predadores em política e sociedade.

São as pessoas que se apelidam como sendo de “esquerda”, apenas porque se reclamam ser contra a extrema esquerda.

Definem-se, não pelo facto de conseguirem propor um discurso positivo alternativo ao discurso político proposto pela extrema esquerda, mas sim pelo facto de proporem apenas como discurso político o acto de serem contra a extrema esquerda.

A existência destas pessoas como grupo  cria uma situação em que uma pequena minoria da sociedade toda, um grupo perfeitamente insignificante, consegue  fazer carreira, flutuando dentro das margens de um sistema político e social, e tendo o seu nicho de mercado perfeitamente definido.

O cidadão “comum e normal”, aquele que aprecia a tranquilidade de um quotidiano perfeitamente calmo e repetido, percebe que existe alguém a dizer-lhe que existem umas pessoas extremistas colocadas num dado extremo político, e imediatamente rejeita isso; e passa rapidamente a aceitar o discurso redondo anti extrema esquerda (o tal que passa por ser um discurso político sério) que este conjunto de “pessoas que vivem nas sombras”, faz.

É uma táctica politica e comportamental que apela ao pior dos cidadãos e das pessoas: tenta empurrar ainda mais para um gueto, mesmo mentalmente, o pensamento que não se adequa à norma, mas que é democrático.

É claro que este “método” leva a que pessoas ou grupos que sejam ou estejam fora da norma, mas sejam politicamente criativos e democráticos, sejam também colocados no mesmo saco da verdadeira extrema esquerda (ou extrema direita, o que houver a jeito…).

Assim, o suposto efeito positivo derivado da existência deste conjunto de  pessoas que “vivem nas sombras” gera na verdade, um sub efeito negativo: (1) o ataque à criatividade política das pessoas, que são todas, em todos os grupos, democráticas ou não, rotuladas como sendo de “extrema esquerda”.

Também gera outro efeito perverso: (2) o efeito segundo o qual, certos cidadãos, ao ouvirem dizer que existe uma qualquer extrema lá ao fundo da rua, imediatamente aderem a essa força ou ideia antes irrelevante, mas que agora foi assim legitimizada pelas criticas do “bem pensar” oriundas das pessoas que vivem nas trevas.

E assim passamos a ter dois problemas.

(A) O numero de radicais que foram arregimentados/chamados para aderirem ao inicial grupo radical de extrema esquerda – um grupo de lunático residuais – aumenta e (B) uma mole enorme de cidadãos – o centro político, que se torna extremamente conservador e passa a rejeitar criatividade na política, e “risco”. Preferindo votar de forma conservadora. (sempre nos mesmos) Ou votando de forma disparatada (julgando estar a ser revolucionário e a “arriscar”) em projectos absurdos. Ou votando mesmo nas ultra franjas do sistema político; as de esquerda e as de direita (para chatear).

O que gera uma imagem da sociedade totalmente distorcida com uma suposta pluralidade abrangente que verdadeiramente não existe – antes, uma completa distorção.

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Quem ganha com isto?

Um grupo de pessoas diletantes que se posiciona numa certa área do espectro político, académico, social, económico, que não contribui para rigorosamente nada; apenas teve que apelar aos piores instintos dos outros cidadãos e deixar esses piores instintos florescer e depois usá-los em benefício próprio.

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As “pessoas que vivem nas sombras” que se apelidam ser de esquerda, apenas porque são contra a extrema esquerda, são inicialmente, anjos morais.

Definem-se como combatentes pela liberdade e pela sociedade aberta.

Depois, como o discurso é apenas um discurso político baseado no acto de serem contra a extrema esquerda; como é da sua própria natureza, começam a corromper-se porque o poder corrompe, e o poder corrupto corrompe absolutamente –  lá diria Lord Acton.

E a forma de corrupção praticada e preferida destes anjos morais caídos consiste em apontarem tudo o que está fora da norma política que eles próprios definem como sendo “desvios à norma”.

Para “as pessoas que vivem na sombra” tudo o que não seja o que eles dizem, é extrema esquerda ou extrema direita ou qualquer outro extremo.

É necessário que o digam  porque a sua própria sobrevivência e influência depende disso.

Preferem “matar” a discussão política centrando-a no combate à uma extrema esquerda, real ou imaginária, do que mostrarem propostas políticas concretas, que sejam totalmente diferentes da extrema.

Não as tem para mostrar; como poderiam fazê-lo?

Written by dissidentex

20/04/2009 at 19:36

Publicado em PODER, POLÍTICA, SOMBRAS

QUAL É A CULTURA POLÍTICA DO ESTADO PORTUGUÊS?

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O actual regime democrático não apresenta uma cultura política marcadamente própria.

E tal acontece porquê?

Porque a cultura política do Estado português e do actual regime foram desenhadas para não terem traços marcadamente próprios.

O que o post que eu cito acima deveria perguntar é o porquê de a cultura política do Estado português e do regime democrático português não apresentar uma cultura política marcadamente própria.

Acaso fosse feita essa pergunta e estivéssemos dispostos a ir até ao fundo da resposta provavelmente descobrir-se-ia que a “geração de democratas feitos a martelo” que emergiu após o 25 de Abril nunca quis que o Estado Português e o regime apresentasse uma cultura marcadamente própria.

As razões eram duas:

(1) Porque não sabiam como fazer.
(2) Porque não queriam fazer e sentiam-se confortáveis com a cultura que ainda deriva do Salazarismo.

É por essa razão que nunca existiram, por exemplo, nos currículos do ensino secundário disciplinas que ensinassem aos alunos o que era civismo e cidadania, mas praticados dentro de um regime democrático.

Porque formar cidadãos com ideias cívicas e de cidadania; foi algo que nunca interessou a este regime actual, nem aos políticos que dele emergiram especialmente os que se apelidam de ser em de esquerda.

E o resultado está à vista: sondagens que dão 34% de cidadãos a pensar votar em eleições (um fracasso da cidadania e do regime)  e canonizações de guerreiros medievais, como sendo os tópicos da pátria e as grandes discussões a ter.

Deve-se perguntar “porque é que é esta a cultura política” que  temos.

Perguntar qual ela é, já nós sabemos.

Written by dissidentex

18/04/2009 at 21:58